quinta-feira, 7 de junho de 2018

Primeiro Testamento: Literatura Histórica - 1º Samuel – Contexto Histórico



            Tudo tem um começo”. Está pequena frase descreve muito bem o conteúdo do primeiro livro de Samuel. Diferentemente do que o índice da Bíblia possa indicar a monarquia de Israel não começa com as narrativas dos livros de Reis, mas seus primórdios e evolução são registrados nas páginas dos dois livros que levam o nome de Samuel. Até esse momento a organização que prevalecia era o sistema tribal onde cada uma das doze tribos tinha plena autonomia e se associavam quando surgiam ameaças externas. A figura catalizadora desse período eram os juízes que periodicamente surgiam, mas eram regionais e não deixavam sucessores. O livro recebe o nome de Samuel por que esse personagem permeia toda a narrativa. O livro se abre com as questões envolvendo o nascimento e desenvolvimento da vida de Samuel até o momento em que ele assume a função de Sacerdote, acumulando também a referência de juiz. Posteriormente, mediante pressão das lideranças tribais, vai surgir a figura do rei cujo primeiro a ser instalado, pela aclamação popular, foi Saul da tribo de Benjamim.
            Os dois livros de Samuel abrangem um longo período da história israelita: primeiro livro de Samuel registra quase um século de história, desde 1100 até 1011 AC, tendo as figuras de Samuel e Saul se destacando; o segundo livro de Samuel resumem quarenta anos de história, ou seja, de 1011 até 971 AC, e a proeminência esta na figura de Davi, desde sua infância, sua ascensão ao trono israelita e a consolidação da monarquia e estabelecimento da dinastia davídica, que posteriormente se tornará a dinastia messiânica, que se constituirá no ponto central da mensagem profética preservada na bíblia hebraica e depois inserida na bíblia cristã.
Contexto Histórico
O período de 1200 a 900 AC foi de desassossego nacional e controvérsia política. Há ressonâncias desse longo período nas literaturas históricas de Heródoto, Beroto, Josefo e posteriormente Eusébio. Desta forma, na conjunção destes registros históricos e as descobertas arqueológicas novas informações vão surgindo e afirmando e esclarecendo nosso conhecimento do período durante o qual ocorreram os acontecimentos de 1 e 2 Samuel.
Este período de desassossego, agitação e transição inicia-se com as migrações dos povos do mar que, direta ou indiretamente, afetaram todo o antigo Oriente. As conjunções políticas-econômicas-bélicas nos grandes impérios ao derredor de Canãa estavam passando por um período de convulsões e declínio. Neste período de Samuel governavam o Egito os sacerdotes da XX dinastia e os governantes faraós da XXI dinastia, cujos reinados se caracterizaram por debilidade, decadência e desunião nacionais. A Assíria e a Babilônia igualmente experimentavam suas convulsões: a debilidade interna e as invasões do exterior estavam à ordem do dia.
Desta forma a influência política do Egito e da Síria sobre a região de Canaã era inexistente nestas circunstâncias.  As migrações dos povos do mar e dos aramaicos se acrescentaram às dificuldades internas, e mantiveram a situação política internacional em todo o antigo Oriente em permanente estado de alerta durante quase dois séculos.
Dentro deste quadro de calmaria em toda região canaanita/palestino as tribos israelitas puderam consolidar seus territórios conquistados desde os dias de Josué. Agora aproveitando este período de plena autonomia e cansados das incursões dos povos fronteiriços, como os filisteus, amalequitas, edomitas, medianitas e amonitas, de modo que eles começam a pressionar o envelhecido juiz-profeta-sacerdote Samuel para estabelecer um sistema monárquico.
Aproveitando esse período de debilidade dos grandes impérios os primeiros reis de Israel foram reconquistando os territórios invadidos e submetendo seus vizinhos e nos governos de Davi e Salomão as fronteiras de Israel alcançaram sua maior extensão.
Ao introduzi-los na terra de Canaã ficou ordenado que em todas as tribos deveriam serem estabelecidas cidades para os levitas, que ficaram sem uma região especifica, para que pudessem instruir o povo quanto à Lei de Deus. Mas as narrativas no livro de Juízes deixam claro que os descendentes de Moisés-Josué pouca ou nenhuma atenção deram às palavras de Deus (qualquer semelhança com o evangelicalismo atual não é mera coincidência).  Muitas tribos não estabeleceram cidade para os levitas e foram se amalgamando com remanescentes dos povos canaanitas que não foram expulsos de seus territórios. A maior ironia é o caso de Jonatas, neto de Moisés (Jz 18.30) foi morar na casa de Mica o efraimitas (Jz 17.5) e chegou a ser sacerdote para a “casa dos desuses” de Mica e depois rouba as imagens e se refugia na tribo de Dã para ser ali sacerdote (Jz 18). Estabelece-se então o ditado “cada um fazia o que bem lhe parecia" e um circulo vicioso de afastamento, arrependimento e retorno a Deus, que permanece até os dias de Samuel, o último dos juízes.
A partir de Samuel este nefasto circulo é rompido. O jovem Samuel assume após a morte do velho sacerdote Eli, cujos filhos eram decadentes e acabaram morrendo em uma batalha mal sucedida.
O jovem sacerdote torna-se itinerante e de tribo em tribo foi resgatando os princípios da Lei de Moisés. Como não poderia estar em vários lugares ao mesmo tempo ele começa a estabelecer “escolas” onde jovens eram recebidos para aprenderem a ler e interpretar as Leis, a música e a preservarem a história religiosa. Estabelece uma em Ramá seu lar paternal (1Sm 19.19-24), mais tarde surgiram uma Gilgal (2Rs 4.38) e outra em Betel (2Rs 2.3) e Jericó (2Rs 2.15-22), essas três últimas  funcionavam nos dias dos profetas Elias e Eliseu. A expressão "escolas dos profetas" não aparece na literatura do Primeiro Testamento, mas os jovens que ali estudavam eram chamados "filhos dos profetas".  Dedicavam-se ao serviço de Deus e alguns deles serviam como conselheiros do rei.
Esboço (1 Samuel 1.1-2.11)
História de Samuel
v  Nascimento e Preparação Inicial (1.1-2.11)
o   Elcana e Ana (1.1-8)
o   Oração de Ana (1.9-18)
o   Nascimento de Samuel e sua consagração (1.19-28)
o   Cântico de Ana (2.11)

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
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Referências Bibliográficas
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