sábado, 8 de junho de 2019

Jó Desnudado e a Natureza Humana



“Nasci nu, sem nada, e sem nada vou morrer”
(Jó 1.21)
            Há poucas literaturas mundiais que desnudam o ser humano de uma forma tão profunda como na história de Jó. Aqui somos confrontados diretamente com a fragilidade humana em toda sua finitude. Nada permanece em pé. E isso nos choca e nos incomoda e estas são razões pelas quais a leitura desta história não é apreciada pela grande maioria dos evangélicos atuais, que preferem a ilusão das famigeradas teologias da prosperidade e do hedonismo. Muitos pregadores atuais adaptaram suas mensagens aos anseios desvairados do público evangélico totalmente contaminado com os conceitos pós-modernista de satisfação material e emocional. Tais pregações são pequenas abstrações de textos bíblicos especialmente selecionados, entrecortadas com frases de efeito, cirurgicamente escolhidas, que produzem um efeito emocional (que eles insistem em chamar de espiritual) nos ouvintes, que ao deixarem seus magníficos templos estão totalmente motivados para colocarem em prática os princípios explicitados nas pregações, crendo piamente que alcançarão o sucesso tão ansiosamente desejado – é a razão pela qual lotam esses templos e cultuam seus pregadores.
Para tais pessoas o livro de Jó não produz qualquer atrativo ou interesse. As pessoas querem a felicidade, elas querem usufruir o que a vida tem de melhor. Qualquer coisa que tenha aparência, cor, cheiro de tristeza ou sofrimento deve ser imediatamente descartada. Afinal para que servir a um Deus se Ele não te abençoa e não te faz prosperar na vida. Qual a motivação para se deslocar de sua casa ou trabalho e se dirigir a um templo e ali passar duas horas da sua vida se não for para buscar algo que necessite ou deseje.
O livro de Jó vai a cada página revelando o que as pessoas abominam – estamos sujeitos a toda sorte de malefícios e perdas nesta vida. Por mais seguro que uma pessoa possa estar, em apenas um momento tudo isso simplesmente pode desaparecer. Os bens, a família e a própria saúde escorregam pelos dedos das mãos ainda que desesperadamente queiramos contê-las. Uma crise econômica, um câncer, um acidente automobilístico, e uma gama de incidentes podem arrancar de nós tudo o que amamos e construímos com suor e lágrimas. Tudo que aconteceu com Jó também é passível de acontecer com qualquer um de nós. Quem está preparado para isso?
O fútil de tudo isso é que enquanto as perdas não acontecem nos sentimos o “rei do mundo” e Deus é deslocado para a periferia da vida cotidiana, a não ser nos horários de culto; mas basta uma única perda e inicia-se um processo contra Deus e o intimamos ao banco dos réus – como ousa Ele nos tirar algo tão precioso? Algo pelo qual lutamos tanto? Privar-nos daquilo pelo qual fizemos por merecer? Quem Deus pensa que é para nos despir desta forma?
A esposa de Jó conseguiu aguentar a perda de todos seus bens e até mesmo a perda de todos os seus filhos, mas quando viu o corpo de seu marido sendo deteriorado diariamente pelos tumores que o cobriam da sola dos pés à cabeça – ela não suportou e desmoronou – “nega teu Deus”, pois não vale a pena cultuar um Deus que não te livra das agruras da vida, um Deus que arranca tudo que você levou anos construindo, um Deus que te desnuda de forma tão vergonhosa diante de seus amigos e inimigos. Para que te serve um Deus assim?
O livro de Jó nos despe de todas as coisas superficiais e supérfluas que produzem em nós uma falsa sensação de que somos importantes por causa delas, o chamado status social. Compramos, e como gostamos de comprar, a ideia equivocada de que somos o que temos, de maneira que quanto mais temos, mais somos. A História de Jó escancara o quão tolo somos e quão ignorante nos tornamos ao nos curvamos diante de coisas insignificantes em vez de nos curvarmos diante do Deus verdadeiro – somente quando somos completamente despidos de todas essas ilusões é que caímos na realidade de que o mais importante não são as coisas, mas a própria vida e que ela é o dom maior que Deus nos dá. Jó perdeu tudo, mas não perdeu sua dignidade, pois ele sabia que ao partir não levaria coisa alguma com ele, pois ao nascer nada trouxera consigo. Todos os cemitérios são testemunhas permanentes desta realidade. Pessoas poderosas ao lado de pessoas que durante a vida quase nada tiveram – ambas igualmente sepultadas.
A pergunta inicial de Satanás (1.9) a Deus é crucial para entendermos a razão pela qual Jó será completamente despido de tudo – por acaso Jó te serve sem esperar nada em troca?[1] ou seja, sincera e livremente, e por puro amor e respeito por ti? Sem qualquer interesse? Sem esperar qualquer recompensa? E o próprio Satanás conclui: Jó não é piedoso de forma alguma, mas um político astuto com belos discursos; ele não te serve espontaneamente, pois em tudo ele espera servir-se de ti; é uma mera criatura mercenária, servindo-te para seus próprios fins e propósitos. Esvazie a religião de todos e quaisquer benefícios e verás quem de fato está disposto a ter adorar e servir! O cinismo é a essência de uma natureza maligna, para tais pessoas nada é genuinamente bom - nem Jó em sua piedade e nem Deus em Sua generosidade. A pergunta de Satanás tem um duplo alvo: ataca todas e quaisquer manifestações religiosas por parte das pessoas e lança uma seta sarcástica contra o próprio Deus, declarando que ninguém o ama desinteressadamente, mas somente por causa dos benefícios por ele oferecido. Todas as pessoas de índole corrupta, conscientes de nunca agirem a não ser por motivos egoístas, podem muito bem concluir o mesmo dos outros. Mas a resposta simples e conclusiva de Jó desarticula está nefasta argumentação – nasci nu, sem nada, e sem nada vou morrer – pois, se meus filhos e meus bens tivessem permanecido comigo até o dia da minha morte, eu não os poderia levar comigo[2].
Em certa ocasião Jesus endurece seu discurso e esvazia as expectativas de prosperidade imediata para os que estão ouvindo e rapidamente a multidão se dispersa a ponto dos discípulos chegarem a Jesus e fazem um alerta: se o Senhor continuar pregando dessa forma ficaremos apenas nós! E Jesus lhes responde: eu sei quais são as verdadeiras motivações dessas pessoas – seus próprios interesses! O genuíno Evangelho não é ganhar, mas perder – disse Jesus: “quem perder sua vida por amor de mim, ganhá-la-á; mas todo aquele que quiser preservar sua própria vida, perdê-la-á”.
Uma vez autorizado por Deus a tirar tudo de Jó podemos ver claramente toda ferocidade de Satanás, arrancando sem qualquer clemencia um a um todos os bens que Jó havia adquirido ao longo de sua vida e como um último ato de sua malignidade ele causa a morte de todos os filhos de Jó de uma única vez. Outro aspecto desta ferocidade maligna está no fato de que antes mesmo que um mensageiro concluísse seu relatório trágico “ainda falando”, outro já estava aguardando para comunicar sua desgraça, pois os portadores da miséria pisavam nos calcanhares uns dos outros (que o digam os “programas” jornalísticos brasileiros).  O intuito desta sequência maldita era quebrar toda e qualquer resistência mental e espiritual de Jó, como um lutador de boxe que está sendo fustigado pelo adversário nas cordas sem poder reagir. Mas para total frustração de Satanás e de sua plateia (e como más noticias encontram plateias ávidas) a reação de Jó foi exatamente o oposto do que ele esperava- nasci nu, sem nada, e sem nada vou morrer – esta simples declaração de fé produziu um terremoto no inferno e todas as estruturas do plano minunciosamente arquitetado por Satanás ruiu de uma única vez.
Assim, cada um e todos os cultos onde Jó havia feito seus sacrifícios ao Senhor, por ele e por sua família, não tinham a motivação mesquinha e ordinária de barganha com Deus, mas era uma expressão profunda de adoração àquele a quem Jó devia tudo o que havia adquirido, incluindo a própria vida que ele havia recebido da parte de Deus, portanto: O Senhor me deu tudo quanto eu tinha e agora tomou de volta. Glória ao Senhor! Bendito seja Ele! A verdadeira Adoração e voluntária Submissão silencia o inferno.
A adoração e espiritualidade genuína somente se manifesta quando somos capazes de servir a Deus por nada, independentemente das circunstâncias. Jó não servia a Deus pelo que veio a possuir e ele tinha plena consciência que coisas ruins podiam acontecer (e de fato acontecem) com uma pessoa íntegra e reta, temente a Deus. Foi esta convicção na Soberania de Deus que o sustentou e lhe deu serenidade para adora-lo no dia da perplexidade.
Enquanto nos escondermos atrás daquilo que pensamos ter jamais chegaremos a conhecer quem somos e muito menos quem Deus é. Somente quando desnudados de “tudo” é que tomamos consciência da nossa essência humana. O espírito tolo e rebelde se constitui na fonte da nossa mais profunda miséria. Jó tinha plena convicção de que tudo que tinha adquirido viera das mãos providenciais de Deus. Seus bens, sua família, sua própria saúde eram dádivas divinas – “o Senhor deu e o Senhor tomou de volta” - a linguagem da verdadeira piedade se contrastando com a linguagem arrogante do ceticismo ateísta. E Jó conclui suas palavras com uma adoração: “Bendito é o Nome do Senhor”.[3] Se as palavras precedentes podem expressar uma inevitável submissão a um poder irresistível, esta última sentença, todavia, expressa o ápice da genuína fé cristã, pois Jó reconhece na perda e na tristeza um motivo de louvor e não apenas um sentimento de resignação fatalista.
O perfeito e sincero louvor brotam somente de um coração plenamente satisfeito em Deus! Sem os grilhões da ansiedade da vida que sugam toda a energia mental, física e espiritual nossos lábios finalmente podem declarar: Bendito é o nome do Senhor! Enquanto não compreendermos que somente Deus nos basta, permaneceremos tomados de toda sorte de preocupações e temores, de maneira que nossa alma permanecera desassossegada e como Asafe haveremos de colocar em duvida tudo e todos. Ajusta-se harmoniosamente aqui o quadro de Marta estressada e sua irmã Maria assentada sossegadamente aos pés de Jesus degustando cada palavra dele; as palavras corretivas, mas amorosas, de Jesus à Marta – por que te afadigas com tantas coisas – entenda que uma coisa somente tem verdadeira importância e a escolha de Maria foi a mais correta e isso não lhe será tirada. 
Somente quando somos totalmente despidos de nossa autossuficiência e religiosidade externa é que nos tornamos capazes de expressarmos uma adoração sincera e sem qualquer tipo de artificialismo.  Isso não significa que tenhamos que passar pelas mesmas e exatas experiências de Jó, pois o salmista Asafe não perdeu todos os seus bens e filhos e nem a sua saúde física, mas igualmente teve que ser completamente despido de sua religiosidade externa, de sua justiça própria, para ser revestido de uma espiritualidade genuína e assim, finalmente poder declarar: Quem eu tenho no céu senão a ti? e na terra não há quem eu deseje além de ti.
E não foi sem motivo que Jesus declara em alto e bom som: a primeira coisa que você precisa fazer para me seguir é negar a si mesmo – despir-se de todas essas coisas que aparentemente são importantes e necessárias, mas que na verdade são grilhões pesadíssimos de ferro que te impedem de me seguir – que o diga o jovem rico que se afastou tristemente, pois não quis desnudar-se de suas riquezas. Enquanto você não se despir de tudo, não conseguirá me seguir, continuam ecoando ainda hoje as palavras de Jesus.
As ideologias e filosofias da vida podem até mesmo motivar as pessoas neste mundo, mas não são capazes de lhes dar qualquer esperança pós-morte. A diferença marcante entre um cristão e um incrédulo não está na prosperidade, mas nas adversidades; não está quando ganha, mas quando perde; não está no nascimento, mas na morte. É somente confiança em Deus; a convicção de que ele está certo e uma profunda aquiescência com sua vontade, que pode sustentar-nos em meio às provações da vida, foi assim com Jó e continua sendo indispensável para nós que vivemos neste mundo tão cheio de calamidade e tristeza. A fé de Jó resplandeceu na hora mais escura de sua vida, quando nem mesmo sua esposa pode suportar e seus amigos puderam entender. “As duas extremidades da nossa vida são a nudez!” (Spurgeon). O evangelicalismo brasileiro está para ser despido como nunca antes fora em nossa história pátria – qual será o número de Jó(s) que será encontrado entre nós? Quanta fé resplandecera em meio às tensas trevas que já se advinham em nosso horizonte?
O apóstolo Paulo escreveu uma pequena e singela carta aos filipenses e nela encontramos pequenas joias incrustadas que preciosíssima. Em determinado momento o apóstolo afirma que nada neste mundo o prende, pois a expectativa de estar com Cristo é infinitamente melhor. E continua ele, pois neste mundo passageiro e transitório aprendi a me contentar em toda e quaisquer situações, a ter coisas e a perder coisas, a ter em abundância e períodos de escassez – pois tudo me é possível naquele que me dá forças a cada dia para continuar. Como os genuínos cristãos se assemelham!
Jó sofreu, mas adorou, de maneira que essas duas atividades não são incompatíveis. Em todo o tempo, bom ou ruim ele percebeu a mão de Deus conduzindo os eventos de sua vida. Jó nunca se deixou iludir, mas manteve sempre uma perspectiva adequada de suas posses. A fé dele não aliviou sua agonia, mas ao contrário, foi a causa de toda sua tragédia. Distorcidamente muitas pessoas acreditam e ensinam que se alguém tem fé suficiente, ele ou ela sempre será feliz, mas a experiência de Jó desmente essa interpretação. Como cristãos devemos ter uma alegria profunda, não importando o que possa vir acontecer conosco, pois estamos e sempre estaremos nas mãos do Senhor e Ele (não o diabo, a natureza, a maldade humana ou coincidência) é o único que conduz a nossa história – este é o segredo da felicidade cristã (Fp 4.4). Certamente Jó, Asafe, Paulo e todos os crentes semelhantes em todas as épocas cantariam a letra abaixo com toda convicção de seus corações e de suas almas:

Minha fé não está firmada
Nas coisas que podes fazer
Eu aprendi a Te adorar pelo que és
Dele vêm o sim e o amém
Somente dele e mais ninguém
A Deus seja o louvor.
Se Deus fizer, Ele é Deus
Se não fizer, Ele é Deus
Se a porta abrir, Ele é Deus
Mas se fechar continua sendo Deus
Se a doença vier, Ele é Deus
Se curado eu for, Ele é Deus
Se tudo der certo, Ele é Deus
Mas se não der, continua sendo Deus
Deus É Deus (Delino Marçal)

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
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Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/

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Referências Bibliograficas
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[1] O termo hebraico hinnãm, "por nada", significa gratuitamente, sem se importar com o pagamento ou com a recompensa - consequentemente, como resultado do amor.
[2] O apóstolo Paulo expressa esta mesma concepção: “pois nada trouxemos para este mundo e dele nada podemos levar;” (1 Tm 6.7).
[3] O “nome” de qualquer pessoa em hebraico sendo frequentemente usado para denotar a própria pessoa.