terça-feira, 28 de dezembro de 2021

Natividade o Ano Inteiro: Quando o Natal Parou a Guerra Mundial

 


            Toda semana postarei um artigo sobre o Natal, pois ele não deve ser comemorado apenas uma única vez no ano, mas deve ser celebrado durante o transcorrer do ano todo. Natal é mais do que festas e luzes, é o espírito do Evangelho que deve permear toda a nossa vida, nossas ações e reações. Jesus Cristo nasceu, viveu, morreu e ressuscitou e continua vivo, portanto o Natal é a vivência de Jesus em cada cristão, todos os dias em todo o Mundo.

 

Há atos de bondade não planejada que rompem o zumbido da existência cotidiana e brilham um novo senso de luz. Infundidos com graça, esses dons inesperados têm o poder de mudar o curso do dia de alguém ou até mesmo se tornar um momento de vida, um exemplo para as gerações futuras. Um desses eventos, descrito em um documentário da BBC1 por aqueles que viveram por ela, tinha o poder de potencialmente parar a Primeira Guerra Mundial em 24 de dezembro de 1914.

A PROPAGANDA DA EUROPA OCIDENTAL PROMETEU AOS DOIS LADOS QUE O INIMIGO SERIA DERROTADO E QUE AS TROPAS ESTARIAM EM CASA ANTES DO NATAL.

Era o fim da "Belle Époque", um período de prosperidade e instabilidade. A Europa estava se expandindo, um fervor patriótico inflamava seus cidadãos, enquanto a divisão entre ricos e pobres aumentava. Imagens dos tempos que antecederam o início das hostilidades mostram a juventude jovial em uniformes imaculados com o brilho da conquista futura em seus olhos. Parece que uma vitória rápida decisiva era inevitável — a mídia a promoveu, os governos prometeram, e o alto comando militar garantiu isso.2

A realidade era bem diferente. Na Frente Ocidental, o exército alemão marchou pela Bélgica neutra e empurrou a 120 km de Paris. As forças aliadas exploraram um ponto fraco nas linhas alemãs e trouxeram a batalha de volta para a área Alsaciana e Lorena, enquanto uma corrida para o mar desenhava uma nova linha de batalha através da Bélgica. Os combates se intensificaram quando os dois exércitos opostos cavaram e fizeram trincheiras que permaneceriam até o fim  da guerra.

Em dezembro de 1914, a conversa de uma vitória instantânea valente foi esmagada sob a notícia de um terrível número de mortes devido a novas tecnologias. Testemunhos de crimes de guerra provenientes dos civis capturados em zonas de guerra e aldeias desaparecendo sob os escombros.3

O Papa tentou convocar um cessar-fogo para as festas, na esperança de apelar para a herança cristã de ambos os lados. A notícia circulou para as tropas da frente, mas nenhum dos altos comandos estava disposto a considerá-lo.

A amargura da guerra já tinha afundado no coração dos inimigos entrincheirados. Os combates continuaram até a noite de 24 de dezembro.

Testemunhas falam de uma leve queda de neve naquela noite. Um profundo desespero e frio de viver com o joelho na lama, lutando para manter suas rações longe dos ratos, enquanto eles estavam amontoados no chão quando o natal chegou.

FOI QUANDO ALGO EXTRAORDINÁRIO ACONTECEU QUE NUNCA SE REPETIU, PELO MENOS NÃO DA MESMA FORMA, NEM NA MESMA ESCALA.

No norte de Ypres [cidade da Bélgica] naquela noite, os soldados britânicos ouviram enquanto o bombardeio era substituído por um coro de "O Tannenbaum [alemão: Ó árvore de natal]".  A surpresa inesperada foi notável o suficiente para eles responderem com "the first claus – o primeiro natal", e então os dois exércitos opostos se uniram cantando, "O Come All Ye Faithful - Ó Venham Todos Fiéis".4

No sul da França, o exército francês silenciou ao som dos alemães cantando "Noite Silenciosa". Para não serem superados, eles se uniram, cada exército cantando em suas respectivas línguas.5 Em alguns lugares, a Grande Guerra se enfureceu, mas por toda a Fronte Ocidental, um movimento espontâneo de paz foi observado enquanto as tropas celebravam juntos o nascimento do Salvador, mesmo que de dentro de suas trincheiras.

Ninguém teria sido surpreendido por um retorno às hostilidades no dia seguinte. Na verdade, esse foi o caso de muitos naquele dia de Natal. O alto comando de ambos os lados não aprovaria a vigília improvisada das noites. No entanto, em um dia sem as tecnologias de comunicação instantânea que mais tarde ajudariam a controlar exércitos, havia um pouco mais de margem de manobra para ser humano.

Naquele dia, os alemães colocaram pequenas árvores de Natal em suas trincheiras. Soldados ingleses surpresos tiraram fotos que podem ser encontradas hoje por uma simples pesquisa no Google. Mas a boa vontade não parou por aí.

NUMEROSAS TESTEMUNHAS FALAM DO INIMAGINÁVEL.

Alemães saindo das trincheiras com bandeiras brancas, encontrando o inimigo no meio, na Terra de Ninguém. Eles não vieram para lutar. Eles apertaram as mãos do inimigo. Eles providenciaram para que os mortos fossem enterrados. Eles realizavam os serviços de Natal.

A confraternização foi mais longe. Inimigos falavam de famílias esperando em casa, trocavam Conhaque, Charutos, Chocolate e outras iguarias. Havia partidas de futebol documentadas por fotografias enviadas para casa em muitas das cartas de soldados espantados. Em alguns lugares, a trégua não oficial durou até o Ano Novo.6

Quando as autoridades de ambos os lados ouviram sobre a Trégua de Natal, ficaram furiosas. A notícia que chegava em casa estava limitada ao melhor de suas habilidades. As máquinas de propaganda precisavam virar e manter a aprovação pública do esforço de guerra. Fotografias e cartas foram destruídas. Um aviso foi emitido aos soldados de ambos os lados que uma confraternização com o inimigo terminaria em acusações de traição. Ambos os lados dobraram os esforços nos anos seguintes para garantir que isso nunca mais acontecesse.7

É DE SE PERGUNTAR O QUE TERIA ACONTECIDO SE O MOVIMENTO SE ESPALHASSE.

E se a razão regressasse e a paz de Cristo encarnada no nosso mundo se transformasse em mais do que uma simples trégua? O Natal é uma época em que muitos procuram a paz, mas nem todos a encontram. As estatísticas de hoje falam de depressão, suicídio e violência avassaladora. Mas e se pudesse haver paz? É suficiente para me fazer pensar nos conflitos dentro da nossa sociedade e nas nossas relações pessoais. Pergunto-me se o Evangelho não poderia ser aplicado para trazer paz às nossas vidas ao baixarmos as nossas armas, as nossas respostas, o nosso orgulho, ao pararmos por um momento para recordar Aquele que se tornou um homem para nos tirar o nosso pecado. O nosso Alto Comando, contudo, não nos pedirá para pegarmos nas nossas armas no dia seguinte. Será que Ele nem sequer nos pedirá que façamos mais do que concordar com uma Trégua de Natal? A hipótese é - Ele chamar-nos-ia para viver em Sua paz.

[Tradução Livre]

Texto Original: Christmas Truce:  The Day World I Stopped - by Mike Dente  Dec 13, 2020 (Calvary Chapel | Christmas Truce: The Day World War I Stopped)

Veja um pequeno vídeo que registra este momento único na História das Guerras (https://youtu.be/ItweDHL0OVw).

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segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Personagens Bíblicos: Quem Foi Abisague?

 

A história de um velho rei e uma bela jovem solteira. Abisague é um personagem bíblico silencioso envolvido na história da luta pelo poder entre os filhos do rei Davi imediatamente antes e depois da morte de Davi. Não se sabe muito sobre ela, sua idade, sua família e o que ela fez enquanto viveu no palácio real com Davi. Seu nome é encontrado também com a grafia de Abisag, (do hebraico אֲבִישַׁג [Avishag], que significa “meu pai é um nômade”.) sendo natural da cidade de Suném e sua história é narrada no Primeiro Livro dos Reis. Todavia, há poucos detalhes sobre sua participação na trama histórica da sucessão do trono de Davi em que foi envolvida.

A história bíblica não e ficcional, mas esta estabelecida em fatos reais. Davi não foi um super-homem, mas uma pessoa que além de rei teve que enfrentar uma série de problemáticas de ordem pessoal e familiar. A jovem Abisague é inserida nessa história no transcorrer dos últimos dias da vida de Davi, agora com idade avançada e com problemas de saúde. Na medida em que o tempo vai passando Davi tem abrir mão de várias atividades reais, incluindo de liderar o exercito quando em guerra. Desta forma cria-se uma situação muito delicada e explosiva – quem vai sucedê-lo no trono e dois nomes estão na disputa, nos bastidores palacianos.  

A jovem de Suném

            É neste momento de muita pressão politica que entra em cena, ou melhor, é trazida à cena, uma jovem de nome Abisague, do vilarejo de Suném, ao norte de Jezreel e do monte Gilboa, no território de Issacar. (Josué 19.17-23), que foi o local onde os filisteus acamparam antes da batalha contra o rei Saul em Gilboa. Dois termos são utilizados para identificar a jovem e sua condição como mulher - na'arāh, uma palavra hebraica que indica uma jovem em idade de casar e o outro termo é betûlāh, que indica que além de jovem e solteira não havia ainda tido relações sexuais (virgem). É descrita também como sendo de beleza encantadora. A narrativa bíblica se cala em declarar se ela se tornou uma das esposas e/ou concubina do rei, mas que ela viveu os dias agitados do final do reinado de Davi, com todas as suas tramas e reviravoltas da sucessão do trono.

            Na medida em que essa jovem interiorana vai convivendo na intimidade cotidiana do rei ela passa a ser vista como alguém que possa fazer pender a balança da sucessão entre Salomão e seu meio irmão Adonias. Enquanto Davi estava vivo ela tem uma participação mais ativa, e mesmo após a morte do rei ela continua participando do drama sucessório, pois o jogo político sempre foi cruel e sanguinário.  

Abisague e Davi

Como mencionado acima à participação dessa jovem na história bíblica se passa durante os dias finais do reinado de Davi. Ele havia assumido o trono, após a morte do rei Saul, com aproximadamente trinta anos reinou sobre a nação israelita por quarenta anos (2Samuel 5.4), de maneira que o rei estava com aproximadamente setenta anos. Davi exerceu um papel fundamental não apenas na estabilidade do reino, mas também em sua expansão territorial, com suas sucessivas vitórias contra seus inimigos. Essa inteligência e força física, que tanto lhe ajudaram, agora com a chegada da velhice, começam a declinar rapidamente.

A preocupação com as condições declinantes de Davi fica evidente no fato de que seus liderados e que perfaziam a guarda pessoal do rei, lhe recomendaram que não se fizesse mais presente em meio às batalhas, visto que na última o rei havia quase havia sido morto, por um guerreiro chamado Isbibenob, descendente dos gigantes. Mas no momento derradeiro Abisai, um de seus comandantes, veio em seu socorro e venceram o inimigo. Após esse incidente eles disseram literalmente a Davi: “Nunca mais sairás conosco à batalha, para que a lâmpada de Israel não se apague” (2Samuel 21.17). Eles estavam preocupados com seu bem-estar e temiam que ele pudesse ser morto em batalha.

            Com o passar dos anos o corpo de Davi perdeu a capacidade de se aquecer, mesmo quando bem agasalhado (1Reis 1.1), provavelmente alguma enfermidade relacionada à circulação sanguínea ou alguma outra não identificada. Com o rigor do frio no inverno isso se tornou um problema, pois poderia evoluir para uma pneumonia.

            Diante desse quadro declinante das condições de saúde do rei chegou-se à conclusão de que uma medida precisa ser tomada. Então o procuraram e disseram: “É preciso encontrar uma jovem virgem para nosso amo, o rei, para cuidar das necessidades do rei e servir como sua ama. Ela também pode dormir com você e manter nosso mestre, o rei, aquecido” (1 Reis 1.2).

            Esse pequeno texto é um prato cheio para os futriqueiros de textos bíblicos de plantão. O historiador está registrando os fatos como aconteceram e seguindo costumes que vigoravam naqueles dias e que hoje não são mais aprováveis. A expressão “não a conhecia”, para alguns interpretes significa que a jovem não foi inserida entre as concubinas do rei e, portanto, não implica no fato de que Davi estivesse com problemas de impotência sexual. Para eles Abisague não foi trazida para o palácio para ter relações sexuais com o rei Davi.

            É preciso esclarecer que está questão sexual do rei não era apenas em relação ao prazer dele, mas estava ligado também à sua capacidade viril ou sua força física (GRAY 1970, p. 77). Sendo assim ao trazerem a jovem para as dependências do palácio colocava-se em xeque a capacidade viril do rei. Desta forma a expressão “não a conhecia” toma uma conotação sexual de impotência. A conclusão óbvia é de que o rei não tinha mais condições físicas para exercer suas funções reais e precisava-se estabelecer um sucessor. Quaisquer outras discussões do texto são meras especulações, que em muitas das vezes servem apenas para depreciar a narrativa bíblica. A partir deste ponto a presença de Abisague torna-se uma questão politica explosiva.  

Abisague e Adonias

            O contexto é a disputa pela sucessão do trono entre Salomão (filho de Bete-Seba) e seu meio-irmão Adonias (filho de sua quarta esposa, Hagite). Na lógica de Adonias, com as mortes de seus outros irmãos Amom e Absalão, e provavelmente Quileabe, ele torna-se o próximo na sucessão ao trono, de maneira que começa a mexer as peças do tabuleiro sucessório, fazendo uma reunião com líderes militares e religiosos onde se declara como o sucessor imediato ao trono (1Reis 1.5), pois imaginava que a morte de Davi era eminente. Nesse comportamento ele se assemelha ao seu outro meio irmão Absalão, que acabou tendo um fim trágico. Mas os planos de Adonias foram frustrados, pois Davi sendo influenciado por Bete-Seba e o velho profeta Natã antecipa o processo sucessório e declara Salomão como o novo rei. O texto diz explicitamente que a jovem Abisague está presente na sala quando Bate-Seba e Davi conversam sobre a sucessão ao trono e, portanto, torna-se testemunha da decisão do rei.

            Mas Adonias era persistente em sua sanha ao poder e após os cerimoniais e posse de Salomão, ele investe agora na rainha mãe Bate-Seba. Em sua audiência ele faz um pedido aparentemente inocente: “Você sabe que o reinado ia tornar-se meu e que foi em mim que todo o Israel fixou a sua face para eu me tornar rei; porém, o reino mudou e passou a ser de meu irmão, pois era dele da parte do Senhor. E agora tenho um pedido a fazer a você; não me recuse”. E continuou ele: “Por favor, peça ao rei Salomão - ele não recusará - que me dê Abisague, a sunamita, como minha esposa”. Bate-Seba disse: 'Muito bem; Falarei ao rei em seu nome '”(1 Reis 2.13–18).

            Mas as reais intenções de Adonias era utilizar-se desse casamento para tomar o trono. Adonias não havia engolido o fato de Davi ter nomeado Salomão como rei. O pedido de Adonias tinha dupla intensão: reivindicar o trono e expor a rainha mãe como traidora. Ele não estava sozinho nesse plano, pois tinha dois aliados de peso - Abiatar (sacerdote) e por Joabe, filho de Zeruia - irmã de Davi, o principal comandante do exército de Davi ao longo de seu reinado (1Crônicas 2.15-16), e irmão de Abisai e Asael (2Samuel 2.18) igualmente comandantes do exército do rei Davi”. (1Reis 2.22). Portanto, Adonias tinha apoio religioso e militar. Mas não teve apoio de outras lideranças influentes junto a Davi como o sumo sacerdote Zadoque, o profeta Natã, de Simei, Reí e dos valentes de Davi, que sempre estiveram ao lado do rei e viam em Salomão uma melhor solução para o reino.

            Entretanto, o jogo de Adonias vai acabar mal para ele. Bete-Seba coloca diante de Salomão o pedido de Adonias, mas ela faz questão de fazê-lo em um lugar público, na sala do trono, na frente de testemunhas. E Salomão reage da única maneira possível para salvar seu governo. Salomão tinha consciência dos movimentos políticos de seu meio-irmão e conhecia bem seu caráter e ambições. Embora Davi não tenha tido relações com ela, Abisague era considerada sua concubina e, segundo os costumes da época, ela seria propriedade apenas do herdeiro legal de Davi. Portanto, Salomão sabe que no pedido de Adonias se esconde sua reivindicação ao trono e que essa situação permaneceria enquanto vivesse. A decisão de Salomão é radical – cortar o mal pela raiz: “E agora eu juro pelo nome do Senhor, que me estabeleceu no trono de meu pai Davi, e, conforme prometeu, fundou uma dinastia para mim, que hoje mesmo Adonias será morto! (1Reis 2.24-25).

Conclusão

O relato envolvendo a jovem Abisague reflete o contexto da vida das mulheres naqueles tempos. Abisague fora tirada da casa de seus pais e se viu morando no palácio real com todas as suas tensões. Seus sonhos e planos foram mudados radicalmente. Nós não ouvimos a voz dela em nenhum momento, pois as decisões que a envolviam eram sempre decidido por outras vozes, predominantemente masculinas, ainda que certamente Bete-Seba tenha aconselhado ela em algum momento, como sendo uma mulher mais velha e experiente do jogo politico palaciana.

Fazer de Abisague um objeto sexual para um rei velho é empobrecer demais a narrativa histórica e desfigurar completamente o caráter dessa jovem, cujo texto não deixa transparecer qualquer atitude moral ou ética negativa por parte dela. Ela soube se equilibrar em meio a um período extremamente delicado e tenso dos bastidores palaciano. Ela havia sido trazida para ajudar Davi a manter o controle do trono, mas as condições físicas dele estavam além de sua ajuda.  

Assim como Abisague podemos ser envolvidos em muitas circunstâncias das quais nós não temos o mínimo controle. Quando isso acontece devemos nos manter sóbrios, prudentes e orarmos para que Deus nos dê sempre discernimento do nosso papel a ser desempenhado. A narrativa bíblica não nos informa o que aconteceu com ela, mas também não diz que ela sofreu qualquer consequência das tramas orquestradas por Adonias. 

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
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Historiologia Protestante

 

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Referências Bibliográficas
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GRAY, John. I & II Kings: A Commentary. Louisville: Westminster John Knox Press, 1970.
DOUGLAS, J. D. O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo. Vida Nova, 1995.
HOFF, Paul. O Pentateuco. São Paulo: Editora Vida, 1995.
NELSON, Richard D. First and Second Kings. Louisville: Westminster John Knox Press, 1987.
SCHEARING, Linda S. “Abisague (Pessoa),” The Anchor Yale Bible Dictionary. Nova York: Doubleday, 1992.
TENNEY, Merrill C. (Org.). Enciclopédia da Bíblia. São Paulo. Cultura Cristã, 2008.
ZADOFF, Efraim. Enciclopedia de la historia y la cultura del pueblo judío. E.D.Z. Nativ Ediciones, 2009.

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sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Vocabulário Bíblico Teológico: Perseverança (ὑπομονή)

 


A palavra em si (ὑπομονή) é encontrada apenas uma vez no Novo Testamento (Ef 6.18) e esta relacionada diretamente à determinação de orar sem se descuidar:  "Ore o tempo todo no Espírito, com toda oração e súplica. Para isso, fique atento com toda perseverança, fazendo súplica por todos os santos"(Ef 6.18).

Mas o termo é muito rico na teologia e possui uma longa história nos debates teológicos da Igreja Cristã. O conceito de que todo genuíno crente haverá de perseverar até o fim, ou seja, cruzará vitorioso alinha de chegada para adentrar à vida eterna permeia os relatos bíblicos: Jesus dá garantias de que cada uma de suas ovelhas permaneceram: "Meu Pai, que os deu, é maior do que tudo, e ninguém é capaz de arrancá-los da mão do Pai" (João 10.29), nada e ninguém pode impedir que um salvo se perca;  o apóstolo Paulo escrevendo sobre o chamado de Deus para a salvação declara: "os dons e o chamado de Deus são irrevogáveis" (Rm 11.29), jamais será mudado; assim também o fez em sua epistola anterior aos filipenses: "Tenho certeza de que aquele que começou um bom trabalho em você vai trazê-lo à conclusão no dia de Jesus Cristo" (Fp 1.6; cf. 2 Ts 3.3; 2Tm 1.12; 4.18), o Espírito Santo inicia e conclui o processo da Salvação. É a partir deste contexto das Escrituras que a teologia reformada defende com veemência que uma pessoa "uma vez salva, permanecera salva"; de maneira que aqueles a quem Deus elegeu/escolheu, que foram redimidos no sacrifício de Cristo no calvário e que foram selados com o Espírito Santo, efetivamente perseverará até o fim.

Desta forma, a perseverança do crente está intimamente relacionada com a eleição e a predestinação. Mas em qualquer pensamento teológico onde o ser humano tem participação efetiva no processo da salvação o conceito de perseverança acaba sendo diluído e torna-se imperceptível.

Evidentemente que a perseverança, como todo o processo da redenção é uma ação graciosa de Deus, e não apenas um esforço humano, pois o Espírito Santo efetua a conversão e permanentemente mantém a fé salvadora até o final definitivo na glorificação. Desta forma o crente persevera até o fim porque ele é mantido pelo próprio Deus que o salva, de maneira que unicamente a Deus se deve toda honra e toda glória.

Os críticos deste pensamento teológico buscam em alguns textos um argumento contraditório. O escritor de Hebreus parece indicar que uma pessoa, mesmo depois de seu novo nascimento, pode apostatar e virar as costas para Deus e sua salvação: “Pois é impossível restaurar novamente o arrependimento daqueles que já foram iluminados, que provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo, e provaram a bondade da palavra de Deus e os poderes da época vindoura, se então cometerem apostasia, uma vez que crucificam o Filho de Deus por conta própria e o expõem ao desprezo” (Hb 6.4-6); ainda em outro momento o escritor bíblico declara: “Pois se pecarmos deliberadamente após recebermos o conhecimento da verdade, não resta mais um sacrifício pelos pecados, mas uma perspectiva temerosa de julgamento, e uma fúria de fogo que consumirá os adversários” (Hb 10.26, 27).

É preciso, portanto, examinar com muito cuidado as afirmações contidas em Hebreus, pois elas precisam estar em harmonia com o que Jesus afirmou e foi registrado por João, conforme acima citado. Uma regra áurea da boa hermenêutica é de que se dois textos bíblicos estão aparentemente se contradizendo ou estamos interpretando um dos textos equivocadamente ou estamos interpretando ambos os textos erroneamente.

Há dois aspectos aqui que precisam serem levantados: 1) a pessoa que caiu não experimentou de fato uma genuína conversão (novo nascimento), o que é possível e ocorre com frequência; 2) e que todo aquele que verdadeiramente “nasceu de novo”, deve produzir os resultados efetivos desta nova vida em Cristo. Spurgeon caminhava na calçada com um conhecido, quando se depararam com um homem embriagado caído à calçada. Imediatamente o acompanhante disse: eis aí um dos membros de sua igreja! Ao que Spurgeon tranquilamente respondeu: de fato ele é um membro de minha igreja, porque se fosse membro da igreja de Cristo, jamais estaria nestas terríveis condições.

Não é a perseverança que resulta em fé, mas a fé é que produz a perseverança. Deus exige dos cristãos não apenas que eles creiam no evangelho, mas também que eles perseveram em viver em conformidade com o evangelho, independentemente das dificuldades que encontram, pois, a perseverança é a prova da autenticidade da fé e leva à maturidade espiritual. Todo aquele que foi regenerado haverá de produzir frutos dignos desta nova vida.

Desta forma, todo genuíno crente, mesmo diante de suas próprias limitações, persevera diária e conscientemente em viver de forma agradável a Deus e de realizar a vontade de seu Salvador e Senhor. Ainda que como Davi, Pedro e tantos outros, venhamos a cair ou ainda que a nossa velha natureza se manifeste com mais frequência do que desejamos, e venhamos a clamar como Paulo “miserável homem que sou”, isso não caracteriza apostasia. Nos cento e cinquenta salmos abundam as orações para que Deus em sua misericórdia perdoe os pecados praticados e firme os passos para que não venha a desviar-se da Torah, as preciosas instruções de Deus. E não em poucas ocasiões o salmista está vendo a morte diante de seus olhos.

A perseverança é uma das virtudes mais lindas e extraordinárias da vida cristã, pois ela é a força motriz do espírito humano que nos impulsiona à prática diária das demais virtudes espirituais e morais. É o adorno de toda a vida virtuosa. Quando Paulo exorta – nunca deixe de fazer o bem – o que é bom, benéfico que abençoa a vida de outras pessoas, isso exige por parte deste cristão – perseverança. É a perseverança que distingui o cristão maduro do cristão imaturo e essa maturidade somente é possível na vida daqueles que perseveram, mesmo diante das contrariedades e adversidades da vida. Nas orientações finais de sua segunda carta aos crentes em Corinto o apostolo declara: "Seja firme e inabalável [perseverante], sempre abundando na obra do Senhor, sabendo que seu trabalho não é em vão no Senhor" (1Co 15.58).

A razão pela qual Paulo e Barnabé não fizeram a segunda viagem missionária juntos foi o jovem João Marcos. Antes mesmo da metade da primeira viagem, João Marcos retorna, ou seja, não permaneceu firme, não perseverou, ainda que não saibamos os motivos; agora Paulo se recusa a leva-lo na nova viagem. Mas posteriormente, em algum momento Paulo e João Marcos se reconciliaram e o velho apostolo, preso em Roma e antevendo seu martírio, escrevendo seu último documento (canônico) traz esse testemunho: “Solicite a João Marcos que venha me ver, pois ele é extremamente útil no ministério”; e o próprio apóstolo, escrevendo aos Coríntios, sintetiza de forma maravilhosa o conceito de perseverança cristã: “Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados. Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos;” (2Co 4.8,9). Certamente esse era o grito de guerra dos primeiros cristãos enquanto era levados acorrentados ao Coliseu romano para serem lançados às bestas feras e aos gladiadores sedentos para derramarem o sangue deles.

Tiago em sua epistola coloca Jó como exemplo de um crente perseverante em meio às mais duras e implacáveis adversidades da vida. Enquanto os profetas eram exemplos de paciência, a experiência de Jó exemplifica vividamente a perseverança. Ele permaneceu firme em situações muito difíceis, mas no final Deus manifesta sua grande compaixão e misericórdia para com seu servo (5.11; cf. Jó 42.10,12).

A perseverança no livro do Apocalipse é de grande relevância, por se referir ao período derradeiro da história humana. O Jesus glorioso escreve às suas igrejas, em todos os lugares e tempos, representativo nas Sete Igrejas localizadas na Ásia Menor. O substantivo hupomonē é usado sete vezes no livro de Apocalipse (outra vez o sete). Ele se refere à forma com que o cristão (igreja) deve responder quando sua fé (vida) é ameaçada. Em Apocalipse 1.9, refere-se à experiência de João e das igrejas para as quais escreve. Eles eram coparticipantes no sofrimento, no reino e na “paciente perseverança”. Em sua unidade com Cristo eles suportaram corajosamente os sofrimentos e aflições, enquanto esperavam pelo Reino de Deus. Jesus destaca a perseverança em duas delas - Éfeso e Tiatira (Ap 2.2-3,19). Primeiro Jesus declara que sabe, vê, tem conhecimento de que eles têm perseverado na fé e no ensino recebidos, mesmo diante das pressões das ideologias contrárias transvestidas de verdade, como também diante das pressões decorrentes das perseguições legais efetuadas pelo Império Romano. Quer fossem pressões internas ou externas aquelas igrejas estavam permanecendo firmes, perseverando em meio às adversidades e por isso estavam sendo aprovadas.

Resumidamente podemos dizer que a Palavra de Deus nos exorta a sermos perseverante na vida cristã da mesma maneira e/ou forma com que iniciamos - pela fé que nos foi outorgada pela graça de Deus - e não em decorrência do nosso esforço pessoal, pois as nossas melhores boas obras são apenas trapos de imundícia. A nossa perseverança é tão somente uma continuidade da graça de Deus que permanentemente opera em nós, nos capacitando a respondermos positivamente ao chamado e vocação de Deus. Como tão bem afirma o apostolo Paulo: aquilo que começou em nós pela ação do Espírito Santo, não pode ser prosseguida e/ou pelo esforço da carne.

Algumas questões para aprofundar mais o tema da perseverança: (1) Como um Deus absolutamente soberano age e interage com seres moralmente responsáveis? (2) Que garantia qualquer pessoa tem em um universo onde Deus não está completamente no controle? Que certeza alguém pode ter da sua salvação, se depende do seu esforço próprio para perseverar?

  

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
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Historiologia Protestante

 

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Referências Bibliográficas

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segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

Personagens Bíblicos: Quem Foram Bezalel e Aoliabe?


Bezalel foi um dos arquitetos na construção do primeiro Tabernáculo, naquele período de quarenta anos no deserto dos israelitas enquanto liderados por Moisés, após terem sido resgatados da escravidão no Egito. Ele foi capacitado pelo Espírito de Deus para poder fazer tudo quanto deveria ser feito de acordo com a ordem do Senhor. Seu companheiro neste precioso projeto divino foi Aoliabe que igualmente foi chamado e capacitado pelo Espírito Santo para realizar tão grandiosa tarefa.

Ramban (Nachmanides), um dos principais comentaristas da Torá, observa que as habilidades de Bezalel eram em si um milagre, uma vez que durante os séculos de permanência dos judeus no Egito eles não tinham acesso aos metais preciosos, como ouro, prata e cobre. Assim, o fato de que Bezalel sabia trabalhar estes metais e utensílios artesanais a partir deles era totalmente inesperadas.

Mais um detalhe importante, pois enquanto Bezalel vinha da prestigiada tribo de Judá, seu companheiro Aoliabe era descendente da tribo de Dã, a tribo de menos prestígio, uma vez que eles são filhos da serva de Jacó, Bila. Todavia, o texto bíblico deixa claro que Deus mesmo escolheu a ambos, como que para demonstrar que para Ele não descriminação – Deus usa a quem Ele quer, onde e para o que Ele quer.

Há pouca informação biográfica sobre estes dois personagens. Os textos bíblicos apenas enfatizam o papel relevante que ambos desempenharam, pois também eles foram professores (profissionalizantes) de muitos outros que estiveram envolvidos na realização deste projeto do Tabernáculo.

Quem foi Bezalel?

O seu nome “Betsal’el”, composto pelas palavras “Betsel+EL – “aquele que estava na sombra do Altíssimo” ou “sob a proteção de Deus” e/ou literalmente “na sombra de El [Deus]”. Ele é descendente da tribo de Judá, seu pai foi Uri e possivelmente foi neto de Hur, aquele que juntamente com Arão sustentaram os braços cansados do velho legislador no transcorrer da longa batalha contra os amalequitas liderados por Amaleque, até que os israelitas vencessem a batalha (Êxodo 17.10-12). Tudo indica que Bezalel já exercia a função de artífice e o Espírito Santo lhe dá uma capacitação especial para que pudesse fazer cada peça que seria utilizada na construção do Tabernáculo.

Quem foi Aoliabe?

De acordo com o livro de Êxodo, Aoliabe era filho de Aisamaque e pertencia à tribo de Dã (Êxodo 31.6). O seu nome significa “a tenda de meu pai”. Ele foi igualmente chamado e habilitado pelo Espírito de Deus para trabalhar na elaboração do projeto e dos utensílios que comporiam o Tabernáculo. Tanto um quanto o outro tinham experiência no trabalho manual, como ourivesaria, marcenaria e confecção de tecidos. realizar sua tarefa na obra do Tabernáculo. Eles também ensinaram outros (primeiro curso profissionalizante da história), para poderem cooperarem na obra do Tabernáculo.

Todos os nossos talentos e/ou aptidões naturais, também se constituem “dons” que o Espírito Santo haverá de potencializar para serem utilizados na adoração e obra de Deus. Na linda novela cristã “Em Seus Passos o Que Faria Jesus” (SHELDON, 2007) uma jovem tem um talento maravilhoso de cantar e sua voz encanta todos que a ouvem e o seu desafio será usar isso para sua própria glória ou para glorificar a Deus e salvar vidas. Ela acompanha um casal de evangelistas em um bairro promiscuo e abandonado e durante o culto em uma tenda provisória a jovem começa a cantar um hino, e dezenas, quase uma centena de homens semiembriagados e mulheres mal vestidas, jovens e crianças descalços vão se aproximando e ficam ali ouvindo o hino e depois a pregação e são convertidas. Como temos usado nossos talentos?

Deus chama Bezalel e Aoliabe

A capacitação e participação de Bezalel e Aoliabe na construção do Tabernáculo é decorrente do chamado divino. Isso significa que foi Deus quem escolheu Bezalel e Aoliabe para executar aquela missão tão honrada. O texto bíblico diz que Deus falou com Moisés e lhe revelou que Ele havia chamado esses dois homens de forma especial.

Como já foi dito, Bezalel Aoliabe lideraram a construção do Tabernáculo no deserto. Sobre ele, e seu auxiliar Aoliabe, a Bíblia diz: “Eis que chamei pelo nome a Bezalel, filho de Uri, filho de Ur, da tribo de Judá; e o enchi do Espírito de Deus, de habilidade, de inteligência e de conhecimento, em todo artifício, par elaborar desenhos e trabalhar em ouro, em prata, em bronze, para lapidação de pedras de engaste, para entalho de madeira, para toda sorte de lavores. Eis que lhe dei por companheiro Aoliabe, filho de Aisamaque, da tribo de Dã” (Êxodo 31.1-5).

E a narrativa bíblica complementa que eles foram capacitados especialmente para fazerem “toda obra de mestre, até a mais engenhosa, e a do bordador em tecido azul, roxo e vermelho e em linho fino, e a do tecelão; sim, toda sorte de obra e a elaborar desenhos” (Êxodo 35.35).

O trabalho de Bezalel e Aoliabe

O projeto do Tabernáculo foi idealizado e projetado por Deus, conforme seus mínimos detalhes, e que foram dadas a Moisés. O principal assunto nos capítulos 25 a 31 do livro de Êxodo é a transmissão das especificações do tabernáculo e seus móveis. Deus falou as medidas exatas e determinou os materiais a serem usados. Portanto, coube a Bezalel e Aoliabe e os demais envolvidos o privilégio de participarem desta obra sendo fiéis e cuidadosos em seguir as orientações divinas prescrevidas: “Fez Bezalel, filho de Uri, filho de Hur, da tribo de Judá, tudo quanto o SENHOR ordenara a Moisés” (Êxodo 38.22).

Além disso, como citado acima, eles foram capacitados para ensinar a outros as habilidades necessárias para a fabricação dos utensílios do Tabernáculo (Êxodo 35.30-35). Os nossos talentos é para serem multiplicados e não para morrerem conosco.

Coube a Bezalel, como artífice chefe, ser o responsável direto pela fabricação de todas as várias partes do Tabernáculo. A Bíblia diz que ele fez a Arca da Aliança, o propiciatório que cobria a Arca, a mesa dos pães, o candelabro de ouro, o altar de incenso, o altar do holocausto, a bacia de bronze e até o primeiro óleo da unção (Êxodo 37.1-38.1-8). Então parece que os demais artesãos estiveram mais ocupados no trabalho dos itens estruturais do Tabernáculo, como a confecção das cortinas, das portas, a fabricação das colunas, a modelagem das molduras etc. Na obra de Deus há trabalho e funções para todos, de maneira que ninguém fica ocioso.

Quando o tabernáculo foi concluído, uma nuvem “começou a cobrir a tenda de reunião e a glória do Senhor, encheu o tabernáculo”. (Êxodo 40.34) Essa foi uma evidência clara da aprovação divina. Como você acha que Bezalel e Aoliabe se sentiram nessa ocasião? Ainda que o nome deles não aparecesse em nenhum dos objetos que produziram, eles devem ter sentido satisfação em saber que Deus estava aprovando e abençoando todo o seu trabalho e dedicação.

No fim de sua vida, Bezalel e Aoliabe não tinham nenhum troféu, medalha ou placa em homenagem aos seus trabalhos impressionantes e de alta qualidade. Mas eles obtiveram algo muito mais valioso: a aprovação de Deus.

Não devemos estranhar e nem nos entristecer quando nosso trabalho na igreja não é lembrado e nem prestigiado, pois fomos chamados para glorificar a Jesus, não a nós mesmos! “A Ele seja a glória, tanto agora como no dia eterno” (2 Pedro 3.18).

 

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
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