terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Natividade : Momento de Ruptura e Renovação

 
    O evangelista Mateus escreve sua narrativa evangélica muitos anos depois dos acontecimentos terem se desenvolvidos. Sua narrativa tem um forte teor judaico e suas preocupações peculiares são a de colocar Jesus de Nazaré como centro das revelações veterotestamentária e ao mesmo tempo demonstrar que Jesus veio romper com um sistema religioso pernicioso que havia substituído a verdadeira religião estabelecida por Yahvé  e arduamente proclamada por todos os profetas anteriores e agora expressado no Evangelho proclamado e vivenciado por Jesus Cristo.
    Portanto, o Natal não é meramente uma festa litúrgica ou religiosa, mas é também um momento de reflexão profunda que deve sempre nos conduzir a uma ruptura com tudo o que de forma direta ou indireta nos faz desviar da genuína fé evangélica. Este é o tempo oportuno para efetuarmos as transformações radicais que são necessárias em nossa vida cristã, que na medida em que o tempo vai passando, distancia-se cada vez mais dos princípios estabelecidos pelo próprio Senhor Jesus. Não é por acaso que na primeira carta, do conjunto de sete, que Jesus envia às igrejas espalhadas pela Ásia Menor, após tecer alguns elogios à igreja de Éfeso, Ele declara: “Contra você, porém, tenho isto: você abandonou o seu primeiro amor.” (Ap 2.4).
    Ao longo dos séculos os israelitas foram desviando-se do espírito da Lei e se emaranhando cada vez mais com a letra da Lei. O espírito da Lei era o único meio pelo qual eles poderiam manter seu relacionamento sadio com Deus, quer fossem nos momentos cúlticos quer fossem nos exercícios de seus relacionamentos sociais, pois a Lei dada por Deus através de Moisés abrangia ambas as esferas: religiosas e sociais. Mas a opção pela letra da Lei deformou totalmente tanto o relacionamento com Deus, quanto os relacionamentos sociais. A religião israelita tornou-se apenas mais um exercício religioso mecanizado e estéril, do qual Deus reiteradamente declarava que não tinha nenhuma satisfação; como também a religião judaica tornou-se um terrível instrumento de opressão e exploração da grande maioria de pessoas, e um refúgio para a manutenção a qualquer preço o do status de uma minoria privilegiada.
    proposta de Mateus é deixar claro que Jesus Cristo vem resgatar o espírito da Lei, proporcionando a oportunidade para um novo e sadio relacionamento com o Pai, sendo Ele mesmo o único meio para se alcançar este objetivo. Mas Jesus vem também por meio de Seu evangelho reestruturar de forma concreta os relacionamentos sociais, de maneira que toda exploração ou alijamento do outro, fosse totalmente abolida, e as pessoas pudessem reconhecer-se no outro proporcionando relacionamentos sociais justos e construtivos.
    O Natal é muito mais do que bolas coloridas e troca de presentes. O Natal é o marco inicial desta transformação radical, desta ruptura total – onde o relacionamento com Deus volta a ser o ponto convergente da vida, pois para isto o ser humano foi criado à imagem e semelhança de seu Criador; onde os relacionamentos humanos devem expressar em grau, gênero e numero o agradável e positivo relacionamento com Deus.
    O propósito de Mateus desde as primeiras linhas de sua narrativa é desenvolver estes temas centrais – o verdadeiro relacionamento com Deus que refletem nos relacionamentos humanos mais básicos e elementares.
    Quando Mateus inicia sua narrativa evangélica com a figura emblemática de Abraão ele traz à memória de seus leitores judaicos o momento sublime em que Deus propõe uma forma de se relacionar com o ser humano, resgatando os momentos iniciais do Éden. E quando Deus declara a Abraão que esta aliança deveria abençoar todas as famílias da terra, Ele está redimensionando os relacionamentos humanos, onde a bênção recebida deve ser sempre compartilhada com todos e nunca armazenadas em grandes e maiores celeiros.
    Assim como o chamado de Abraão é o marco inicial desta renovada forma de agir e interagir de Deus com o ser humano, assim também, o Natal é o grande paradigma que deve nortear nosso renovado relacionamento com Deus e com o próximo.

Amaras a Deus acima de todas as coisas e ao teu próximo como a ti mesmo.”

    Que neste Natal eu e você possamos nos abrir para esta proposta renovadora e remodeladora  de Deus para as nossas vidas; que possamos sentir os ventos do Espírito renovando nosso relacionamento com Deus e com os nossos semelhantes.

Que este Natal possa produzir e reproduzir as mudanças e rupturas que tanto se fazem necessário para retomarmos ao nosso primeiro amor.


Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
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sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Natividade : Tudo tem sua Origem

 


No princípio era o verbo e o verbo era Deus
e o verbo estava com Deus ...E o verbo se fez carne e habitou entre nós... 
(Jo 1:1,14) 

As folhas do calendário de 2020 estão passando rapidamente e mais uma vez as primeiras luzes e os primeiros sons alegres do Natal começam a serem percebidos.

O Natal é uma época incomparável, pois nos faz pensar na VIDA.

Os evangelistas Mateus e Lucas optaram por registrarem alguns dos importantes acontecimentos e eventos que interagiram diretamente no nascimento de Jesus. O primeiro, objetivando seus leitores judaicos, vai entrelaçando as profecias do AT e atualizando sua efetivação no nascimento daquele que tantos profetas pré anunciaram e que cada descendente de Abraão fiel aguardavam ansiosamente. Lucas cujos leitores eram de origem estrangeira, ou seja, não eram tão familiarizados com o pano de fundo judaico e suas profecias, opta por apresentar os personagens principais, fazendo uma narrativa dual de João Batista, o precursor, e Jesus. E na alternância destas duas histórias o evangelista agrega os demais personagens sendo que Jesus sempre é o foco principal e no final, como em ato apoteótico, Jesus é proclamado como aquele que veio para Salvar o ser humano de sua situação desesperadora.

Mas o evangelista João, que não trás nenhum detalhe da infância de Jesus, mas também diferentemente de Marcos que inicia sua narrativa a partir de seu batismo no rio Jordão, o quarto evangelista inicia sua narrativa evangélica com um hino incomparável em sua beleza e que demonstra não somente a origem Humana de Jesus, quando de Seu nascimento de Maria, mas também a sua origem Divina.

Muitos estudiosos entendem que este hino já era cantado nas primeiras comunidades cristãs dos dias do Evangelista e pensando na maneira como iniciaria a apresentação do personagem central de sua narrativa e provavelmente já tendo conhecimento das narrativas elaboradas por Mateus e Lucas, ele opta por inserir este hino que de forma incomparável apresenta Jesus Cristo como a palavra substancial do Deus vivo, salvador de todos aqueles que cressem ou viessem a crer.

O hino nos proporciona uma visão cósmica do Cristo em quem Deus revela o mistério, que segundo Paulo, estava “escondido desde antes dos séculos e predeterminado para a nossa glória” (1Co 2.7,8).

A palavra Logos para se referir ao Jesus preexistente, esta vinculada à ideia de revelação pela Palavra, comprovação da presença e da ação do Deus vivo revelando Seu próprio mistério. Jesus, portanto, é a intervenção direta de Deus na História da humanidade pela Sua Palavra pessoal; Deus, por meio de Jesus Cristo, esgota o que nos tem a dizer!

“Ninguém jamais viu Deus, o Unigênito que está no seio do Pai, foi ele que no-lo manifestou” (1.18).

João inicia sua narrativa evangélica com a declaração de que a Revelação máxima de Deus, esta unicamente na pessoa de Jesus Cristo, cuja glória o evangelista expressa através de dois movimentos entrelaçados: em um, ao se referir ao Cristo, ele se transfere ao principio de todas as manifestações de Deus e, para tal fim, utiliza-se dos termos utilizados na narrativa da Criação e do Novo Gênesis; no outro movimento, ele faz entender que a ação criadora e salvadora de Deus jamais será corretamente compreendida a não ser em função da glória revelada por meio de Jesus Cristo.

A pessoa de Jesus é o cerne das narrativas evangélicas. A única preocupação dos escritores do Novo Testamento foi, sem qualquer sombra de dúvida, a de dar uma resposta a esta questão sobre quem Ele era. Portanto, suas narrativas não são amontoadas de teorias abstratas, mas testemunhos singulares sobre Aquele que foi visto por olhos humanos, apalpado por mãos humanas, apresentado por palavras ouvidas por criaturas humanas.

Jesus Cristo!

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Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
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Referência Bibliográfica
BRUCE, F. F. (Editor) Comentário bíblico NVI – Antigo e Novo Testamento. São Paulo: Editora Vida, 2008.
JEREMIAS, Joaquim. Estudos no Novo Testamento. São Paulo: Ed. Academia Cristã Ltda., 2006.
FEUILLET, O prólogo do quarto evangelho. São Paulo: Edições Paulinas, 1971.
DODD, Charles H. A interpretação do quarto evangelho. São Paulo: Editora Teológica, 2003.
PACK, Frank. O evangelho segundo João. São Paulo: Editora Vida Cristã, 1983.


domingo, 27 de setembro de 2020

Natividade : Uma Festa de um Salvador Inigualável

    Esse ano (2020) a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo baixo uma portaria em que proibia a utilização das nomenclaturas Antes de Cristo (AC) e Depois de Cristo (DC) para identificação de tempo histórico. Parece algo banal, porém, a razão pela qual essas e centenas de outras “medidas” politicas têm sido sistematicamente processadas nas instâncias governamentais sob a égide ideológica socialista-marxista, que tentam assumir os poderes políticos no Brasil, é de banir da mente das novas gerações qualquer vestígio da mensagem cristão-evangélica. Com isso não estou defendendo que essa seja a única expressão para demarcação histórica, pois nos meios acadêmicos já se formularam diversas outras nomenclaturas, mas o que não se pode aceitar passivamente é que simplesmente se proíba através de decreto governamental que uma pratica acadêmica secular seja banida da literatura escolar, simplesmente porque está vinculada à pessoa de Jesus Cristo.
    Na prática esse banimento da pessoa de Jesus Cristo já vem sendo paulatina e sutilmente desenvolvida na substituição de Jesus Cristo pelas figuras fofinhas do coelhinho na páscoa e o bonachão papai Noel no Natal. Na mentalidade infantil a páscoa significa chocolate e coelhinho e não a paixão de Jesus e sua ressurreição e o natal significa troca de presentes e não o nascimento de Jesus Cristo – e não o Verbo que se fez carne a habitou entre nós, a fim de manifestar a glória de Deus. E tudo isso esta sendo feito com a complacência dos cristãos-evangélicos que em numero crescente tem aderido consciente ou inconscientemente essa minimização da figura de Jesus Cristo.
    Escrevo estas parcas linhas, pois uma vez mais nos aproximamos do Natal e acredito que se faz necessário que resgatemos o seu sentido primário de relembrarmos que uma data do calendário humano tornou-se o divisor da História em Antes e Depois. Provavelmente não foi em dezembro, mais provável que tenha sido no mês de abril (calendário judaico), mas que acabou por diversas circunstâncias históricas sendo fixada no calendário cristão como sendo em 25 de Dezembro e trato dessa discussão em artigo especifico conforme mencionada abaixo. 
    Sendo em abril ou dezembro e poderia ter sido em julho mediando as duas propostas, o que realmente importa é que Jesus Cristo, o filho unigênito de Deus, nasceu através de uma mulher chamada Maria em um dia especifico do calendário humano. Portanto, o que realmente importa no Natal é o fato inequivocamente bíblico, conforme as narrativas evangélicas e corroboradas por todas as demais escrituras neotestamentárias de que o Filho (terceira pessoa da Trindade) adentrou a raça humana de forma real e verdadeira. O apostolo João, de forma especifica, já defendia essa verdade de forma contundente e sem qualquer espaço para duvidas de que aqueles que negam que Jesus Cristo veio em carne (nasceu) seja considerado anátema. Na mesma proporção em que os cristãos evangélicos se deixam seduzir pelos encantos coloridos dos shoppings centers com seu consumismo hedonista, em detrimento do verdadeiro sentido do Natal, as Boas Novas da Salvação perde seu impacto nos ouvidos das pessoas.
    O que de fato irrita profundamente as mídias comprometidas com uma agenda anticristã é o fato de que o Natal se reveste de uma significação distinta, pois ela gira em torno da pessoa de Jesus, não ainda o Jesus dos grandes ensinos e extraordinários milagres, nem ainda o Jesus que numa manifestação indescritível de amor deixa-se pregar numa terrível cruz. O Natal nos trás o Jesus bebe, envolto em panos, aconchegado nos braços de Maria - em toda fragilidade e dependência - por isso totalmente humano.
    O Natal é o principio de tudo, pois sem este nascimento, não haveria ensinos, milagres e nem o calvário. Sem o Natal não haveria esperança para a raça humana que alienada de Deus perambula por este mundo, tateando, procurando soluções para suas mazelas.
    A alegria não está na troca de presentes e nem mesmo em uma refeição farta, e nem mesmo nas ações sociais, as boas novas do Natal esta no fato de que o Deus Eterno deixa toda a sua glória e assume a plenitude de nossa humanidade, para que nós pudéssemos através dele usufruirmos da plenitude da vida eterna.
    O cristão deve e pode se alegrar no e pelo Natal pelo fato de que através do Advento somos reconciliados com Deus e podemos graciosamente desfrutar de Sua comunhão paternal e podemos chamá-Lo de Pai nosso.
    As boas novas do Natal esta no fato de que a paz com Deus nos permite alcançarmos a paz conosco mesmo e a paz com o nosso semelhante. Irmanados em Jesus podemos chamar uns aos outros de irmãos e apesar de todas as limitações e diferenças que existem, em Jesus podemos contemplar o ser humano de cada um.
    O Natal é por isso a mais extraordinária festa, a qual todas as pessoas são convidadas a participarem e experimentarem dos benefícios presentes e eternos que Jesus lhes oferece amorosa e gratuitamente.
Que este Natal seja para mim e para você – simplesmente Jesus!
 
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Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
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quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Natividade : Uma Crônica de Rejeição


  

E tendo nascido Jesus em Belém da Judéia, no tempo do Rei

Herodes, eis que uns magos vieram do Oriente a Jerusalém.

(Mateus 2.1,3-8;16-18)

Um artista foi contratado para pintar um quadro sobre o Natal. Ele pintou os pastores que foram comunicados pelos Anjos sobre o nascimento de Jesus – e retratou de forma magistral o Coro Angelical cantando, “Glória a Deus nas alturas”. Aos pés dos Pastores está um dos seus cães. O cão está alerta, mas não está olhando para a cena dos Anjos e dos Pastores. Sua cabeça esta virada em outra direção. O cão displicentemente não se apercebe do momento ÚNICO que é aquele acontecimento, ele não sabe o que aquilo significa – ele não entende a mensagem das boas novas que está sendo anunciada.

De fato, Ninguém espera que animais possam entender o significado do Natal. Eles são incapazes de tal compreensão, mas é espantoso ver quantas pessoas nunca ainda hoje chegam de fato a compreenderem o significado/a importância do Natal. Milhões sabem que alguma coisa rara aconteceu na pequena vila de Belém, mas eles não têm nenhuma idéia das implicações eternas deste acontecimento. Milhões lamentavelmente têm apenas uma idéia vaga/superficial sobre Jesus, e por isto normalmente escolhe rejeita-Lo.

Adentrando ao Texto

Herodes é um exemplo típico daqueles que através dos séculos não tem entendido o valor/a importância da grandeza do nascimento de Jesus Cristo e por isso tem rejeitado a autoridade dEle em suas vidas.                                                 

A opinião Histórica sobre Herodes varia, mas a maioria dos historiadores diz que ele foi um rei impiedoso/cruel; um político astuto; um oportunista perspicaz; e um rei egoísta dado a explosões de violência. Sua vida familiar foi caracterizada por acontecimentos amargos e assassinatos, portanto, seu decreto para que se matassem os meninos de dois anos para baixo, conforme registrado nas páginas do evangelista Mateus não foi algo surpreendente para quem o conhecia bem.  Ele não pensou duas vezes em se utilizar da força e poder para cuidadosamente aniquilar todas e quaisquer ameaças ao seu reinado na Judéia.

Sua curiosidade ciumenta entrou em alerta geral quando aqueles sábios chegaram em Jerusalém procurando pelo nascimento do novo rei. A frase "ficou muito preocupado / ele ficou alarmado" no v. 3 revela toda sua ansiedade; Herodes ficou grandemente perturbado pelas notícias sobre um Rei recém-nascido. Então, ele se revestiu de uma “preocupação amigável” para tentar descobrir onde o novo Rei poderia ter nascido.

A expressão "então ele começou indagar sobre onde o Cristo haveria de nascer" trás a idéia de uma atividade contínua. Em outras palavras, repetidas vezes e já impacientemente, característica pessoal dele, ele exigia que alguém lhe indicasse o exato lugar aonde o nascimento poderia ocorrer.

Lembremo-nos de que este Herodes era extremamente hábil em dissimulação. Ele astutamente procura juntar todos os fatos e envia aqueles sábios a Belém com claras instruções para que voltassem e informassem a Ele exatamente onde a Criança estava e assim ele podia se unir a eles para prestar-lhe suas reverências.

4.Então Herodes reuniu os chefes dos sacerdotes e os professores da Lei e perguntou onde devia nascer o Messias. 5  Em Belém da Judéia, responderam eles, porque assim está escrito por intermédio do profeta: 6  E tu, Belém, terra de Judá, não és de modo algum a menor entre as principais de Judá; porque de ti sairá o Guia que há de apascentar a meu povo, Israel. 7  Então Herodes chamou os visitantes do Oriente para uma reunião secreta e perguntou qual o tempo exato em que a estrela havia aparecido; e eles disseram. 8  Depois os mandou a Belém com a seguinte ordem: -Vão e procurem informações bem certas sobre o menino. E, quando o encontrarem, me avisem, para eu também ir adorá-lo.

Podemos imaginar Herodes assentado no seu trono, tentando se acalmar e sorrindo para ele mesmo. Ele não podia tolerar nenhum rival ao seu trono, afinal ele havia mandado assassinar seus próprios filhos. Seu plano engenhoso daria certo.  

 Mas a solução de Herodes para resolver seu problema – tinha uma “pequena falha”, mas terrível falha. Ele havia deixado Deus de fora, e nenhum problema da nossa vida pode ser realmente solucionado definitiva e satisfatoriamente à parte de Deus.  Rejeitar o Senhor é fechar a porta da esperança. Enquanto examinamos as razões/motivos desta triste história da rejeição de Herodes, devemos nos aperceber o quanto este comportamento herodiano é amplamente manifestado na vida da grande maioria das pessoas em nossos dias atuais.

A primeira razão para que rejeitasse o recém-nascido rei é um motivo muito comum hoje: medo. As mais diversas fobias dominam nossa sociedade e exercem uma paralisante influencia na mente. Muito da rejeição de Herodes foi fundamentado em um medo egoísta. Quando ele escutou o termo "rei", ele pensou imediatamente sobre um rei terrestre. Conseqüentemente, suas defesas egoísticas foram acionadas.

Este tipo de medo é contrario a fé / impossibilita a fé.  Incapacita a pessoa a perceber a luz da verdade. O Medo, corretamente compreendido e aplicado, é o nosso temor de e a respeito de Deus. Richard Halverson, Capelão do Senado dos Estados Unidos, uma vez disse, "Os Homens que tem o temor de Deus vivem destemidamente. Os Homens que não temem a Deus acabam tendo medo de tudo e de todos". Contemporâneos de Martinho Lutero diziam que ele não temeu nenhum homem porque ele amou e temeu a Deus.

Deus nos manda vir a Ele em fé. E a fé genuína/verdadeira – a Fé que realmente conduz a pessoa à Salvação – nasce do genuíno Temor de Deus. Ironicamente, Herodes demonstrou medo de qualquer um que ameaçasse seu trono temporal; mas ele falhou em temer Aquele cujo trono é eterno.

Quantas pessoas hoje também vivem atemorizadas por tantas coisas (violência, desemprego, enfermidade, solidão, etc...) e tem procurado eliminar estes Medos, mas não possuem o Temor de Deus. Jesus mesmo alerta para este gravíssimo erro: “Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo”. (e Jesus esta se referindo a Deus).

E Tiago entendeu bem este ensino de Jesus pois escreveu: Um só é Legislador e Juiz, aquele que pode salvar e fazer perecer;” (4.12) Infelizmente uma grande maioria das pessoas não se aperceberam, como Herodes, que mais importante do que as coisas desta vida/mundo são as coisas espirituais, pois elas tem valor Eterno – “O que importa ganhar o mundo inteiro e Perder a sua Alma”, pergunta Jesus.

Uma segunda razão pela qual Herodes rejeita o bebe nascido em Belém foi a incerteza. E esta é uma forma sutil de rejeição. Quantas vezes compartilhamos com alguém sobre o Evangelho e falamos a elas sobre a nossa experiência de salvação.  E que se ela crer no Senhor Jesus ela terá o perdão de seus pecados.  E a pessoa nos ouve com atenção e demonstra até certo interesse – mas tomado pelas incertezas em relação Jesus – ela o Rejeita como Salvador.

Herodes esteve incerto quanto ao Rei Messias. Incerteza às vezes é uma parede aonde as pessoas se escondem. Uma filosofia que se tornou muito popular, ainda que muitos nem saibam disso, principalmente nos meios de comunicação controladas por mentes destituídas de qualquer temor a Deus – é de que não há Verdades e Valores Absolutos.  Ou seja, o que é verdade hoje pode não ser amanhã – o que é bom hoje pode ser ruim amanhã – o que é certo hoje pode ser errado amanhã, e sucessivamente.

A incerteza em relação a Cristo é mais evidente durante o período do Natal. Anúncios Comerciais dizem “Bom Natal para todos”. Os Shoppings Centers incentivam as pessoas a comprarem presente uns para os outros. E um alegre homem, gordinho e de barba branca, vestindo uma extravagante roupa vermelha fica dizendo “Ho, ho, ho" para todos que passam (nesta época evito usar roupa vermelha). E por vivermos em uma sociedade superficial e que perdeu seu senso de valor, facilmente podemos entender o porquê que existe tanta Incerteza sobre o significado do Natal.

Alguns anos atrás, uns dias antes do Natal, dois locutores de uma estação de rádio (americana) foram suspensos por questionarem a existência do Papai Noel durante sua programação. Dezenas de ouvintes telefonaram para a rádio queixando-se que suas crianças ficaram chocadas quando eles afirmaram que o Papai-Noel não existia.

As pessoas estão muito mais preocupadas em defender uma fantasia infantil do que se preocuparem em ensinarem seus filhos sobre Aquele que de fato deve ser e é o Centro do natal – Jesus Cristo. Mas esta indiferença é consequência da INCERTEZA que a maioria das pessoas tem a respeito de Jesus – de quem Ele é de fato e de verdade. Para tais pessoas é mais fácil defender o Papai Noeldo que crer que Jesus é o Salvador!

Mas as raízes deste Medo e Incerteza é sem dúvida o velho e sempre presente Orgulho Humano. Herodes em nenhum momento teve a intenção de dobrar seu joelho em reverência e muito menos submissão ao bebe de Belém. Seu Orgulho jamais permitiria tal desatino. O Orgulho exige que a pessoa pense que ela está além de qualquer necessidade, especialmente necessidade espiritual. O Orgulho incapacita o ser humano de enxergar suas reais necessidades e o faz sentir-se autossuficiente. O Orgulho humano produz um falso sentimento de superioridade de forma que as pessoas não conseguem perceber sua real situação diante de Deus.

Herodes vivia no luxo. Ele possuía poder e prestígio. Por Que ele necessitaria de ir a Belém para ver o pequenino Jesus? O orgulho produz a cegueira e finalmente petrifica o coração para a verdade de modo que os olhos da alma tornam-se inutilizados por completo. Como bem disse Abraão ao homem em tormentos, na parábola de o Rico e Lazaro, e que solicita que se permitisse que ao menos Lazaro retornasse da morte e alertasse seus irmãos – mas Abraão lhe responde: ainda que fosse possível, de nada adiantaria, pois eles não creriam, assim como não criam nas Escrituras que testificam de Jesus Cristo, o Salvador.

Conclusão

Milhares de pessoas irão lotar centenas de Shopping Centers, lindos e atrativamente adornados com enfeites natalinos, motivadas pelo impulso hedonista e materialista que controlam suas mentes e corações. Outros milhares irão participar de algum tipo de celebração religiosa cristãs, também adornadas com arranjos evangélicos natalinos. Uma minoria terá a disposição correta de celebrarem o nascimento do Salvador (tendo consciência que a data é fictícia, ainda que o nascimento seja real). Uma grande maioria apenas cumprirá um ritual religioso e festivo.

Neste próximo natal, como em tantos outros passados, algumas pessoas usufruirão das bênçãos de Deus provenientes do nascimento de Jesus Cristo o salvador. Outros se contentaram em ficar admirando o colorido dos enfeites e do barulho festivo que está em toda parte.

Herodes tomou suas decisões em relação a Jesus – REJEITOU                                             

E VOCE?  Qual a sua decisão em relação a Jesus?                                                                  

 “Aquele que Crê no Filho (Jesus) tem a Vida Eterna,

o que não Crê no Filho(Jesus) já esta condenado”


Natal - Como Chegar?

Revelado amplamente
O nascimento do menino:
Por anjos cantando o hino
Com mensagem surpreendente;
Pela estrela reluzente
Que os sábios do Oriente,
Conduz com reais presentes:
Ouro e incenso e mirra.
Os escribas tão descrentes
Reconhecem a profecia,
Mas ela não é o seu guia.
Eles são indiferentes,
Sofrem forte letargia.
E de Herodes e sua gente
Grande ira se acirra.
Veja o quadro tão completo:
Anjos, magos e pastores,
Homens nobres e doutores,
Uns adoram humildemente
Outros violentamente
Querem destruir a vida
E de maneira atrevida
Mostram toda a sua birra.
Esta cena é repetida
Cada ano no Natal
Há quem o ache tão banal
Que a data quer destruída
E a deturpa totalmente
A Jesus é indiferente
Dele não faz caso não.
Outro há que reverente
Aproxima-se encantado
Vendo o Verbo encarnado
E lhe dá alegremente,
Arrependido, respeitoso,
O presente mais valioso,
Todo o seu coração.
                                  Gilberto Celeti

 

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terça-feira, 18 de agosto de 2020

Geografia Bíblica: Cidades Mencionadas no Novo Testamento

 

            Quando nos referimos a cidades no contexto bíblico e aqui mais especificamente na literatura neotestamentária, não podemos pensar nas cidades atuais ou metrópoles como São Paulo por exemplo. O conceito de cidade na literatura bíblica é bem mais modesto e simples.
            A nação de Israel tem suas origens nos povos nômades e posteriormente quando se estabelecem em Canaã o foco é pastoril e agrícola, portanto, a construção de grandes centros urbanos não era uma prioridade. O que prolifera são a vilas, micro cidades, sem muita infraestrutura, composta por uma ou duas ruas principais e um conjunto habitacional com casas simples e sem muito embelezamento, mormente com poucos cômodos. Josefo, um historiador judeu da época, calcula que havia 240 aldeias espalhadas pela Galiléia, com não mais do que alguns acres e extensão e com uma população de pouco mais do que algumas centenas de pessoas. Os centros habitacionais maiores (com dez acres ou mais) exigem uma infraestrutura mais elaborada, bem como muros de proteção e as casas são construídas com formas arquitetônicas mais desenvolvidas, bem como suas ruas principais e as ruas transversais, pois o numero de habitantes permanentes são mais expressivos. A cidade de Jerusalém, por ser a capital politica-religiosa dos judeus, tinha dimensões muito maiores e não serve de parâmetro em relação às demais cidades espalhadas por toda Palestina judaica. Mesmo assim, ela fica muito aquém das dimensões e população das cidades atuais e mesmo de outras grandes cidades como Roma, Grécia e Éfeso por exemplo.
            Durante seu ministério Jesus percorreu cidades e vilas espalhadas por toda Palestina Judaica anunciando a mensagem do Reino de Deus. Inicia seu ministério na cidade de Cafarnaum, uma agitada cidade pesqueira e um centro comercial importante e que se torna uma espécie de base na região da Galiléia. Ali ele chama seus primeiros discípulos e realiza seus primeiros milagres. Ele perpassa outras cidades como Jericó, onde cura o cego Bartimeu e entra na casa de um coletor de impostos chamado Zaqueu. O fato de ter ali um posto tarifário implica de que a cidade era um importe centro comercial de importação e exportação de mercadorias. Mas certamente a cidade de Jerusalém é o palco maior e convergente do ministério terreno de Jesus. Essa cidade representa todo a nação israelita e por essa razão Jesus chora por ela, quando pela última vez a contempla do alto do monte das Oliveiras, antes de sua entrada triunfal e posterior paixão. É aqui também que Ele ressuscita e se revela aos discípulos e depois ascende aos céus, deixando a promessa de que voltaria (parousia).
    O apóstolo Pedro vai para Jope, uma importante cidade de artesãos com vistas impressionantes do mar e sua vizinha Cesaréia, cujos portos eram rivais, será nessas duas cidades que Pedro experimentara uma profunda transformação na sua maneira de pensar – transição do judaísmo para o cristianismo – principalmente com a conversão e comitente batismo do Espírito Santo do centurião romano (gentil) Cornélio, juntamente com toda a sua família e demais presentes na reunião e que foram batizados pelo apóstolo.
    Na expansão do cristianismo por todo o império Romano, Lucas nos proporciona a oportunidade de acompanharmos o apóstolo Paulo em suas viagens missionárias, que soube como poucos aproveitar as estruturas dos grandes centros urbanos, pois uma de suas estratégias era alcançar um centro maior, estabelecendo ali uma comunidade cristã bem fundamentada, e a partir dela alcançar as cidades menores da circunvizinhança, como por exemplo ele o fez na grande cidade de Éfeso, também portuária, e de onde irradiou a mensagem do Evangelho para outras cidades menores.
    Nossa abordagem aqui é um panorama das cidades que são mencionadas nas narrativas neotestamentárias e o faremos por região geográfica, na expectativa que possa ser útil aos leitores as sucintas informações sobre cada uma delas, visto que nossa mentalidade moderna é urbana e não rural.
 

JUDEIA

Terra de ravinas, dura e ingrata, de clima quente e árido, geralmente acidentada com alturas superiores a 1.010 metros perto de Hebrom e estendendo-se por uma extensão de quarenta quilômetros. Geograficamente, constitui a parte meridional da Palestina, limitada a leste pelo rio Jordão e o mar Morto, ao sul pela Idumeia, a oeste pelo mar Mediterrâneo, ao norte por Samaria.
Desde o retorno do exílio, até os dias de Jesus, este termo designa em sentido estrito os territórios em torno de Jerusalém habitados pelos judeus (Lc 2,4), mas também em sentido amplo toda região: Galiléia, Samaria, Judéia, Idumeia e Peréia (7300 km2) que foi reduzida a Província romana de 6 DC (Lc 3.1; 5.17; Jo 4.3; At 9.31). Após a destruição de Jerusalém pelos Romanos em 70 DC a região foi ocupada por outros povos.
A Judéia era governada no tempo de Jesus por Herodes o Grande (4 antes - 6 depois do nascimento de Jesus) e após sua morte por seu filho Arquelau.
Agripa I reconstituiu em sua totalidade de 41 a 44 o reino de seu avô Herodes o Grande, a província romana da Judéia em sentido amplo reagrupou as cinco regiões: até à grande revolta judaica de 66 DC. Depois desta última diáspora judaica a região foi ocupada por outros povos.

Azoto

No Primeiro Testamento é denominada de Ashdod (fortaleza). Uma das cinco principais cidades dos filisteus (Js 13.3), mas no Segundo Testamento é chamada de Azoto (seguindo a versão da Septuaginta). Ela fazia parte do território designado à tribo de Judá que não a conquistou (Jz 1.19); foi palco de muitas cenas na literatura veterotestamentária (1 Sm 5.17-7; 2 Cr 26.6; Am 1.8; Is 20.1; Jr 25.15-29; Sf 2.4; Zc 9.6; Ne 4.7-9; 13.23,24).
Na literatura apócrifa dos Macabeus ela continua sendo relevante, sendo palco de muitas batalhas entre eles e as tropas romanas. Após a derrota final dos Macabeus o General romano Pompeu tirou Azoto da geografia da Judeia, mas posteriormente ela voltou a fazer parte do território judaico. O reino de Herodes incluía a cidade, que ele legou a sua irmã Salomé e Vespasiano estabeleceu nela uma guarnição inteira para inibir novas revoltas.
Nas literaturas neotestamentária a cidade de Azoto é mencionado uma única vez (Atos 8.40) para onde Felipe foi levado pelo Espírito Santo depois de evangelizar e batizar o Eunuco Etíope.

Betânia

Assim como Cafarnaum era o lugar de repouso de Jesus na Galiléia (Mc 2.1), Betânia era o lugar preferido de Jesus, pois quando se concluía a viagem extenuante da subida da Galileia para Jerusalém, ela era o local onde ele descansava na casa de seus queridos amigos Lazaro, Marta e Maria (Lc 10.38). Estava localizada na encosta Leste do monte das Oliveiras, num antigo acesso a Jerusalém, vindo de Jericó e do Jordão. (Mc 10.46; 11.1; Lc 19.29).
Estrategicamente ela ficava apenas três quilômetros de Jerusalém (equivalendo os “quinze estádios” mencionados por João 11:18). Foi aqui que Jesus ressuscitou Lazaro (Jo 11.1, 38-44).
Será em Betânia que Jesus se preparara para os momentos finais de seu ministério cominando com sua morte e ressurreição (Jo 12.1); participa de um jantar onde uma mulher derrama um vidro inteiro de caríssimo perfume sobre ele (Mt 26.6-13; Mc 14.3-9; Jo 12.2-8); uma grande multidão de judeus afluiu para vê-lo e a Lázaro que havia sido ressuscitado (Jo 12.9). Saindo de Betânia, percorrendo a estrada que circunda o monte das Oliveiras, de onde tem uma vista ampla da cidade, Jesus entra em Jerusalém montado em um jumento e aclamado pela multidão (Mt 21.1-11; Mc 11.:1-11; Lc 19.29-38); neste mesmo caminho de Betânia para Jerusalém, Jesus amaldiçoou a figueira infrutífera, que já havia murchado totalmente quando ele e seus discípulos passaram por ela no dia seguinte (Mc 11.12-14, 19, 20). Nos últimos quatro dias, antes da crucificação, Jesus se dirigia pela manhã à Jerusalém e à tarde retornava para Betânia para repousar (— Mc 11.11; Mt 21.17; Lc 21.37).
Quarenta dias depois da sua ressurreição Jesus se despede de seus discípulos e “para fora, até Betânia”, no monte das Oliveiras, ele ascende aos céus (Lc 24.50-53; At 1.9-12).

Belém

Havia outra Belém na tribo de Zebulom, perto do mar da Galiléia (Js 19.15). Outro nome para Belém era Efrata (Gn 35.19; 48.7; Mq 5.2).
Significa “casa do pão” estava localizada a dez quilômetros ao sul de Jerusalém e era conhecida como “a cidade de Davi”, local da origem de sua família (Rt 1.1; 19). Seu nome antigo era Efrate ou Efrata (fértil) e foi local da sepultura de Raquel (Gn 35.16, 19; 48.7). Nos dias de Juízes passou a ser denominada de Belém de Judá (Rt 1.1) para distingui-la de outra Belém (no território de Zebulom, onze quilómetros a noroeste de Nazaré - Js 19.15).
Ela é mencionada 40 vezes no Primeiro e 8 vezes no Segundo Testamento. Localizada em um monte a cerca de oito quilómetros ao sul de Jerusalém, centro de uma área fértil, por isso era a casa do pão. A história de Rute se passa nessa cidade e foi aqui que Samuel vai ungir o juvenil Davi como rei de Israel em substituição à Saul (1 Sm 16.13,15) e por isso era apelidade de “Cidade de Davi” (Lc 2.4-11). Mas a razão de sua grande relevância é o fato de que é o local onde nasceria (Mq 5.2) e nasceu o Messias-Jesus (Mt 2.1; Lc 2.1-7). Mas também é aqui que ocorre uma das cenas mais horrorosas da história bíblica, o assassinato dos meninos abaixo de dois anos, por ordem de Herodes, na tentativa de matar Jesus, o menino Rei conforme os sábios do Oriente buscavam (Mt 2.16).  
 

Emaús

Povoado mencionado apenas em Lucas (24.13). Após a ressurreição, uma das aparições de Jesus foi para dois discípulos que caminhavam de Jerusalém para Emaús, cujo nome de um deles era Cleofas, caminharam com Cristo sem o reconhecer (Lc 24.13-35). Estavam tão desanimados após a crucificação que somente quando Jesus parte o pão na hora da refeição compreenderam a real identidade daquele que caminhara com eles um dia inteiro. foi somente após sua partida que eles entenderam sua identidade.

Gaza

Importante cidade portuária na costa sul da Palestina. Nos dias de Juízes os israelitas deveriam tê-la conquistado, mas falharam (Jz 1.18; 3.3), e a cidade tornou-se parte da Pentápolis filisteu, a cidade mais ao sul naquela liga de cinco cidades (Js 13.3; 1 Sm 6.17; Jr 25.20); Gaza teve um lugar de destaque nas narrativas de Sansão: enquanto visitava uma prostituta, escapou da captura pelos filisteus e, tomando os portões da cidade de Gaza, os levou para Hebron (Jz 16.1-3); depois de ser traído por Dalila, Sansão foi levado como prisioneiro para Gaza, onde foi torturado e confinado (16.21-25), mas após recuperar suas forças ele derrubou os pilares do templo de Dagom em Gaza (16.28-30).
Por sua importância econômica-militar ela foi conquista e reconquistada varias vezes, dependendo do poderio militar de plantão (2 Rs 18.8; Jr 47.1). Os profetas Sofonias (2.4) e Zacarias (9.5) previram que ela seria devastada e abandonada.  Depois de ter sido devastada em 93 AC pelo Hasmomeu (Macabeu) Alexandre Jannaeus em 96 aC (Jewish Antiquities, XIII, 364 (xiii, 3); ela foi  reconstruída pelo general romano Gabinius em 57 AC, porém mais a beira-mar, um pouco ao sul da antiga cidade. Herodes, o Grande, manteve Gaza por um curto período, mas depois de sua morte, ela ficou sob a autoridade do procônsul romano da Síria.
Desta forma, Lucas está correto ao descrever que Filipe foi orientado por um anjo a tomar a antiga estrada que descia de Jerusalém ate Gaza, e que este era um caminho que estava deserto (At 8.26).
Ela floresceu como uma cidade romana e vai, principalmente depois da destruição de Jerusalém (70 DC), se constituir em um importante um centro para a comunidade judaica e a comunidade cristã emergente durante a era romana (63 AC-324 DC) e permanecendo relevante no período bizantino (324-1453 DC).
A providência de Deus é maravilhosa, transforma uma cidade destruída e uma região abandonada em um oásis para os cristãos refugiados de Jerusalém e adjacências.

Jericó

A primeira cidade Cananeia ao Oeste do Vale do Jordão a ser conquistada pelos israelitas. (Nm 22.1; Js 6.1, 24, 25), 270 metros abaixo do nível do mar, em um local muito fértil famosa por seus jardins e palmeirais. Depois de destruída nos dias de Josué o território fixou anexado à tribo de Benjamim, mas posteriormente acabou ficando de posse dos moabitas, por 18 anos, mas foi reconquistada novamente pelos israelitas (Jz 3.12-30). O profeta Eliseu transforma águas contaminadas em águas limpas nas fontes de Jericó ((2Rs 2.11-15,19-22). Após a libertação do exílio babilônico, 345 “filhos de Jericó” achavam-se entre os que voltaram com Zorobabel, em 537 AC, e, pelo que parece, fixaram-se em Jericó. (Ed 2.1,2,34; Ne 7.36) Posteriormente alguns dos homens de Jericó cooperaram na reconstrução dos muros de Jerusalém (Ne 3.2). 
No período Romano neotestamentário Jericó foi reconstruído perto de uma antiga cidade de mesmo nome por Herodes, o Grande, que mandou construir um magnífico palácio para torná-la sua capital de inverno. Uma estrada de 25 quilômetros a ligava diretamente à capital Jerusalém através do deserto de Judá, tendo quase mil metros de descida (daí a expressão "descer de Jerusalém a Jericó" em Lc 10.30) que aumentava o perigo para os viajantes. Jesus curou um cego, Bartimeu, ali (Mt 20.30; Lc 18.35). Um posto alfandegário romano foi estabelecido nesta cidade famosa por seus bálsamos e frutas tropicais com grande tráfego comercial, que a tornava a cidade da Judeia mais importante depois de Jerusalém. O chefe deste posto alfandegário era um homem chamado Zaqueu (Lc 19.1,2) e que na última vez em que Jesus passou pela cidade foi recebido na casa dele e o qual deu testemunho de conversão.

Jerusalém

Certamente a mais importante da história judaica e a grande Capital estabelecida por e nos dias de Davi. O Templo projetado por Davi e construído por Salomão tornou-se o coração da jovem nação israelita e depois da divisão do Reino dos judeus. Nas Escrituras, há mais de 800 referências a Jerusalém. O mais antigo nome registrado da cidade é “Salém”. (Gn 14.18) cuja raiz hebraica significa “paz” e quando na forma dual “dupla paz”.
Apesar de ela estar localizada fora das grandes rotas comerciais, Davi a escolheu como capital política e religiosa por estar localizada entre as tribos ao Norte e as localizadas no Sul. Mas não ficava isolada, pois tinha duas rotas comerciais importantes, uma que a ligava ao Norte-Sul e outras cidades importantes; uma segunda estrada, mais perigosa ligava Leste-Oeste, circundando as íngremes encostas de Judá e serpenteando as encostas ocidentais até a costa do Mediterrâneo e a cidade portuária de Jope.
Jerusalém estava situada a uns 55 km do mar Mediterrâneo, e a uns 24 km ao do mar Morto, fica entre as colinas da cordilheira central. (Sl 125.2.) Sua elevada altitude com cerca de 750 m acima do nível do mar a tornava uma das capitais mais elevadas do mundo daquele tempo. Sua “elevação” é mencionada nas Escrituras, e os viajantes tinham de ‘subir’ das planícies costeiras para chegar à cidade. (Sal 48:2; 122:3, 4) O clima é agradável, com noites frescas.
Sem duvida alguma de todos os eventos que teve por palco a cidade de Jerusalém, nenhum pode ser comparado à paixão de Cristo. Todos os evangelistas dedicam a maior parte de suas narrativas para descrever em detalhes a última semana de Jesus, bem como sua morte e ressurreição.
Foi ali no Monte das Oliveiras que Jesus ascendeu aos céus ordenando que seus discípulos permanecessem em Jerusalém até que o Espírito Santo fosse derramado sobre eles, que vai ocorrer durante a Festa do Pentecostes.
A partir do Pentecostes e principalmente com o apedrejamento do diácono Estevão os cristãos iniciam uma diáspora de Jerusalém e espalhando a mensagem do Evangelho por todas as regiões, partindo de Jerusalém alcançaram a Judéia, Samaria e chegaram ao coração do império Roma.
 

Jope

Salomão utilizou seu porto para receber o transporte dos cedros do Líbano usados ​​para a construção do Templo (2 Cr 2.6), Jope foi conquistada durante a revolta dos Macabeus e destruída durante a grande revolta judaica de Vespasiano, que instalou ali uma guarnição romana. Foi nesta cidade que aconteceu a ressurreição da viúva chamada Tabita (At 9.36-42) e foi lá que o apóstolo Pedro recebeu a visão de Deus pedindo-lhe que não fizesse distinção entre alimentos puros e impuros, e, portanto, entre judeus e pagãos quando entrasse na casa de Cornélio um centurião romano (At 10.0-16).

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Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
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