terça-feira, 25 de julho de 2023

A T O S - Discursos e/ou Sermões


    Lucas organiza seu material em Atos intercalando narrativas com discursos e/ou sermões. Não são materiais na integra, mas estratos ou esboços para que o leitor possa ter uma ideia do conteúdo destas pregações. Há mais de vinte incluídos, sendo que a maioria é de Pedro (7 ao todo) e de Paulo (11 ao todo). Abaixo está uma lista dos mais importantes com o assunto e a referência bíblica.

DISCURSOS e/ou SERMÕES EM ATOS

Discurso / Sermão

Assunto

Referência

Pedro à multidão no Pentecoste  

Explicação de Pedro sobre o significado do Pentecoste  

Atos 2.14-40    

 

Pedro à multidão no Templo  

O povo judeu deveria se arrepender por haver crucificado o Messias      

Atos 3.12-26    

Pedro no Sinédrio

Testemunho de que um homem aleijado havia sido curado pelo poder de Jesus      

 

Atos 4.5-12    

 

Estêvão no Sinédrio

Estêvão recorda a história dos judeus acusando-os de terem matado o Messias que lhes foi enviado     

Atos 7    

Pedro aos gentios  

Gentios e judeus podem ser salvos da mesma forma  

Atos 10.28-47

Pedro à igreja em Jerusalém

Testemunho sobre sua experiência em Jope e a defesa de seu ministério aos gentios       

Atos 11.4-18

Paulo à sinagoga em Antioquia

Jesus é o Messias em cumprimento às profecias do Antigo Testamento      

Atos 13.16-41    

Pedro ao Concílio de Jerusalém  

Salvação pela graça disponível a todos  

Atos 15.7-11    

 

Tiago ao Concílio de Jerusalém  

Gentios convertidos não necessitam circuncidar-se  

Atos 15.13-21    

 

Paulo aos presbíteros em Éfeso  

Permaneçam fiéis apesar dos falsos mestres e da perseguição

Atos 20.17-35

Paulo à multidão em Jerusalém  

Declaração de Paulo sobre sua conversão e seu ministério aos gentios

Atos 22.1-21

Paulo ao Sinédrio

Defesa de Paulo declarando-se um fariseu e um cidadão romano

Atos 23.1-6 

Paulo diante do rei Agripa

Declaração de Paulo sobre sua conversão e seu zelo pelo evangelho

Atos 26  

Paulo aos líderes judeus em Roma

Declaração de Paulo sobre sua herança judaica

Atos 28.17-20    

 

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
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Historiologia Protestante

Referência Bibliográfica

Gráfico extraído de Nelson J. Complete Book ai Bible Maps and Charts. Thomas Nelson, Inc. 1993.

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sábado, 22 de julho de 2023

EVANGELHO SEGUNDO MARCOS – Síntese por Capítulos

 

               Todos os esboços se constituem em uma forma de leitura rápida de um livro bíblico (ou não). Aqui temos os pontos centrais da narrativa capítulo a capítulo nos permitindo ter uma visão panorâmica de cada um. Evidente que está leitura não substitui a leitura integral do texto, mas ajuda a localizar os diversos temas dentro da narrativa e assim facilitar a identificação dos temas centrais e seus subtemas. Boa leitura!

Capítulo

 

1

A Missão de João Batista. Sua pregação no deserto. Seu Batismo no rio Jordão. O Batismo de Jesus e a Manifestação do Pai e do Espírito. A tentação. Início ministério de Cristo na Galileia começou. O Chamado dos primeiros discípulos. A expulsão de um espírito impuro. A fama de Jesus aumenta em toda Galileia. Cura da sogra de Pedro. Jesus retira-se para orar. Pregação por toda a Galileia. A cura de um leproso.

2

A cura de um homem paralítico. Jesus é acusado de blasfêmia. O Chamado de Mateus. A refeição na casa de Mateus. Os são não precisam de um médico, mas sim os doentes. Jesus fala sobre o jejum. Parábola: Vinho Novo em barris velhos. Colher milho no dia de sábado. O Filho do Homem, Senhor do sábado.

3

Cura de um homem da mão ressequida. Os fariseus e herodianos se unem. Jesus nomeia o grupo dos Doze. A blasfêmia de atribuir seu poder divino a Belzebu. O pecado que não tem perdão. A mãe e irmãos de Jesus.

4

Parábola do Semeador a boa semente, os tipos de solo - duro, pedregoso, espinhoso e o bom solo. A explicação da parábola. A vela debaixo de um alqueire. Parábolas: da semente crescendo secretamente, grão de semente de mostarda. A tempestade no mar.

5

Jesus na região dos Gadarenos. O rapaz possesso. Os Demônios entram nos suínos. Os Gadarenos expulsam Jesus. O jovem liberto prega na região de Decápolis. Jesus retorna para cidade de Cafarnaum. A ressurreição da filha de Jairo, chefe da sinagoga. A cura da mulher com a fluxo de sangue.

6

Cristo em Nazaré, ensina na Sinagoga e é rejeitado pelos nazarenos. Os Doze são enviados para pregar e trazem o relatório de sua pregação e trabalho. A opinião do rei Herodes sobre Jesus. Relato da morte de João Batista. Alimentando Cinco Mil pessoas em lugar ermo. Jesus vai orar no monte sozinho. Os discípulos enfrentam uma grande tempestade e Jesus vem ao encontro deles e acalma a tempestade. Jesus realiza diversas curas.

7

Os escribas e fariseus de Jerusalém observam todos os movimentos de Jesus. É acusado de não efetuar a lavagem cerimonial de lavar as mãos antes de comer. Jesus os acusa de tornarem nula a lei de Deus pela tradição. Ensina que o que contamina uma pessoa é o que sai do coração. Jesus sentindo ameaças de morte vai para as fronteiras de Tiro e Sidon. A Mulher Siro-Fenícia. Cura em Decápolis.

8

Uma vez mais Jesus se compadece e alimenta uma grande multidão. Líderes religiosos judaicos pedem um Sinal do Céu. Um cego é curado em Betsaida. Confissão de Pedro em Cesareia de Filipe. Jesus fala de sua morte e sepultamento como cumprimento da profecia relacionada ao Filho do Homem. É preciso tomar a Cruz para poder seguir a Cristo.

9

A transfiguração. Os ensinamentos sobre Elias. A cura do menino lunático. Jesus lhes fala novamente sobre o que vai lhe acontecer em Jerusalém. Os discípulos discutem sobre quem era o maior. Uma pessoa desconhecida expulsa demônios em nome de Jesus. Uma coleção de máximas independentes proferidas por nosso Senhor conclui o capítulo.

10

Jesus passa pela região da Jordânia e inicia sua última subida à Jerusalém. A polêmica dos fariseus com Jesus sobre o divórcio. A Lei de Moisés e a de Cristo. Jesus abençoa as criancinhas. O Jovem Rico se afasta triste e o alerta do perigo das riquezas. Recompensa daqueles que tudo abandonam pelo evangelho. O pedido ambicioso da mãe de Tiago e João. Novamente Jesus alerta os discípulos sobre o que vai lhe acontecer em Jerusalém. Ao passar por Jericó o cego Bartimeu é curado.

11

A Entrada triunfal em Jerusalém. A figueira estéril amaldiçoada. A segunda purificação do Templo. A indignação dos governantes judeus. O Poder da Fé. A exigência dos governantes para saber de onde vem a autoridade de Jesus. Seus opositores se calam quando Jesus lhes pergunta de onde vinha a autoridade de João Batista.

12

A Parábola da Vinha e os Lavradores Perversos. Profecia da inclusão dos Gentios. Os herodianos e fariseus tramam contra Jesus. A questão do tributo [imposto] a César. Polêmica dos Saduceus sobre a Ressurreição dos mortos. Qual é o maior mandamento? Cuidado com fermento dos escribas. A oferta da viúva.

13

A Destruição do Templo e sua reconstrução em três dias [referindo-se à sua própria morte e ressurreição]. A Perseguição aos discípulos. O Evangelho pregado a todas as nações. As terríveis calamidades da nação judaica. A retorno de Cristo para julgar. O seu retorno em poder e glória está definido somente pelo Pai. Vigiai, orai e estai prontos.

14

O Sinédrio (autoridade máxima do judaísmo] determina matar Jesus. A Unção em Betânia (dois dias antes de sua morte). Judas vende seu Mestre. O Dia do Pão Ázimo. A Páscoa do Senhor. O Senhor estabelece a Ceia. A negação de Pedro revelada. A agonia no Jardim. Cristo traído e preso pelos Soldados da Guarda do Templo. Cristo diante do Sinédrio. A Confissão e a Condenação. Pedro negando-o três vezes, e arrepende-se amargamente.

15

Jesus enviado pelo Sinédrio a Pilatos. A multidão, instigada pelos sacerdotes, clama por sua morte. Eles rejeitam Jesus e exigem a liberdade de Barrabás. Jesus entregue para Ser Crucificado. A coroa de espinhos, cuspido e zombado. Crucificado no Gólgota entre ladrões. Ridicularizado pelos sacerdotes. Jesus morre. O Véu do Templo rasga-se de alto a baixo. A Confissão do Centurião romano. O corpo de Jesus é sepultado no túmulo de José de Arimatéia.

16

As Mulheres vão ao Túmulo. O SEPULCRO ESTÁ VAZIO. A Mensagem do Anjo. Maria Madalena vê o Senhor ressuscitado. A Mensagem aos Discípulos. Visto por dois discípulos de Emaús. Aparece ao onze. Repreende sua incredulidade. Ordena que preguem o Evangelho em todo o mundo. Ascensão de Jesus diante dos olhos atônitos dos discípulos.

 

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Guedes, Ivan Pereira

Mestre em Ciências da Religião.

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sexta-feira, 7 de julho de 2023

Ansiedade - Reação natural ou uma doença?

Vivemos dias complicados e repleto de incertezas. Ricos e pobres, homens e mulheres, velhos e jovens todos e cada um enfrenta sua porção de incertezas na vida. Quando lemos os Salmos contidos na Bíblia veremos que os salmistas eram muitas vezes tomados pelas aflições da vida e vivenciavam graus de incertezas e que muitas vezes se transformavam em em angústias profundas.

          Mas o Senhor Jesus já alertava sobre isso: não vivam ansiosos, basta cada dia seus problemas e lutas. Se ele tivesse dito somente “não vivam ansiosos”, ficaríamos em uma situação muito difícil, pois somos ansiosos por natureza (é uma das consequências universais do afastamento (queda) do ser humano de Deus).

          Mas Jesus completa – “basta a cada dia os seus malefícios -, ou seja, vamos viver um dia de cada vez, em linguagem bem popular – “vamos matar um leão a cada dia”. Os problemas de hoje, devemos enfrentar hoje, mas os problemas de amanhã (mesmo que sejam os mesmos) vamos enfrentá-los amanhã.

          Quando o povo de Israel teve que viver por 40 anos no deserto, Deus lhes dava o alimento (Maná) para cada dia (com exceção da sexta, por causa do sábado); na oração modelo que Jesus deu aos discípulos (a pedido deles) oramos: “o pão nosso nos de cada dia nos dá hoje”. Deus nos dá um exemplo pessoal de se viver um dia de cada vez – ao final de cada dia Ele contemplava o que fora criado – “e viu Deus que o que fizera naquele dia era bom”.

          Portanto, o que realmente importa é o que fazemos com essa ansiedade e como administrá-la de forma que ela não se torne patológico e roube nossa paz e sobriedade espiritual.

Emoções 1 Samuel 18.6-9; 1 Samuel 1.10; 1 Reis 19.2-4; Mateus 6.25-34

Ao nos criar Deus nos deu a capacidade de sentirmos emoções (imagine a vida sem elas). Em um mesmo dia podemos sentir diversas emoções: alegria, felicidade, paz, gentileza e bondade. Outras vezes, expressamos nossas emoções com crueldade, sarcasmo, severidade e de forma ofensiva. À medida que embarcamos na montanha russa cotidiana as emoções vão se manifestando de forma positiva ou negativa. Essas emoções nos foram dadas como presentes, mas o pecado realmente trouxe danos terríveis, e quando deixamos que determinados sentimentos dominem a nossa mente (coração) elas podem tornar-se danosas e até mortal, para nós e para os outros (principalmente para quem convive continuamente conosco). Um filme “Dia de Fúria” mostra um homem que é tomado por uma fúria tão grande que ele começa a agir violentamente as pessoas que ele vai encontrando pelo seu caminho, por motivos banais. Portanto, quando falamos de emoções não estamos tratando de algo simplório, mas de forças que podem tomar proporções incontroláveis e danosas. O ódio é uma das emoções mais destrutivas e mortais. Jesus nunca odiou nem mesmo seus inimigos, pois se tivesse odiado por apenas alguns segundos (tendo Ele todo o poder no céu e na Terra), seus adversários seriam simplesmente aniquilados. Mas, ao contrário, Jesus os amou e disponibilizou a cada um deles, de Herodes ao mais simplório da multidão, o seu perdão.

Ansiedade Provérbios 12.25

          Certamente a ansiedade é uma pandemia permanente que diariamente contamina milhões ou bilhões de pessoas e afetam as múltiplas áreas da existência humana: emprego, saúde, finanças, família, estudo, relacionamentos pessoais e interpessoais. E um dos agentes virais da ansiedade é sem dúvida, como vimos acima, as incertezas da vida. Não temos certeza do que está acontecendo hoje, do que possa acontecer amanhã e nem mesmo qual será o impacto que o que fizemos ou deixamos de fazer no passado pode nos afetar no presente.

          Nos dicionários podemos encontrar diversas definições sobre ansiedade, como sendo um estado de agitação, inquietação ou ansiedade mental, angustia (sempre presente em enfermidades prologadas ou confinamentos pandêmicos). Mas um fator básico do estado de ansiedade é a sensação de que não estamos no controle da nossa própria vida. Hoje estamos vendo a multiplicação do que tem sido chamado de “mal súbito). No grego usado nos textos do nosso Novo Testamento ansiedade vem a ser: distração, agitação ou inquietação, que é o contrário da paz e que produz um estresse desestabilizador em nós.

          Espero ter ao menos chamado sua atenção para essa questão da ansiedade e do quanto ela pode vir a se tornar perigosa e até destrutiva, pois ela afeta a mente e o corpo, e no caso do crente afeta certamente sua espiritualidade.

          Portanto precisamos urgentemente, como fez o apostolo Paulo, aprendermos a lidarmos com todos os aspectos relacionados à ansiedade, já que ela é um fator preponderante na qualidade de nossa vida em suas diversas esferas.

 

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Guedes, Ivan Pereira
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quarta-feira, 5 de julho de 2023

C. S. LEWIS – Por Que Lemos?

 


Cada um de nós, por natureza, vê todo o mundo a partir de um ponto de vista com uma perspectiva e uma seletividade peculiar a si mesmo. E mesmo quando desenvolvemos fantasias desinteressadas, estas estão saturadas e limitadas pela nossa própria psicologia. Concordar nessa particularidade no nível sensorial — em outras palavras, não dar um desconto à perspectiva — seria loucura. Deveríamos então crer que a estrada de ferro se estreita à medida que a distância aumenta. Porém, queremos também fugir das ilusões de perspectiva em níveis mais elevados.

Não estamos contentes em sermos as mônadas de Leibniz [04].

Exigimos janelas. A literatura enquanto logos é uma série de janelas, ou

mesmo de portas. Uma das coisas que sentimos depois de ler uma grande obra é “eu saí”. Ou, a partir de outro ponto de vista, “eu entrei”, perfurei a concha de alguma outra mônada e descobri como é dentro dela. Por conseguinte, a boa leitura, ainda que em essência não seja uma atividade afetiva, moral ou intelectual, tem alguma coisa em comum com estas três possibilidades. No amor, nós escapamos do nosso próprio ser para entrar em outro. Na esfera moral, cada ato de justiça ou caridade envolve nos colocarmos no lugar da outra pessoa e, assim, transcender a nossa própria particularidade competitiva. Ao conseguirmos entender qualquer coisa, rejeitamos os fatos como são para nós e aceitamos os fatos como realmente são. O impulso primário de cada um é manter e engrandecer a si mesmo. O impulso secundário é sair do ser, corrigir seu provincianismo e curar sua solidão. Estamos fazendo isso no amor, na virtude, na busca pelo conhecimento e na recepção das artes. Obviamente esse processo pode ser descrito ou como um engrandecimento, ou como uma aniquilação temporária do ser. Mas isso é um antigo paradoxo: “quem perder a sua vida, salvá-la-á” [05].

Queremos ver com outros olhos, imaginar com

outras imaginações, sentir com outros corações, e

com os nossos próprios também.

Como consequência, nós temos satisfação em entrar nas crenças de outras pessoas (aquelas, digamos, de Lucrécio [06] ou de Lawrence [07]), ainda que pensemos que não são verdadeiras. E nas paixões deles, ainda que as julguemos depravadas, como, algumas vezes, as de Marlowe [08] ou Carlyle [09]. E também na imaginação deles, ainda que lhes falte completo realismo de conteúdo.

Isso não deve ser entendido como se eu estivesse mais uma vez fazendo da literatura de poder um departamento dentro da literatura de conhecimento — um departamento que existia para satisfazer nossa curiosidade racional a respeito da psicologia de outras pessoas. Isso é, não em absoluto, uma questão (naquele sentido) de conhecimento. É connaitre (“conhecer”), não savoir (“saber”); é erleben (“vivência”). Nós nos tornamos esses outros “eus”. Não apenas nem principalmente para ver como são, mas para ver o que eles veem; ocupar, por um momento, o assento deles no grande teatro, usar seus óculos e se livrar de quaisquer percepções, alegrias, terrores, maravilhas ou diversões que esses óculos revelem. Nessa altura é irrelevante se o estado de humor expresso em um poema era verdadeira e historicamente o estado de humor do próprio poeta ou um que ele também imaginou. O que importa é sua capacidade de nos fazer vivê-lo. Duvido se o Donne histórico deu mais que um refúgio brincalhão e dramático ao estado de humor expresso em A aparição. Duvido mais ainda se o Pope histórico, salvo enquanto escreveu, e mesmo assim mais que dramaticamente, sentiu o que expressou na passagem que começa com “Sim, estou orgulhoso” [10]. O que isso importa?

Tanto quanto consigo entender, esse é o valor ou benefício específico da literatura considerada como logos. Ela nos permite ter experiências que não são as nossas. Nem todas elas têm o mesmo valor, assim como as nossas próprias experiências também não têm. Algumas delas, conforme costumamos dizer, “interessam-nos” mais do que outras. As causas desse interesse são natural e extremamente variadas e diferem de uma pessoa para outra. Pode ser o típico (e aí dizemos “isso é verdade!”) ou o anormal (e aí dizemos “que estranho!”). Pode ser o belo, o terrível, o que causa espanto, o estimulante, o patético, o cômico ou o simplesmente picante. A literatura proporciona uma entrée para todas essas possibilidades. Aqueles dentre nós que têm sido verdadeiros leitores durante toda a vida raramente compreendem de maneira plena a enorme extensão do nosso ser da qual somos devedores aos escritores. Compreendemos isso mais quando conversamos com um amigo que é um leitor não literato. Pode ser uma pessoa cheia de bondade e bom senso, mas é alguém que vive em um mundo minúsculo. Nós nos sentiríamos sufocados nesse mundo. A pessoa que está contente em ser apenas ela mesma e, portanto, menos que um “eu”, está em uma prisão. Os meus olhos não são o bastante para mim. Eu vejo através dos olhos dos outros. A realidade, mesmo vista através dos olhos de muitos, não é o bastante. Eu verei o que outros inventaram. Mesmo os olhos de toda a humanidade não são suficientes. Lamento que os animais não possam escrever livros. Eu aprenderia com muita alegria qual é a imagem que as coisas têm para um rato ou para uma abelha. Mais alegre ainda

ficaria se percebesse o mundo olfativo carregado com todas as informações e emoções que este mundo tem para um cão.

A experiência literária cura a ferida da individualidade sem diminuir o seu privilégio. Há emoções de massa que curam a ferida, mas destroem o privilégio. Nossos seres isolados se fundem nelas, e afundamos em uma subindividualidade. Mas, ao ler a grande literatura, eu me torno mil homens e, mesmo assim, continuo a ser eu mesmo. Tal como o céu noturno no poema grego, eu vejo com uma miríade de olhos, mas ainda sou eu quem o vê. Na adoração, no amor, na ação moral e no conhecimento, eu transcendo a mim mesmo, e nunca sou mais eu mesmo do que quando faço isso.

 

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Guedes, Ivan Pereira

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Notas [cf. livro]

[04] Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716), matemático e filósofo alemão. Formulou o conceito de mônada, que seria a essência irredutível do ser. Conforme Leibniz, a mônada está para a realidade metafísica assim como o átomo está para a realidade física. [N. T.]

[05] Referência a um dito de Jesus registrado em Mateus 16:25, Marcos 8:35 e Lucas 9:24. [N. T.] [06] Lucrécio (94? a. C.-55 a. C.), poeta e filósofo romano. [N. T.]

[07] D. H. Lawrence (1885-1930), poeta e romancista inglês. [N. T.]

[08] Christopher Marlowe (1564-1593), dramaturgo e poeta inglês, do período elizabetano. [N. T.

[09] Thomas Carlyle (1795-1881), historiador e escritor escocês da chamada Era Vitoriana. [N. T.] [10] Epílogo de Satires [Sátiras], dia, ii, 1. 208.

 

Referência Bibliográfica

LEWIS, C. S. Como cultivar uma vida de leitura. Tradução de Elissami Bauleo. 1.ed. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2020.

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