sábado, 26 de novembro de 2022

Reflexão - Nabucodonosor Reconhece a Soberania de Deus

            Nenhum outro atributo do caráter de Deus foi e continua sendo rejeitado radicalmente pelos incrédulos do que a Soberania dele. Assim, nem um outro tem sido tão questionado e minimizado pelos pseudos evangélicos do século XX e principalmente do atual século XXI como o ensino bíblico de que Deus é totalmente Soberano sobre tudo e sobre todos. Aumenta dia-a-dia o numero de pseudos líderes evangélicos que sentem vergonha de ensinar e pregar que Deus é Soberano. Preferem se curvarem diante das ideologias nefastas e cartilhas de suas bíblias de politicamente (in)correto, do que crerem e proclamarem que há um Deus soberano e que tudo e todos terão que se curvarem diante dele.

            A grande questão que temos de enfrentar é: QUEM ESTA NO COMANDO DESTE MUNDO? O mundo que você assiste na TV ou lê nos jornais.

            Um Deus reinando supremo no Céu, geralmente é bem aceito; que Ele faça o quem bem entender nos céus, é um conceito quase universalmente aceito. E assim, cada vez mais as pessoas vão filosofando e teorizando, e banindo Deus para longe dos “negócios humanos”.

Tais “pensadores” não apenas negam que Deus tenha criado tudo, por uma ação pessoal e direta, como também repudiam qualquer ideia ou conceito que indique uma ação de Deus no mundo. A maioria das pessoas crê que tudo surgiu e se move guiada pela força impessoal e abstrata das chamadas “lei da Natureza”. Assim, o Criador é completamente banido da Sua própria criação. Então não deve nos surpreender a atitude da maioria das pessoas que O excluem completamente dos negócios humanos.

QUEM ESTA NO COMANDO DESTE MUNDO?

Se de fato acreditarmos nas declarações claras e positivas da Bíblia, não há nenhuma duvida. Pois em suas páginas se afirmam, continuamente, que Deus está no trono do universo; que o cetro está em Suas mãos; que Ele está conduzindo todas as coisas conforme Seu propósito e vontade.

A Bíblia afirma, não só que Deus criou todas as coisas, mas também que Deus está interagindo e conduzindo todas as Suas obras. Ela afirma que Deus é o "Todo-poderoso", que o Seu propósito é irreversível, que Ele é o soberano absoluto sobre todas as coisas, tanto na terra como nos céus.

E não pode ser de outra maneira. Pois só há duas alternativas possíveis: Deus ou tem que reger, ou ser regido; conduzir, ou ser conduzido; realizar a Sua própria vontade, ou ser contrariado pelas Suas criaturas. Crendo, portanto, no fato de que Deus é o Rei dos reis e Senhor dos senhores, investido com sabedoria perfeita e poder ilimitável, a conclusão óbvia é que Deus esta, como sempre esteve e sempre estará no Controle de todas as cousas.

Há muitos textos bíblicos que ensinam claramente esta verdade, e os Salmos é rico em afirma-las:

“Nos céus, estabeleceu o SENHOR o seu trono, e o seu reino domina sobre tudo”. (Salmo 103:19).

“No céu está o nosso Deus e tudo faz como lhe agrada”.  (Salmo 115:3).

“Com efeito, eu sei que o SENHOR é grande e que o nosso Deus está acima de todos os deuses. Tudo quanto aprouve ao SENHOR, ele o fez, nos céus e na terra, no mar e em todos os abismos”. (Salmo 135:5-6).

Definição

Uma definição de “soberania” pode ser: soberania é possuir poder e autoridade suprema de forma que uma pessoa está no pleno controle e pode realizar tudo o que lhe agrada[1].

Podem ser achadas várias outras definições semelhantes sobre a soberania de Deus, em vasta literatura sobre os atributos divinos:

“Sendo infinitamente elevado acima da mais elevada criatura, Ele é o Altíssimo, o Senhor dos céus e da terra. Não sujeito a ninguém, não influenciado por nada, absolutamente independente; Deus age como Lhe apraz, somente como Lhe apraz, sempre como Lhe apraz. Ninguém consegue frustra-lo nem impedi-lo”.[2]

Em um mundo dominado por ideologias racionalistas e materialistas, não se deveria esperar que as pessoas abraçassem com entusiasmo uma doutrina como a da soberania de Deus:

“O Deus deste século [vinte e um] não se assemelha mais ao Soberano Supremo das Escrituras Sagradas do que a bruxuleante e fosca chama de uma vela se assemelha à glória do sol do meio-dia. O Deus de que se fala atualmente no púlpito comum, comentado na escola dominical em geral, mencionado na maior parte da literatura religiosa da atualidade e pregado em muitas das conferências bíblicas, assim chamadas, é uma ficção engendrada pelo homem, uma invenção do sentimentalismo piegas. Os idólatras do lado de fora da cristandade fazem "deuses" de madeira e de pedra, enquanto que os milhões de idólatras que existem dentro da cristandade fabricam um Deus extraído de suas mentes carnais. Na realidade, não passam de ateus, pois não existe alternativa possível senão a de um Deus absolutamente supremo, ou nenhum deus. Um Deus cuja vontade é impedida, cujos desígnios são frustra­dos, cujo propósito é derrotado, nada tem que se lhe permita chamar Deidade, e, longe de ser digno objeto de culto, só merece desprezo”.[3]

Seria de se esperar que o evangélico abraçasse a doutrina da soberania de Deus como bíblica e verdadeira. Todavia, isto tem ocorrido somente em princípio, mas não necessariamente na prática.

Verdadeiramente Deus é plenamente soberano. Isso significa que Ele é o ser mais eminente, Ele controla tudo, a vontade dele é absoluta, e Ele faz tudo conforme lhe agrada. Nos sermões, estudos bíblicos, orações e cânticos se afirmam essas verdades bíblicas absolutas, até que Deus faça algo que nós não aprovamos ou que contraria nossos planos e desejos. Enquanto Deus está nos dando o que queremos Ele é soberano, mas quando Deus se nega a atender nossa oração ou tem a ousadia de tirar algo de nós, então nossa reação imediata é de resistir à doutrina da soberania dele. Em lugar de acharmos conforto nela, ficamos irritados, confusos e até mesmo decepcionados com Deus. Se Ele pode fazer tudo que lhe agrada, por que Ele permite que soframos? Esse nosso “problema” é decorrido de uma distorção desta doutrina e um conhecimento deficiente a respeito de Deus.

Por tudo isto, torna-se vital que cada Cristão venha a entender corretamente este atributo de Deus que é a Sua soberania. O atributo da soberania de Deus irrita muitas pessoas, inclusive muitos cristãos. Mas a soberania Deus é claramente ensinada na Bíblia e nela esta o único fundamento básico da genuína fé cristã. Nós temos que examinar a palavra de Deus e rogar ao Espírito Santo que nos ensine o que precisamos saber no que se refere a esta extraordinária e preciosa verdade.

Um Rei da Babilônia Declara a Soberania de Deus

Quando procuramos na Bíblia uma definição concisa da Soberania divina, somos surpreendidos, pois não a encontraremos na pena de Paulo, ou na Lei de Moisés, nem ainda na boca dos grandes profetas como Isaías ou Jeremias. A definição mais clara a respeito da soberania de Deus vem dos lábios de Nabucodonosor, o rei da Babilônia:

“Mas ao fim daqueles dias, eu, Nabucodonosor, levantei os olhos ao céu, tornou-me a vir o entendimento, e eu bendisse o Altíssimo, e louvei, e glorifiquei ao que vive para sempre, cujo domínio é sempiterno, e cujo reino é de geração em geração. Todos os moradores da terra são por ele reputados em nada; e, segundo a sua vontade, ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes? Tão logo me tornou a vir o entendimento, também, para a dignidade do meu reino, tornou-me a vir a minha majestade e o meu resplendor; buscaram-me os meus conselheiros e os meus grandes; fui restabelecido no meu reino, e a mim se me ajuntou extraordinária grandeza. Agora, pois, eu, Nabucodonosor, louvo, exalto e glorifico ao Rei do céu, porque todas as suas obras são verdadeiras, e os seus caminhos, justos, e pode humilhar aos que andam na soberba.”

Daniel 4.34-37.

Este reconhecimento da soberania de Deus é feito por um homem que conheceu mais sobre soberania humana que qualquer outro em toda a história da humanidade. Entre os reis da história, Nabucodonosor foi o maior (Daniel 2.37). Ele é “a cabeça de ouro” (Daniel 2.38). Quando comparado o seu reino, com os impérios mundiais anteriores e posteriores são descritos como “inferiores” (cf. 2.39-43). Quando Daniel falou a Belsazar, filho e sucessor de Nabucodonosor, o que ele havia construído monstra a extensão inigualável de seu domínio e autoridade:

Ó rei [Belsazar], foi a Nabucodonosor, teu predecessor, que o Deus Altíssimo deu soberania, grandeza, glória e majestade. Devido à alta posição que Deus lhe concedeu, homens de todas as nações, povos e línguas tremiam diante dele e o temiam. A quem o rei queria matar, matava; a quem queria poupar, poupava; a quem queria promover, promovia; e a quem queria humilhar, humilhava.

Daniel 5.18-19.

Nabucodonosor foi um homem poderoso militar e politicamente. Regeu uma Nação poderosa (a Babilônia) com um punho ferro, e a Babilônia dominou todos os outros poderes mundiais daqueles dias. Era ele o comandante que derrotou e destruiu Jerusalém e que enviou a maioria dos judeus para o cativeiro babilônico. Como os moradores de Judá pareciam insignificantes e impotentes contra tal poder de Nabucodonosor, e realmente eles eram.

Mas o Deus das Escrituras é o verdadeiro e grande Deus. Deus escolheu demonstrar sua soberania sobre a história das nações da terra trazendo Nabucodonosor de joelhos em submissão e adoração a Ele.

Há uma declaração bíblica que revela toda a grandeza e soberania de Deus, onde não apenas os “Nabucodosor” que se sentem poderosos, mas todos os habitantes da terra terão que declarar igualmente a Soberania dele:

Porquanto está escrito: “Por mim mesmo jurei, diz o Senhor, diante de mim todo o joelho se dobrará e toda língua confessará que Eu Sou Deus”.

Romanos 14.11 

 

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
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[1] “A aversão que muitos têm a este atributo de Deus provém de o considerarem separado das outras atribuições dando  a impressão de que Deus pode ser despótico e não tomar em consideração o bem das criaturas. ‘A soberania de /Deus não é a de um déposta caprichoso, mas a do único Ser sábio, gracioso, reto e santo. Assim considerando, este atributo é tão digno de Deus que não se pode compreender que sem ele Deus fosse Deus’”. Comentário e citação de Alfredo Borges Teixeira, Dogmática Evangélica, Ed. Pendão Real, São Paulo, 1976, p.89.

[2] A. W. Pink, Os Atributos de Deus, Ed. PES, São Paulo, 1985, pp.31-32.

[3] A. W. Pink, 1985, p. 28.

quinta-feira, 24 de novembro de 2022

Natividade no Livro de Isaías (7.14) - Matthew Henry

Para entendermos corretamente a mensagem contida neste capítulo, temos que entender o seu contexto histórico (2 Reis 16), que trata do reinado de Acaz, um dos mais perversos dentre os reis de Judá (Reino do Sul), conhecido por sua hipocrisia e covardia. Ele chegou ao ponto de sacrificar seu filho pelo fogo, e sacrificar e queimar incenso aos ídolos nos altos e debaixo de toda árvore frondosa.

No início do reinado de Acaz, o rei Rezin da Síria (Aram) fez um pacto com Peca rei de Israel (Efraim) para conquistarem o reino de Judá. Durante a guerra Peca chegou a matar 120 mil judeus em um só dia; enquanto Rezin capturou centenas. Ambos conquistar a cidade de Jerusalém, mas Deus a preservou. Apesar da corrupção de Acaz, Deus através do profeta Isaías, prometeu que a cidade ficaria a salvo destes ataques, pois tanto a cidade quanto os seus moradores eram Dele.

Isaías toma como ponto de partida esta promessa de salvação de Jerusalém e seus moradores, para profetizar sobre uma Salvação com dimensões atemporal. E que se estenderia muito além de Judá e Jerusalém abrangendo todas as nações e etnias, cumprindo desta forma os termos da aliança estabelecida com Abraão pelo qual Deus o usaria para “ser uma benção a todas as famílias da terra”.

E o sinal de que Deus estaria realizando esta salvação mundial é que uma criança haveria de nascer, de forma sobrenatural, e que lhe seria dado o nome de Emanuel, e pelo qual toda profecia Messiânica se cumpriria.

Este capítulo 7 pode ser esboçado da seguinte forma:

1. Um pacto entre Rezim, rei da Síria, e Peca, rei de Israel contra Acaz (v.1).

2. Acaz fica com medo (v.2).

3. Isaías faz uma promessa a Acaz (v.3-9).

4. Acaz se abstém de pedir um sinal (v.10-13).

5. O sinal divino: nascimento de uma criança - Emanuel (v.14-16).

6. A Assíria, a aliada, torna-se inimiga (v.17-25).

 

I S A Í A S  7.14

Por isso o Senhor mesmo lhes dará um sinal: a virgem ficará grávida e dará à luz um filho, e o chamará Emanuel.

[Nova Versão Internacional]

Por isso, Deus vai dar um sinal - quer vocês queiram, quer não. Uma virgem terá um filho! E ela; chamará o nenê de Emanuel (que significa "Deus está conosco").

[Bíblia na Linguagem de Hoje]

Portanto o Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que uma virgem conceberá, e dará à luz um filho, e será o seu nome Emanuel.

[Almeida Revisada]


Comentário de  Matthew Henry sobre a Bíblia – Isaías 7.14

Versos 10,11 - Deus, por meio do profeta, faz uma oferta graciosa a Acaz, de confirmar as predições anteriores, e a sua fé neles, com o sinal ou o milagre que ele escolhesse: “Pede para ti ao Senhor, teu Deus, um sinal”.

Verso 12 - Acaz rudemente recusa esta oferta graciosa, e (o que não é maneira de tratar com nenhum superior) rejeita a cortesia e a despreza (v. 12): “Não o pedirei”. A verdadeira razão pela qual ele não desejava pedir um sinal era o fato de que, dependendo dos assírios, de seus exércitos e de seus deuses, para ajudá-lo, ele não desejava ter nenhuma dívida com o Deus de Israel, ou colocar-se sob obrigações com Ele.

Verso 13 - O profeta repreende a ele e à sua corte, a ele e à casa de Davi, a toda a família real, pelo seu desprezo à profecia, e ao pouco valor que davam à reve­lação divina.

VERSO 14 - O profeta, em nome de Deus, lhes dá um sinal: Vocês não pedirão um sinal, mas a descrença do homem não tornará sem efeito a promessa de Deus: “O mesmo Senhor vos dará um sinal” (v. 14), um sinal duplo.

1. Um sinal geral da sua boa vontade para com Israel e a casa de Davi. Vocês podem concluir que Ele tem misericórdia reservada para vocês, e que vocês não foram abandonados por Deus, por maior que sejam a sua aflição e os seus perigos atuais; pois da sua nação, da sua família, o Messias nascerá, e vocês não podem ser destruídos enquanto esta bênção estiver em vocês, bênção que será apresentada, (1) De maneira gloriosa: pois, embora lhes fosse dito, frequentemente, que Ele nasceria entre vocês, eu lhes digo ainda mais, que Ele nascerá de uma virgem, o que irá significar ao mesmo tempo o poder divino e a pureza divina com que Ele será trazido ao mundo. Ele será uma pessoa extraordinária, pois não nascerá por geração normal. Ele será Santo, jamais maculado pelas contaminações comuns da natureza humana, e, por isto, incontestavelmente adequado para que lhe seja entregue o trono do seu pai Davi. Isto, embora devesse se cumprir mais de 500 anos mais tarde, era um sinal encorajador para a casa de Davi (e a eles, sob este título, a profecia é dirigida, v. 13), e uma certeza de que Deus não os abandonaria. Efraim [Israel-Reino do Norte], realmente, invejava Judá (cap. 11.13), e procurava a destruição daquele reino, mas não poderia ser bem sucedido; pois “O cetro não se arredará de Judá... até que venha Siló”, Gn 49.10. Aqueles a quem Deus destina para a grande salvação podem aceitar como um sinal o fato de que não serão tragados por nenhuma dificuldade com que se depararem no caminho. (2) O Messias será apresentado em uma gloriosa missão, envolvido em seu nome glorioso: “Será o seu nome Emanuel” - Deus conosco, Deus na nossa natureza, Deus em paz conosco, em concerto conosco. Isto se cumpriu quando o chamaram Jesus - o Salvador (Mt 1.21-25), pois, se Ele não tivesse sido Emanuel - Deus conosco, não poderia ter sido Jesus - o Salvador. Este era outro sinal da benevolência de Deus com a casa de Davi e a tribo de Judá; pois aquele que pretendia realizar esta grande salvação entre eles, sem dúvida, iria realizar para eles todas aquelas outras salvações que seriam os tipos e modelos desta, como se fossem prelúdios a esta. Aqui está um sinal para vocês, não embaixo nas profundezas ou em cima nas alturas, mas na profecia, na promessa, no concerto feito com Davi, que vocês não desconhecem. A semente da promessa será Emanuel, Deus conosco; que esta palavra console vocês (cap. 8.10), que Deus é conosco, e (cap. 8.8) que a sua terra é a terra do Emanuel. Que o coração da casa de Davi não se mova, então (v. 2), nem Judá tema a subida do filho de Tabeal (v. 6), pois nada pode se impor sobre o Filho de Davi que será Emanuel. Observe que os consolos mais fortes, em épocas de aflição, são aqueles que são obtidos de Cristo, do nosso relacionamento com Ele, do nosso interesse nele e das nossas expectativas nele e por Ele. Desta criança, ainda está predito (v. 15) que embora não venha a nascer como nascem outras crianças, mas sim de uma virgem, Ele será realmente e verdadeiramente um homem, e que será amamentado e criado como as outras crianças: “Manteiga e mel comerá”, assim como as outras crianças, particularmente as crianças daquela terra que mana leite e mel. Embora seja concebido pelo poder do Espírito Santo, não será, apesar disto, alimentado com o pão dos anjos (ou dos poderosos, Salmos 78.25), mas, como lhe convinha, será, em tudo, semelhante aos seus irmãos, Hebreus 2.17. Nem Ele, sendo nascido por geração extraordinária, será homem imediatamente, mas, como as outras crianças, progredirá gradualmente, passando pelos diversos estágios da infância e da juventude, até o da idade adulta, e crescendo em sabedoria e estatura, finalmente será forte em espírito, e alcançará a maturidade, de modo, a saber, como “rejeitar o mal e escolher o bem”. Veja Lucas 2.40,52. Observe que as crianças são alimentadas, quando pequenas, para que possam ser ensinadas e instruídas quando tiverem crescido. Elas recebem o seu sustento para que possam ser devidamente educadas.

2 - Aqui está outro sinal em particular da rápida destruição destes príncipes poderosos que agora eram um terror para Judá (v. 16). Antes que este menino (assim pode ser interpretado), este menino que agora tenho em meus braços (ele não se refere a Emanuel, mas a SearJasube, seu próprio filho, ao qual tinha recebido instruções de levar consigo, como um sinal, v. 3) saiba rejeitar o mal e escolher o bem (e aqueles que vissem a sua estatura e disposição atual facilmente seriam levados a conjeturar quanto tempo isto tardaria para acontecer), antes que este menino seja três ou quatro anos mais velho, a terra de que te enfadas, estas forças confederadas de israelitas e sírios, com os quais tens tanta inimizade e dos quais sentes tanto terror, será desamparada dos seus dois reis, tanto Peca como Rezim, que estavam em uma aliança tão forte como se fosse reis de um único reino. Isto se cumpriu integralmente; pois dois ou três anos depois disto, Oséias conspirou contra Peca, e o assassinou (2 Rs 15.30) e, antes disto, o rei da Assíria conquistou Damasco e matou Rezim, 2 Reis 16.9. Na verdade, houve um evento que aconteceu imediatamente, e quando este menino carregava a sua predição no seu nome, o que era um penhor e um sinal deste evento futuro. Sear-Jasube significa Um-Resto-Volverá, o que, sem dúvida, aponta para o maravilhoso retorno daqueles duzentos mil cativos que Peca e Rezim tinha levado, que foram trazidos de volta, não pela força, mas pelo Espírito do Senhor dos Exércitos. Leia esta história em 2 Crônicas 28.8-15. Tendo sido cumprido, desta maneira, o nome profético desta criança, sem dúvida isto que também era acrescentado a respeito dele, teria o seu cumprimento; que a Síria e Israel seriam igualmente privadas de seus reis. Uma graça de Deus nos encoraja a esperarmos por outra, motivando-nos a nos prepararmos para outra.

Matthew Henry [1]

 

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Guedes, Ivan Pereira
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Referência Bibliográfica

HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Isaías. Tradução Valdemar Kroker Haroldo Janzen Degmar Ribas Júnior. CPAD, Rio de Janeiro, 2010.  [Comentário Bíblico Antigo Testamento Isaías a Malaquias – Edição Completa].

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[1]Dificilmente há uma pessoa tão conhecida entre os comentaristas bíblicos como Matthew Henry. Desde a publicação de seu primeiro volume (o Pentateuco) em 1706 até o presente, o comentário de Henry foi repetidamente reimpresso, traduzido a outros idiomas, combinado com o comentário de Thomas Scott para formar o comentário de Henry e Scott, ou impresso em formato resumido. Ele tem exercido uma grande influência na formação espiritual de uma multidão de leitores que dele utilizam para devocionais pessoais, ou para preparar-se para o ensino, ou pregação. (Destacados líderes cristãos como George Whitefield e William Carey testemunharam da influência que receberam dele).


segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Natividade – O filho do carpinteiro

 


 “Não é este o filho do carpinteiro?” (Mt 13.55)

“Não é este o carpinteiro?” (Mc 6.3)

    "E, carregando a sua cruz, saiu para o lugar chamado Lugar da Caveira, que em hebraico é     Gólgota, onde o crucificaram..." (João 19.17,18)

        "levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro" (1 Pe 2.24)

            Após um período de tempo exercendo seu ministério na região da Judeia, Jesus retornado à cidade onde havia crescido – Nazaré da Galileia. Entrando na Sinagoga começou a ensinar com uma autoridade e conhecimento inigualável, de maneira que produziu inicialmente uma admiração muito grande. Seus milagres corroboravam a autoridade com que ensinava a Torah.

Mas rapidamente a admiração transforma-se em inveja e rancor preconceituoso. Um murmúrio começou a percorrer o ambiente: “como é possível isto”, ele não passa de filho de um carpinteiro, e nós conhecemos sua mãe e irmãos e irmãs, pois a muitos anos moram aqui. De onde vem sua autoridade? Quem foram seus mestres para que ensine as Escrituras desta maneira tão maravilhosa? Como diria o caipira brasileiro: “tem caroço nesse angu”. A tensão vai aumentando e Jesus percebe que vai haver tumulto e violência, então fala para eles: "Um profeta é prestigiado em toda parte, menos na sua própria terra, e entre seu próprio povo!" E se retira da cidade. O evangelista faz um adendo ao registro evangélico: “E por isso Jesus só fez ali uns poucos grandes milagres, por causa da falta de fé que eles tinham”.

“Não é este o filho do carpinteiro?”

O Filho de Deus veio à terra na plenitude dos tempos e se revestiu da plenitude de nossa humanidade. Ele não cresceu no palácio real e nem mesmo no templo e nem mesmo na capital Jerusalém, mas na casa de um humilde carpinteiro em uma obscura cidade Nazaré, localizada na região da Galileia desprezada pela elite politica, econômica e religiosa da Judeia. 

É identificado imediatamente pelos moradores de Nazaré como " o filho do carpinteiro ". Sendo Ele aqueles que pelo poder de Sua palavra trouxe a à existência todas as coisas, livre e voluntariamente cresce aprendendo com José o oficio de carpintaria, o qual até completar seus trinta anos exerceu esse oficio. O Rei dos reis e Senhor dos senhores se submeteu ao trabalho braçal de um carpinteiro na casa para auxiliar no sustento de sua mãe e irmãos. Quanta humildade!

Sendo carpinteiro o Senhor Jesus lidava diariamente com toda sorte de madeira. É possível imaginarmos que enquanto prepara as madeiras para as mais diversas construções Jesus parou e pensou naquele dia em que Ele haveria de carregar um madeiro pesado em seus próprios ombros em direção ao Gólgota. Ali pendurado na cruz, Ele seria escarnecido e ridicularizado por Suas criaturas? E que naquela cruz nas três horas de escuridão Ele sentiria todo o terrível peso do pecado humano – meu e seu.

O Seu oficio de carpinteiro era um lembrete diário da razão pela qual esvaziou-se de toda Sua glória e se fez carne e habitou entre nós. Em sua última viagem para Jerusalém, saindo da Galileia, Jesus por três momentos avisa seus discípulos do que haveria de acontecer com Ele quando lá chegassem, e repreende Pedro duramente quando esse tenta desvia-lo do Calvário cruento – “arreda-te Satanás, pois não cogitas das coisas de Deus (Pai), mas dos homens”.

 Mas sereno e resolutamente não diminui o ritmo de sua derradeira viagem, permitindo apenas uma única pausa para refrigério na pequena vila de Betânia, no aconchego dos amados amigos Lazaro, Marta e Maria. Ali em sua última semana Jesus será ungido com o perfume derramado sobre ele, como preparação para enfrentar toda sorte de humilhação, dor e sofrimento que poderia ser infligido a uma pessoa. Sim, Ele poderia ter voltado para o céu a qualquer momento, mas Ele veio ao mundo para fazer a vontade Daquele que O enviou e para realizar Sua obra (João 4.34).

Quando finalmente chegou o momento em que Ele deveria sofrer e morrer na Cruz, lemos as palavras indescritíveis: "E carregando a Sua Cruz [madeiro], ele saiu para o lugar chamado lugar da Caveira, que em hebraico é Gólgota, onde eles o crucificaram [pregaram no madeiro]”. Ele, que havia trabalhado diariamente com madeira por muitos anos, carregou sua própria cruz de madeira, percorrendo o longo e terrível caminho até o local onde foi crucificado. Mas isso não é tudo: ali na cruz, por mais de três horas de escuridão, Jesus também carregou nossos pecados em seu corpo naquele madeiro. Ao fazer isso, Cristo resolveu definitivamente o problema que eu e você jamais poderíamos resolver – a questão dos nossos pecados.  Cristo naquele madeiro morreu a nossa morte, para pudéssemos receber a Sua vida.  Portanto, a Jesus Cristo seja todo louvor e adoração hoje e por todos os séculos. Amém e Amém!

 

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Guedes, Ivan Pereira
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quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Natividade no livro de Isaías (7.14) - João Calvino

            O Natal não inicia-se nas narrativas evangélicas de Mateus e Lucas, mas os evangelistas apenas descrevem o cumprimento de mais de dois mil anos de profecias bíblicas, que se inicia no capítulo três de Gênesis, mais especificamente no verso 15,chamado de o “Pro [Primeiro] Evangelho”, onde se encontra o primeiro anuncio do Salvador – “Este te ferirá a cabeça [serpente], e tu [descendente da mulher] lhe ferirás o calcanhar [cruz]”.

Nenhum aspecto da vida e ministério de Jesus Cristo foi aleatório, acidental e/ou incidental. No momento do seu nascimento, todo o escopo e foco do Antigo Testamento vieram à tona, como tão bem sintetiza o apostolo Paulo: “Vindo, porém, a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei” (Gl. 4.4).

Mais de 300 profecias foram cumpridas na vida de Jesus, incluindo profecias de que ele viria, profecias sobre quem ele seria, bem como, circunstâncias em torno de seu nascimento e o que ele faria durante sua vida. Um bom mineiro diria: “é profecias demais da conta sô”. E Jesus tinha plena consciência disso, veja o que Ele disse pouco minutos antes de Sua ascensão: “Eis o que eu lhes disse quando ainda estava com vocês: era necessário que se cumprisse tudo o que está escrito a meu respeito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos” (Lucas 24.44).

            O livro do Profeta Isaías é considerado por grandes comentaristas bíblicos como o “Evangelho do Antigo Testamento”, pois ele vivendo 700 anos antes dos acontecimentos narrados pelos evangelistas já anunciava muitos detalhes do nascimento, ministério, morte e ressurreição de Jesus Cristo.

            Vamos aproveitar para examinarmos um dos textos mais lindos e citados de Isaías, neste período natalino, pelo prisma dos grandes comentaristas bíblicos do inicio da era cristã até os dias atuais. Junto com eles vamos celebrar o nascimento de Jesus Cristo o Salvador.

I S A Í A S  7.14

Por isso o Senhor mesmo lhes dará um sinal: a virgem ficará grávida e dará à luz um filho, e o chamará Emanuel.

[Nova Versão Internacional]

Por isso, Deus vai dar um sinal - quer vocês queiram, quer não. Uma virgem terá um filho! E ela; chamará o nenê de Emanuel (que significa "Deus está conosco").

[Bíblia na Linguagem de Hoje]

Portanto o Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que uma virgem conceberá, e dará à luz um filho, e será o seu nome Emanuel.

[Almeida Revisada]

Comentário de Calvino sobre a Bíblia – Isaías 7.14

Portanto, o próprio Senhor vos dará um sinal. Acaz já havia recusado o sinal que o Senhor lhe ofereceu, quando o Profeta protestou contra sua rebelião e ingratidão; no entanto, o Profeta declara que isso não impedirá Deus de dar o sinal que havia prometido e designado para os judeus. Mas que sinal?

Eis que uma virgem conceberá. Esta passagem é obscura; mas a culpa recai em parte sobre os judeus, que, por muita objeção, trabalharam, tanto quanto estavam ao seu alcance, para perverter a verdadeira exposição. Eles são duramente pressionados por esta passagem; pois contém uma previsão ilustre sobre o Messias, que aqui é chamado Emanuel; e, portanto, eles trabalharam, por todos os meios possíveis, para desvirtuar o significado do Profeta para outro sentido. Alguns alegam que a pessoa aqui mencionada é Ezequias; e outros, que é filho de Isaías.

Aqueles que aplicam esta passagem a Ezequias são excessivamente insolentes; pois ele deve ter sido um homem adulto quando Jerusalém foi sitiada. Assim, eles mostram que são grosseiramente ignorantes da história. Mas é uma justa recompensa de sua malícia, que Deus os cegou de maneira a serem privados de todo julgamento. Isso acontece nos dias atuais com os papistas, que muitas vezes se expõem ao ridículo por sua louca ânsia de perverter as Escrituras.

Quanto aos que pensam que era o filho de Isaías, é uma conjectura totalmente frívola; pois não lemos que um libertador seria levantado da semente de Isaías, que deveria ser chamado Emanuel; pois este título é ilustre demais para ser aplicado a qualquer homem.

Outros pensam, ou, pelo menos, (não querendo lutar com os judeus mais do que o necessário) admitem que o Profeta falou de alguma criança que nasceu naquela época, por quem, como por uma imagem obscura, Cristo foi prenunciado. Mas eles não apresentam argumentos fortes e não mostram quem era aquela criança, nem apresentam quaisquer provas. Agora, é certo, como já dissemos que esse nome Emanuel não poderia ser aplicado literalmente a um mero homem; e, portanto, não há dúvida de que o Profeta se referiu a Cristo.

Mas todos os escritores, tanto gregos quanto latinos, se sentem à vontade em lidar com essa passagem; pois, como se não houvesse dificuldade, eles meramente afirmam que Cristo é aqui prometido pela Virgem Maria. Agora, não há pouca dificuldade na objeção que os judeus fazem contra nós, que Cristo é aqui mencionado sem motivo suficiente; pois assim argumentam e exigem que o escopo da passagem seja examinado: “Jerusalém foi sitiada. O Profeta estava prestes a dar um sinal de libertação. Por que ele deveria prometer ao Messias, que nasceria quinhentos anos depois? ” Por esse argumento, eles pensam que obtiveram a vitória, porque a promessa a respeito de Cristo não tinha nada a ver com assegurar a Acaz a libertação de Jerusalém. E então eles se gabam como se tivessem ganho o dia, principalmente porque dificilmente alguém lhes responde. Essa é a razão pela qual eu disse que os comentaristas ficaram muito à vontade nesse assunto; pois não é de pouca importância mostrar por que o Redentor é mencionado aqui.

Agora, o assunto está assim. Tendo o rei Acaz rejeitado o sinal que Deus lhe havia oferecido, o Profeta o lembra do fundamento da aliança, que nem mesmo os ímpios se aventuraram a rejeitar abertamente. O Messias deve nascer; e isso era esperado por todos, porque a salvação de toda a nação dependia disso. O Profeta, portanto, depois de ter expressado sua indignação contra o rei, novamente argumenta desta maneira: “Ao rejeitar a promessa, você tentaria anular o decreto de Deus; mas permanecerá inviolável, e tua traição e ingratidão não impedirão que Deus seja continuamente o Libertador de seu povo; pois ele finalmente levantará seu Messias”.

Para tornar essas coisas mais claras, devemos atender ao costume dos Profetas, que, ao estabelecer promessas especiais, estabelecem como fundamento que Deus enviará um Redentor. Sobre esse fundamento geral, Deus em todos os lugares constrói todas as promessas especiais que ele faz ao seu povo; e certamente todo aquele que espera ajuda e assistência dele deve estar convencido de seu amor paterno. E como ele poderia ser reconciliado conosco senão por meio de Cristo, em quem ele livremente adotou os eleitos e continua a perdoá-los até o fim? Daí vem aquele ditado de Paulo, que todas as promessas de Deus em Cristo são Sim e Amém (2 Coríntios 1:20).

Sempre que, portanto, Deus ajudou seu povo antigo, ele ao mesmo tempo os reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo; e, portanto, sempre que fome, pestilência e guerra são mencionadas, a fim de manter uma esperança de libertação, ele coloca o Messias diante de seus olhos. Sendo isso extremamente claro, os judeus não têm o direito de fazer barulho, como se o Profeta tivesse feito uma transição fora de época para um assunto muito remoto. Pois de que dependia a libertação de Jerusalém, senão da manifestação de Cristo? Este foi, de fato, o único fundamento sobre o qual sempre descansou a salvação da Igreja.

Mais apropriadamente, portanto, Isaías disse: “É verdade que você não acredita nas promessas de Deus, mas Deus as cumprirá; pois ele finalmente enviará seu Cristo, por quem ele determina preservar esta cidade. Embora você seja indigno, Deus terá consideração por sua própria honra. O rei Acaz é, portanto, privado daquele sinal que anteriormente rejeitou e perde o benefício do qual provou ser indigno; mas ainda assim a promessa inviolável de Deus ainda é oferecida a ele. Isso é claramente sugerido pela partícula לכן, ( lachen ,) portanto; isto é, porque você desdenha aquele sinal particular que Deus ofereceu a você, הוא, (hu) Ele, isto é, o próprio Deus, que foi tão gracioso a ponto de oferecê-lo livremente a ti, aquele a quem tu mais cansas não deixará de oferecer um sinal . Quando digo que a vinda de Cristo é prometida a Acaz, não quero dizer que Deus o inclua entre o povo escolhido, a quem designou seu Filho para ser o Autor da salvação; mas porque o discurso é dirigido a todo o corpo do povo.

Dara um sinal a você. A palavra לכם, (lachem) para você, é interpretado por alguns como significando para seus filhos; mas isso é forçado. No que diz respeito às pessoas abordadas, o Profeta deixa o rei perverso e olha para a nação, na medida em que foi adotada por Deus. Ele, portanto, dará, não a ti um rei perverso, e àqueles que são como ti, mas a ti a quem ele adotou; pois a aliança que ele fez com Abraão continua firme e inviolável. E o Senhor sempre tem algum remanescente a quem pertence a vantagem da aliança; embora os governantes e governadores de seu povo possam ser hipócritas.

Eis que uma virgem conceberá. A palavra Eis é usada enfaticamente, para denotar a grandeza do evento; pois esta é a maneira pela qual o Espírito geralmente fala de grandes e notáveis ​​eventos, a fim de elevar a mente dos homens. O Profeta, portanto, ordena que seus ouvintes estejam atentos e considerem esta extraordinária obra de Deus; como se ele tivesse dito: “Não seja preguiçoso, mas considere esta graça singular de Deus, que deveria ter chamado sua atenção, mas está escondida de você por causa de sua estupidez”.

Embora a palavra עלמה, (gnalmah) uma virgem, é derivado de עלם, (gnalam) que significa para ocultar, porque a vergonha e modéstia das virgens não permite que apareçam em público; no entanto, como os judeus discutem muito sobre essa palavra e afirmam que ela não significa virgem, porque Salomão a usou para denotar uma jovem que estava noiva, é desnecessário discutir sobre a palavra. Embora devamos admitir o que eles dizem que עלמה (gnalmah) às vezes denota uma jovem, e que o nome se refere como eles o fariam, à idade (embora seja frequentemente usado nas Escrituras quando o assunto se refere a uma virgem ), a natureza do caso refuta suficientemente todos suas calúnias. Pois que coisa maravilhosa o Profeta disse, se ele falou de uma jovem que concebeu por meio de relações sexuais com um homem? Certamente teria sido absurdo apresentar isso como um sinal ou um milagre. Suponhamos que denota uma jovem que deve engravidar no curso normal da natureza; todo mundo vê que teria sido tolo e desprezível para o Profeta, depois de dizer que estava prestes a falar de algo estranho e incomum, acrescentar: Uma jovem mulher deve conceber. É, portanto, bastante claro que ele fala de uma virgem que deveria conceber, não pelo curso normal da natureza, mas pela graciosa influência do Espírito Santo. E este é o mistério que Paulo descreve em termos grandiosos, que Deus foi manifestado na carne (1 Timóteo 3.16).

E deve chamar. O verbo hebraico está no gênero feminino, Ela chamará; pois quanto aos que o leem no gênero masculino, não sei em que [base] acharam a opinião deles. As cópias que usamos certamente não diferem. Se você aplicá-lo à mãe, certamente expressa algo diferente do costume comum. Sabemos que ao pai é sempre atribuído o direito de dar nome ao filho; pois é um sinal do poder e autoridade dos pais sobre os filhos; e a mesma autoridade não pertence às mulheres. Mas aqui é transmitido à mãe; e, portanto, segue-se que ele é concebido pela mãe de maneira a não ter pai na terra; caso contrário, o Profeta perverteria o costume comum das Escrituras, que atribui esse cargo apenas aos homens. No entanto, deve-se observar que o nome não foi dado a Cristo por sugestão de sua mãe e, nesse caso, não teria peso; mas o Profeta quer dizer que, ao publicar o nome, a virgem ocupará o lugar de um arauto, porque não haverá pai terreno para desempenhar esse ofício.

Emanuel. Este nome foi inquestionavelmente concedido a Cristo por causa do fato real; pois o Filho unigênito de Deus se vestiu de nossa carne e se uniu a nós participando de nossa natureza. Ele é, portanto, chamado de Deus conosco, ou unido a nós; que não pode se aplicar a um homem que não é Deus. Os judeus em seus sofismas nos dizem que esse nome foi dado a Ezequias; porque pela mão de Ezequias Deus livrou o seu povo; e acrescentam: “Aquele que é servo de Deus representa sua pessoa”. Mas nem Moisés nem Josué, que foram os libertadores da nação, foram assim denominados; e, portanto, este Emanuel é preferido a Moisés e Josué, e todos os outros; pois por este nome ele supera todos os que já existiram antes e todos os que virão depois dele; e é um título expressivo de alguma excelência extraordinária e autoridade que ele possui acima dos outros. Portanto, é evidente que denota não apenas o poder de Deus, como ele geralmente exibe por seu servo, mas uma união de pessoas, pela qual Cristo se tornou Deus-homem. Portanto, também é evidente que Isaías aqui não relata nenhum evento comum, mas aponta aquele mistério incomparável que os judeus trabalham em vão para ocultar.

João Calvino[1]

 

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
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Referência Bibliográfica
CALVINO, João. Comentário Bíblico João Calvino: Antigo Testamento parte 1 [Gênesis Exôdo Levítico Números Deuteronômio Josué Salmos Isaías]. Tradução Valdenilson Araujo.  Formato: eBook Kindle.
CALVIN, John. Commentary on the book of the prophet Isaiah. Translated from the original latin by the Rev. William Pringle. Volume First. Christian Classics Ethereal Library, Grand Rapids, MI. http://www.ccel.org

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[1] João Calvino tem sido reconhecido com um dos maiores expositor bíblico à partir da Reforma Protestante até os dias de hoje. Muitos de seus comentários bíblicos podem ser encontrados em português e para todos aqueles que desejam usufruir de excelentes comentários bíblicos, com exegese e hermenêutica confiável torna-se indispensável lê-los.