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Ele acordou com uma sensação
estranha de que aquele dia seria diferente. Se alguém lhe perguntasse por que
ou qual o motivo ele não saberia dizer, apenas sentia que algo especial iria
acontecer.
Fazia questão de manter uma rotina
diária, pois isso lhe dava uma espécie de segurança de que as coisas estavam
funcionando normalmente. Portanto, desde as primeiras horas da manhã ele já
estava acordado e como sempre organizou o café matinal da família, pois era a
única refeição que faziam juntos no dia. Suas atividades profissionais lhe
tomavam todo o tempo e até mesmo o jantar nem sempre era possível participar
com eles à mesa.
Ele já pensara diversas vezes em
mudar de atividade, mas nenhuma outra lhe possibilitava um retorno financeiro
tão bom como o que ele tinha atualmente, de maneira que sempre acabava
descartando ou como ele costumava dizer a si mesmo – postergando uma decisão
mais radical.
Fora muito difícil e dispendioso
conseguir os direitos de exercer sua atividade profissional. A concorrência
sempre foi e continuava sendo acirrada, de maneira que ele não podia abrir
qualquer brecha, pois sempre havia alguém de olho para na primeira oportunidade
tomar seu lugar.
É verdade que sua profissão não era
apenas flores, ainda que o lucro era sempre garantido, mas havia também muitos
espinhos. Talvez o mais dolorido desses espinhos fosse a forma como seus
vizinhos, conhecidos e a grande maioria dos cidadãos o tratavam.
Ele nunca era convidado para as
festas, a não ser quando insinuava que poderia arcar com parte das despesas,
mas mesmo assim era tratado como um intruso. E quando abria as portas de sua
casa para alguma refeição social, somente seus colegas de profissão e seus
familiares vinham.
Igualmente dolorido lhe era quando
andando pelas ruas em direção ao trabalho ou mesmo quando fazia qualquer outra
atividade sentia os olhares duros e implacáveis das pessoas e ouvia os
sussurros ou até mesmo alguém mais exaltado lhe chamava de publicano e
pronunciava uma série de vitupérios que o deixavam completamente constrangido.
Com o passar dos anos pensou que fosse se acostumar com estes comportamentos
descabidos ou que fossem diminuir de intensidade, mas nenhuma coisa e nem
outra, sempre se sentia constrangido e em vez de diminuir ultimamente havia aumentado
a intensidade das ofensas. Na semana anterior um comerciante quase o agrediu
fisicamente, por se achar injustiçado, mas fora contido por alguns de seus
empregados.
Mas o que mais o fazia sofrer era a
proibição de poder adentrar à Sinagoga para participar das reuniões. Sentia
falta de ouvir a leitura da Torá, das orações e dos cânticos dos Salmos
comunitários. Evidentemente que fazia tudo isso em sua casa, juntamente com sua
família e todos os que estavam debaixo de seu teto, pois ele era o responsável
pela vida deles, tanto física quanto espiritualmente. Mas como lhe fazia falta
poder ir com a família e adentrar ao ambiente da Sinagoga. Mas quando se tornou
um publicano e posteriormente alcançou o posto de chefe, passando a ser o
responsável por toda coletoria de impostos da cidade de Jericó, cuja produção e
exportação do balsamo girava a economia da cidade e por consequência do
comercio, sabia o preço que haveria de pagar, pois era tratado como traidor do
povo judeu e serviçal dos invasores romanos, uma vez que era obrigado por
contrato a remeter a maior parte do que arrecadava para Roma.
Mas a vida continua. Após o café com
a família se despediu e foi caminhando em direção ao seu posto de trabalho.
Bastaram apenas alguns metros para perceber que havia mais movimento nas ruas
do que o costumeiro para aquele horário matinal. Notou também que os olhares de
repudio que lhe eram normalmente direcionados estavam escassos, como se ele não
estivesse passando por ali, como o fazia rotineiramente. As pessoas conversavam
e gesticulavam agitadamente, mas graças a Deus desta vez não estavam falando
sobre ele. Enquanto caminhava ficou cada vez mais claro que algo importante
havia ou estava para acontecer naquele dia. O que seria? Qual a razão de tanta
agitação logo pela manhã?
Com estas e outras indagações ele
chegou ao seu posto na coletoria. Cumprimentou todos os funcionários e
distribuiu as tarefas daquele dia a serem desempenhadas por cada um deles.
Sentou-se à mesa de trabalho e começou a verificar algumas anotações que fizera
no dia anterior, pois logo começaria a chegar as anotações de hoje. Foi quando
levantando os olhos de seus papeis se apercebeu que seus funcionários estavam
mais agitados do que o costumeiro. Até mesmo os mais contidos estavam conversando
e gesticulando, como aguardando alguma noticia. Alguma autoridade romana iria
passar pela cidade? Herodes ou Pilatos? Algum centurião romano com suas
tropas?
Discretamente fez sinal para um
deles, que saindo do pequeno grupo de cinco funcionários, dirigiu-se na sua
direção. Então ele perguntou: o que esta acontecendo? Por que toda aquela
agitação? O rapaz lhe respondeu: está correndo um boato de que um tal de Jesus
estará passando pela cidade hoje. Ele tem caminhado por toda Palestina judaica
com um grupo de discípulos; muito se tem falado da autoridade com que ensina e
interpreta a Torá e dos muitos milagres que Ele tem realizado, até mesmo
ressuscitando mortos e curando cegos e aleijados.
Enquanto o funcionário retorna à
roda ele começa a puxar na memória alguns extratos de conversas que tinha
ouvido das muitas pessoas que pela coletoria passavam, advindos de todos os
recônditos da Palestina e mesmo de fora dela. Lembrou-se de alguns comentários
sobre um Galileu ou Nazareno, não sabia ao certo, que estava pregando sua
mensagem de arrependimento e do reino de Deus por todo o território, ele até
pensou que se tratava de João, o Batista, mas lembrou-se de que este ficava
mais à beira do rio Jordão e que havia sido decapitado por ordem de Herodes
Antipas.
Também não dera muito atenção a tais comentários, pois
desde garoto sempre ouviu falar destes pregadores messiânicos que surgiam
periodicamente e quase sempre da região da Galileia, sempre envolvidos em
revoltas contra os romanos. Provavelmente esse Jesus era mais um destes
agitadores que se aproveitavam das esperanças messiânicas dos mais oprimidos.
Satisfeito sua curiosidade, retornou às suas atividades, pois as anotações do
dia começavam a chegar e ele não tinha tempo a perder com boatos ou personagens
folclóricos. Muitos diziam que ele era rico, mas não sabiam o quão duro
trabalhava e o tamanho de sua responsabilidade – viam o vinho que ele tomava,
mas não viam os tombos que levava.
Completamente absorvido pelas suas atividades contábeis
ele nem percebeu que as horas avançaram rapidamente e que a muito o horário do
almoço havia passado. Olhando ao redor percebeu que estava completamente
sozinho na coletoria. Para onde foram todos? Levantou-se de sua escrivaninha e
foi até à porta – assustou-se tamanho o movimento das pessoas na rua. Homens,
mulheres e até jovens e crianças, todos caminhando agitadamente em direção à
rua principal da cidade. Parou um homem que passava e perguntou: o que está
acontecendo? O homem se desvencilhando de sua mão continuou andando e gritou: é
Jesus! É Jesus! Ele acabou de curar um cego na estrada e vai entrar daqui a
pouco na cidade!! Logo desapareceu em meio à pequena multidão que se formava em
direção à rua principal.
Agora sua atenção foi cativada, pois este Jesus estava
convulsionando toda a cidade. Teria Ele realmente curado um cego e seria
Bartimeu que a tantos anos ficava esmolando à beira da estrada que dava entrada
à cidade? Quando se apercebeu já estava caminhando na mesma direção em que as
pessoas à sua frente e atrás estavam se dirigindo. Mesmo contrariado continuou
a caminhar. Logo se viu em meio à uma imensa multidão que formavam uma espécie
de muro intransponível, principalmente àqueles que como ele eram de estatura
menor. Mais uma vez se reprovando por estar envolvido nessa convulsão social,
pensou em retornar à sua coletoria tranquila e sossegada. Mas, ao contrário, se
viu tentando transpor o muro humano que se interpunha à sua frente. Pensou
rapidamente e visualizou as diversas ruas da cidade e suas pequenas vielas e
traçou a mais provável rota que Jesus ladeado por esta multidão deveria passar.
Contornando rapidamente a multidão encontrou uma pequena
viela que conhecia bem, pois quando queria evitar os olhares e insultos era por
ela que ele retornava para sua casa. Contendo-se para não correr caminha o mais
rápido possível pela apertada rua e ao final caminhando mais dois quarteirões
entra em outra viela quase imperceptível.
Pronto, chegara à rua principal e mais larga de Jericó.
Sê têm uma rua pela qual Jesus teria que passar seria esta. Mas a muralha
humana já se formara e muito maior do que a que tentara transpor anteriormente.
De onde ele estava, a não ser que Jesus tivesse dois ou mais metros de altura,
ele não conseguiria ver nem os cabelos dele. Um barulho misto de gritos e
palavras de ordem eclode nos portões da cidade, vindo lentamente em direção a
onde eles estavam – Jesus estava entrando na rua principal da cidade!
Irritado e quase tomado pela frustração ele levantou os
olhos e viu algumas árvores de sicômoro. Algumas já estavam ocupadas por
meninos, mais espertos do que ele. Correu até uma mais distante e rapidamente,
como fazia em sua infância, subiu pelos galhos e se posicionou de forma segura.
Sua respiração estava acelerada pela corrida e o esforço de subir na árvore.
Mas que loucura se apossou dele! Ele era um adulto, tinha uma posição social,
esposa, filhos, empregados e servos e ali estava ele – agindo como um moleque
irresponsável. Será que alguém estava observando seu comportamento infantil? Logo
se tranquilizou, pois todos os olhares estavam fixos na direção da rua em que
Jesus haveria de surgir e ninguém tinha interesse no que ele estava fazendo,
até porque todos os sicômoros estavam ocupados por aqueles que como ele desejavam
ver esse Jesus.
Enquanto está ali apoiado ao tronco e segurando firme um
galho mais grosso começa a fazer algumas conjurações: será que Ele vai para
alguma casa especifica? Conhece alguma família em Jericó? Mais provável que
esteja apenas de passagem para Jerusalém. Mas logo vai escurecer, o que Ele
pretende?
Os sons até então distantes vão aumento seus decibéis na
mesma proporção em que Jesus caminha pela rua principal. Ainda não é possível
distingui-lo dos demais, pois uma pequena comitiva caminha entre uma multidão que
se apinha sobre eles. Ele sente certa
satisfação, pois sua estratégia havia dado certo e agora somente alguns metros
separam Jesus da árvore em que ele escolheu subir. Assim que Jesus passar ele
vai descer da árvore, retornar à coletoria e ao final do dia chegará à sua casa
e contara sua aventura juvenil para surpresa e delírio de sua esposa e seus
filhos, que jamais o imaginariam capaz de tal traquinagem.
Mas de repente se faz um silêncio absoluto. Ele olha para
baixo e para seu espanto e de todos ali, Jesus está parado debaixo da árvore em
que ele havia subido. Então Jesus levantando os olhos o chama pelo nome! "Zaqueu, depressa! Desça dai, pois hoje Eu vou hospedar-Me em
sua casa!"
Por uma fração de segundo Zaqueu ficou ali, parado,
imaginando se realmente havia ouvido Jesus o chamar pelo nome ou estava
confundindo com outro nome. Mas quando o seu olhar encontra o olhar de Jesus,
toda e qualquer dúvida se dissipa! Realmente Jesus o havia identificado pelo
nome. Mas como? Ele tinha certeza absoluta que nunca haviam se encontrado!
Ainda completamente impactado por Jesus ter parado e o
chamado pelo nome, desce apressadamente da árvore e começa a caminhar à frente
de Jesus em direção à sua casa. A multidão antes intransponível, agora como o
Mar Vermelho vai se abrindo para que ele, Jesus e seus discípulos possam passar
livremente. Mais alguns metros e começa a visualizar sua casa. O que dirá à sua
esposa ao chegar com tantas pessoas completamente estranhas de uma vez e ainda
para jantarem. Chegaram!!
Vai entrando e acomodando Jesus e os discípulos o melhor
possível, enquanto a multidão vai cercando completamente sua casa. Encontra a
esposa que fica assustada com tanta movimentação súbita e resumidamente
conta-lhe o que acontecera e orienta o que ela precisa fazer. Chama seu filho
mais velho e o envia para convidar todos seus colegas da coletoria e seus
amigos publicanos para que venham à sua casa para conhecerem Jesus e jantarem
juntos.
Do lado de fora não faltavam aqueles que se
escandalizaram com o gesto amigável de Jesus. Tantas casas e homens muito mais
importantes e justos e esse Mestre vai se hospedar na casa de um publicano e
pecador como Zaqueu. Não é sem razão que as autoridades religiosas de Jerusalém
o desprezam. De fato os fariseus e escribas têm motivos de sobra para
perseguirem e criticarem os ensinos e as atitudes deste galileu. Quem pode
levar a sério uma pessoa que se associa a publicanos traidores da pátria!
Mas lá dentro da casa, Zaqueu ouve atentamente cada
palavra proferida por Jesus. De fato, como haviam dito a ele antes, nunca
ouvira alguém falar da Torá e do Reino de Deus com tanta autoridade e poder
como Jesus! Muito do que Jesus fala, ele já sabia ou tinha ouvido antes, mas
agora tudo se torna novo e vivo!
Sua esposa e demais serviçais da casa começam a servir a
refeição para todos os que ali conseguiram adentrar. Todos querem ficar o mais
próximo de Jesus possível. Ainda que feita apressadamente e em quantidade muito
acima do normal, a refeição tem um sabor especial. São os mesmos alimentos
diários que estão sendo servidos, mas a companhia de Jesus torna aquele momento
incomparável e maravilhosamente extraordinário!
As horas se passam rapidamente, mas ninguém tem coragem
de sair. Para onde mais poderiam ir? Ah! Se a ampulheta do tempo pudesse parar
esse seria o momento certo. Ou se ao menos os grãos de areia pudessem cair
infinitamente mais lento do que o normal, que maravilha seria!
Então não podendo mais ser contido o turbilhão que tomara
conta do seu interior, Zaqueu coloca-se em pé e se dirigindo a Jesus, mas
também falando de maneira que todos os presentes na casa pudessem ouvir com
clareza, faz uma declaração surpreendente: "Senhor, de agora em diante eu darei metade da minha
riqueza aos pobres e se descobrir que cobrei demais os impostos de alguém eu
pagarei uma multa devolvendo-lhe quatro vezes mais!" Um
silêncio toma conta do ambiente. Não se ouve nem mesmo uma respiração. É como
se o tempo congelasse por alguns segundos.
Então Jesus fala: "Isso mostra que hoje a salvação chegou a esta casa.
Este homem era um dos filhos perdidos de Abraão, e Eu, o Messias, vim buscar e
salvar filhos perdidos como este".
Uma explosão de jubilo de alegria ecoa por toda a casa e
estende-se para o lado de fora e logo toda a cidade de Jericó toma conhecimento
das declarações de Zaqueu, o chefe dos publicanos, e a resposta de Jesus.
Agora muitos anos depois desse acontecimento inigualável,
Zaqueu uma vez mais se vê relembrando cada detalhe daquele dia memorável. Como
acordara com aquela sensação de que o dia seria diferente. E não apenas foi
diferente como fez toda a diferença na vida de Zaqueu e sua família. E a única razão é que Jesus entrou na sua casa e na
sua vida!!
Como Zaqueu
Como Zaqueu eu
quero subir,
O mais alto
que eu puder
Só pra te ver,
olhar para Ti.
E chamar sua
atenção para mim
Eu preciso de
Ti Senhor
Eu preciso de
Ti o Pai
Sou pequeno de
mais
Me dá a tua
paz
Largo tudo pra
te seguir
Entra
na minha casa, entra na minha vida.
Mexe
com minha estrutura, sara todas as feridas.
Me
ensina a ter Santidade
Quero
amar somente a Ti
Porque
senhor é meu bem maior, faz um milagre em mim.
Compositor e Interprete: Regis Danese
Utilização
livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em
Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
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Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
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