"Como estrangeiros e peregrinos." (1
Pedro 2.11)
Postei recentemente uma pequena nota sobre a casa no contexto
veterotestamentário. Como era a casa simples do povo israelita até os dias de
Jesus. E o interessante é que o termo “casa” no contexto bíblico não trás
ideia de “lar”, como tão comumente nós fazemos nos
dias atuais. Para a nossa mentalidade ocidental urbana casa e lar são sinônimas.
Todavia, a mentalidade oriental é diferente da nossa. A palavra hebraica “bavith”
e a palavra árabe “isca” significam principalmente um
"abrigo". O termo mais particular e
intimo "lar" nunca foi utilizado pelos
israelitas porque eles se consideravam um povo "peregrino na terra", de maneira que suas casas eram o mais
simples possível e ainda que internamente tivessem um mínimo de acabamento, por
fora normalmente eram deixadas rusticas e esteticamente feias.
Por
esta razão o apóstolo Pedro lembra os primeiros cristãos, cuja maioria ainda
era judaico/israelita, de que como cristãos devemos viver nesse mundo como “estrangeiros
e peregrinos”, de maneira que aqui temos apenas “abrigo”
um lugar temporário para refazermos as forças para um novo dia de atividades,
mas o nosso “lar” está nos céus, pois lá e não aqui
é o nosso lugar definitivo de descanso e alegria eterna.
Uma
das críticas feitas pelos profetas aos israelitas era que estavam dando muito
valor às seus “abrigos” e as embelezando externa e
internamente, como se fossem habitar nelas por muito tempo, mas pouca atenção
estava sendo dada ao Senhor, à sua Lei e à Adoração (representada no Templo). O
profeta Amós antes das invasões assírias e babilônicas – que destruíram as
casas e o próprio templo, mas também os profetas Ageu, Zacarias e Malaquias, que
profetizaram após o retorno do cativeiro babilônico, todos eles fazem duras
críticas aos moradores de Israel e Judá, que se esqueceram de que eram estrangeiros
e peregrinos nesta terra e que seus “abrigos” eram provisórios.
Tanto
as palavras dos profetas veterotestamentário, quanto as palavras de Pedro são
completamente ignoradas pela geração presente de cristãos evangélicos (assim
como foi pelos israelitas). Desde os dias do imperador romano Constantino os
cristãos iniciaram sua escalada na pirâmide social e nunca mais pararam –
tomaram gosto pelo conforto e luxo. Isso é facilmente percebido nas construções
das grandes catedrais cristãs e evangélicas, cada uma mais suntuosa do que a outra.
E nessa balada os cristãos passam a vida inteira embelezando seus “abrigos” por dentro e por fora. Uma casa
mais linda do que a outra – mas Deus, sua Palavra e a Adoração estão cada vez
mais na periferia da vida desta geração cristã hedonista e materialista.
Até
pouco tempo atrás, década de 70/80 ainda se podia sentir uma atmosfera
escatológica no meio evangélico brasileiro. Semanas de estudos escatológicos se
multiplicavam nas igrejas; hinos e cânticos sobre a volta gloriosa de Jesus
Cristo aqueciam os corações e levantavam os olhos dos crentes para contemplarem
as glórias celestiais; quase se podia ouvir o som ainda que distante das
trombetas angelicais anunciando que o Rei esta voltando!
Mas
com a ascensão da pseuda teologia da prosperidade no final da década de oitenta
e a partir da década de noventa, com a popularidade dos “pregadores midiáticos”
os olhos dos crentes deixaram de contemplar o céu e a eternidade e se fixaram
nas coisas perecíveis deste mundo. Não se houve mais falar de temas
escatológicos e os cânticos perderam sua fragrância celestial, e suas letras
ensinam que cristão abençoado é aquele que tem uma casa muito bonita. Com que
facilidade os cristãos trocam uma reunião dominical da igreja por um passeio no
Shopping Center.
As
palavras de Pedro precisam ser recuperadas, ainda que a grande maioria dos
cristãos não as queira ouvir e se as ouvirem em nada lhes mudara a forma de
viver, pois seus olhos estão encantados com as coisas deste mundo, assim como
Eva esteve com seus olhos cativos pela beleza do fruto proibido; não sem razão
Jesus advertiu seus discípulos: “Se teus olhos são trevas (perderam a perspectiva
celestial), quão densas são essas trevas”. Creio que nem mesmo
na Idade Média, denominada por alguns historiadores cristãos de a “era das trevas”, tantos cristãos vivem completamente
cegos como na geração presente. Os evangélicos estão tão ofuscados pelas luzes
coloridas deste mundo que perderam a capacidade de enxergarem as coisas eternas
– louco
hoje mesmo irás encontrar com teu Deus e o que você ajuntou aqui na terra de
que te servirá?
Pedro
precisa ainda no primeiro século lembrar os cristãos da primeira geração, de
que eles são “estrangeiros e peregrinos”
nesse mundo e que a condição atual deles, assim como a nossa se de fato somos
cristãos, é temporária e passageira, assim como o nosso modelo maior que é o
nosso Senhor Jesus Cristo que não tinha onde reclinar a cabeça. Ainda estamos
no mundo, mas não pertencemos mais a ele – não somos mais escravos deste mundo
e sua mentalidade materialista. A questão é: sou um
cristão? Tenho a mentalidade de Cristo? Meus olhos estão fixados na eternidade?
1. Todo
cristão nascido de novo vive em duas dimensões: a terrena e a celestial.
Aqui temos apenas um “abrigo”, pois nosso “lar”
está na eternidade, de maneira que somos “estrangeiros”
neste mundo. Minha verdadeira vida não é esta, pois meu corpo e tudo que se
relaciona com ele vão perecer e por mais que se tente embelezar a velhice ela é
“canseira e enfado”; nossa vida
verdadeira é a nossa alma imperecível – essa é a nossa vida real. Mas
onde está nosso lar? Nunca o vimos! Ainda
que tenhamos nascidos nessa terra estrangeira, nosso lar está prometido e
descrito para nós na Palavra de Deus. A promessa de Jesus continua sendo
verdadeira “vou preparara um lugar”. Muitos dos
nossos irmãos já foram e estão lá e em breve também haveremos de partir deste abrigo
(mundo) passageiro e adentraremos em nosso lar eterno e definitivo. Assim como
os israelitas naquela noite da páscoa tinham que fazer uma refeição simples e estar
prontos para partirem do Egito em direção à terra de Canaã, assim somos nós,
devemos lançar fora tudo e qualquer coisa que possa nos prender à este mundo e
estarmos prontos para partirmos em definitivo à nossa Canaã celestial.
2. Mas
Pedro declara que não somos apenas estrangeiros neste mundo, mas também
peregrinos nele. Abraão foi chamado da terra de Ur (idolatria e morte), para
peregrinar na terra que Deus lhe haveria de dar. Peregrino trás a ideia de
movimento, não de descanso. Um peregrino em viagem não pode carregar uma
bagagem muito pesada, pois terá dificuldade de locomoção; nossa vida neste
mundo é, portanto uma permanente viagem. Somos peregrinos em direção ao nosso
lar. A peregrinação exige paciência, determinação, perseverança, força, fé – a caminhada
é difícil e cheia de situações inesperadas (vales da sombra da morte) e a
pequena biografia de Paulo em sua carta aos Corintos deixa claro isso. Jesus ao
enviar os doze e depois os setenta para anunciarem a mensagem do Evangelho lhes
privou de tudo que não fosse estritamente necessário para a viagem
(peregrinação) por toda a Palestina escaldante. Por isso é necessário manter os
nossos olhos fixos única e exclusivamente no autor e consumador da nossa fé e
esperança – Jesus Cristo! Devo contemplar pela fé a gloria celestial e as
delicias do céu. Assim como os israelitas nos dias de Josué, devemos nos
preparar adequadamente, para atravessarmos o nosso rio Jordão e adentrarmos à
nossa terra da Promessa; assim como as madrinhas prudentes devemos encher
nossas lâmpadas de óleo, pois eis que ouve-se ao longe o grito – EIS O NOIVO! O
NOIVO CHEGOU E AS PORTAS SERÃO FECHADAS E AS FESTIVIDADES DO CASAMENTO TERÃO
INICIO!
3. Portanto,
nada deve nos ocupar demasiadamente ou nos atrasar em nossa viagem. Como
estrangeiros e peregrinos não temos compromisso definitivo neste mundo. Nada
aqui pode ser comparado com aquilo que haveremos de receber na gloria. Nenhum
um “abrigo”
neste mundo, por mais luxuoso que seja, pode ser comparado ao nosso “lar”
celestial. Nenhum “abrigo” aqui vai de fato nos
proporcionar o descanso perene do nosso “lar” celestial. Ainda que haja muitas
coisas apreciáveis e uteis ao longo da nossa jornada, nada pode nos roubar a
percepção da eternidade. Mas muitas vezes somos acometidos pela canseira e nos
sobrecarregamos com as demandas da vida terrena e nesses momentos somos
tentados a nos tornarmos indolentes e inclinados a interrompermos nossa viagem
e estabelecermos uma zona de conforto ao nosso derredor e nos fixarmos ali; mas
precisamos tomar animo e nos levantarmos e retomarmos nossa jornada, pois aqui
não é nosso lugar definitivo – não podemos fixar nosso “abrigo”
entre as campinas vistosas e atrativas de Sodoma e Gomorra e ali nos
assentarmos à porta para negociarmos, pois o juízo de Deus é eminente sobre
elas e sobre esse mundo tenebroso. Precisamos seguir a viagem.
4. Mas
tudo que precisamos para fazermos nossa viagem nos foi e será provida por
Aquele que nos amou e nos salvou. Ele é o nosso Pastor e nada teremos falta
daquilo que necessitamos para fazermos a nossa jornada. Teremos água fresta,
teremos maná diário e até codornizes para nos saciarmos e nos alegrarmos; pois
assim como os passarinhos seremos supridos e como as pequenas flores do campo
seremos vestidos, pois o nosso Pai celeste sabe do que necessitaremos para
alcançarmos o final de nossa peregrinação neste mundo. Ele também nos guarda, conforta,
anima e nos dá a sua Paz – que excede todo o entendimento. Apesar da canseira
somos motivados a entoarmos canções que engrandecem a Deus e nosso Salvador. Em
alguns momentos somos embaraçados pelas concupiscências de nossa mente carnal e
secularizada, mas pacientemente Ele nos desvencilha e nos capacita a
continuarmos nossa caminhada em direção a tudo quanto Ele mesmo tem preparado
para nós usufruirmos. Nosso amado Salvador jamais nos abandona, mesmo quando em
semelhança aos dois discípulos de Emaús não somos capazes de perceber sua doce
companhia enquanto caminha ao nosso lado nos consolando e animando a
continuarmos em direção ao lar. Toda a dificuldade é transitória; por isso não
temos razão de caminharmos com espírito amargurado. Em breve estaremos em casa,
devemos nos alegrar e regozijar. Quão gloriosa é a nossa casa!
Que
nada possa nos embaraçar a ponto de impedir nossa caminhada; que nada neste
mundo possa ser mais atraente e desejável do que as bem aventuranças celestiais;
que o nosso coração e a nossa alma possam louvar e engrandecer àquele que
morreu e ressuscitou para poder nos habilitar a fazermos em segurança a jornada
até o final onde adentraremos no nosso lar definitivo e eterno.
Peregrinando
por sobre os montes,
E
pelos vales, sempre na luz,
Cristo
promete nunca deixar-me,
"Eis-me
convosco" - disse Jesus.
Se vejo
sombras por toda parte,
O
Salvador não hão de ocultar!
Pois
Cristo é luz que nunca se apaga,
Bem ao
seu lado sempre hei de andar.
A
luz bendita me vai guiando
Em
meu caminho para a Mansão;
Mais
e mais perto seguindo o Mestre,
Possuo
o gozo da salvação.
Brilho
celeste! Brilho celeste!
Enche a
minha alma, glória do Céu!
Aleluia!
Sigo cantando,
Dando
louvores, pois Cristo é meu!
Brilho Celeste
Hinos Presbiterianos
Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
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