Total de capítulos: 12
Total de versículos: 222
Tempo aproximado de leitura: 35 minutos
O
Livro de Eclesiastes é um dos cinco livros poéticos do Antigo
Testamento. Compreendendo um quinto do Antigo Testamento, esses cinco
livros – Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e
Cantares de Salomão – são de caráter pessoal e contêm algumas das
literaturas mais profundas da história humana.
Muitos
eruditos não hesitaram em enumerá-lo entre os Livros mais difíceis do Cânon
Sagrado. No período da Antiguidade e nos transcorrer da Idade Média, na
ausência dos grandes expositores abundou toda sorte de comentários alegóricos
mais extravagantes, confundindo os leitores com teorias duvidosas e
contraditórias entre eles.
O
reformador João Calvino não produziu nenhum comentário especifico sobre ele,
ainda que fizesse inumeras citações dele em suas obras. Martinho Lutero culpa
os comentaristas predecessores por mais atrapalharem do que ajudarem os
leitores compreenderem e apreciarem a mensagem deste livro:
Este livro é um dos livros mais difíceis de toda a
Escritura, que ninguém jamais dominou completamente. Na verdade, foi tão
distorcido pelos comentários miseráveis de muitos escritores que é quase um
trabalho maior purificar e defender o autor das noções que eles introduziram
nele do que mostrar seu verdadeiro significado. Há duas razões pelas quais
este livro tem sido mais obscuro do que outros. Em primeiro lugar, eles
não viram o propósito e o objetivo do autor, o que é importante ter em mente e
seguir em todo tipo de escrita e ainda mais importante aqui. A outra razão
foi a ignorância da língua hebraica e o estilo especial deste autor, que muitas
vezes diverge do uso comum da língua e é muito estranho ao nosso modo de falar
(LUTHER, 1972, pp. 3-187).
Quando
se lê Eclesiastes pela primeira vez pode achá-lo confuso e difícil de
entender. Parece uma estranha mistura de fé e fatalismo. Em alguns
momentos o escritor parece estar resignado com toda a frustração e futilidade
da vida; em outras, ele parece estar liberando geral, tipo faça tudo que
você quiser e que lhe dê satisfação; mas quando se lê nas entrelinhas o
escritor esta fazendo um alerta: Deus sabe o que está acontecendo, e um dia
responderemos a ele. Desta forma a grande pergunta do livro é: Qual o sentido da Vida? Onde Deus entra na equação da sua vida?
Uma
das razões pelas quais os evangélicos do século XX e XXI minimizam ou
menosprezam a leitura e estudo de Eclesiastes é que o escritor expõe de forma
clara e sem qualquer subterfugio a abordagem superficial e triunfalista do cristianismo
deles e os confronta com os problemas reais de vivermos em uma Sociedade
hedonista-materialista.
O
livro é um discurso inoportuno para os ouvidos sensíveis das atuais gerações
evangélicas. Se as gerações de meus pais e avós as pessoas deixavam tudo para desfrutarem
do Evangelho, neste tempo presente os “crentes” (como se tivessem esquecido o
fim para o qual foram salvos) estão prontos para deixar o Evangelho e
mergulharem de corpo e alma nos prazeres deste mundo, que o escritor de
Eclesiastes descreve em imagens vividas que tudo que essa Sociedade oferece é
tão somente vaidade, sim, vaidade das vaidades.
O
livro inteiro confronta a tendência do ser humano querer ser Deus em vez de
confiar em Deus. Eclesiastes nos ensina que só podemos nos chegar a Deus com
base em quem Ele é e não com base naquilo que “definimos” que Ele seja. As
pessoas de forma geral e um número crescente de evangélicos vive como quem pode
ter tudo, saber tudo, vivenciar tudo, alcançar tudo, ser felizes em tudo, ter
todas as respostas para tudo, mas a realidade é que somente Deus pode ser e
fazer tudo isso e nós não somos Ele.
A
chave para compreender corretamente esse livro está na frase: “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria”
(Pv 9.10). A verdadeira sabedoria é reconhecer a nossa própria limitação e um aprendizado
contínuo em confiar no Deus soberano que de fato conhece e sabe todas as coisas. Como
tudo na bíblia a fé é indispensável, pois sem ela pouca ou nada faz sentido nas
Escrituras.
Unidade
do livro
As
aparentes contradições levam muitos a precipitadamente afirmarem que o livro é uma
obra de vários autores onde cada um apresenta sua própria visão da vida. Mas
quando estudado sem preconceito ideológico podemos ver claramente que o mesmo
escritor examina a vida humana por os mais diversos aspectos, mas ele não tem
duvidas sobre a direção certa a ser tomada e ele afirma isso com todas as
letras.
Título
e Autoria
O
título do livro, “Eclesiastes” é a tradução grega da palavra hebraica
“Qoheleth” ou “Koheleth”,[1]
que deriva da palavra hebraica Qahal (assembleia, congregação) de maneira que o
Qohelet é aquele que se dirige a mesma. Refere-se
a um pregador ou professor que está diante de seu auditório para expor ou
ensinar suas teses. Esta palavra é encontrada nos dois primeiros versos,
bem como nos capítulos 1.12; 7.27; 12.8-10: “Palavras do Pregador, filho de Davi, rei em Jerusalém. Vaidade das
vaidades, diz o Pregador, vaidade
das vaidades; tudo é vaidade” (1: 1-2).
Embora
o nome de Salomão não apareça no livro, fica claro nos dois primeiros
versículos que ele é identificado como o escritor – “o filho de Davi, rei de Jerusalém”. Tanto
os judeus quanto os primeiros cristãos atribuíram o livro a ele. Além
disso, as referências à sua grande sabedoria no capítulo 1.16 (cf. I Reis 3.12),
seus vastos projetos de construção no capítulo 2.4-6 (cf. I Reis 7.1-12) e sua
abundante riqueza no capítulo 2.7-9 (cf. II Cr 9.3-28) fornecem argumento esta
visão.
Data
de escrita
O
conteúdo do livro implica em que Salomão escreveu o livro em sua idade mais
avançada – provavelmente por volta de 930 – 945 aC – quando ele faz uma
retrospectiva de sua própria vida. No capítulo 2.1-11, ele descreveu suas
grandes obras e riquezas, indulgências e prazeres sensuais. Nos capítulos
11 e 12, ele escreveu sobre suas experiências com o início do
envelhecimento. Ele passa então a aplicar suas experiências vivenciais nos
capítulos 11.9 – 12.1 aos jovens para que eles pudessem aprender com suas
experiências.
Tema
Em
suas declarações iniciais e finais, Salomão destacou a vaidade e a futilidade
da vida. Sem Deus, a vida é vazia e sem sentido. Ele utiliza duas
palavras-chave “vaidade” e “debaixo do sol” que são encontras no transcorrer de
todo o texto, como se fosse um pequeno refrão, são mencionadas 35 vezes e 29
vezes, respectivamente. “Vaidade”
é uma tradução da palavra hebraica “hebel”
que significa um mero sopro ou vapor. Refere-se a qualquer coisa que é
fugaz ou vazia. Desta forma o escritor deixa claro que uma vida onde Deus
está fora da equação é sem sentido e vazia.
O
escritor do livro pretende levar seus ouvintes (leitores) a uma reflexão sobre
o sentido da vida: Como Você está
Vivendo? Salomão teve tudo do bom e do melhor, portanto tinha
os meios e recursos para explorar todos os caminhos em sua busca da e por
satisfação. Mas o resultado não foi aquilo que ele esperava, pois uma vida
sem Deus é uma completa e total ilusão, pois a morte é implacável: “Então o pó voltará
à terra como era, e o espírito retornará a Deus que o deu. Vaidade das
vaidades, diz o pregador; tudo é vaidade” (12.7-8).
O escritor
conclui sua obra com uma nota sóbria. A felicidade e satisfação real e
verdadeira estão somente em Deus: “temer a Deus e guardar os seus mandamentos: porque
este é todo o dever do homem. Porque Deus há de trazer a juízo toda obra, até
tudo o que está encoberto, quer seja bom, quer seja mau” (12.13-14).
Há
uma linha divisória entre o crente e o incrédulo. Os crentes sabem que vivem
esta vida “sob
as mãos de Deus” (9.1) e que Deus está no controle de todas as coisas e
não ele, pois há muitas outras coisas acontecendo além daquilo que os olhos podem
ver e que se pode sentir. O incrédulo vive totalmente alienado de Deus e,
portanto, sem o discernimento correto das coisas, preferindo viver na ilusão do
que encarar a realidade nua e crua da vida.
Assim
sendo, uma vida com propósito e significado somente é encontrada por aqueles
que aprendem a discernir a vontade de Deus e passa a confiar nele. Foi por e para
isso que Cristo morreu na cruz, para que o ser humano perdido e desorientado
pudesse chegar novamente a Deus. O pecado danificou totalmente o GPS do ser
humano, de maneira que ele por si só não é capaz de encontrar o caminho certo
que o leve a Deus, por isso Jesus Cristo precisou vir ao Mundo: “Eu Sou o caminho, a verdade e a vida e ninguém
vai ao Pai senão por mim”.
Propósito
Em
seu comentário de Eclesiastes Gary H.
Everett destaca alguns propósitos do livro:
Doutrinário e
Propósito Apologético: Para Estabelecer e defender a Reivindicação Central
do Pentateuco de que YHWH é o Verdadeiro e Deus.
O Propósito Histórico: O livro de Eclesiastes
registra a história antiga da literatura de sabedoria, revelando a mentalidade
da cultura hebraica, bem como as culturas das qual Salomão produziu alguma
literatura de sabedoria.
O Propósito Didático:
O propósito de escrever o livro de Eclesiastes é
instruir e aconselhar os jovens sobre o verdadeiro significado da vida. Sabemos
que um jovem é caracterizado por uma paixão por explorar e experimentar a vida.
Por exemplo, ele tende a equiparar a verdadeira sabedoria com uma vasta
quantidade de experiências de conhecimento. No entanto, Salomão acumulou vasta
sabedoria e descobriu que não era verdade; ou talvez o jovem pensasse que a
vida é mais aproveitada quando alguém é despreocupado e se entrega ao vinho.
Mais uma vez, Salomão também experimentou isso e não encontrou satisfação.
O Pregador tenta dizer a
seus leitores que servir ao Senhor e obedecer aos Seus mandamentos é a verdadeira
essência da vida. O Pregador nos ensina que devemos viver nossa breve
estada aqui nesta terra com alegria, e para fazer isso ele nos ensina como
encontrar propósito em nossas tarefas diárias caminhando diariamente no temor
do Senhor; pois devemos reconhecer nossos dons nesta vida de sabedoria,
alegria, trabalho e riqueza, como bênçãos de Deus.
O livro de Eclesiastes
nos ensina quão pouco este mundo pode satisfazer a alma humana separada de
servir a Deus. Ela nos diz que em meio às injustiças, anormalidades e
lutas da vida que estão além nosso controle, existe um Deus que está interagindo
continuamente nos assuntos da humanidade. Podemos nos consolar com o fato que
haverá um dia de ajuste de contas para toda a humanidade. Nenhum livro das
Sagradas Escrituras aprofunda esta verdade tanto quanto Eclesiastes.
O Propósito Exortatório e Querigmático:
Exortar os Filhos de Israel a Servir ao Senhor Deus de Todo o Coração,
Obedecendo aos Seus Mandamentos através do Temor do Senhor. O propósito
exortativo-querigmático do livro de Eclesiastes é exortar os filhos de Israel a
servirem ao Senhor Deus com todo o coração, obedecendo aos Seus mandamentos por
meio do temor do Senhor. Israel foi equipado para testemunhar às nações sobre o
Deus vivo e verdadeiro por meio do testemunho das bênçãos divinas resultantes
de sua obediência.
A Relevância de Eclesiastes Para Hoje
1.
Bem, ele escreve sobre a injustiça para
com os pobres (4.1-3); política desonesta (5:8); líderes
incompetentes (10.6,7); pessoas culpadas podem
cometer mais crimes (8.11); materialismo (5.10); um
desejo pelos “bons velhos tempos” (7.10).
2.
Informações práticas para nós enquanto
passamos por Eclesiastes
1.
Não enterre a cabeça na areia e finja que os
problemas não existem.
2.
Encare a vida honestamente, mas veja a vida da
perspectiva de Deus.
3.
Use a sabedoria dada por Deus, mas não espere
resolver todos os problemas ou responder a todas as perguntas.
4.
Obedeça à vontade de Deus e desfrute de tudo o
que Ele lhe dá.
5.
A morte está chegando... então esteja
preparado.
6.
Moisés resume em Sl. 90.12 “Ensina-nos,
pois, a contar os nossos dias, para que alcancemos um coração sábio”.
3.
Sua vida é uma vida monótona ou uma aventura
diária?
Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan
Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia
Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
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Referências Bibliográficas
ARNOLD, Bill T. e BEYER, Bryan E. Descobrindo
o Antigo Testamento. São
Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001.
EVERETT, Gary. The book of Ecclesiastes -
Using a Theme-based Approach to Identify Literary Structures. 2022.
BELL, W. H. Bell's Commentary on the Bible
– Ecclesiastes. T. & T. CLARK, 38, GEORGE STREET, EDINBURGH, 1870.
BRIDGES, Charles. An exposition of the book
of Ecclesiastes. New York: Robert Carter & Brothers, No. 580 Broadway, 1860.
HORNE, Milton P. Proverbs-Ecclesiastes. Macon,
Georgia: Smyth & Helwys Publishing, 2003. [Bible Commentary, v.12].
KERMODE, Frank;
ALTER, Robert Edmond. Guia literário da Bíblia. São Paulo: Fundação
Editora da UNESP, 1997.
LASOR, William S., HUBBARD, David A. e BUSH
Frederic W. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Vida
Nova, 1999.
LUTHER, Martin, “Notes on Ecclesiastes”,
em Luther's Works 15 (ed. J. Pelikan e H. C. Oswald; trad. J. Pelikan; St.
Louis: Concordia, 1972), 3–187.
RYKEN, Philip Graham. Ecclesiastes – why
Everything Matters. Published by Crossway, 2010. [Preaching the Word].
VÍLCHEZ LÍNDEZ, José. Sabedoria e Sábios em Israel. São Paulo: Loyola, 1999.
[1] Os judeus chamavam o livro de
Eclesiastes “Qoheleth” (קֹהֶלֶת)
(pregador), que é a segunda palavra no texto hebraico. Esse título pode ser
encontrado no Texto Massorético padrão da Bíblia Hebraica Stuttgartensia.
O título em português “Eclesiastes” é derivado do título da Vulgata latina
“Liber Ecclesiastes”, que emprestou seu título da versão grega Septuaginta
(LXX) “Eκκλησιαστης”, significando literalmente “aquele que se senta (ou fala)
na Eκκλησια (assembleia)”, na nossa linguagem atual “um pregador, um professor
ou conferencista”.