A
palavra ἀββα [abba] é uma palavra grega de origem aramaica (אבא) pela qual a criança chamava o “pai”, podendo ser traduzida por uma
forma mais carinhosa “papai”.[1]
Para uma compreensão mais profunda da teologia, revelada nas páginas do NT, a
utilização deste termo por Jesus para se referir a Deus e o fato de que ele
ensina seus discípulos a fazerem da mesma forma é de suma importância. É
indiscutível que nenhum judeu, nos dias de Jesus, ousara aplicar tal tratamento
a Deus.
Em
outras religiões era comum encontrar esta relação paternal em relação à
divindade. No Egito, por exemplo, mantém essa tradição, onde o Faraó no momento
de sua entronização tornava-se filho do deus sol e, por conseguinte tornava-se
também deus. Há vestígios desta relação no livro do Êxodo, onde os israelitas
são chamados de “meu filho” por Deus (Êx 4.22,23).[2]
Para
evitar qualquer equivoco os israelitas utilizam raramente esta identificação
paternal, reservando para o Messias este privilégio de uma relação tão intima
com Deus (2 Sm 7.14). A expressão do salmista: “Tu és meu filho; eu, hoje, te
gerei” (Sl 2.7) será aplicado pela primeira e única vez, na história de Israel,
à pessoa de Jesus (Atos 13.33). Esta dificuldade israelita com o termo “Abba” está
diretamente relacionado com o forte conceito monoteísta, reforçado
potencialmente depois do cativeiro babilônico. Em toda a narrativa do AT não encontraremos
uma oração pessoal dirigida a Iahweh com o vocativo “Abba”.
Entretanto,
quando entramos pelas portas da literatura do NT nos deparamos com uma mudança
radical. A expressão “Abba” encontra-se mais de 250 vezes, sendo facilmente
identificada como a fórmula típica com a qual os cristãos se referem e se
dirigem a Deus. Jesus rompe definitivamente toda e qualquer barreira no
relacionamento com Deus – o uso de “pai
nosso” é um privilégio exclusivo de todos aqueles que nasceram de
novo. “Abba” é a nota de intimidade, de
confiança e de amor que somente aqueles que foram inseridos na família como “filhos” (Jo 1.12,13) podem ter com seu
“Pai” celeste.
Utilização livre desde que citando a
fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
Artigos Relacionados
VOCABULÁRIO BÍBLICO –
Amém
VOCABULÁRIO BÍBLICO EVANGELHO
VOCABULÁRIO BÍBLICO ÁGAPE – AMOR
Referências Bibliográficas
COENEN, Lothar
(editor). O Novo Dicionário
Internacional de Teologia do Novo Testamento, v.1, ed. Vida Nova, 1989.
BARCLAY,
William. New Testament Words. The
Westminster Press, 1974.
ROTH, Cecil. Enciclopédia Judaica – A-D. Rio de
Janeiro: Editora Tradição S/A, 1967. [Biblioteca de Cultura Judaica]
TENNEY, Merrill C.
(Org.). Enciclopédia da Bíblia, v. 1.
Tradução da Equipe de colaboradores da Cultura Cristã. São Paulo: Cultura Cristã, 2008.
TURNER,
Nigel. Christian Words, 1980.
Dictionary of Christian Theology, Angeles, 1985.
[1] Na
evolução da língua este termo saiu da esfera infantil para ser empregada também
por filhos e filhas adultos, adquirindo o tom caloroso e familiar que se pode
sentir em expressão tal como “papai querido”.
[2] Aqui
Deus chama a nação de Israel de seu filho e primogênito em comparação aos
primogênitos egípcios. A mensagem é facilmente entendida por Faraó, pois ele
mesmo era chamado de filho de Ra ou filho amado do seu deus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário