segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Evangelho Segundo Marcos: Data, Tema, Propósito e Público Leitor

The Doré Bible Gallery

Assim como os demais evangelhos, datar Marcos é algo difícil, embora muitos dos estudiosos cheguem à conclusão de que este Evangelho foi o primeiro dos quatro a circular entre as comunidades cristãs. O marco histórico é se ele compôs sua narrativa antes ou depois da “Queda de Jerusalém” (70 d.C.). Desta forma temos ao menos quatro posicionamentos quanto à data em que esta narrativa foi escrita:
Uma data nos anos quarenta 
O estudioso C. C. Torrey partindo da expressão “abominação que causa a desolação” (13.14) a relaciona à tentativa do imperador Calígula (40 d.C) de tentar colocar sua imagem no templo de Jerusalém, e conclui que o evangelho foi escrito pouco depois disto (1947, p. 261–62). Mas esta interpretação da expressão marcana não tem encontrado sustentação.  Outra hipótese é de que Pedro tenha viajado para Roma nos anos 40 após ser libertado da prisão (cf. Atos 12.17) e que Marcos tenha escrito a sua narrativa naquele tempo (1972, p. 97–102).[1] Entretanto, para uma data tão precoce pra este Evangelho, fica difícil explicar o silêncio de Paulo e outros escritores do Novo Testamento sobre ele, inclusive pelo fato de João Marcos havia participado com Paulo e Barnabé da primeira viagem missionária.
Uma data nos anos 50 
O argumento aqui está fundamentado na relação de Marcos para Lucas-Atos. O argumento assume que o livro de Atos termina ainda quando Paulo está vivo e em prisão domiciliar em Roma e que Lucas publica seu segundo volume nesse tempo (acerca de 62 d.C). Desta forma seu primeiro volume (Evangelho) deve ter sido produzido em alguma data anterior a 62 d.C. Partindo do pressuposto de que Lucas, bem como Mateus, utilizaram a narrativa marcana como uma espécie de roteiro e/ou fonte primária, o trabalho de Marcos fica delimitado à década de 50 (HARNACK, 1911).[2]
Uma data nos anos 60
Muitos dentre os estudiosos contemporâneos datam Marcos nos anos sessenta, por três razões: Primeiro, as primeiras tradições favorecem uma data para Marcos após a morte de Pedro.[3] Em segundo lugar, e talvez o mais relevante para a maioria é que a evidência interna de Marcos indica uma data durante ou logo após, o início da perseguição aos cristãos em Roma. Nessa linha interpretativa a narrativa de Marcos evidência aos seus leitores/discípulos o caminho para a cruz, que foi trilhado pelo próprio Senhor Jesus. Esta ênfase melhor se encaixaria numa situação em que os cristãos tivessem diante deles a perspectiva sombria do martírio, um cenário que se concretiza a partir de Roma na época ou depois da famosa perseguição de Nero aos cristãos em 65 d.C. ( CRANFIELD, 1966, p.8; ANDERSON, 1976) Em terceiro lugar, em Marcos 13 é possível ver o reflexo da situação na Palestina durante a revolta judaica e pouco antes da entrada romana para a cidade, e, portanto, devem ser datados entre 67 e 69 d.C.[4]
Diante destas argumentações uma data para o livro fica mais confortável entre o final dos anos cinquenta ou meados dos anos sessenta. Ainda que uma maioria prefira os anos sessenta, mantenho minha posição em favor dos finais dos anos cinquenta. A ênfase de Marcos na perseguição não exige que os leitores estejam sofrendo tal perseguição. A perseguição, como  ocorre ainda hoje nos países mulçumanos, é sempre uma possibilidade para o crente em todas as épocas, de modo que a inclusão de Marcos de muitos dos ensinamentos de Jesus sobre o assunto é perfeitamente compreensível nesse contexto mais amplo.
Tema e Propósito:
Diferentemente de Lucas, na narrativa marcana encontramos um mínimo de comentários editoriais e quase nada sobre o seu propósito ou o seu público-alvo. É preciso, portanto, dependermos dos primeiros testemunhos sobre Marcos e sobre o caráter do próprio evangelho para obter informações sobre seus leitores e seu propósito.
O tema de Marcos é ‘Cristo o Servo’. Este tema é extraído de 10.45, “Porque o Filho do Homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos”. Uma leitura cuidadosa de Marcos mostra como os dois temas deste verso, serviço e sacrifício, são desdobrados por Marcos.
Uma vez que Marcos apresenta Jesus como o Trabalhador, o Servo do Senhor, o livro enfoca a atividade de Cristo como a de um Servo fiel realizando efetivamente Suas atividades. Este foco parece evidente pelo estilo utilizado por Marcos no uso do termo Grego, “imediatamente” ou “então, assim então”, que ocorre 42 vezes neste Evangelho. Seu significado varia de sentido como em 1.10, para ([“em devido curso, então, na mesma hora”]; cf. 1.21 [“logo, assim que”]; 11.3 [“imediatamente, logo”]). Outra ilustração deste aspecto ativo está em que Marcos de forma proeminente usa o presente histórico.[5]
Este Evangelho é endereçado primeiramente ao leitor Romano. Isto fica evidenciado pelo fato deste evangelho ser escrito para a uma mentalidade metódica e pragmática, própria dos romanos. Tenney defende esta possibilidade com fortes argumentos:
O Evangelho de Marcos é conciso, claro e direto, estilo este que agradaria à mentalidade romana, que não gostava de abstrações e fantasias literárias. Há muitos latinismo em Marcos, como Modius para “alqueire” (4:21), census para “tributo” (12:14), speculator para “executor” (6:27), centurio para “centurião” (15:39,44,45) e outros. Para a maior parte destes termos havia equivalentes gregos. Parece que Marcos usou termos latinos por serem mais comuns e mais familiares. Este Evangelho insiste pouco na lei e nos costumes judaicos. Quando os menciona, explica-os mais completamente do que os outros sinóticos. A evidência interna do Evangelho adapta-se admiravelmente bem à tradição externa que diz ter sido de Roma o lugar de sua publicação. De qualquer modo, Marcos era apropriado para o leigo de mentalidade romana prática que estava ainda por evangelizar.[6]
Público Leitor
As fontes extra bíblica apontam para uma audiência cristã gentia, ou seja, não judaica, provavelmente em Roma. O destino romano do evangelho de Marcos é simplesmente uma inferência de sua proveniência romana. Se Marcos escreveu em Roma, provavelmente escreveu a Romanos. Isto é declarado ou implícito nas primeiras tradições sobre o evangelho, que têm Marcos registrando a pregação de Pedro para aqueles que tinham ouvido o grande apóstolo em Roma. Como pode ser observado no texto, encontram-se muitos latinismos neste evangelho o que o torna compatível com um público romano. Que ele escreve a não judeus parece clara a partir de sua tradução de expressões aramaicas, sua explicação dos costumes judaicos (como a lavagem das mãos antes de comer [7.3-4]), e, nos poucos textos que ele inclui sobre os rituais da lei Mosaica, é no sentido de sua cessação (cf. 7.1-23, esp. v. 19; 12. 32-34).
Características e Peculiaridades
1. O evangelho de atos em vez de discursos:
a) das 70 parábolas, Marcos apenas relata 18 e só tem 8 reais.
b) dos 35 milagres ele conta 10 a mais do que qualquer outro evangelista.
c) a palavra "imediatamente" aparece 41 vezes.
2. Este escrito em estilo jornalístico, gráfico e enérgico.
a) há 164 casos de uso do presente histórico.
b) o tempo imperfeito se usa exclusivamente também.
3. O evangelho marca-se pela qualidade da descrição da testemunha ocular
a) a descrição detalhada da casa de Pedro
b) a descrição detalhada do Cenáculo
c) a descrição dos sentimentos de Cristo.
4. Não contem genealogias, ou relatórios do nascimento e infância.
5. E geralmente cronológico no seu arranjo.
6. E conhecido como o evangelho de Pedro ou memórias de Pedro.
7. Apenas 23 versículos em Marcos são totalmente distintos de Mateus e Lucas.
8. Marcos cita o Antigo Testamento apenas 16 vezes.
9. Existe uma dúvida a respeito do final do evangelho (16.9-20).

Palavra Chave:
            Servo, Servo do Senhor.
Versos Chaves:
8.34-37. “E, chamando a si a multidão, com os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me. Porque qualquer que quiser salvar a sua vida {ou alma} perdê-la-á, mas qualquer que perder a sua vida por amor de mim e do evangelho, esse a salvará. Pois que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma? Ou que daria o homem pelo resgate da sua alma? {ou vida}”
10:43-45. “mas entre vós não será assim; antes, qualquer que, entre vós, quiser ser grande será vosso serviçal. {ou criado}  E qualquer que, dentre vós, quiser ser o primeiro será servo {ou escravo} de todos.  Porque o Filho do Homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos.”
Capítulos Chaves:
Capítulo 8 - é um capítulo chave em Marcos, muito semelhante ao capítulo 12 em Mateus, porque aqui há uma mudança tanto no conteúdo quanto no curso do ministério de Jesus. O evento que marca esta mudança é a confissão de Pedro, “Tu és o Cristo (o Messias)” (8.29). Isto é seguida imediatamente à revelação da sua morte, à chamada ao discipulado, e à transfiguração.
“Aquela proclamação de fé foi o gatilho para uma nova fase no conteúdo e no ministério de Jesus. Até este ponto Ele tinha procurado autenticar Suas credenciais Messiânicas. Mas agora Ele começa preparar Seus discípulos para a proximidade de seu sofrimento e morte nas mãos dos líderes religiosos. Os passos de Jesus começam a conduzi-lo para mais perto de Jerusalém — o lugar onde o Servo Perfeito demonstrará a extensão plena de seu serviço” (Wilkinson/Boa, 1983, p. 305).
Cristo como Visto em Marcos:
Certamente, a contribuição de Marcos é especialmente centralizada em apresentar o Salvador como o Servo Sofredor que dá Sua vida obedientemente pela redenção de muitos. O foco central é o seu preocupação em suprir as necessidades espirituais e físicas de outros. Esta ênfase nas atividades do Salvador-Servo é vista no seguinte:
Unicamente dezoito de todas as parábolas de Cristo são encontradas em Marcos alguns destes são apenas uma sentença ou frase — mas, ele lista trinta-cinco milagres realizados por Cristo, a mais alta proporção nos Evangelhos (Wilkinson/Boa, 1983, p. 321).

Esboço:
Com o tema do livro sendo Cristo o Servo. O verso chave, 10.45, fornece a chave para duas divisões naturais do Evangelho: o serviço do Servo (1.1-10.52) e o sacrifício do Servo (11.1-16.20). É possível dividirmos isto dentro de cinco seções simples:
I.
A Preparação do Servo para Serviço (1.1-13)
II.
A Pregação do Servo no Galileia (1.14-9.50)
III.
A Pregação do Servo na Peréia (10.1-52)
IV.
A Paixão do Servo em Jerusalém (11.1-15.47)
V.
A Glorificação do Servo na Ressurreição (16.1-20)













Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
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Historiologia Protestante
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Referências Bibliográficas
ANDERSON, Hugh. The Gospel of Mark. London: Marshall, Morgan & Scott, 1976.
BETTENCOURT, Estevão. Para Entender os Evangelhos.  Rio de Janeiro: Agir, 1960.
CARSON D. A., DOUGLAS, J. Moo & MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo:  ed. Vida Nova, 1997.
CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. São Paulo: Hagnos, 2006, 8ª ed.
CRANFIELD, C. E. B. The Gospel According to St. Mark. Cambridge: Cambridge University Press, 1966. 
DRANE, John (Org.) Enciclopédia da Bíblia. Tradução Barbara Theoto Lambert. São Paulo: Edições Paulinas e Edições Loyola, 2009.
GUTHIRIE, Donald. New Testament Introduction. Illinois: Inter-Varsity Press, 1980.
LEAL, João. Os Evangelhos e a Crítica Moderna. Porto: Livraria Apostolado da Imprensa, 1945.
HARNACK, Adolf. The Date of Acts and of the Synoptic Gospels. New York: Putnam, 1911.
REICKE, Bo. The Roots of the Synoptic Gospels. Philadelphia: Forness, 1986.
RYRIE, Charles Caldwell. The Ryrie Study Bible. Chicago: Moody Press, 1978.
SOARES, Sebastião Armando Gameleira & JUNIOR, João Luiz Correia. Evangelho de Marcos, v.1, ed. Vozes, Petrópolis, 2002.
TENNEY, Merrill C. (Org.). Enciclopédia da Bíblia. São Paulo: Cultura Cristã, 2008.
TORREY, C. C. The Four Gospels, 2nd ed. New York: Harper, 1947.
WENHAM, J.W. Did Peter Go to Rome in ad42?. Tyndale Bulletin 23 (1972) 94-102.
WILKINSON, Bruce and KENNETH Boa. Speaking Through the Bible. Nashville: Thomas Nelson, 1983.



[1] No entanto, Pedro está de volta à Palestina no tempo do Concílio de Jerusalém, em 48 ou 49 d.C. (Atos 15).
[2] O argumento de Reicke é semelhante, embora ele conclua que Marcos foi escrito em um tempo simultâneo ao de Lucas (1986, p. I77-80).
[3] O prólogo anti-Marcionita (final do século II?), Irineu (185 d.C., cf. Adv .Haer 3.1.2.). É possível incluir a citação do presbítero Papias (“Marcos, que tinha sido o intérprete de Pedro”) como se referindo ao tempo posterior à morte do apóstolo.
[4] Aqui temos duas perspectivas de interpretação: uma interpretação antecipatória, ou seja, o escritor escreve antes da destruição do templo; a intepretação descritiva, a destruição do templo já ocorreu e o escritor está trazendo à memória dos leitores o que Jesus havia dito sobre esse acontecimento. Podemos agrupar os comentaristas em dois blocos: por um lado, comentaristas como Anderson; Cranfield; Lane; Nineham; Schweizer e Taylor preferem uma data anterior à guerra judaica (65-68 d.C); por outro lado: Ernst; Gnilka; Grundmann; Pesch; Schmithals; E Luhrnann e Kummel datam em algum momento logo após a queda de Jerusalém (cerca de 70-73 d.C).

[5] O presente histórico grego é o presente do indicativo usado para narrar a ação passada de modo vívido (ex.: Atos 2:34 – “Mas ele mesmo [o patriarca Davi] diz.”).
[6] Tenney, Merrill C. O Novo Testamento – Sua Origem e Análise, ed. Vida Nova, São Paulo, 1972, pp.167-168.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

ATOS: Ambiente Geográfico e Histórico


Para uma compreensão mais ampla dos relatos registrados por Lucas é indispensável que se compreenda um mínimo da geografia e o contexto histórico em que estes eventos se desenvolveram.
A Palestina formava parte do Império Romano que se estendia desde a Inglaterra até a Mesopotâmia, chegando a excursionar e pressionar todo o Oriente Médio. Para poder administrar e governar melhor todo este imenso império eles o dividiram em províncias, sendo que algumas eram administradas pelo Senado e outras pelo próprio Imperador.
As governadas pelos senadores eram os territórios pacificados e integrados ao império e eram governadas por um procônsul.
Os territórios imperiais eram os que estavam na periferia do império e se constituíam em zonas de fronteiras, deste modo, estavam constantemente expostas a ataques dos povos não dominados. Exigiam, portanto, uma forte guarnição militar e eram governadas por um “legado” que dependia diretamente do governador. Por sua vez, estas províncias imperiais eram divididas em três categorias segundo seu grau de dificuldade em administrá-las: as “consulares”, maiores e onde ficavam instaladas varias legiões; as “pretorianas” recebiam apenas uma legião; e as “procuratórias”, consideradas as mais problemáticas eram governadas por um procurador.
Desta forma, tanto a Judéia quanto a Samaria estavam classificadas nesta terceira categoria, salvo um curto período (41-44 d.C) em que foram governadas pelo rei Agripa I, como parte de seu reino. O Império Romano sabia da fama de insurreição dos judeus e que, portanto as revoltas eram uma constante. Como sabemos, logo ocorreu a grande revolta (70 d.C.) no final do governo de Nero e a invasão e destruição de Jerusalém debaixo das ordens do então imperador Vespasiano.
Evidentemente que o livro de Atos não se restringe à Palestina, mas abrange todo o território Romano e se constitui em uma das mais fascinantes viagens por estas diversas regiões que foram palco tanto das ações de Pedro e Paulo como de milhares de cristãos que se espalhavam tão rapidamente como fogo em capim seco. Vejamos algumas destas regiões:
- Síria, esta próxima da Palestina, sua capital é Antioquia e chega a ser a terceira em importância dentro do império com aproximadamente 500.000 habitantes. Dentro desta província encontramos uma cidade que interessa muito ao leitor de Atos – Damasco – onde Paulo foi batizado. Esta província era a mais importante do Oriente, pois contava com quatro legiões para defender a fronteira contra os indomáveis partos e nabateos.
- Chipre, cuja capital era Pafos. Foi a pátria de um dos mais queridos personagem do livro de Atos – Barnabé.
- A Cilícia, cuja capital era Tarso, berço do Apóstolo Paulo.
- Capadócia, ficava ao norte da Cilícia.
- A região da Galácia, ocupava o centro da Ásia Menor, com suas regiões limítrofes da Psídia, Licaônia e Frígia.
- Ásia, que culturalmente era a mais importante e ocupava toda a parte ocidental da Ásia Menor, sendo contornada pelo mar da Grécia. Estava subdividida em outras regiões menores, tais como Caria, Misia e Lídia. Suas cidades tornaram-se muito conhecidas dos leitores de Lucas – Éfeso, a capital, famosa por seu templo e culto a Diana; Mileto,LaodiceiaColossosPérgamoSardesEsmirnaFiladelfia, etc... (também do Apocalipse).
- Lícia e Panfília, ao sul da região anterior, com importantes cidades portuárias e comerciais, como Atalia, Perge, etc.
- Bitínia e Ponto, eram duas regiões ladeadas pelo Mar Negro, chamada na antiguidade “Ponto Euxino”.
- Macedônia, está no continente europeu e sobre a Grécia, cuja capital era Tessalônica. Aqui temos também a importante cidade de Filipos, onde Paulo e Silas estabeleceram a primeira comunidade cristã na Europa.
- Acaia ou Grécia. Entre suas cidades mais importantes estão Atenas e Corinto.
- Egito, no continente Africano, cuja capital era Alexandria, a segunda em importância dentro do Império. Era uma cidade culta e comercial, com uma das maiores comunidades judaicas foram da Palestina. Ao sul do Egito estavam os países da Etiópia e Nubia.
Todas estas regiões tão distantes entre si por sua cultura, seus cultos, sua filosofia e o mosaico de seus povos, tinham sem embargo uma unidade fundamental proporcionado pelo Império Romano, com um governo central, uma boa administração e a influência da cultura e da língua grega ou helenística. Tudo isto, somados às viagens e um bom sistema de comunicação (epistolas) propiciara ao cristianismo uma expansão rápida e uma influência cada vez maior em todo este vasto Império.
Outro aspecto relevante é o fato de que este período do inicio da Igreja coincide com uma época de paz por quase todo o Império, resultado do esforço do imperador Augusto e seu sucessor Tibério, em cujo mandato nasceu Jesus em Belém. Também Calígula e Claudio exerceram uma política de tolerância religiosa com os povos dominados, o que permitiu que o cristianismo, a princípio confundido com o judaísmo, gozasse de ampla liberdade de ação. Ainda que Roma tivesse seus próprios deuses e culto, jamais os impôs aos povos conquistados.
Somado a tudo isto, é importante destacar as numerosas colônias de judeus que se espalhavam por todo o império, particularmente na Ásia Menor e Egito. Especula-se que se na Palestina houvesse aproximadamente um milhão de judeus, outro milhão na Síria Egito, e um milhão e meio no resto do Império. Estes judeus viviam autonomamente dentro de cada cidade, com sua sinagoga, o estudo da Lei, a visita periódica a Jerusalém e seu tributo ao Templo. Tinham até mesmo alguns privilégios dos cidadãos romanos, tais como dispensa do serviço militar, o descanso do sábado e certa jurisdição civil interna (pequenos tribunais).
Todavia, seu numero às vezes desproporcional em relação aos povos locais acabavam por produzir tumultos e a intervenção das autoridades. Um caso muito conhecido foi o decreto de Tibério no ano 19 d.C. que expulso os judeus da cidade de Roma (voltaram somente nos dias de Claudio em 49 d.C.). Outro caso aconteceu em Alexandria onde houve uma grande revolta da população contra os judeus, onde ocupavam dois dos cinco bancos da cidade. Foi também aqui em Alexandria que se produziu a primeira grande tradução do Antigo Testamento para o grego, conhecida por Septuaginta ou Versão dos Setenta, e que passou a ser utilizada inicialmente pelos judeus de fora da Palestina, mas que acabou sendo adotada pelos judeus menos ortodoxos. Os apóstolos e cristãos dos primeiros séculos utilizaram abundantemente esta preciosa tradução grega.
Conclusão
É neste complexo mundo antigo, com mais de setenta milhões de habitantes que formavam um só Império, o mais poderoso da terra, com suas legiões invencíveis e uma cultura considerada a maior expressão do pensamento humano, com seu mosaico de povos debaixo da  “paz romana”, que surge um pequeno grupo de pessoas, pobres, rudes e quase analfabetos, com a mensagem estranha de um Jesus que fora morto, mas que ressuscitou, e que ao final de pouco mais de trinta anos se faria presente em todo o território romano e que posteriormente se tornaria a maior e mais influente religião do Império e do mundo ocidental. E Lucas registra para nós de forma maravilhosa os primórdios desta história cristã.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
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Referências Bibliográficas
BAXTER, J. Sidlow. Examinai as Escrituras, v. 6. São Paulo: Vida Nova, 1989.
BERKHOF, Louis. New Testament Introduction. Eerdmans, 1915, https://archive.org/details/NewTestamentIntroduction Scanned and Edited Mike Randall.
CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. São Paulo: Hagnos, 8ª ed., 2006.
ERDMAN, Charles R. Hechos de Los Apóstoles. Ed. TELL, 1974.
RICE, Edwin W. People’s commentary on the Acts giving. Philadelphia: The American Sunday-School Union, 1896.
RYRIE, Charles C. Bíblia de estúdio Ryrie. Chicago (Illinois): Moody Press, 1991.
SMITH, T. C. Comentário Bíblico Broadman, v.10. Rio de Janeiro: JUERP, 1984.
WILLIAMS, David J. Novo Comentário Bíblico Contemporâneo – Atos. São Paulo: Vida, 1996.