Este
é o quinto e último livro do chamado “Pentateuco”, a primeira parte da Bíblia
Hebraica/Cristã. Depois de aproximadamente 40 anos os israelitas estão prontos
para adentrar à terra de Canaã. Moisés o grande líder desde a saída do Egito reúne
diante de si o povo (mais provavelmente as lideranças e/ou representantes de
cada família das doze tribos) para recapitular os principais acontecimentos que
os trouxeram até aquele momento, bem como ratificar os termos (leis) da Aliança
que Deus havia estabelecidos com eles. Isto se faz necessário principalmente
porque Moisés está diante de uma nova geração de israelitas, pois daqueles com
vinte anos para cima, que saíram do Egito, somente ele, Calebe e Josué são
remanescentes, todos os demais pereceram no deserto em decorrência da
desobediência e falta de fé.
Portanto,
não se deve buscar novidades em Deuteronômio, pois nele estão resumidas os
acontecimentos e leis contidos nos dois livros anteriores – Números e Levítico.
O único fato novo é o registro da morte de Moisés, provavelmente registrada por
Josué que haverá de sucede-lo na liderança do povo e que irá tomar posse da
terra de Canaã. Fazendo uma analogia podemos dizer que Deuteronômio se
relaciona com os livros anteriores, assim como o evangelho segundo João se
relaciona com os evangelhos sinóticos (Mt, Mc e Lc).
Na
Bíblia Hebraica recebe o nome de “Devarim” (palavras) visto que o livro começa
com a frase: “Estas são as palavras”. Posteriormente passou a ser denominado de
“Mishné Torah” (palavras encontradas neste livro – cf captos 17 e 18), que
segundo o Talmud era uma espécie de “segundo livro da Torá” que os reis de
Israel deveriam ter consigo, para ler diariamente, enquanto os demais livros
ficavam guardados em seus arquivos reais. Quando da versão grega, Septuaginta,
eles o denominaram “Deuteronômio” (a segunda lei), por causa de seu conteúdo,
conforme mencionado acima.
Evidentemente
que não é uma mera repetição dos livros anteriores, mas uma recapitulação
acrescida de explicações e aplicações para a nova geração. As leis especificas
relacionadas ao sacerdócio e aos sacrifícios não são mencionadas. Os grandes rabinos afirmam que o livro de
Deuteronômio, juntamente com a literatura dos profetas, manteve o judaísmo até
o tempo presente. Os críticos racionalistas tendem a deslocar a autoria desse
livro para os dias do rei Josias, quando implementou sua reforma religiosa em
Judá (2Rs 22-23), todavia, suas argumentações são frágeis e inconstantes. Em
hebraico o livro contém novecentos e cinquenta e cinco versículos.
A
palavra “ouve” pode ser encontrada mais de vinte vezes no transcorrer do texto
e a expressão “lembrai-vos” pelo menos quinze vezes. Aos israelitas é
recomendado que memorizassem seu conteúdo, para que fossem ensinados às gerações
futuras (6.4-9 e 11.18-21). Também é ordenado que de sete em sete anos o povo
fosse convocado para ouvir a leitura de todo o livro (lembrando que naquele
tempo não havia facilidade para se fazer cópias do livro). O objetivo era que o
povo não se esquecesse da Lei do Senhor (31.10-13).
Apesar
de ser um livro relacionado diretamente às leis estabelecidas na Aliança, o
tema central do livro é o “Amor de Deus”. Em nenhum dos livros anteriores há
referência do amor divino para com o ser humano ou mesmo para com os
israelitas. Mas aqui, após o desterro do deserto, para uma nova geração, Deus
manifesta seu amor incondicional, que se constitui no fundamento irremovível da
Aliança. Tudo quanto Deus havia feito, tudo quanto Deus está fazendo e tudo
quanto Deus haverá de fazer em favor dos israelitas (igreja) é motivado
unicamente por causa de seu grande amor: “Porque amou seus pais, escolheu a sua
semente (4.37)”; “Jeová não vos teve afeição, nem vos escolheu, porque éreis
mais numerosos que qualquer outro povo...mas porque o Senhor vos amou (7.7-8)”;
“Tão somente Deus teve afeição a teus pais para os amar (10.15)”; “Todavia, o
Senhor teu Deus não quis ouvir a Balaão; porém, transformou em bênção a
maldição, porque te amava (23.5)”. Quanto amor! Como não admirar um Deus que
ama desta forma!
“Estas
são as palavras que Moisés falou a todo Israel” (1.1). Evidente que desde o
Êxodo até este momento ele falou muito mais do que estão aqui registrados. “Estas palavras” são de admoestação e
repreensão, pois antevendo sua própria morte (120 anos), Moisés deseja fazer
lembrar uma vez mais, à nova geração israelita, os erros e as faltas do passado
para alertá-los de repetirem os mesmos. No verso
seguinte ele nomeia diversos locais geográficos e pessoas, prática
utilizada também depois pelos salmistas, onde os israelitas confrontaram a
Deus: “no deserto” e “de frente do Mar Vermelho”, fazem
lembrar quando desejaram retornar à escravidão do Egito; “na planície”, faz lembrar o pecado do povo com as Medianistas; “Paran”, o relatório desanimador dos 10
espias (menos Calebe e Josué); “Tófel”
e “Laban”, são os que desobedecendo
colheram o dobro de maná; “Hatzerot”,
a rebeldia de Coré; e “Di-Zahab” o
pecado do bezerro de ouro”.
O
sistema de governo dos israelitas vai sofrendo um processo natural de mudanças: no
período patriarcal uma só pessoa representava sua família diante de Deus
(ex. Abraão, Jó); no sistema tribal (após Jacó) a liderança começa a ser representativa, onde
cada chefe de clã (família) era o representante oficial; no sistema mosaico o
governo passa a ser exercido por uma pessoa e um Conselho de Anciãos
representativo de todas as tribos, dentre os quais se nomeava (elegia) 70 para
serem juízes (Dt 1.16; Êx 24.1-11; Nm 11.13-27); ainda nos dias de Josué, o
poder central de Moisés já começa a ser diluído entre os líderes civil (juízes
e/ou anciãos) e eclesiástico, visto que os sacerdotes (tribo de Levi) haviam
sido investidos de autoridade também.
Esboço
Básico
I –
Relembrando o Período de Peregrinação (1 a 4.40)
Introdução (1.1-5)
1. De
Horebe a Cades (1.6-46)
2. De
Cades a Heshbon e Bethpeor (2 e 3)
3.
Exortações à obediência com um alerta (4.1-40)
Nota histórica (4.41-43)
II –
Repetição e Explicação da Lei (4.44 a 26)
Introdução
Parte
1. A Lei (5 a 11)
1.
Recitação do Decálogo (5.1-21)
2.
Discurso sobre o Decálago (5.22 – 11.32)
Parte
2 – Leis especiais (12-26)
1. Referentes
à Religião (12.1-16.27)
2. Referentes
ao Governo (16.18-20)
3. Referentes
à vida social e privada (21-26)
III –
O Propósito de Deus para Israel
1. Futuro
(27-28)
2.
Presente (29-30)
IV – A
Despedida de Moisés (31 a 34)
1.
Quatro avisos solenes (31.1-29)
2. O
cântico profético de Moisés (31.30-32-44)
3.
Ordem para Moisés subir a monte Nebo para morrer (32.48-52)
4. As
bênçãos de Moisés sobre as 12 tribos (33).
Apêndice
(34)
Link
com o Novo Testamento
Certamente esse livro é um dos mais
citados no Novo Testamento. Quando tentado pelo diabo no deserto, Jesus lhe
responde cada vez citando literalmente os textos de Deuteronômio, com a frase “Esta
escrito”. Outras citações relevantes:
13.1 “Ele te conduz como um filho” (Atos 13.18)
4.24 “Deus, um fogo consumidor” (Heb 12.29)
6.4,5 “Ouve, ó Israel” (Mt 22.37,38; Lc 10.27)
10.17 ”Que
não faz acepção de pessoas” (Atos 10.34; Rm 2.11; Gl 2.6; Ef 6.9; Cl 3.25; 1Pe
1.17).
18.15 “Um
profeta semelhante a Moisés” (Atos 3.22; 7.37)
30.11-14 “O
mandamento não esta longe de ti” (Rm 10.6-8)
31.6-8 “Não
te deixará e nem te abandonara” (Js 1.5; Heb 13.5)
É
possível compararmos alguns textos: 4.35
– Mc 12.32; 17.6 e 19.15 – Mt 18.16;
2Co 13.1; Heb 10.28; 21.23 – Gl 3.13;
24.1 – Mt 5.31; 19.7; 25.4 – 1Co 9.9; 1Tm 5.18; 27.26 – Gl 3.10; 29.4 – Rm 11.8; 29.18 –
Heb 12.15; 30.4 – Mt 24.31; 32.17 – 1Co 10.20; 32.21 – Rm 10.19; 1Co 10.22; 32.35-36
– Heb 10.30; 32.43 (LXX) – Heb 1.6;
Rm 15.10.
Fica
evidente, pelo número de citações e referências, o quanto este livro influenciou
o pensamento de Jesus e dos escritores do Novo Testamento. A teologia (ensino)
do Novo não é distinta e nem conflitante com o que anteriormente Deus havia
revelado por meio de Moisés. O Evangelho é a interpretação do AT à luz dos
acontecimentos ocorridos no Calvário. Portanto, o Antigo Testamento ilumina o
Novo, enquanto o Novo Testamento interpreta o Antigo.
Estatísticas: 5º
livro da bíblica; 34 capítulos; 959 versos; 33 mensagens específicas de Deus.
Cronologia História
A elaboração de uma cronologia dos
fatos históricos da bíblia é sempre um exercício difícil, pois nem sempre os
acontecimentos são demarcados com indiscutível exatidão. Mesmo com o avanço
expressivo da ciência arqueológica há muito que ignoramos da época Patriarcal
(Gênesis), dos primórdios de Israel e seu estabelecimento em Canaã
(Êxodo-Rute). A partir da Monarquia (Davi) a cronologia começa a ter maior grau
de exatidão e conciliação com a História geral da época.
Cronologia Histórica
|
|
História
de Israel
|
Historia Geral
|
Egito-Palestina na época do Bronze Antigo
|
Império Antigo (2600-2500)
Império Médio (2100-1730)
Mesopotâmia
3ª dinastia de Ur (2100-2000)
Código de Hammurabi
rei
de Babilônia
(1800)
|
Patriarcas
|
|
Época do Bronze Médio
Chegada de Abraão em Canaã
(próximo de 1850)
|
|
Jacó e sua família sobem para o Egito
(próximo 1700)
Opressão dos israelitas no Egito
|
|
Moisés
e Josué
|
Egito – Ramsés II
(1304-1238)
|
Batalha em Cades (1286)
Saída dos israelitas do Egito
A Promulgação da
Lei – Monte Sinai
(próximo de 1250)
|
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