Ele estava com Deus no princípio. Todas
as coisas foram feitas por intermédio dele; sem ele, nada do que existe
teria sido feito (Jo 1.2-3 NIV).
Ele estava no princípio com Deus. Todas as
coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito
se fez. (Jo 1.2-3 RA).
Desde o princípio, a Palavra estava com
Deus. Por meio da Palavra, Deus fez todas as coisas, e nada do que
existe foi feito sem ela (Jo 1.2-3 BLH).
Ele criou tudo o que há - não existe nada que
ele não tenha feito (Jo 1.3 BV).
O evangelista João inicia sua narrativa com um precioso hino [natalino] cujo
tema central é a origem eterna de Jesus. No verso inicial o evangelista faz
três preciosas declarações: em primeiro lugar o Verbo existiu desde o princípio; em
seguida, que Ele
existiu com Deus; e por último que Ele era Deus. Agora
ele não apenas reforça sua ideia inicial, mas amplia ainda mais afirmando que o
Logos não apenas era Deus como também é o agente pelo qual todas as coisas
vieram a existir.
Ele
[Jesus], o Logos, que era Deus, era no
[desde] começo, e estava [desde sempre] com Deus: Nesse
segundo verso João não faz uma mera repetição da primeira declaração, mas
uma reafirmação de que Jesus (Verbo/Logos/Palavra) sempre
existiu e que sempre foi Deus, de maneira que a preexistência[1] e personalidade
eterna de Jesus estão incluídas nessa segunda declaração. Esta unidade
de Jesus e o Pai (Deus) não surgem quando do ato da criação, ou se constitui
apenas de uma unidade de sentimento, mas uma união de natureza e essência –
Jesus sempre existiu na eternidade com Deus, nunca houve um tempo em que Jesus
esteve separado de Deus (Trindade) em qualquer sentido.
Se no primeiro verso a unidade do Logos e Deus poderia
ser interpretado de forma subjetiva, esse segundo verso enfatiza de
forma contundente que essa unidade é objetiva: Jesus não era um segundo
Deus, nem era revestido de divindade e nem era procedente de Deus (Pai), mas o
Logos (Jesus) desde o princípio era Deus em natureza e ser. Portanto, Jesus não é simplesmente a palavra de Deus,
mas Ele é Deus. Aqui também temos a ideia de que a
obra da Criação foi completa, se contrapondo ao conceito evolucionista e de
reencarnação de que a criação é uma obra contínua.
Todas
as coisas foram feitas por intermédio dele: A
declaração anterior se constitui no ponto de transição para essa declaração.
Uma vez que Jesus (Verbo/Palavra) é Deus, nada do que veio a ser criado foi
feito sem a participação efetiva Dele. “Todas as coisas” implicam não
apenas a obra da Criação e o próprio ser humano, mas inclui também outras
atividades criadoras, como os céus e o próprio Universo.
O termo Palavra (Verbo) trás a ideia de
conhecimento e vontade, sabedoria e poder, que se manifestam na ação criativa.
Portanto, Jesus (Verbo/Palavra) ao se envolver no ato criativo, estabelece uma
estreita relação com as coisas criadas, de forma mais especifica com o ser
humano, preparando o caminho para a Sua posterior encarnação (natal) e
obra redentora (páscoa). Deste modo, o evangelista João vai
estabelecendo um vínculo direto entre a obra da Criação e
a obra da Redenção por meio de Jesus. Ao criar o ser humano à
Sua imagem e semelhança, Ele haverá posteriormente de restaurá-lo à condição
original. Jesus ama o ser humano, por Ele criado, apesar da total desfiguração
produzida pelo pecado; a manifestação integral desse amor pelo ser humano se
manifesta em toda sua plenitude quando Jesus assume a nossa humanidade (natal)
para poder efetuar a nossa redenção (páscoa).
e,
sem ele, nada do que foi feito se fez:[2] Os gnósticos ensinavam que a Criação (matéria) era
autônoma em sua existência, mas João declara enfaticamente que a origem da
Criação esta unicamente no desejo de criar de Deus. E por meio de Jesus
estabelece-se um elo visível entre Deus e o mundo material criado. Sendo Deus o
autor da Criação e do próprio ser humano, tudo Lhe pertence (cf. Hb 1.2; 11.3).
As verdades contidas nestas frases iniciais da narrativa
evangélica de João são fundamentais para responder ao principal argumento
gnóstico de que o espírito é bom e a matéria é má. Mas ao afirmar que toda a
criação veio a existir por meio de Jesus (Palavra/Verbo) e que Ele assume a
nossa materialidade na encarnação, o autor evangélico demonstra que este mundo
material não é essencialmente mau, mesmo que a entrada do pecado tenha
produzido toda sorte de miséria (cf. Gn 1.10,12,18,21,25).
O Natal, portanto, na perspectiva de João demarca o momento único em que o Deus
Eterno, por meio do Filho, relaciona-se diretamente com a própria Criação, que
Ele trouxe à existência e com o próprio ser humano que fora criado à Sua Imagem
e Semelhança.
O bebê gerado no ventre de Maria e que nasceu em uma singela manjedoura, num
dos menores vilarejos da Judéia (Belém), não era outro se não o próprio Criador
de todas as coisas.
Desta forma, o Natal torna-se um reconhecimento de que
Jesus é o Senhor soberano sobre todos e todas as coisas.
Utilização
livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre
em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
Outro
Blog
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
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Referência
Bibliográfica
BRUCE,
F. F. (Editor) Comentário bíblico NVI – Antigo e Novo Testamento.
São Paulo: Editora Vida, 2008.
JEREMIAS,
Joaquim. Estudos no Novo Testamento. São Paulo: Ed. Academia
Cristã Ltda., 2006.
FEUILLET, O
prólogo do quarto evangelho. São Paulo: Edições Paulinas, 1971.
DODD,
Charles H. A interpretação do quarto evangelho. São Paulo:
Editora Teológica, 2003.
PACK,
Frank. O evangelho segundo João. São Paulo: Editora Vida
Cristã, 1983.
[1]
Este termo não é o mais exato, mas na ausência de outro melhor tem sido
utilizado para demonstrar que Jesus existia desde antes da criação.
[2] Uma
leitura alternativa seria: “sem ele nada foi feito. O que foi feito, era vida
nele”. (ELLIS, 2008, p. 1706, Org. BRUCE).
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