sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

A BONDADE DE DEUS - Salmo 136

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“... porque a sua benignidade [bondade] 
dura para sempre.”
Como é sabido os salmos são canções que eram entoadas pelos israelitas como parte integrante das suas reuniões cúlticas. Evidentemente, como ocorrem em nossos dias, estas músicas eram memorizadas e certamente cantadas no dia a dia das pessoas. A música é a forma mais didática para se ensinar algum princípio importante; grande parte daquilo que um grupo social assimila e posteriormente adota como padrão socialmente aceito vem através das músicas. É uma forma subliminar de incutir na mente das pessoas aquilo que se deseja estabelecer.
Portanto, não é por mero acaso que na Bíblia judaica se manteve desde seu princípio este precioso e expressivo conjunto de 150 cânticos, pois neles e por meio deles os judeus mantiveram inumeráveis conceitos sobre a pessoa de Deus e armazenaram em suas mentes e corações os fatos mais marcantes das intervenções de Deus na sua história nacional, bem como na vida cotidiana de seus cidadãos, não apenas os mais proeminentes, como reis, sacerdotes e profetas, mas também as pessoas mais simples e comum da comunidade.
Quando eles entoavam seus cânticos, seus corações eram arrebatados pela presença gloriosa de seu Deus e Senhor, bem como sentiam-se seguros pois este Deus que sempre esteve atuando na história passada deles ainda continuava atuando em suas histórias presente!
No Salmo 136 há um refrão, repetido exaustivamente em cada verso, pois o autor desejava que os que viessem a canta-lo jamais pudessem se esquecerem desta característica distintiva do caráter de Deus – a Sua Bondade“... porque a sua benignidade [bondade] dura para sempre.”
O salmista certamente havia experimentado continuamente desta ação bondosa de Deus em sua própria vida, bem como, resgata está bondade divina desde os primórdios da Criação, perpassando pelos momentos mais grandiosos da história israelita. Para o salmista Deus deve ser louvado e engrandecido diariamente por causa de sua Bondade, pois ele entende que está bondade divina é o fundamento da própria fé e esperança que tornam-se a razão para que não fossem destruídos e a razão pela qual ainda se pode manter a sanidade em meio à uma sociedade cada dia mais decadente e esquizofrênica.
 
Bondade de Deus - O Que Significa
A bondade de Deus é um dos atributos de Deus, assim como a descrição de sua própria essência. Deus, por natureza, é inerentemente bom, como O Salmo 34.8 nos diz: "Provai e vede que o Senhor é bom, bem-aventurado é aquele que nele se refugia." Ele é o fundamento de qualquer manifestação de bondade e de tudo que possa ser bom!
A nossa grande dificuldade em compreender a Bondade de Deus é porque nós não somos bons. A nossa natureza decaída perdeu a capacidade de sermos naturalmente bons. O nosso caráter, diferentemente de Deus, é mau e reproduz está maldade em tudo que fazemos ou pensamos em fazer [quantos pensamentos maus você teve hoje e quantos pensamentos bons? ]. A bondade não está em nosso caráter. Toda nossa bondade vem de Deus, é a bondade de Deus sendo manifestada em nós a razão pela qual ainda em alguns momentos podemos expressar um certo grau de bondade no que fazemos e em nossos relacionamentos.

A Bondade de Deus se Manifesta em Tudo que Ele faz!
            A bondade de Deus é evidente em todas as suas criações e realizações. Há um REFRÃO no processo da Criação “... e viu Deus que era BOM...” ao final de cada etapa da Criação Deus manifesta aprovação declarando que tudo estava em perfeita harmonia. E quando chega ao final do processo criativo Deus declara “...E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom; ” (Gênesis 1.31).
            Mas esta bondade que permeia toda a obra da criação é a mesma bondade que se manifesta em todos os momentos da vida humana. Desde que a raça humana optou por se rebelar contra Deus, ainda neste momento Deus manifesta sua Bondade ao comprometer-se em proporcionar um meio pelo qual este ser humano decaído pudesse retornar à sua harmoniosa relação com Ele (Gn 3.15 – chamada também de Pro-Evangelho). A própria histórias dos israelitas aqui mencionadas em alguns de seus principais momentos servem de exemplos ilustrativos desta manifestação bondosa de Deus na vida deles e de todos os crentes em todas as épocas. A bondade de Deus é manifestada não porque eles (ou nós) eram bonzinhos, mas unicamente porque Deus é Bom e tudo quanto faz continua sendo Bom!
Quando criança (em Barbacena) cantávamos uma música cuja letra era apenas um refrão repetido, como aqui no Salmo 136, e que retratava está preciosa verdade da manifestação da Bondade de Deus na nossa vida: “DEUS É TÃO BOM [ALELUIA!] ...DEUS É TÃO BOM [ALELUIA!] ...DEUS É TÃO BOM... PRA MIM ...[ALELUIA!].
Como a nossa vida seria DIFERENTE se de fato e de verdade crêssemos nesta BONDADE de Deus!
Como a nossa vida seria DIFERENTE se realmente experimentássemos desta BONDADE de Deus!

A Bondade de Deus é o modelo/padrão perfeito de bondade.
O conhecimento de Deus e de Sua bondade, DEVERIA ser (porque infelizmente na maioria das vezes não é) a motivação para nos empenharmos ao máximo em fazer coisas boas “FAZER O BEM A TODOS”. Não há qualquer desculpa ou razão para deixarmos de fazer o BEM – “NUCA DEIXE DE FAZER O BEM”. Devemos olhar para Deus como o modelo perfeito para nos ensinar sobre a bondade e como fazer coisas boas.
Todas as vezes que não agimos ou pensamos em fazer o bem, aquilo que de fato é bom, aquilo que realmente fará bem a nós ou a outros, deixamos de ser semelhantes a Deus e nos assemelhamos ao diabo que é por natureza a manifestação de toda maldade.
Somente há duas formas de vivermos: fazendo o bem ou fazendo o mal. Não existe meio termo, ou estamos manifestando o que é bom, ou estamos manifestando o que é mal.

A Bondade de Deus nos assegura que o Seu propósito em relação a nós é bom.
Assim como os pais querem o bem para seus filhos, nosso Pai Celestial que é Perfeitamente Bom quer sempre o nosso bem. Tiago 1.17 diz: "Todo dom (presente/dádiva) boa e perfeita vem do alto, descendo do Pai das luzes, que não muda como sombras inconstantes."
Devemos lembrar, entretanto, que as coisas boas não podem sempre aparecer como experiências felizes. Às vezes a Bondade de Deus pode vir embutida nas adversidades ou dificuldades, mas Deus pode usar as dificuldades para o bem. A biografia de Paulo é um exemplo desta verdade. Quando lemos o quanto ele sofreu: apedrejamento, açoites, doenças, perseguições por parte dos judeus e por parte dos estrangeiros e um “espinho” que lhe trazia sofrimento e vergonha, poderíamos pensar de que Deus não foi Bom para com ele, mas o próprio Paulo escrevendo uma das suas cartas mais amadurecidas teologicamente, aos crentes espalhados pelas comunidades cristãs da cidade de Roma ele declara: "E sabemos [termos certeza/convicção] que em todas as coisas Deus trabalha para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados segundo o seu propósito " (Rm 8.28).
            Nestes dias de uma fé fácil, de uma religiosidade evangélica voltada unicamente para os benefícios do Evangelho, a biografia de Paulo é um absurdo! É preciso realmente ser crente para continuar crendo que apesar e em meio ás mais absurdas e doloridas situações da vida cotidiana – Deus é bom e almeja unicamente o nosso bem. 

A Bondade de Deus nos proporciona segurança e encorajamento.
Podemos confiar [descansar/esperar] na bondade imutável de Deus. Em outro Salmo encontramos essa declaração de fé: "A bondade de Deus permanece para sempre" (Sl 52.1). Para o salmista e para todo crente em todas as épocas - Deus sempre vai ser bom. A Bíblia afirma em cada página que o Caráter de Deus jamais tem qualquer sombra de variação. Ele continuará a ser o criador de todas as coisas boas e podemos estar confiantes de que Ele PROVERÁ coisas boas para nós de acordo com Sua “boa, agradável, e perfeita vontade” como ensina Paulo aos crentes em Roma.
            Neste mundo de mudanças continuas, onde o que era deixa de ser e o que não era passa a ser; onde as circunstâncias se alteram se qualquer aviso prévio; onde os compromissos assumidos deixam de valer sem qualquer razão aparente – crer e experimentar desta Bondade de um Deus que NUNCA MUDA, faz toda a diferença! Nos capacita a vivermos saudável em meio à uma sociedade infectada pelos germes do desespero; nos habilita a termos esperança em um mundo despido diariamente de qualquer vestígio de esperança!

Finalmente, a Bondade de Deus nos atrai a Ele.
A finalidade da bondade de Deus é para nos atrair para ele. Esta máxima se manifestou no mais alto grau quando Deus sacrificou Seu próprio Filho, Jesus, para a nossa salvação. Não há nas páginas da história humana um registro de semelhante ato de Bondade a não ser nas das páginas Evangélicas!  É unicamente por causa da Bondade de Deus que nos é dada a oportunidade de ouvir a Sua Palavra de Salvação; é por pura Bondade da parte de Deus que somos Capacitados a Crer em Jesus como nosso Salvador; é unicamente por causa da Bondade de Deus que haveremos de tomar posse da Vida Eterna!

Bondade de Deus - Conclusão
A bondade de Deus é o núcleo de nossa fé cristã. É por causa de Seu desejo para o nosso bem que Deus providenciou a salvação através de seu Filho. Tudo o que Deus faz é para o nosso bem. Podemos ver uma prova da bondade de Deus ao nosso redor, nas disposições de sustentação da vida humana.
Toda a nossa Bondade e tudo que fazemos de Bom,
tem sua ORIGEM na BONDADE DE DEUS.

Concluo estas palavras trazendo à memória outro pequeno cântico [entoado nos dias felizes da minha infância]:
“Deus é bom pra mim... com ele vou... contente estou...
Deus é bom pra mim”.


Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
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http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/


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Referências Bibliográficas
BEVINCK, Hermann. Teologia Sistemática. Tradução Vagner Barbosa. Santa Barbara do Oeste (SP): SOCEP, 2001.
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RYRIE, Charles Caldwell. Teologia básica – ao alcance de todos. Tradução Jarbas Aragão. São Paulo: Mundo Cristão, 2004.


2 comentários:

  1. A questão deste cântico se reduz a uma palavra: חסד ou seja Chessed(lê-se Hessed e significa Graça) pronuncia-se 26 vezes, coincidindo com a soma das letra do nome do Eterno (יהוה) - Yod ou י=10, He ou ה=5 duas vezes e Vav ou ו=6, portanto ou autor desejou que o povo israelita repetisse 26 vezes, que é o numero da soma das letras do nome do Eterno, a perfeição da Graça divina.

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