Quando visitei pela primeira vez o
navio Logos ancorado no Porto de Santos (SP), nos idos da década de oitenta,
fiquei encantado, pois a literatura evangélica no Brasil estava extremamente
limitada à reimpressão de alguns poucos títulos em português e extremamente
limitados em suas temáticas, principalmente no que concerne aos comentários
bíblicos. Para os estudiosos e pesquisadores restavam apenas os livros em
espanhol, um pouco mais amplo, e a vasta literatura em inglês e outros idiomas.
Ao retornar ao navio Logos em uma de
suas últimas visitas ao Brasil, fiquei decepcionado, pois as literaturas
oferecidas tornaram-se muito pobre em títulos e conteúdos diante do avanço
considerável das literaturas produzidas pelas editoras brasileiras. Nestes últimos
trinta anos as literaturas evangélicas deram um salto quantitativo e qualitativo.
Evidente que estamos longe da abrangência das imensas e históricas editoras
europeias e principalmente americanas, mas certamente nos distanciamos bastante
da pobreza literária que imperava no Brasil em décadas anteriores.
É verdade que a quantidade trás também
a pluralidade de pensamentos teológicos, até mesmo conflitantes. Todavia essa pluralidade
de saberes exige que usemos a nossa capacidade de discernimento e também coloquem
em prova os fundamentos da nossa fé e de nossa teologia. Para os débeis na fé e
cuja teologia não está firmemente estabelecida nas Escrituras essa abundância
literária torna-se um terrível problema e/ou produz um natural repúdio; mas
para aqueles cuja fé e teologia foram forjadas na bigorna de um conhecimento bíblica
coerente e historicamente comprovada, esta multiplicidade literária bíblico-teológica
é motivo de gratidão a Deus e satisfação para a mente e o coração.
Minha pequena contribuição será
apresentar títulos de obras em português que podem contribuir para maior e mais
profícuo estudo das Escrituras. Minha preocupação primária não está na
quantidade, mas no conteúdo e ainda aqui, não é minha pretensão limitar às
literaturas em seus aspectos teológicos específicos e excludentes, mas dentro
de minhas limitações, destacar vertentes bíblica-teológicos que embora sejam
divergentes, pode nos levar à maturidade cristã real e não romântica ou
ilusória.
Meu tempo é bastante limitado, de
maneira que não poderei como gostaria, produzir resenhas dos livros escolhidos,
ainda que em algum momento esboce minha opinião pessoal ou pelo menos algumas
notas de esclarecimento das referidas literaturas. Além da capa utilizarei
material do próprio livro para que o leitor possa ter uma visão iniciante da
referida obra.
Espero ser útil e contribuir para a
divulgação das literaturas evangélicas, bem como cooperar na formação de uma
pequena biblioteca pessoal.
Esta
obra foi produzida em 1958 e lançada pela editora InterVarsity Press, com o título original: Genesis An Introducíion and Commentary e foi traduzido para o português
pela editora Sociedade Religiosa Edições
Vida Nova, cujo um dos fundadores é o querido Pastor Russell P. Shedd (1929 2016), e que veio a se constituir em uma das
editoras mais relevantes neste novo processo literário evangélico brasileiro,
sendo a primeira edição em 1979 e alcançado
um sucesso imediato com diversas reimpressões: 1981, 1985, 1988, 1991, 1997,
1999, 2001.
A obra em destaque é o volume
inicial desta pioneira coleção, Série
Cultura Bíblica, de comentários abrangendo todos os livros que compõe o
Primeiro Testamento (Antigo Testamento) cujas capas são em vermelho. Esta sem
dúvida alguma foi uma iniciativa corajosa visto que o público leitor evangélico
ainda estava embrionário e o contexto sócio econômico ainda era bastante
limitado. Mas na medida em que os volumes foram sendo lançada a procura foi
ascendente e entusiasta, visto a enorme carência de comentários bíblicos de qualidade,
profundidade e mais sintonizada com as diversas ciências literárias acadêmicas.
A Editora surge com um perfil
evangélico mais conservador e, portanto, a escolha desta série esta afinado com
a proposta editorial e se encaixa perfeitamente com o perfil dos leitores brasileiros
daquele momento, década de sessenta e setenta, que compunha o mosaico evangélico
representativo das suas diversificadas denominações, bem como suas instituições
de ensino: seminários e faculdades de teologia; institutos bíblicos, escolas
bíblicas dominicais e o púlpito (através dos pastores), todos ávidos por
literaturas de alto teor bíblico acadêmico. Portanto, a Editora e sua proposta
se ajustam perfeitamente contexto histórico evangélico brasileiro o que resulta
em um grande sucesso editorial que incentivara outras editoras existentes, bem
como o surgimento de novas editoras com novas propostas editoriais, atualmente
há mais de quarenta editoras evangélicas.
Prefácio Geral
O
objetivo desta série de Comentários "Tyndale” [nome original] do Velho
Testamento, como foi com os volumes correspondentes do Novo Testamento, é
fornecer ao estudioso da Bíblia um comentário de fácil manejo e atual de cada
livro, com ênfase maior à exegese. As questões críticas mais importantes serão
discutidas nas introduções e nas notas adicionais, mas, quanto possível,
evitar-se-á tecnicidade excessiva no comentário propriamente dito.
Embora
unidos todos em sua fé na inspiração divina, na fidedignidade substancial e na
aplicabilidade prática dos escritos sagrados, individualmente os autores têm
liberdade para expressar o seu ponto de vista pessoal sobre todas as questões
controvertidas. Dentro dos limites do espaço disponível, muitas vezes eles
chamam a atenção para interpretações que eles mesmos não mantêm, mas que
representam conclusões de cristãos igualmente sinceros e leais. Em Gênesis,
livro que tem sido objeto de tanto debate, seria fácil dedicar desproporcional
medida de espaço a tais discussões. Mas o objetivo é do começo ao fim, levar o
leitor o mais perto possível do sentido do texto, e não a especulações sobre
este.
Em
particular quanto ao Velho Testamento, nenhuma versão, isoladamente, é adequada
para refletir o texto original. Portanto, os autores destes comentários citam
livremente várias versões, ou dão a sua própria tradução, no empenho de tornar
significativas hoje as passagens ou palavras mais difíceis. Quando necessário,
transliteram-se palavras do Texto Massorético Hebraico (e Aramaico),
subjacentes aos seus estudos. Isto ajudará o leitor que não sabe as línguas
semíticas a identificar a palavra em discussão e, assim, a acompanhar o
argumento. Sempre se supõe que o leitor tem livre acesso a uma ou mais
traduções da Bíblia no vernáculo, das reconhecidas como merecedoras de
confiança.
Há indícios de renovado interesse pelo sentido e mensagem do Velho Testamento, e se espera, pois, que esta série fomente o estudo sistemático da revelação de Deus, da Sua vontade e dos Seus caminhos, nos termos em que se apresentam nos registros sagrados. Os editores e os autores oram que estes livros ajudem muitos a compreenderem a Palavra de Deus hoje, e a responder-lhe positivamente. (D. J. Wiseman – editor).
Prefácio do Autor
Uma
vez um crítico musical demoliu certo arranjo da grandiosa melodia de um hino,
fazendo a observação de que empobrecia a imaculada harmonia e as precisas
divisões da composição original, “como um Fusca perto de um Rolls-Royce”.
Qualquer livro sobre Gênesis está fadado a provocar comparação semelhante
(mesmo que os revisores teológicos se resistam a colocar tão
ferinamente as coisas), e particularmente um comentário como este que, em mais
de um sentido, é tão pequeno.
O
que é quase igualmente inevitável é a ofensa que qualquer escritor que trate
deste assunto corre o risco de fazer a muitos dos seus leitores num ponto ou noutro,
ao discutir as imensas questões levantadas por Gênesis em cada página.
Dificilmente pode haver outra parte da Escritura sobre a qual se tenham librado
tantas batalhas teológicas, científicas, históricas e literárias, ou se tenham
abrigado tão vigorosas opiniões. Este mesmo fato é sinal da grandeza e do poder
do livro, e dos estreitos limites, quer do nosso conhecimento fatual, quer da
nossa apreensão espiritual. Se se achar que as interpretações e discussões dadas
aqui estão longe de infalíveis ou completas, ninguém está mais ciente disso do
que o autor; são apresentadas, pois, com a esperança de que, mesmo quando forem
intragáveis, provoquem o mais cerrado estudo do próprio texto inspirado.
Um
prefácio dá oportunidade para agradecimentos, e me alegro em expressar
gratidão, primeiro aos que me chamaram a atenção para bom número de questões
arqueológicas e linguísticas, principalmente ao professor D. J. Wiseman, Editor
Geral da série, e ao Sr. A. R. Millard, bibliotecário da “ Tyndale House” ;
também ao Rev. J. A. Motyer, cujo discernimento teológico fez dele, em vários
pontos, “olhos para o cego” . O Dr. R. E. D. Clark foi bastante gentil para ler
a parte do manuscrito referente à cosmologia, e para fazer valiosas críticas e
sugestões. O auxílio prestado por todos eles reduziu, mas naturalmente não
eliminou, os meus erros e omissões. Infelizmente, a obra, Ancient Orient and
Old Testament — O Oriente Antigo e o Velho Testamento (Tyndade Press, 1966),
foi publicada muito tardiamente para ser consultada em benefício deste
comentário, mas é bom saber que a sua riqueza de informações sobre o mundo que
forma o cenário de Gênesis está à disposição agora, para preencher (e sem
dúvida corrigir) o quadro apenas ligeiramente esboçado no presente livro.
Finalmente,
é uma satisfação agradecer aos editores o seu incentivo e a sua experiente
perícia, e à Srta. J. M. Plumbridge, que decifrou e datilografou com
extraordinário esmero e entusiasmo um manuscrito que está longe de ser fácil.
Oxalá se considere este comentário um servo tão fiel e correto como o mordomo
de Abraão foi para com o seu senhor. (Derek Kidner – escritor).
Utilização livre desde que citando a fonteGuedes, Ivan PereiraMestre em Ciências da Religião.Universidade Presbiteriana Mackenzieme.ivanguedes@gmail.comOutro BlogHistoriologia Protestantehttp://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
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