“Tudo tem um começo”. Está pequena frase descreve muito bem o
conteúdo do primeiro livro de Samuel. Diferentemente do que o índice da Bíblia
possa indicar a monarquia de Israel não começa com as narrativas dos livros de
Reis, mas seus primórdios e evolução são registrados nas páginas dos dois
livros que levam o nome de Samuel. Até esse momento a organização que
prevalecia era o sistema tribal onde cada uma das doze tribos tinha plena
autonomia e se associavam quando surgiam ameaças externas. A figura
catalizadora desse período eram os juízes que periodicamente surgiam, mas eram
regionais e não deixavam sucessores. O livro recebe o nome de Samuel por que
esse personagem permeia toda a narrativa. O livro se abre com as questões
envolvendo o nascimento e desenvolvimento da vida de Samuel até o momento em
que ele assume a função de Sacerdote, acumulando também a referência de juiz.
Posteriormente, mediante pressão das lideranças tribais, vai surgir a figura do
rei cujo primeiro a ser instalado, pela aclamação popular, foi Saul da tribo de
Benjamim.
Os dois livros de Samuel abrangem um
longo período da história israelita: primeiro livro de Samuel registra quase um
século de história, desde 1100 até 1011 AC, tendo as figuras de Samuel e Saul
se destacando; o segundo livro de Samuel resumem quarenta anos de história, ou
seja, de 1011 até 971 AC, e a proeminência esta na figura de Davi, desde sua
infância, sua ascensão ao trono israelita e a consolidação da monarquia e
estabelecimento da dinastia davídica, que posteriormente se tornará a dinastia
messiânica, que se constituirá no ponto central da mensagem profética
preservada na bíblia hebraica e depois inserida na bíblia cristã.
Contexto Histórico
O período de 1200 a 900 AC foi de desassossego nacional e
controvérsia política. Há ressonâncias desse longo período nas literaturas
históricas de Heródoto, Beroto, Josefo e posteriormente Eusébio. Desta forma,
na conjunção destes registros históricos e as descobertas arqueológicas novas
informações vão surgindo e afirmando e esclarecendo nosso conhecimento do
período durante o qual ocorreram os acontecimentos de 1 e 2 Samuel.
Este período de desassossego, agitação e transição inicia-se com
as migrações dos povos do mar que, direta ou indiretamente, afetaram todo o
antigo Oriente. As conjunções políticas-econômicas-bélicas nos grandes impérios
ao derredor de Canãa estavam passando por um período de convulsões e declínio.
Neste período de Samuel governavam o Egito os sacerdotes da XX dinastia e os governantes
faraós da XXI dinastia, cujos reinados se caracterizaram por debilidade,
decadência e desunião nacionais. A Assíria e a Babilônia igualmente
experimentavam suas convulsões: a debilidade interna e as invasões do exterior
estavam à ordem do dia.
Desta forma a influência política do Egito e da Síria sobre a
região de Canaã era inexistente nestas circunstâncias. As migrações dos povos do mar e dos aramaicos
se acrescentaram às dificuldades internas, e mantiveram a situação política
internacional em todo o antigo Oriente em permanente estado de alerta durante
quase dois séculos.
Dentro deste quadro de calmaria em toda região canaanita/palestino
as tribos israelitas puderam consolidar seus territórios conquistados desde os
dias de Josué. Agora aproveitando este período de plena autonomia e cansados
das incursões dos povos fronteiriços, como os filisteus, amalequitas, edomitas,
medianitas e amonitas, de modo que eles começam a pressionar o envelhecido
juiz-profeta-sacerdote Samuel para estabelecer um sistema monárquico.
Aproveitando esse período de debilidade dos grandes impérios os
primeiros reis de Israel foram reconquistando os territórios invadidos e
submetendo seus vizinhos e nos governos de Davi e Salomão as fronteiras de
Israel alcançaram sua maior extensão.
Ao introduzi-los na terra de Canaã ficou ordenado que em todas as
tribos deveriam serem estabelecidas cidades para os levitas, que ficaram sem
uma região especifica, para que pudessem instruir o povo quanto à Lei de Deus. Mas
as narrativas no livro de Juízes deixam claro que os descendentes de
Moisés-Josué pouca ou nenhuma atenção deram às palavras de Deus (qualquer
semelhança com o evangelicalismo atual não é mera coincidência). Muitas tribos não estabeleceram cidade para
os levitas e foram se amalgamando com remanescentes dos povos canaanitas que
não foram expulsos de seus territórios. A maior ironia é o caso de Jonatas,
neto de Moisés (Jz 18.30) foi morar na casa de Mica o efraimitas (Jz 17.5) e
chegou a ser sacerdote para a “casa dos desuses” de Mica e depois rouba as
imagens e se refugia na tribo de Dã para ser ali sacerdote (Jz 18).
Estabelece-se então o ditado “cada um fazia o que bem lhe parecia" e um
circulo vicioso de afastamento, arrependimento e retorno a Deus, que permanece
até os dias de Samuel, o último dos juízes.
A partir de Samuel este nefasto circulo é rompido. O jovem Samuel
assume após a morte do velho sacerdote Eli, cujos filhos eram decadentes e
acabaram morrendo em uma batalha mal sucedida.
O jovem sacerdote torna-se itinerante e de tribo em tribo foi
resgatando os princípios da Lei de Moisés. Como não poderia estar em vários
lugares ao mesmo tempo ele começa a estabelecer “escolas” onde jovens eram recebidos para aprenderem a ler e interpretar
as Leis, a música e a preservarem a história religiosa. Estabelece uma em Ramá
seu lar paternal (1Sm 19.19-24), mais tarde surgiram uma Gilgal (2Rs 4.38) e
outra em Betel (2Rs 2.3) e Jericó (2Rs 2.15-22), essas três últimas funcionavam nos dias dos profetas Elias e
Eliseu. A expressão "escolas dos
profetas" não aparece na literatura do Primeiro Testamento, mas os
jovens que ali estudavam eram chamados "filhos dos profetas".
Dedicavam-se ao serviço de Deus e alguns deles serviam como conselheiros
do rei.
Esboço (1 Samuel 1.1-2.11)
História de Samuel
v
Nascimento e Preparação Inicial (1.1-2.11)
o
Elcana e Ana (1.1-8)
o
Oração de Ana (1.9-18)
o
Nascimento de Samuel e sua consagração (1.19-28)
o
Cântico de Ana (2.11)
Utilização livre desde que citando a
fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http.//historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
Artigos Relacionados
Josué: Introdução Geral
Juízes: Introdução Geral
Rute: Sumário e Reflexão (Capítulo 1)
Primeiro Samuel. Introdução Geral
Referências Bibliográficas
BALANCIN,
Euclides Martins. História do Povo de Deus. São Paulo. Paulus,
1989.
BAXTER, J.
Sidlow. Examinai as Escrituras – Juízes a Ester, ed. Vida Nova, São
Paulo, 1993.
BRIGTH,
Jonh. História de Israel. 7ª. ed. São Paulo. Paulus, 2003.
CASTEL,
Francois. Historia de Israel y de Judá. Desde los orígenes
hasta el siglo II d.C. Estella. Editorial Verbo Divio, 1998.
CHAMPLIN,
Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. São
Paulo. Hagnos, 2006, 8ª ed.
DOUGLAS, J.
D. O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo. Vida Nova, 1995.
DRANE, John
(Org.) Enciclopédia da Bíblia. Tradução Barbara Theoto
Lambert. São Paulo. Edições Paulinas e Edições Loyola, 2009.
FOHRER,
Georg. História da religião de Israel. Tradução de Josué
Xavier; Revisão de João Bosco de Lavor Medeiros. São Paulo. Edições Paulinas,
1982.
FRANCISCO,
Clyde T. Introdução ao Primeiro Testamento. Rio de
Janeiro. JUERP, 1969.
GARDNER, Paul (Editor). Quem é quem na bíblia sagrada – a
história de todos os personagens da bíblia. Tradução de Josué Ribeiro.
São Paulo. Vida, 1999.
Halley, H. Manual Bíblico. São Paulo. Sociedade
Religiosa Edições Nova Vida, 1983.
HOFF, Paul. Os livros históricos. São Paulo.
Vida, 1996.
TENNEY, Merrill C. (Org.). Enciclopédia da Bíblia. São
Paulo. Cultura Cristã, 2008.
Nenhum comentário:
Postar um comentário