Ainda
que classifiquemos o livro de Atos como sendo histórico, não significa que
Lucas tinha em mente apenas e tão somente registrar alguns acontecimentos e
personagens inseridos no desenvolvimento do cristianismo do primeiro século.
Podemos e devemos estudar este livro da mesma forma com que estudamos os
evangelhos e as epístolas – procurando nele a revelação e o propósito de Deus
para as nossas vidas.
Tanto
em Atos como nos evangelhos podemos reconhecer e extrair as ênfases teológicas
que estavam inicialmente sendo elaboradas pelos primeiros cristãos.
Evidentemente que estas questões embrionárias estão sendo desenvolvidos em meio
aos mais diversos acontecimentos e somente muito mais tarde serão
sistematizadas no esforço de as entendermos melhor. Vejamos alguns destes
aspectos teológicos que emanam das paginas de Atos:
Ação Soberana e Providencial
de Deus: Desde o principio
Lucas deixa claro para Teófilo de que a história do cristianismo, bem
como toda história humana, esta sendo conduzida em todos os seus
mínimos detalhes pela vontade soberana de Deus. Em cada relato histórico é
perceptível as continuas ações da Providência divina. Podemos afirmar que o
livro de Atos ficaria tranquilamente confortável na companhia dos chamados
livros históricos do Primeiro Testamento [AT]. Assim, seja nos momentos de paz
e tranquilidade ou nos momentos mais duros e implacáveis aqueles cristãos
sempre creram que Deus estava no controle absoluto de todas
as coisas. Para Lucas os acontecimentos descritos são realizados de
acordo com a vontade de Deus (cf. 2.23; 4.27-29; etc.) e a história da Igreja
somente é possível de ser compreendida à luz da direção de Deus (cf. 13.2;
15.28; 16.16; etc.).
A Cristocentricidade da Mensagem: O kerigma ou pregação e a didake ou
ensino apostólico e gerações seguintes estava totalmente centrada nos diversos
aspectos da obra de Jesus Cristo. A ressurreição, a ascensão, a glorificação e
a sua volta, como Senhor e Juiz (cf. 2.32-36; 3.20 e 26; 17.29-31; 26.22-23;
etc.) são extratos da declaração de fé da Igreja cristã nos primórdios da sua
história. Aqui também encontramos referência aos diversos títulos cristológicos
que manifestam sua divindade e sua missão redentora – Senhor (2.36); Salvador
(5.31); Servo de Yahweh (3.13,16); Justo (7.52); Santo (3.14) e sobretudo
Cristo (Messias) que se torna um sobrenome próprio. Jesus sempre foi e deveria
continuar sendo o centro convergente da vida e da pregação da Igreja o que em
diversos momentos da história da igreja deixou de ser e creio que hoje esta
muito longe de ser a realidade de muitas “igrejas” evangélicas brasileiras.
A Igreja: Ainda que ela não seja o Reino de Deus ela
foi constituída para agregar os súditos deste Reino e para manifestar no mundo
os valores espirituais do Reino. É nela e através dela que a verdade deve ser
vivenciada e proclamada a todas as pessoas e nações, eliminando-se todas as
barreiras étnicas. Sendo ela a “nova
comunidade”, conforme o relato de Atos, mesmo sofrendo a rejeição por parte
da maioria dos judeus, manifesta vivencialmente a mensagem do evangelho (cf.
10.1-11.18). É, portanto o verdadeiro Israel, um povo novo e universal de
vínculos espirituais, cuja natureza é essencialmente missionária.
Compreensão Trinitária: Os primeiros cristãos sempre tiveram uma
consciência quanto a realidade da Trindade (cf. 4.8-12; 4.24-27; 15.23-29;
22.13-16; 26.12-18 e 28.23-28). Nunca houve qualquer dúvida que tudo que
concerne à salvação e à Igreja somente foi possível pela efetiva ação
perfeitamente sincrônica do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Pneumatologia: Acompanhando perfeitamente o ensino de Jesus
registrado em seu primeiro volume, Lucas realça de forma maravilhosa a ação
continua do Espírito Santo na vida da Igreja e nos
acontecimentos pessoais dos cristãos primitivos. É a manifestação
extraordinária do Espírito, no Pentecostes, que se torna o marco inicial da
Igreja e a torna capaz de levar adiante sua tarefa de propagar a mensagem da
salvação por meio de Cristo. O Espírito é a possessão e o ponto convergente de
todos e cada um dos cristãos, assim como a fonte de alegria e fervor
eletrizante que caracterizava aqueles primeiros dias. É o Espírito que capacita
e insere cada crente em seu respectivo ministério para melhor desenvolvimento a
Igreja. A expansão do cristianismo em tão pouco tempo e de forma tão abrangente
somente foi possível pelo poder e obra do Espírito Santo. Assim, do ponto de
vista de Lucas, absolutamente nada acontece na vida da Igreja e dos
cristãos sem a participação efetiva do Espírito Santo. Alguns
comentaristas bíblicos tendem a denominar este livro de “o Evangelho do
Espírito Santo”.
Utilização
livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre
em Ciências da Religião.
Universidade
Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro
Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
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Referências
Bibliográficas
BAXTER, J. Sidlow. Examinai
as Escrituras, v. 6. São Paulo: Vida Nova, 1989.
BERKHOF, Louis. New Testament Introduction. Eerdmans,
1915, https://archive.org/details/NewTestamentIntroduction Scanned and Edited
Mike Randall.
CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia
de Bíblia, Teologia e Filosofia. São Paulo: Hagnos, 8ª ed., 2006.
ERDMAN, Charles R. Hechos
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RICE, Edwin W. People’s commentary on the Acts giving. Philadelphia:
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SMITH, T. C. Comentário
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WILLIAMS, David J. Novo
Comentário Bíblico Contemporâneo – Atos. São Paulo: Vida, 1996.
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