sábado, 16 de abril de 2016

VOCABULÁRIO BÍBLICO – ἀββα [abba]

A palavra ἀββα [abba] é uma palavra grega de origem aramaica (אבא) pela qual a criança chamava o “pai”, podendo ser traduzida por uma forma mais carinhosa “papai”.[1] Para uma compreensão mais profunda da teologia, revelada nas páginas do NT, a utilização deste termo por Jesus para se referir a Deus e o fato de que ele ensina seus discípulos a fazerem da mesma forma é de suma importância. É indiscutível que nenhum judeu, nos dias de Jesus, ousara aplicar tal tratamento a Deus.
            Em outras religiões era comum encontrar esta relação paternal em relação à divindade. No Egito, por exemplo, mantém essa tradição, onde o Faraó no momento de sua entronização tornava-se filho do deus sol e, por conseguinte tornava-se também deus. Há vestígios desta relação no livro do Êxodo, onde os israelitas são chamados de “meu filho” por Deus (Êx 4.22,23).[2]
Para evitar qualquer equivoco os israelitas utilizam raramente esta identificação paternal, reservando para o Messias este privilégio de uma relação tão intima com Deus (2 Sm 7.14). A expressão do salmista: “Tu és meu filho; eu, hoje, te gerei” (Sl 2.7) será aplicado pela primeira e única vez, na história de Israel, à pessoa de Jesus (Atos 13.33). Esta dificuldade israelita com o termo “Abba” está diretamente relacionado com o forte conceito monoteísta, reforçado potencialmente depois do cativeiro babilônico. Em toda a narrativa do AT não encontraremos uma oração pessoal dirigida a Iahweh com o vocativo “Abba”.
Entretanto, quando entramos pelas portas da literatura do NT nos deparamos com uma mudança radical. A expressão “Abba” encontra-se mais de 250 vezes, sendo facilmente identificada como a fórmula típica com a qual os cristãos se referem e se dirigem a Deus. Jesus rompe definitivamente toda e qualquer barreira no relacionamento com Deus – o uso de “pai nosso” é um privilégio exclusivo de todos aqueles que nasceram de novo.  “Abba” é a nota de intimidade, de confiança e de amor que somente aqueles que foram inseridos na família como “filhos” (Jo 1.12,13) podem ter com seu “Pai” celeste.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
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http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/

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Referências Bibliográficas
COENEN, Lothar (editor). O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, v.1, ed. Vida Nova, 1989. 
BARCLAY, William. New Testament Words. The Westminster Press, 1974.    
ROTH, Cecil. Enciclopédia Judaica – A-D. Rio de Janeiro: Editora Tradição S/A, 1967. [Biblioteca de Cultura Judaica]
TENNEY, Merrill C. (Org.). Enciclopédia da Bíblia, v. 1. Tradução da Equipe de colaboradores da Cultura Cristã. São Paulo: Cultura Cristã, 2008.
TURNER, Nigel. Christian Words, 1980. Dictionary of Christian Theology, Angeles, 1985.




[1] Na evolução da língua este termo saiu da esfera infantil para ser empregada também por filhos e filhas adultos, adquirindo o tom caloroso e familiar que se pode sentir em expressão tal como “papai querido”.
[2] Aqui Deus chama a nação de Israel de seu filho e primogênito em comparação aos primogênitos egípcios. A mensagem é facilmente entendida por Faraó, pois ele mesmo era chamado de filho de Ra ou filho amado do seu deus.

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