terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Natividade : Momento de Ruptura e Renovação

 
    O evangelista Mateus escreve sua narrativa evangélica muitos anos depois dos acontecimentos terem se desenvolvidos. Sua narrativa tem um forte teor judaico e suas preocupações peculiares são a de colocar Jesus de Nazaré como centro das revelações veterotestamentária e ao mesmo tempo demonstrar que Jesus veio romper com um sistema religioso pernicioso que havia substituído a verdadeira religião estabelecida por Yahvé  e arduamente proclamada por todos os profetas anteriores e agora expressado no Evangelho proclamado e vivenciado por Jesus Cristo.
    Portanto, o Natal não é meramente uma festa litúrgica ou religiosa, mas é também um momento de reflexão profunda que deve sempre nos conduzir a uma ruptura com tudo o que de forma direta ou indireta nos faz desviar da genuína fé evangélica. Este é o tempo oportuno para efetuarmos as transformações radicais que são necessárias em nossa vida cristã, que na medida em que o tempo vai passando, distancia-se cada vez mais dos princípios estabelecidos pelo próprio Senhor Jesus. Não é por acaso que na primeira carta, do conjunto de sete, que Jesus envia às igrejas espalhadas pela Ásia Menor, após tecer alguns elogios à igreja de Éfeso, Ele declara: “Contra você, porém, tenho isto: você abandonou o seu primeiro amor.” (Ap 2.4).
    Ao longo dos séculos os israelitas foram desviando-se do espírito da Lei e se emaranhando cada vez mais com a letra da Lei. O espírito da Lei era o único meio pelo qual eles poderiam manter seu relacionamento sadio com Deus, quer fossem nos momentos cúlticos quer fossem nos exercícios de seus relacionamentos sociais, pois a Lei dada por Deus através de Moisés abrangia ambas as esferas: religiosas e sociais. Mas a opção pela letra da Lei deformou totalmente tanto o relacionamento com Deus, quanto os relacionamentos sociais. A religião israelita tornou-se apenas mais um exercício religioso mecanizado e estéril, do qual Deus reiteradamente declarava que não tinha nenhuma satisfação; como também a religião judaica tornou-se um terrível instrumento de opressão e exploração da grande maioria de pessoas, e um refúgio para a manutenção a qualquer preço o do status de uma minoria privilegiada.
    proposta de Mateus é deixar claro que Jesus Cristo vem resgatar o espírito da Lei, proporcionando a oportunidade para um novo e sadio relacionamento com o Pai, sendo Ele mesmo o único meio para se alcançar este objetivo. Mas Jesus vem também por meio de Seu evangelho reestruturar de forma concreta os relacionamentos sociais, de maneira que toda exploração ou alijamento do outro, fosse totalmente abolida, e as pessoas pudessem reconhecer-se no outro proporcionando relacionamentos sociais justos e construtivos.
    O Natal é muito mais do que bolas coloridas e troca de presentes. O Natal é o marco inicial desta transformação radical, desta ruptura total – onde o relacionamento com Deus volta a ser o ponto convergente da vida, pois para isto o ser humano foi criado à imagem e semelhança de seu Criador; onde os relacionamentos humanos devem expressar em grau, gênero e numero o agradável e positivo relacionamento com Deus.
    O propósito de Mateus desde as primeiras linhas de sua narrativa é desenvolver estes temas centrais – o verdadeiro relacionamento com Deus que refletem nos relacionamentos humanos mais básicos e elementares.
    Quando Mateus inicia sua narrativa evangélica com a figura emblemática de Abraão ele traz à memória de seus leitores judaicos o momento sublime em que Deus propõe uma forma de se relacionar com o ser humano, resgatando os momentos iniciais do Éden. E quando Deus declara a Abraão que esta aliança deveria abençoar todas as famílias da terra, Ele está redimensionando os relacionamentos humanos, onde a bênção recebida deve ser sempre compartilhada com todos e nunca armazenadas em grandes e maiores celeiros.
    Assim como o chamado de Abraão é o marco inicial desta renovada forma de agir e interagir de Deus com o ser humano, assim também, o Natal é o grande paradigma que deve nortear nosso renovado relacionamento com Deus e com o próximo.

Amaras a Deus acima de todas as coisas e ao teu próximo como a ti mesmo.”

    Que neste Natal eu e você possamos nos abrir para esta proposta renovadora e remodeladora  de Deus para as nossas vidas; que possamos sentir os ventos do Espírito renovando nosso relacionamento com Deus e com os nossos semelhantes.

Que este Natal possa produzir e reproduzir as mudanças e rupturas que tanto se fazem necessário para retomarmos ao nosso primeiro amor.


Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
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sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Natividade : Tudo tem sua Origem

 


No princípio era o verbo e o verbo era Deus
e o verbo estava com Deus ...E o verbo se fez carne e habitou entre nós... 
(Jo 1:1,14) 

As folhas do calendário de 2020 estão passando rapidamente e mais uma vez as primeiras luzes e os primeiros sons alegres do Natal começam a serem percebidos.

O Natal é uma época incomparável, pois nos faz pensar na VIDA.

Os evangelistas Mateus e Lucas optaram por registrarem alguns dos importantes acontecimentos e eventos que interagiram diretamente no nascimento de Jesus. O primeiro, objetivando seus leitores judaicos, vai entrelaçando as profecias do AT e atualizando sua efetivação no nascimento daquele que tantos profetas pré anunciaram e que cada descendente de Abraão fiel aguardavam ansiosamente. Lucas cujos leitores eram de origem estrangeira, ou seja, não eram tão familiarizados com o pano de fundo judaico e suas profecias, opta por apresentar os personagens principais, fazendo uma narrativa dual de João Batista, o precursor, e Jesus. E na alternância destas duas histórias o evangelista agrega os demais personagens sendo que Jesus sempre é o foco principal e no final, como em ato apoteótico, Jesus é proclamado como aquele que veio para Salvar o ser humano de sua situação desesperadora.

Mas o evangelista João, que não trás nenhum detalhe da infância de Jesus, mas também diferentemente de Marcos que inicia sua narrativa a partir de seu batismo no rio Jordão, o quarto evangelista inicia sua narrativa evangélica com um hino incomparável em sua beleza e que demonstra não somente a origem Humana de Jesus, quando de Seu nascimento de Maria, mas também a sua origem Divina.

Muitos estudiosos entendem que este hino já era cantado nas primeiras comunidades cristãs dos dias do Evangelista e pensando na maneira como iniciaria a apresentação do personagem central de sua narrativa e provavelmente já tendo conhecimento das narrativas elaboradas por Mateus e Lucas, ele opta por inserir este hino que de forma incomparável apresenta Jesus Cristo como a palavra substancial do Deus vivo, salvador de todos aqueles que cressem ou viessem a crer.

O hino nos proporciona uma visão cósmica do Cristo em quem Deus revela o mistério, que segundo Paulo, estava “escondido desde antes dos séculos e predeterminado para a nossa glória” (1Co 2.7,8).

A palavra Logos para se referir ao Jesus preexistente, esta vinculada à ideia de revelação pela Palavra, comprovação da presença e da ação do Deus vivo revelando Seu próprio mistério. Jesus, portanto, é a intervenção direta de Deus na História da humanidade pela Sua Palavra pessoal; Deus, por meio de Jesus Cristo, esgota o que nos tem a dizer!

“Ninguém jamais viu Deus, o Unigênito que está no seio do Pai, foi ele que no-lo manifestou” (1.18).

João inicia sua narrativa evangélica com a declaração de que a Revelação máxima de Deus, esta unicamente na pessoa de Jesus Cristo, cuja glória o evangelista expressa através de dois movimentos entrelaçados: em um, ao se referir ao Cristo, ele se transfere ao principio de todas as manifestações de Deus e, para tal fim, utiliza-se dos termos utilizados na narrativa da Criação e do Novo Gênesis; no outro movimento, ele faz entender que a ação criadora e salvadora de Deus jamais será corretamente compreendida a não ser em função da glória revelada por meio de Jesus Cristo.

A pessoa de Jesus é o cerne das narrativas evangélicas. A única preocupação dos escritores do Novo Testamento foi, sem qualquer sombra de dúvida, a de dar uma resposta a esta questão sobre quem Ele era. Portanto, suas narrativas não são amontoadas de teorias abstratas, mas testemunhos singulares sobre Aquele que foi visto por olhos humanos, apalpado por mãos humanas, apresentado por palavras ouvidas por criaturas humanas.

Jesus Cristo!

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
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Referência Bibliográfica
BRUCE, F. F. (Editor) Comentário bíblico NVI – Antigo e Novo Testamento. São Paulo: Editora Vida, 2008.
JEREMIAS, Joaquim. Estudos no Novo Testamento. São Paulo: Ed. Academia Cristã Ltda., 2006.
FEUILLET, O prólogo do quarto evangelho. São Paulo: Edições Paulinas, 1971.
DODD, Charles H. A interpretação do quarto evangelho. São Paulo: Editora Teológica, 2003.
PACK, Frank. O evangelho segundo João. São Paulo: Editora Vida Cristã, 1983.