Quando o bebê Jesus nasce naquela noite na pequena cidade
ou mesmo um vilarejo de Belém da Judeia, uma hoste angelical entoa um cântico declarando
a glória de Deus e anunciando a paz entre as pessoas.
Mas na sequencia deste momento sublime temos a terrível
narrativa da ordem de Herodes para matar todos os meninos de dois anos para
baixo, em uma tentativa desvairada de ceifar a vida do infante menino-rei, pré-anunciado
pelos sábios do Oriente que haviam estado com ele.
O terrível choro e lamento de Raquel por seus filhos
contrasta a cena anterior da doxologia entoada pelos anjos e assistida pelos
pastores que ali zelavam por seus rebanhos. À manifestação celestial de amor e
paz, o ser humano responde com ódio, violência e morte. A morte dos inocentes é
um prenuncio da própria morte do Inocente – Jesus! O Príncipe da paz nasce em
um mundo escravizado pelo pecado que gera continuamente tristeza, sofrimento e
morte. E nos transpassar dos séculos continuamos a ouvir simultânea e
antagonicamente a mensagem angelical e o choro de Raquel.
Da pequena cidade de Davi (Belém), o filho mais glorioso
de Davi, tem que fugir para o Egito – escapando da ira mortífera de Herodes.
Desde seu nascimento o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça, pois é
rejeitado abertamente pelos seus próprios contemporâneos. É preciso vir de
longe àqueles que o reconhecem e o adoram. Nos presentes oferecidos pelos
sábios orientais uma vez mais está o prenuncio do posterior sofrimento vicário
do menino. Não será seus próprio discípulos que lhe sepultaram, mas outros de
fora – José de Arimatéia e Nicodemos, que proporcionaram o perfume e as
especiarias para seu embalsamento. O silêncio e a tristeza da Páscoa estiveram
sempre incubados nas narrativas Natalinas.
A estrebaria e o sepulcro sintetizam os contrastes da
vida de Jesus. Como em nenhum outro em Jesus se amalgama os extremos antagônicos:
a alegria triunfante do nascimento e a dor mais profunda da morte no calvário; a
doçura do mais extraordinário amor e a amargura da traição, do abandono e da condenação
injusta; a divina condescendência e a cegueira humana, a paz de Deus e a
rebelião do homem.
Jesus Cristo nasce para uma vida de sofrimento e
tristeza: “O homem das dores” como
descreveu setecentos antes o profeta Isaías (53); o Cordeiro de Deus que toma
sobre Si o pecado do mundo, como declara João Batista.
Desde os primeiros dias Jesus toma o caminho da cruz, porque
não há outro Caminho que possa trazer a genuína alegria e paz a esta humanidade
transloucada, pois é na cruz que se fará a Reconciliação entre o ser humano e
Deus, rompida no Éden pela transgressão. A mensagem Natalina “Deus conosco!” se completa e se cumpre
na vitória anunciada da Páscoa “Ele
Ressuscitou!” Entre o inicio do Caminho (Natal-Nascimento) e o seu final
(Páscoa-Ressurreição) há uma cruenta e ensanguentada Cruz.
Os primeiros cristãos foram conhecidos por um bom tempo
como sendo os do “Caminho”. Jesus não
apenas os chamou, mas à frente deles percorreu todo o Caminho. Ainda hoje Jesus
convida a cada um de nós a percorrer o mesmo Caminho que Ele mesmo percorreu em
toda sua extensão. A maioria de nós é tomada pela vergonha e medo, pois esse
Caminho nos constrange e nos embaraça. Olhamos para o Mundo e ficamos
imobilizados diante do aparente crescimento do poder do mal e pela impotência
da mensagem evangélica da Verdade. A cada dia vemos a justiça sendo ultrajada;
os justos sendo perseguidos e sofrendo; em todas as instâncias humanas a
injustiça parece prevalecer sempre! E no recôndito do nosso coração, pois não
ousamos falar audivelmente, perguntamos: Onde
esta a paz na terra? Onde está a
alegria das Boas Novas evangelical? Diante da “guerra de todos contra todos”,
a “paz a todos que Ele quer bem” proferida na doxologia natalina não é seria apenas
uma aspiração? Como podemos somar aos anjos e cantarmos com eles “Glória a Deus
e paz na terra”, quando em meio aos gritos e choros de Raquel diariamente?
A incapacidade de experimentarmos a alegria de Cristo, a
dificuldade e o medo que nos assusta e paralisa, é decorrente da nossa falta de
fé e da nossa indisposição em vivenciarmos o Evangelho. Assim como Pedro
rejeitamos o Caminho proposto por Jesus. O Caminho de Jesus não é o Caminho que
escolheríamos percorrer voluntariamente. A razão é simples: não cogitamos as
coisas de Deus, mas dos homens. Assim como Pedro ficou escandalizado com a
perspectiva da Cruz, nós também rejeitamos a nossa cruz – todavia o único
Caminho para Vida é o Caminho da Cruz – qualquer outro caminho apenas conduz à
Morte. O genuíno Natal aponta para a Cruz e somente experimentaremos a glória
da Páscoa passando pela Cruz.
Evidente que somente tomaremos, permaneceremos e
concluiremos todo o trajeto do Caminho, conduzidos, supridos e sustentados pelo
Senhor Jesus. Eis que estarei com vocês em todo o percurso deste Caminho. Às vezes
como aqueles dois discípulos de Emaús, tomados pela dor, triste e frustrações
da vida, não nos apercebemos que Jesus caminha e dialoga conosco, durante grande
parte do trajeto percorrido (da nossa vida). Quando estamos cansados e
sobrecarregados é Jesus quem toma o nosso jugo pesado e oferece o seu julgo
suave e leve!
O apóstolo Paulo desde o primeiro
dia em que iniciou o percurso do Caminho (conversão) experimentou a intensidade
da alegria da Salvação e a intensidade do sofrimento por amor de Cristo. A sua
pequena biografia registrada em sua carta aos Corintos nos revela a dureza
implacável desse Caminho. Mas Paulo tinha uma convicção inabalável de que: “nem a
morte, nem a vida, nem anjos, nem principados, nem poderes, nem coisas
presentes, nem futuras, nem altura, nem profundidade, nem qualquer outra
criatura, pode ser capaz de nos separar do amor de Deus, que está em Cristo
Jesus, nosso Senhor”.
O que nos falta é essa convicção de
Paulo. Os mártires no Coliseu romano impactaram a vida de milhares de pessoas,
pois quando diante da morte eles não se desesperavam, mas oravam e louvavam ao
seu Senhor e Salvador Jesus Cristo. Aquelas multidões podiam ver com seus
próprios olhos incrédulos a manifesta de uma “paz que excede todo o entendimento”, no rosto daqueles homens e
mulheres que eram do Caminho.
Todos aqueles que verdadeiramente
creem e que estão andando no Caminho, experimentam em meio a este mundo
tenebroso, a genuína paz e alegria prenunciada pelos anjos naquela primeira
noite de Natal.
Utilização
livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre
em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
Outro
Blog
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
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