"Em qualquer situação, pense primeiro: 'O que a Palavra de Deus diz
sobre isso’.
Robert B. Nichols
"A fé traz a bênção, mas a sabedoria gerencia essa bênção".
Gary H. Everett
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O livro de Provérbios compõe a
divisão da bíblia denominada de “Poéticos e/ou Sabedoria”. É possível classifica-lo como sendo uma antologia de admoestações e provérbios que visam orientar a conduta daqueles
que desejam agradar a Deus. Como expressa com presteza Bruce K. Waltke em seu prefácio
deste livro: “Em um mundo bombardeado por clichês vazios, lemas triviais e
mensagens ímpias, a expressão da verdadeira sabedoria está em falta nos dias de
hoje” (2011). E ainda em seu prefácio Waltke descreve com muita propriedade
o descaso com que o livro de Provérbios é tratado pelos evangélicos de forma
geral:
Tragicamente,
porém, a igreja praticamente descarta o livro de Provérbios, o qual foi escrito
para os jovens a fim de servir de bússola para guiar a embarcação de sua vida
(veja 1.2-6). Dos seus 930 ditos antigos, muitos cristãos conhecem três - temer
ao Senhor (1.7), confiar nele (3.5,6) e “[ensinar] a criança no caminho em que
deve andar” (22.6) - e possivelmente algo sobre a
“mulher
virtuosa” (31.10-31). Porém, o “temor do Senhor” é mal compreendido, o “confiar
nele” (3.5) é um chavão dissociado do livro, a promessa de que a criança não
abandonará a educação que recebeu na infância gera mais dúvidas do que
soluções, e o poema sobre a mulher virtuosa parece antiquado.
O
livro de Provérbios não é para ser lido de uma única vez, mas deve ser
apreciado como uma exposição de quadros em uma Galeria, pois cada um deles
exige uma atenção individual, bem como um momento às vezes prolongado de
reflexão – e aqui está a razão pela qual a grande maioria dos leitores da
Bíblia não apreciem devidamente o valor deste livro – pois, a leitura
sequencial sem as devidas pausas para reflexão acaba por sobrecarregar o
cérebro e desviar a atenção, como bem define William Alexander Leslie Elmslie de
que Provérbio é uma “experiência compactada” (2019, p. 13 – versão pdf).
Assim como utilizamos um programa de compactação de muitos arquivos em um só
local, assim também o livro de Provérbios compacta inúmeros e diversificados
ditos proverbiais em um só volume.
Outro
aspecto que não atrai grande número de leitores é que diversos capítulos do
livro são leituras de difícil degustação, porque mistura diversos sabores, uma
vez que os seus capítulos são agrupamentos de máximas independentes organizadas
por um fio condutor de sequência lógica ou de similitude, todavia, como ilustra
Elmslie em sua introdução ao estudo deste livro: “O provérbio faz para a
vida humana algo que a ciência faz para o mundo da Natureza: desperta o olhar
inflexível e o ouvido despreocupado para a maravilha do que parece comum”.
Somente a paciência e a reflexão nos permitirá enxergar além da aparência obvia
o ensino mais profundo contido naquela máxima e/ou axioma, aforismo, provérbio.
As
lideranças evangélicas e os púlpitos contribuem para o ostracismo deste
precioso livro bíblico; não é estudado periodicamente nas Escolas Bíblicas ou
nas reuniões especificas de estudo bíblico e com raríssimas exceções é
utilizado para pregações expositivas nos púlpitos. Mas a fatura desta atitude
tem chegado, quando contemplamos gerações jovens evangélicas tendo suas mentes
e corações infectadas por toda sorte de vírus midiáticos ideológicos nefastos e
destrutivos e eles não estão sendo imunizados, por aqueles que deveriam
fazê-lo, pelas dosagens dos princípios bíblicos dos quais Provérbios é
imprescindível.
Como
veremos Provérbios foi e continua sendo uma das formas mais extraordinárias de
didática pedagógica para ensinar e inculcar na mente e coração juvenil os
princípios permanentes e absolutos da Palavra de Deus, o que não sem razão foi
o método utilizado por Jesus Cristo para ensinar a mensagem e valores do Reino
de Deus, pois cada parábola, contém um único princípio a ser apreendido, ainda
que mais elaborado e expandido do que um provérbio; podemos até falar de que a
forma de ensinar de Jesus é parabólico proverbial.
Rubem
Alves um dos mais conceituados e respeitado pedagogo brasileiro, falecido
recentemente, defendia sua tese de que para se ensinar bem era preciso tão
somente um único ponto (verdade, princípio) e uma ilustração, o que faz de
Provérbios um livro didático por excelência. Imaginemos por alguns segundos uma
geração de crianças, juvenis e adolescentes tendo suas mentes diária e
homeopaticamente nutridas pelos provérbios bíblicos – um provérbio e uma
ilustração - que transformação extraordinária teríamos nas gerações futuras.
Título do livro
O
título hebraico para o livro é “Provérbios de Salomão, filho de Davi, rei de
Israel”, deriva da inscrição em 1.1 e 25.1.[1] O título da Septuaginta e/ou
Versão dos LXX[2]
traz um título ligeiramente diferente “Provérbios de Salomão, filho de Davi,
que governou em Israel”, e a Vulgata trás simplesmente “O Livro dos Provérbios”
(Liber Proverbiorum), de onde vem o nosso título em português "Provérbios".
Na
bíblia hebraica prevaleceu a prática de se nomear livros pelo termo chave de
seu primeiro verso – no caso do livro de Provérbios é "mashal"
(לשָׁמ), que designa uma ampla gama de tipos literários - alegoria,
lamento, símile e assim por diante - mas sua etimologia implica “semelhança”
e ou “comparação”. A característica predominante dos ditos dentro do
livro, portanto, parece ser de "comparação", onde breves
provérbios colocam uma imagem em comparação a outra, quer para reforçar ou
contrastar o princípio ensinado e pode ser de forma explícita ou implícita. Nem
todo provérbio isolado compara duas coisas, e em alguns casos estendem-se
consideravelmente além de um único dístico.
Três
das obras classificadas como sendo de sabedoria, trazem em seus versos de abertura
a autoria salomônica: "Os provérbios de Salomão, filho de Davi, rei de
Israel” (Provérbios 1.10); "As palavras do Pregador, o filho de Davi,
rei em Jerusalém” (Eclesiastes 1.1); e "O cântico dos ânticos, que
é de Salomão" (Cântico dos Cânticos 1.1). Outros livros do Primeiro
Testamento trazem sobrescritos semelhantes (cf. Deuteronômio; Neemias); o mais
provável é que tais identificações autorais foram colocadas pelo(s) editor(es)
em período posteriores ao registro primário dos textos referidos, como Samuel,
o sacerdote-profeta, ou Ezequias, o rei, ou até mesmo por um escriba, quando
esses livros foram compilados e organizados no cânon das Escrituras, o que de
forma alguma prejudica o valor e autenticidade de tais títulos, visto que já
eram de domínio público tanto os autores quanto suas respectivas obras
literárias.
Autoria
Ainda
que no transcorrer do livro haja reitera citação da autoria salomônica ((1.1;
10.1; 25.1), outros autores são mencionados Agur (30) e Lemuel (31),[3] assim como referência aos “Sábios”
(22.17-24.22 e 24.23-34),[4] e o último capítulo que
trata sobre a esposa ideal é anônima. E algumas das unidades textuais não
trazem qualquer identificação de seu autor. Muito provavelmente os sobrescritos
foram feitos pelos editores posteriores na medida em que faziam a seleção dos
materiais que comporiam a coleção proverbial israelita. Podemos dizer que o
livro assume a forma de uma antologia, pois, ainda que uma parte maior destes
provérbios sejam da autoria de Salomão, há uma gama de outros que são
provenientes de outros períodos da história israelita. Esses sobrescritos geram
algumas coleções distintas na sua atual composição:
1.
Provérbios de Salomão, filho de Davi, rei de Israel (1.1–9.18)
2.
Provérbios de Salomão (10.1–22.16).
3. As
Palavras dos Sábios (22.17–24.22).
4.
Estes também pertencem aos Sábios (24.23–34).
5.
Estes também são Provérbios de Salomão que os homens de Ezequias, rei de Judá,
transcreveram (25.1–29.27).
6. As
Palavras de Agur, filho de Jakeh, o massaita (30.1–14).
7. As Palavras de Lemuel, rei de Massa, com as quais
sua mãe o instruiu (31.1–9).
As últimas
duas breves coleções atraíram ditos diversos:
8.
Provérbios Numéricos (30.15–33; exceto vv 20,32–33).
9. Um
poema acróstico sobre uma mulher virtuosa (31.10–31).
É
possível perceber uma variação de estilo, tema e gramática, dentro das coleções
um e cinco, que pode indicar sub unidades (10.1-14. 35; 15.1-22; 16 e 25.1-27; 28.1-29).
Na
versão grega (LXX), estas sub unidades foram editas em posições diferentes do
texto hebraico, provavelmente indicando que os tradutores identificaram esses
materiais como advindos de material externo da literatura hebraica. O arranjo
editorial da Septuaginta (LXX) fica assim: 22.17–24. 22; 30.1-14; 24. 23–34; 30.15–33;
31.1–9; 25.1–29.27; 31.10–31.
O fato
de que se encontra um mesmo provérbio em mais de uma subdivisão literária maior
se constitui em uma indicação de houve múltiplas coleções. Outras indicações
são que breves ditos ocorrem mais de uma vez em forma idêntica, mas com linguagem
ligeiramente alterada, e expressões específicas aparecem em mais do que um
contexto literário.
A
explicação para se nominar o livro com o nome de Salomão é pelo fato dele ser
reconhecidamente dentro da cultura israelita/judaica e mesmo no contexto
Oriental Antigo, como possuindo uma sabedoria excepcional. A menção honrosa a
Salomão pela sua sabedoria ultrapassar o de todos os outros reis reconhece este
fato, sendo um testemunho propositivo de seus súditos em reconhecer que seu rei
foi uma pessoa excepcional. O registro sobre Salomão em 1 Reis 3; 4 e
10; especialmente 4.30-34 e 2 Crônicas 9.1-24 indica uma forte tradição em
relação a excepcional sabedoria e versatilidade dele em compor declarações de
sabedoria.
Fora
de literatura canônica bíblica há um amplo testemunho que corrobora a autoria
salomônica de Provérbios: na literatura Apócrifa do Primeiro Testamento (o
livro de Eclesiástico [180 A.C.] traz a declaração de que Salomão foi um grande
escritor de literatura de sabedoria (47.13-17). No Talmud babilônico há
referência de que Ezequias (rei) escreveu [transcreveu] os livros de Isaías,
Provérbios, Canção das Canções e Eclesiastes. Os Pais da Igreja citam muitos
textos de Provérbios, reconhecendo sua canonicidade e nunca levantaram questões
quanto a autoria de Salomão.
Data
Evidência
favoreceria nomes literais para os autores em questão e uma data de compilação
final anterior cerca do século VII a.C. em contraponto aos que defendem que os
nomes dos personagens são simbólicos defendem uma data final da editoração em
um período muito avançado cerca do século II a.C.
As
literaturas de sabedoria bíblica não têm preocupação cronológica, o que está em
harmonia com a proposição atemporal de seus ensinamentos. Seus princípios
visavam a vivencia de qualquer indivíduo, israelita ou não israelita. Assim, os
sábios silenciam em relação aos marcos histórico-temporal, optando em se deter
nas coisas acessíveis a todo ser humano.[5] Desta forma, a definição
da cronologia relativa às várias coleções no livro de Provérbios deve ser feita
com considerável reserva.
O
esforço de estudiosos para datar o livro no período posterior ao exílio como
decorrente da influência persa e até mesmo grega ficou bastante fragilizada
pela crescente redescoberta dos ensinamentos egípcios[6] e babilônicos em um
período milenar antes de Salomão, bem como da rica literatura fenícia de
Ugarite (Ras Shamra) do século catorze a.C., como os “Provérbios Sumérios
Antigo”[7] e “As Instruções de Shuruppak”,[8] provérbios Sumérios que se
constituem nas primeiras coleções de provérbios conhecidas do mundo. Essas
coleções, revelam claramente que os israelitas desde muito antigamente tiveram
intenso contato com essas culturas e assim assimilaram suas formas proverbiais
pedagógicas. Desta forma, seja qual for a data da redação final do livro, o seu
conteúdo com certeza revela um contexto primitivo muito antecedente ao judaísmo
exílico ou pós-exílio, como conclui Milton P. Horne: “Os leitores que
desejam compreender a matriz histórica por detrás de Provérbios e Eclesiastes
devem contar com a influência destas tradições de sabedoria mais antigas e
amplamente influentes” (2003, p. 51). E Horne deixa claro de que não há
necessidade de se provar qualquer tipo de dependência literária, tipo
copiar-colar, em relação a estas obras mais antigas no que se refere à produção
das literaturas de sabedoria de cunho israelita:
Contudo, é evidente que tais obras ajudaram a
definir o contexto intelectual maior em que os materiais bíblicos foram
produzidos. As formas literárias e os temas teológicos eram comuns aos
intelectuais, desde a crescente fértil até à primeira catarata do Nilo.
Concedendo tal pressuposto, a compreensão da literatura de sabedoria bíblica
requer uma comparação estreita com a literatura muito semelhante de todo o
Próximo Oriente. Tal estudo comparativo proporciona ainda uma riqueza de
evidências que ajudam os estudiosos a reconstruir tanto o contexto teológico
como sociológico a partir do qual surgiram várias tradições de sabedoria (HORNE,
2003, p. 52).
Aceitando
a antiguidade das inscrições que encabeçam as diversas coleções do livro é
possível colocar a maior parte dos materiais no século IX AC (Salomão) e no
final do século VIII AC (Ezequias). Tratando sobre a redação ou editoração
final, podemos concordar com Harrison de que o livro foi concluído durante o
reinado de Ezequias, em harmonia com a declaração de (25.1). A conclusão de Gary H. Everett (2017) pende
mais para o período do próprio rei Salomão:
A data
de Provérbios dentro do reinado do rei Salomão é muito provável porque ocorreu
durante a "era de ouro" de Israel, que foi um período na história de
Israel quando houve paz e prosperidade que criou um ambiente propício ao
desenvolvimento das artes e da literatura.
Mas R.
Derek Kidner (1980, p. 27) na introdução de seu comentário, expressa as
opiniões de muitos outros estudiosos de uma editoração final muito mais avançada:
Não podemos
definir se o Livro foi completado no reinado de Ezequias, ou apenas um século
ou mais antes de Ben Siraque, que fez uso dele; tudo quanto se pode dizer é que
seu conteúdo inteiro pode ter existido, embora sem ser reunido num só livro
(ver, outra vez, 25.1), quando Salomão ainda estava com vida.
Destinatários
Em nenhum momento o livro especifica um destinatário,
pois a sabedoria deve ser aplicada de forma universal a todos as pessoas
indistintamente quer sejam judeus ou gentios. Corrobora com essa tese o fato de
que Provérbios e seus correlatos da literatura sapiencial Jó, Eclesiastes e
Cantares não contém referências eminentemente judaicas: a nação de Israel nunca
é mencionada, assim como o conjunto das leis judaicas, rituais, festas,
cerimônias, sacrifícios, o dia do sábado, ou o dízimo; igualmente não se
encontram em suas páginas referências proféticas messiânicas – “É claramente
uma escrita judaica que é projetada para aplicação universal para todas as
idades e Culturas” (EVERETT, 2017).
Mas no prefácio inicial se mencionam três tipos de
pessoas que se relacionam com está biblioteca de sabedoria: o jovem[9] (ou simples) são aqueles
ingénuos, inexperientes que carregam em si a tendência ao erro; o sábio, poderá
aprender e desenvolver ainda mais sua sabedoria distinguindo o que é
verdadeiro, louvável e bom do que é falso, vergonhoso e ruim, pois há sempre
algo a se aprender; por fim há os tolos ou néscios, aqueles que desprezam o
caminho da sabedoria e escolhem alegremente o caminho da loucura. A diferença
entre o ingênuo e o tolo é que o primeiro pode aprender e o segundo jamais
aprendera.
Natureza, função e propósito
O
prefácio do livro (1.2-6) conclui com uma declaração temática (1.7), de maneira
que, servem como uma introdução à primeira coleção e, possivelmente, a todo o
livro. O vocabulário dos sábios pode ser constatado em todo o texto: sabedoria,
disciplina, palavras perspicazes; disciplina perceptiva, ou seja, correta,
justa e íntegra; prudência, conhecimento e perspicácia; ensino e direção;
símile, enigma, palavras do sábio. Além disso, as expressões verbais enfatizam
o processo de aprendizagem e ensino: saber, perceber, receber, dar; ouvir,
adicionar, obter; para entender. A declaração temática, “O temor do Senhor é
o princípio (origem) da sabedoria (conhecimento); os tolos desprezam a
sabedoria e a instrução”, vincula e distingui diretamente a sabedoria
provinda de um relacionamento pessoal com Deus, da sabedoria originária da
mentalidade humana (como o faz também Tiago em sua epístola), revestindo desta
forma os provérbios contidos no livro com um caráter religioso. O termo
hebraico torna a piedade (exercício da genuína fé) o fundamento de toda
sabedoria e conhecimento. De maneira que a utilização do Tetragrama[10] (YHWH -
"Yahweh") raríssimo na literatura de sabedoria (Jó e Eclesiastes), se
ajusta perfeitamente neste livro.
Como
todos os demais livros que compõem o cânon bíblico essa biblioteca de
provérbios expressam uma sabedoria pelo prisma teológico, conforme deixa claro
o editor nas primeiras linhas: “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria”[11] (1.7; cf. 9.10), ou seja,
a natureza fundamental desta sabedoria foi originalmente teológica. Desta forma
Provérbios se preocupa em embasar a vida do israelita comum, diferente de
Levítico que tem como alvo primário os que exercem o sacerdócio, em seu relacionamento
com Deus. Dessa relação produz-se o discernimento moral e a capacidade de
julgar o que é certo (2.6-22), uma relação adequada para com as posses
materiais (3.9,10), trabalho laborioso (6.6-11), o equilíbrio e senso
necessários para se viver neste mundo (3.21-26), e o relacionamento correto com
o próximo. As grandes críticas dos profetas veterotestamentário é justamente o
fato de não perceberem na vida cotidiana dos israelitas a expressão dessa
sabedoria; Jesus confronta os fariseus e escribas de seus dias justamente pelo
fato de que o conhecimento deles não os tornava mais sábios, ou seja, úteis aos
outros, mas apenas acariciava e alimentava o ego deles; e certamente essa é uma
das fontes em que Tiago bebeu quando da elaboração de sua epístola onde
enfatiza que a fé cristã que não se expressa em suas múltiplas relações cotidianas
sociais e interrelacionais, torna-se inútil.
Ênfases Teológicas
Entre os argumentos daqueles que minimizam a relevância
do livro de Provérbios está de que nele há pouca ênfase teológica, na verdade é
uma falácia daqueles que tem preguiça de examinar pacientemente o conteúdo do
livro. A. K. Helmbold em seu precioso verbete na Enciclopédia organizado por Merril
C. Teney (2008, p.1117) destaca diversos aspectos teológicos contidos em
Provérbios:
A
soberania de Deus é enfatizada (16.4,9; 19.2 i; 22.2). A onisciência é mostrada
(15.3,11; 21.2). Deus é visto como o Criador (14.31; 17.5; 20.12). Ele governa
sobre a ordem moral (10.27,29; 12.2). As ações do homem são julgadas por Deus
(15.11; 16.2; 17.3; 20.27). Ainda nessa vida a virtude é recompensada (11.4;
12.11; 14.23; 17.13; 22.4). A verdade é o fundamento da ética (17.23).
O Uso de Provérbios no Novo Testamento
Há cinco passagens no livro de Provérbios que são citadas pelos autores
do Novo Testamento:
Provérbios 3.11-12 “Filho meu, não rejeites a disciplina do Senhor, nem te enojes da sua
repreensão porque o Senhor repreende aquele a quem ama, assim como o pai ao
filho a quem quer bem”.
Hebreus 12:5-6 " e já vos esquecestes da exortação que vos admoesta como a filhos: Filho
meu, não desprezes a correção do Senhor, nem te desanimes quando por ele és
repreendido pois o Senhor corrige ao que ama, e açoita a todo o que recebe por
filho".
Provérbios 3.34 “Ele escarnece dos escarnecedores, mas dá graça aos humildes”.
Tiago 4.6 " Todavia, dá maior graça. Portanto diz: Deus resiste aos soberbos dá,
porém, graça aos humildes”.
1 Pedro 5.5 " Semelhantemente vós, os mais moços, sede sujeitos aos mais velhos. E
cingi-vos todos de humildade uns para com os outros, porque Deus resiste aos
soberbos, mas dá graça aos humildes”.
Provérbios
11.31 "Eis que o justo é castigado na terra quanto mais o ímpio e o
pecador!
1 Pedro 4.18 "E se o justo
dificilmente se salva, onde comparecerá o ímpio pecador?”
Provérbios
25.21-22 "Se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe pão para comer, e se tiver
sede, dá-lhe água para beber porque assim lhe amontoarás brasas sobre a cabeça,
e o Senhor te recompensará”.
Romanos 12.20 "Antes, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer
se tiver sede, dá-lhe de beber porque, fazendo isto amontoarás brasas de fogo
sobre a sua cabeça”.
Provérbios
26.11 "Como um cão retorna ao seu vômito, então um tolo retorna à sua
loucura".
2 Pedro 2.22 "Deste modo sobreveio-lhes o que diz este provérbio verdadeiro
Volta o cão ao seu vômito, e a porca lavada volta a revolver-se no lamaçal”.
Verso Chave
Ainda
que não haja uma unanimidade um grande número de comentaristas bíblicos aceitam
que o verso (1.7) “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria; mas os
tolos desprezam a sabedoria e a instrução” se constitui em uma importante
chave para “desbloquear” o livro. Em (9.10) a expressão é ampliada: “O temor
do Senhor é o princípio da sabedoria e o conhecimento do Santo é o entendimento”
(cf. Jó 28.28; Salmo 111.10).
Encontraremos
aos menos dezoito referências à expressão “temor do Senhor” no transcorrer
do livro de Provérbios (1.7, 29; 2.5; 3.7; 8.13; 9.10; 10.27; 14.2, 26-27; 15.16,
33; 16.6; 19.23; 22.4; 23.17; 24.21; 31.30). Quando se lê cuidadosamente todas
essas referências obtêm-se uma percepção da relevância dessa temática dentro do
contexto de todo o livro. E como reforço hermenêutico a expressão abre (1.7) e
fecha (31.30) o livro.
Jesus Cristo em Provérbios
O que
Provérbios Diz sobre Jesus Cristo? Na narrativa evangélica de Mateus
encontramos Jesus sendo desafiado pelos fariseus e escribas a realizar um
milagre para eles verem e na resposta de Jesus está uma afirmação muito
interessante: “A rainha do Sul [Sabá] se levantará no juízo com esta geração e
a condenará, pois ela veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de
Salomão, e agora está aqui o que é maior do que Salomão” (Mt 12.42), de
maneira que, Jesus estabelece um link
direto com Salomão como expressão da mais qualificada sabedoria, visto que
Jesus como Deus havia sido a fonte de onde Salomão bebeu a sabedoria.
Mesmo
uma leitura simples de Provérbios e as narrativas evangélicas revelara uma
perfeita sintonia entre a vida e ensino de Jesus e a sabedoria expressada nos
provérbios. Salomão falhou em vivenciar seus próprios ensinos, mas Jesus Cristo
é um padrão perfeito a ser seguido pelo povo de Deus – “Qualquer um que diga
que é cristão deve viver como Cristo viveu” (1 João 2.6).
O
sábio de Provérbios faz uso continuo do “livro da Criação” para extrair das “leis
naturais” o néctar da genuína sabedoria a ser vivenciada; Jesus a eterna
Palavra Criativa, estava lá desde o início (João 1.1-5; Hebreus 1.1-4;
Colossenses 1.15-17), ele é a origem de toda sabedoria.
O que devemos fazer para obter
o máximo deste livro?
O
elemento essencial para um estudo eficaz de Provérbios é a fé em Jesus Cristo,
pois não é possível vivermos sabiamente antes de termos vida, e a vida somente
é possível por meio de Jesus (João 3.16, 36).
O que
se aplica ao estudo de Provérbios se aplica ao estudo de qualquer livro da
Bíblia: é necessário que estejamos espiritualmente preparados, que sejamos diligentes,
disciplinados no estudo. Mas sem dúvida alguma a disposição para obedecermos ao
que Deus está ensinando na sua Palavra é indispensável e essencial (João 7.17),
como tão bem expressou F. W. Robertson: “a obediência é o instrumento para o
genuíno conhecimento espiritual”. O Espírito Santo ensina os sérios, não
os curiosos.
No
transcorrer da leitura vamos encontrando os imperativos “ouvir” e “dar
ouvidos” (Pv 1.8; 4.1,10; 5.7; 7.24; 8.6, 19.20; 22.17; 23.19,22); muitos
outros versículos mostram os benefícios para aqueles que obedecem (que ouvem,
dão ouvidos e atendem) aos ensinos contidos no livro (1.5,33; 8.34; 12.15; 15.31-32).
Por
outro lado, o sábio alerta para não darmos ouvidos, crédito aos ensinos que nos
afastem do caminho da justiça e da verdade (19.27; cf. Sl 1.1). Isso não
significa que não possamos ler ou estudar outras literaturas, mas todas as leituras
devem ser feitas à luz das Escrituras. O próprio Salomão tinha um conhecimento
universal e o apóstolo Paulo ensina que podemos ler, ouvir sobre tudo, mas
reter, absorver e praticar apenas o que seja bom e útil, e o único padrão de
regra e prática constituído é a Palavra de Deus. “Cuidado com a atmosfera dos clássicos”,
escreveu Robert Murray M’Cheyne a um amigo na faculdade. “É verdade que
devemos conhecê-los; mas apenas como os químicos lidam com venenos - para
descobrir suas qualidades, não para infectar seu sangue com eles”. Quem
quer viver sabiamente neste mundo ouça o livro de Provérbios.
Utilização livre
desde que citando a fonteGuedes, Ivan PereiraMestre em Ciências
da Religião.me.ivanguedes@gmail.comOutro BlogHistoriologia
Protestantehttp://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
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WALTKE, Bruce. Comentários
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Paulo, Editora Cultura Cristã, 2011.
Referências Bibliográficas (outras
obras relacionadas ao tema)
ARNOLD, Bill T. e BEYER, Bryan
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RADMACHER, Earl; ALLEN, Ronald B.; HOUSE, H. Wayne (Editores). O novo comentário bíblico AT, com recursos adicionais — A Palavra de Deus ao alcance de todos. Rio de Janeiro: Editora Central Gospel, 2010.
[1] O título abreviado "Os
Provérbios de Salomão" em 10.1 é um subtítulo dentro da coleção maior
(caps. 1-24), e outro título em 25.1, "Estes também são provérbios de
Salomão", começa a segunda coleção salomônica (caps. 25-29).
[2] Essa foi a primeira tradução das
literaturas religiosas judaica para uma outra língua, no caso aqui o grego.
[3] Ambos foram anexados ao final do livro
do qual se pode inferir duas possibilidades:
que eles foram escritos em uma data posterior, ou talvez seus escritos
não fossem considerados no mesmo nível dos que foram produzidos por Salomão.
Mas nada desses personagens se conhece fora de suas menções em Provérbios.
[4] Um grande número de estudiosos sugere
que a frase "palavras do sábio" encontrada no Provérbios
(22.17; 24.23) faz referência a material que Salomão selecionou de outras
fontes de sabedoria Oriental. Corrobora com esta conclusão o fato de que alguns
destes provérbios são semelhantes a um Escrita egípcia intitulada “A Instrução
de Amenemope” (c. 1200 a 1300 B.C.) e também o fato de que em Eclesiastes
(12.9-10) afirma-se que o Rei Salomão procurou outras fontes de literatura da
sabedoria. De fato, Salomão foi o rei mais internacionalizado da história
Israelita e seus múltiplos casamentos diplomáticos o colocou em contato direto
com as mais diversas culturas da época.
[5] Com Ben Sira, ocorreu uma mudança
decisiva, e as tradições sagradas de Israel entraram no repertório de
professores profissionais. Em contraste com a Literatura de Sabedoria anterior,
Sirach (Ecclesiasticus) pode ser datado com confiança para a década entre 190 e
180 A.C.E.
[6] Na literatura egípcia antiga, a
literatura da sabedoria pertencia ao gênero sebayt ("ensino") que
floresceu durante o Reino Médio do Egito e tornou-se canônico durante o Novo
Reino. Obras notáveis do gênero incluem as Instruções de Kagemni, As Máximas de
Ptahhotep, as Instruções de Amenemhat, e o Ensino Legalista (cf. Wisdom literature | Project Gutenberg Self-Publishing
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[7] Provérbios sumérios constituem o maior
corpus mais antigo de provérbios do mundo. Eles datam, em geral, do antigo
período babilônico (c. 1900-1600 B.C.). Além de um número limitado de provérbios
egípcios, os de origem bíblica e clássica chegam mais perto do tempo e da
proximidade geográfica dos provérbios sumérios. Os provérbios sumérios são o
ramo mais antigo de um fenômeno universalmente conhecido.
[8] As Instruções de Shuruppak são um
conjunto de provérbios sumérios de 4.600 anos de idade dados por um rei ao seu
filho, que essencialmente definiram como ele deve se comportar. As inscrições
antigas foram gravadas em script cuneiforme em tábuas de argila, e hoje estão
entre os textos literários mais antigos sobreviventes do mundo.
[9] Nos dias de Salomão havia a necessidade
de se preparar adequadamente jovens para a administração pública, de maneira
que o livro de Provérbios seria uma espécie de Manual Acadêmico, visto que a
sabedoria é necessária para a formação de um caráter sadio. Quem dera os
funcionários públicos de hoje tivessem em Provérbios seu manual de ética.
[10] As quatro letras do alfabeto hebraico
que compõem este tetragrama (escritas da direita para a esquerda) são י (yod), ה
(he), ו (vav, chamada também waw), e de novo ה (he). Em português (como em
inglês e françês) a transliteração usual é YHWH, mas encontram-se também na
forma YHVH (como em espanhol).
[11] Esse temor ou reverência por Yahweh é
“uma das frases mais repetidas” em todo o livro (cf. Provérbios 1.29; 2.5; 9.10;
10.27; 14.26, 27; 15.16, 33; 16.6; 19.23; 22.4; 23.17).