segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Natividade no Evangelho Segundo João: Tudo foi feito por Jesus



Ele estava com Deus no princípio. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele; sem ele, nada do que existe teria sido feito (Jo 1.2-3 NIV).
Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez. (Jo 1.2-3 RA).
Desde o princípio, a Palavra estava com Deus. Por meio da Palavra, Deus fez todas as coisas, e nada do que existe foi feito sem ela (Jo 1.2-3 BLH).
Ele criou tudo o que há - não existe nada que ele não tenha feito (Jo 1.3 BV).
            O evangelista João inicia sua narrativa com um precioso hino [natalino] cujo tema central é a origem eterna de Jesus. No verso inicial o evangelista faz três preciosas declarações: em primeiro lugar o Verbo existiu desde o princípio; em seguida, que Ele existiu com Deus; e por último que Ele era Deus. Agora ele não apenas reforça sua ideia inicial, mas amplia ainda mais afirmando que o Logos não apenas era Deus como também é o agente pelo qual todas as coisas vieram a existir.
Ele [Jesus], o Logos, que era Deus, era no [desde] começo, e estava [desde sempre] com Deus: Nesse segundo verso João não faz uma mera repetição da primeira declaração, mas uma reafirmação de que Jesus (Verbo/Logos/Palavra) sempre existiu e que sempre foi Deus, de maneira que a preexistência[1] e personalidade eterna de Jesus estão incluídas nessa segunda declaração. Esta unidade de Jesus e o Pai (Deus) não surgem quando do ato da criação, ou se constitui apenas de uma unidade de sentimento, mas uma união de natureza e essência – Jesus sempre existiu na eternidade com Deus, nunca houve um tempo em que Jesus esteve separado de Deus (Trindade) em qualquer sentido.
Se no primeiro verso a unidade do Logos e Deus poderia ser interpretado de forma subjetiva, esse segundo verso enfatiza de forma contundente que essa unidade é objetiva: Jesus não era um segundo Deus, nem era revestido de divindade e nem era procedente de Deus (Pai), mas o Logos (Jesus) desde o princípio era Deus em natureza e ser. Portanto, Jesus não é simplesmente a palavra de Deus, mas Ele é Deus. Aqui também temos a ideia de que a obra da Criação foi completa, se contrapondo ao conceito evolucionista e de reencarnação de que a criação é uma obra contínua.
Todas as coisas foram feitas por intermédio dele: A declaração anterior se constitui no ponto de transição para essa declaração. Uma vez que Jesus (Verbo/Palavra) é Deus, nada do que veio a ser criado foi feito sem a participação efetiva Dele. “Todas as coisas” implicam não apenas a obra da Criação e o próprio ser humano, mas inclui também outras atividades criadoras, como os céus e o próprio Universo.
O termo Palavra (Verbo) trás a ideia de conhecimento e vontade, sabedoria e poder, que se manifestam na ação criativa. Portanto, Jesus (Verbo/Palavra) ao se envolver no ato criativo, estabelece uma estreita relação com as coisas criadas, de forma mais especifica com o ser humano, preparando o caminho para a Sua posterior encarnação (natal) e obra redentora (páscoa). Deste modo, o evangelista João vai estabelecendo um vínculo direto entre a obra da Criação e a obra da Redenção por meio de Jesus. Ao criar o ser humano à Sua imagem e semelhança, Ele haverá posteriormente de restaurá-lo à condição original. Jesus ama o ser humano, por Ele criado, apesar da total desfiguração produzida pelo pecado; a manifestação integral desse amor pelo ser humano se manifesta em toda sua plenitude quando Jesus assume a nossa humanidade (natal) para poder efetuar a nossa redenção (páscoa).
e, sem ele, nada do que foi feito se fez:[2] Os gnósticos ensinavam que a Criação (matéria) era autônoma em sua existência, mas João declara enfaticamente que a origem da Criação esta unicamente no desejo de criar de Deus. E por meio de Jesus estabelece-se um elo visível entre Deus e o mundo material criado. Sendo Deus o autor da Criação e do próprio ser humano, tudo Lhe pertence (cf. Hb 1.2; 11.3).
As verdades contidas nestas frases iniciais da narrativa evangélica de João são fundamentais para responder ao principal argumento gnóstico de que o espírito é bom e a matéria é má. Mas ao afirmar que toda a criação veio a existir por meio de Jesus (Palavra/Verbo) e que Ele assume a nossa materialidade na encarnação, o autor evangélico demonstra que este mundo material não é essencialmente mau, mesmo que a entrada do pecado tenha produzido toda sorte de miséria (cf. Gn 1.10,12,18,21,25).
            O Natal, portanto, na perspectiva de João demarca o momento único em que o Deus Eterno, por meio do Filho, relaciona-se diretamente com a própria Criação, que Ele trouxe à existência e com o próprio ser humano que fora criado à Sua Imagem e Semelhança.
            O bebê gerado no ventre de Maria e que nasceu em uma singela manjedoura, num dos menores vilarejos da Judéia (Belém), não era outro se não o próprio Criador de todas as coisas.
Desta forma, o Natal torna-se um reconhecimento de que Jesus é o Senhor soberano sobre todos e todas as coisas.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/

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Referência Bibliográfica
BRUCE, F. F. (Editor) Comentário bíblico NVI – Antigo e Novo Testamento. São Paulo: Editora Vida, 2008.
JEREMIAS, Joaquim. Estudos no Novo Testamento. São Paulo: Ed. Academia Cristã Ltda., 2006.
FEUILLET, O prólogo do quarto evangelho. São Paulo: Edições Paulinas, 1971.
DODD, Charles H. A interpretação do quarto evangelho. São Paulo: Editora Teológica, 2003.
PACK, Frank. O evangelho segundo João. São Paulo: Editora Vida Cristã, 1983.




[1] Este termo não é o mais exato, mas na ausência de outro melhor tem sido utilizado para demonstrar que Jesus existia desde antes da criação.
[2] Uma leitura alternativa seria: “sem ele nada foi feito. O que foi feito, era vida nele”. (ELLIS, 2008, p. 1706, Org. BRUCE).

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