domingo, 27 de fevereiro de 2022

Êxodo Capítulo 1 – Os Movimentos da Providência de Deus

 

Êxodo Capítulo 1 – Verdades Fundamentais

Este primeiro capítulo pode ser divididos em três micros blocos literários, sendo o último verso uma conclusão. O primeiro bloco descreve o contexto dos filhos de Israel após a morte de José. Jacó/Israel quando foi abençoar seus filhos incluiu os dois filhos de José (Manassés e Efraim), agora eles se tornaram as doze tribos de Israel, expandindo-se de setenta pessoas e a família de José já no Egito para se tornarem "frutíferos e multiplicados" (Êxodo 1.7). A terra estava "cheia" com o povo israelita. Aqui começa o cumprimento da bênção de Deus sobre a vida de Abraão que lhe daria uma descendência semelhante às estrelas dos céus e a areia do mar (Gênesis 12.1–3).

Síntese do Livro

O livro de Êxodo estabelece o relacionamento da Aliança de Deus com a nação de Israel de pleno direito. Os descendentes de Abraão prosperam depois de se estabelecerem no Egito, apenas para serem escravizados por um faraó egípcio temeroso e odioso.

Deus não apenas preserva seu povo como designa Moisés para liberta o povo que estava vivendo em estado de escravidão.

Moisés como instrumento e porta-voz de Deus, lança sobre as egípcias sucessivas pragas como demonstração do juízo de Deus, de maneira que Faraó não teve alternativa a não ser deixar o povo israelita saírem do Egito. pois o Senhor traz pragas e julgamentos sobre o Egito, levando à libertação de Israel.

O período de tempo entre o último capítulo de Gênesis e o primeiro de Êxodo é de aproximadamente 400 a 430 anos. No transcorrer destes anos o Egito tornou-se a maior potência na área do Oriente Médio e Norte da África. As dinastias egípcias viveram dias de riqueza, poder e poderio militar até então nunca vistos.   

No segundo bloco do texto, versos 8 a 14, uma nova dinastia assume o trono no Egito e eles não reconhecem os privilégios que José e seus descendentes receberam anteriormente. Há por parte destas atuais autoridade uma preocupação com o crescente numero de israelitas vivendo praticamente dentro do Egito, temendo que pudessem a vir a se unirem a seus inimigos e tomarem o poder no Egito. A partir de então começa o longo e doloroso período de escravidão dos israelitas. São nomeados capatazes sobre eles e suas aflições são crescentes. Eles recebem "fardos pesados" (Êxodo 1.11). Os israelitas fazem parte dos milhares que participaram diretamente dos construtores das cidades de Ramsés e Pitom. O trabalho deles incluía fabricação de tijolos e todo tipo de trabalho de campo (Êxodo 1.14). Mas quanto mais Faraó os oprimia, mais eles cresciam em numero, o que vai levar Faraó a elaborar novos e terríveis decretos legais contra eles (qualquer semelhança com a cúpula judiciária brasileira não é mera coincidência).

Capítulo Contexto

Êxodo capítulo 1 descreve a difícil realidade enfrentada pelos israelitas ainda em seus primórdios, antes mesmo de se tornarem uma grande nação. No final do Gênesis, os descendentes de Abraão estavam finalmente seguros. Nesta passagem, eles se tornam prósperos e se expandem rapidamente. Isso, no entanto, resulta em medo e ódio da dinastia real egípcia, que não conheceram José. Decretam um programa de escravidão e infanticídio contra os hebreus. Isso prepara o cenário para a inserção do maior líder de Israel,  Moisés, que falará da parte de Deus durante todo o este tempo de libertação dos israelitas, até chegarem em segurança nas fronteiras de Canaã, de onde Jacó e José haviam saído, e terra que Deus havia prometido a Abraão o ancestral com o qual Deus havia feito uma Aliança.

O terceiro bloco deste capítulo, versos 15-21 revela a forma cruel com que Faraó tentara parar o crescimento dos israelitas. Como não havia hospitais eram as parteiras que auxiliavam as grávidas nos partos. É ordenado especificamente a duas delas, Sifrá e Puá (egípcias) que nascendo o bebê e sendo do sexo masculino, ele deveria ser jogado nas águas do rio Nilo (as atuais leis pró-aborto  é ainda mais cruel e terrível, pois permite a matança de milhares bebês de ambos os sexos antes mesmo de nascerem). O objetivo do faraó era parar o rápido crescimento populacional dos judeus que na perspectiva dele ameaçavam os egípcios. Isso não pode ser feito sem que algo muito interior seja negado, sem afetar definitivamente o caráter da pessoa, aquilo com o que ela se compromete. De maneira que estas parteiras temendo ao Deus dos israelitas se recusam (secretamente) a obedecer a uma ordem tão cruel e abominável como esta. E Deus honra essas parteiras e abençoa tanto elas quanto suas famílias (versos 20-21). Quão diferente das pessoas de hoje que sai às ruas para comemorem o fato de que podem matar bebês sem qualquer constrangimento, pois nestas pessoas não há qualquer vestígio do temor a Deus, mas cada um destes genocidas legalizados, tanto os que autorizam quanto os que exercem a função de carrascos destas vidas terão que enfrentar a ira de Deus – o autor da vida.

O último verso (22) é o ápice da maldade inerente do ser humano sem discernimento e temor de Deus. Faraó percebe que sua ordem anterior não está surtindo efeito, então estende a ordem para todas as pessoas, para que joguem os bebês masculinos judeus para serem devorados pelos crocodilos que povoavam o rio Nilo. A malignidade humana não tem limites no que tange ao esforço coordenado do inferno para destruir a Criação de Deus e principalmente aqueles que foram feitos à imagem e semelhança Dele e que foram separados para adora-lo e louvá-lo, como declara o apostolo Paulo – “povo de exclusividade de Deus”. Os israelitas passam a viver com está sombra maligna e assassina sobre suas vidas. O apóstolo Pedro atualiza está terrível verdade escrevendo que Satanás ruge como um leão espreitando os cristãos, pronto para ataca-los e destrui-los, mas Deus não permite e o apostolo João escrevendo o Apocalipse descreve Satanás como um grande e terrível dragão que sai à caça dos cristãos no mundo inteiro para destruí-los, mas, diz João, Deus leva seu povo para o Deserto (consegue fazer o link com o livro de Êxodo) e os esconde da ira do Dragão e seus comparsas o Anticristo e o  Falso Profeta. 

DEUS PRESERVOU, DEUS PRESERVA E DEUS CONTINUARÁ PRESERVANDO SEU POVO ATÉ O DIA FINAL.

Esse contexto assustador nos prepara para os próximos capítulos em que temos a narrativa do nascimento de Moisés e a preservação dos israelitas, que se constitui na manifestação real e maravilhosa da graça e do poder de Deus, na preservação da vida e na aplicação do seu juízo sobre todo o mal transvestido de autoridade quer seja civil ou religiosa – Moisés e seu povo viveram, mas Faraó e seu exército morreram. E aqui esta uma perfeita ilustração do Salmo primeiro: “O Senhor conhece o caminho do justo, mas o caminho dos ímpios perecerá”.

 

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
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Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/

 

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sábado, 26 de fevereiro de 2022

Gênesis Capítulo 1 – Verdades Fundamentais

 

בְּרֵאשִׁית, בָּרָא אֱלֹהִים, אֵת הַשָּׁמַיִם, וְאֵת הָאָרֶץ.

No principio, Deus Criou os céus e a terra!

Síntese do Livro

O livro de Gênesis estabelece verdades fundamentais sobre Deus. Entre eles estão Seu papel como Criador, Sua santidade, Seu repúdio ao pecado, Seu amor pela humanidade e Sua disposição de prover nossa redenção. Aprendemos não apenas de onde a humanidade veio, mas por que o mundo está em convulsões permanentemente.

 O livro também apresenta a origem da nação de Israel, e como veio a se constituir no povo escolhido de Deus.

Muitos dos princípios desenvolvidos em outras partes das Escrituras estão fundamentados embrionariamente aqui no livro de Gênesis. Dentro da estrutura da Bíblia, Gênesis explica a história básica do universo e as razões que levaram os israelitas para o Egito, se constituindo no cenário para o livro do Êxodo.

O primeiro capítulo de Gênesis descreve o evento mais extraordinário da história do universo: sua criação. Dado o que este momento representa e o que sabemos da ciência e da natureza, isso é muitas vezes referido como o maior de todos os milagres possíveis, pois sem este ato criativo de Deus nada existiria. Os versos iniciais do livro de Gênesis são nada menos do que um relato de como Deus, com pleno propósito e intenção, fez tudo o que existe.

O que esse relato da criação nos diz sobre Deus e Seu papel em nossas origens é certamente interessante. Mas o que é mais fascinante neste capítulo de abertura de toda a Bíblia são os aspectos que ele não aborda. O que tem levado os estudiosos para o campo fértil das especulações de toda sorte. As narrativas relacionadas à Criação são extremamente sucintas, pois o que realmente interessa na narrativa bíblica é revelar o grande plano da redenção que Deus traça desde Gênesis 3 e se conclui no Apocalipse 22.

A linguagem usada no relato da Criação não é nem a da especulação abstrata nem da ciência exata, mas de narrativa simples, concreta e não científica, portanto, procurar respostas cientifica na Bíblia é no mínimo ignorância, quando não desonestidade hermenêutica e intelectual. Ela é um livro religioso e trata do relacionamento de Deus com o ser humano criado à sua imagem e semelhança, mas que rompeu seu relacionamento com Deus e como esse Deus possibilitou a sua reconciliação com eles. A iniciativa de rompimento foi unilateralmente da parte do ser humano e a iniciativa da reconciliação é unilateralmente de Deus. Esta é a mensagem central que percorre todas as páginas da Bíblia, desde esse primeiro capítulo até o último capítulo do Apocalipse. Portanto, qualquer outro tema é periférico e secundário.

Contexto do Capítulo

Gênesis 1 é o primeiro capítulo da primeira divisão da Bíblia conhecido como Pentateuco: os primeiros cinco livros da Bíblia.

O escritor foi Moisés, Gênesis 1 narra a história de Deus e Seu relacionamento com o povo israelita, que foi separado para receber a revelação especial de Deus.. A declaração inicial de que Deus é o Criador se constitui no fundamento de tudo o que será narrado, incluindo o Novo Testamento. Demarca a autoridade suprema de Deus e se constitui na real autoridade das Escrituras. Portanto, negar ou minimizar as verdades aqui contidas é destruir todo o edifício das Escrituras. Deus pretende primeiro ser conhecido por todos os povos como o Criador de todas as coisas – incluindo a vida humana. E como o Criador, Ele deve ser o único a ser adorado na terra e nos céus, quer seja pelos seres humanos ou seres celestiais.

No que concerne a este primeiro capítulo há inumeráveis questões de ordem especulativa que tem servido apenas aos interesses daqueles que desejam avidamente descredenciar sua narrativa e, por conseguinte descredenciar todo o restante das Escrituras. Se os dias da Criação foram de 24 horas ou eras, se entre o capítulo 1 e o capítulo 2 há um hiato de tempo, se foi neste hiato que ocorreram a queda de Lúcifer e os demais anjos que o seguiram, não tem qualquer relevância para a mensagem que a narrativa se propões a transmitir – Deus criou todas as coisas, e ponto.  Se o leitor fica plenamente satisfeito com esta mensagem ótimo, se não fica satisfeito em nada muda a verdade desta mensagem.

Deste modo, nenhuma pessoa que afirma acreditar que a Bíblia é a verdade pode rejeitar a crença em Deus como o Criador de todas as coisas. Se as Escrituras são a Palavra de Deus — e elas são — então Deus pretende ser conhecido como o Criador de todas as coisas.

O escritor do livro de Gênesis foi Moisés, tendo e sendo conduzido pela inspiração do próprio Espírito Santo. Sua formação acadêmica no Egito o habilitava para tal tarefa (Êxodo 2.1-10). Ele estava familiarizado com as formulações da Criação pela ótica do panteão dos deuses egípcios. O grande equívoco era que seus deuses eram parte da própria criação, enquanto Gênesis deixa claro que Deus sempre existiu antes da Criação, de maneira que Ele é totalmente independente da própria Criação.  Gênesis 1 rejeita o naturalismo de nossos dias modernos, declarando que nenhuma dessas coisas criadas a partir da ação e propósito de Deus são deuses – há um só Deus e tudo mais é parte da Criação. De maneira que somente Ele é digno de adoração porque só Ele é o Criador. Ao prosseguir a leitura dos capítulos subsequentes o leitor vai conhecendo cada vez mais sobre esse Deus Criador. Esta passagem foi originalmente composta na língua hebraica, sob uma estrutura muitas vezes rígida. Esses versos descrevem os decretos da criação de Deus através do contexto de dias individuais.

Há um padrão que delineia o texto deste capítulo de abertura. Há uma ordem inteligível nos atos criativos de Deus. Ele não cria vida antes que haja criado as condições para sustentação desta vida. Assim, no primeiro dia, Deus cria a luz; no quarto dia, Ele cria o sol, a lua e as estrelas para distribuir essa luz. No segundo dia, Deus separa as águas, criando os oceanos; no quinto dia, Ele povoa os oceanos com criaturas marinhas de todos os tipos. No terceiro dia, Ele cria a terra seca e a enche de vegetação; no sexto dia, Ele cria vida animal e humana pronta para consumir as frutas e plantas que existiam.

Quando acabamos a leitura deste primeiro capítulo de Gênesis só nos resta nos apropriarmos das palavras do salmista: “são coisas maravilhosas de mais para mim”. E só nos resta uma única atitude: prostrarmo-nos e adorarmos ao único que é Digno de receber todo o louvor, e honra e louvor, hoje e por todos os séculos. Amém e amém!

Gênesis 1 é o primeiro e fascinante capítulo pra todos os leitores que desejam conhecer mais a respeito de Deus e sua vontade. Os leitores são fortemente encorajados há tomar seu tempo lendo e apreendendo essas palavras. Aproveito para incentivá-lo caros leitores a fazerem a leitura do Livro da Criação pelo menos três vezes ao dia (19.1-6). Assista o nascer e poente do sol, levante seus olhos e contemple as miríades de estrelas ou a lua em seu esplendor noturno; contemple as grandes matas ou mesmo os pequenos jardins em sua casa; ou ainda, contemple a multiplicidade maravilhosa das raças humanas ou o simples sorriso de uma criança. Esse maravilhoso livro da Criação está aberto e com livre e gratuito acesso, de dia ou de noite, aqui ou onde você estiver e o mais importante...não precisa de internet.


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Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
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sábado, 19 de fevereiro de 2022

Páscoa: Entre o Natal e a Páscoa Há Uma Cruz: a centralidade da Cruz



No calvário se ergueu uma cruz contra o céu,

Como emblema de afronta e de dor.

Mas eu amo essa cruz: foi ali que Jesus

Deu a vida por mim, pecador.

            Há poucos dias celebramos o Natal com seu colorido e festividade, todavia ele é tão somente a preparação para os dias tenebrosos e escuros da Páscoa que se projeta à sombra da Cruz. Jesus nasceu para morrer, pois somente na sua ressurreição temos a vitória definitiva sobre o nosso inimigo mais terrível e tenebroso – a morte.

            Mateus e Lucas abrem suas narrativas evangélicas compartilhando alguns poucos, mas significativos, detalhes que envolveram o nascimento de Jesus. Mas a partir do terceiro capítulo eles se associam à narrativa de Marcos e juntos, com pequenos intercursos de Mateus e igualmente de Lucas, eles caminham juntos com Jesus até o Gólgota. A manjedoura aponta para a Cruz!

            O apostolo Paulo deixa bem claro que o cerne de sua pregação evangélica é Jesus Cristo e esse crucificado. Entre o Primeiro Testamento e o Segundo Testamento, temos a ponte que os interliga – a Cruz de Cristo. Sem a cruz o Primeiro Testamento perde sua significância e valor; sem a cruz o Segundo Testamento nem mesmo teria sido escrito – não haveria necessidade de narrativas evangélicas, de cartas e nem de Apocalipse. O que dá sentido a toda literatura bíblica – de Gênesis ao Apocalipse - é a Cruz.

            Evidentemente que para a mentalidade carnal, materialista e hedonista, a cruz é símbolo de loucura e abominação. Para a lei romana a cruz era destinada aos piores entre os piores e para os judeus o madeiro era a marca distintiva da maldição de Deus sobre aquela pessoa.

            Mas aprouve a Deus chocar as mentalidades humanas de ontem e de sempre, transformar o instrumento de morte em instrumento de vida. Para os incrédulos a cruz é objeto de repudio e escarnio, mas para aquele que crê em Jesus Cristo como seu único e suficiente Senhor e Salvador, a cruz é motivo de louvor e gratidão, pois foi na cruz que foram e somos resgatados da ira, do juízo e da condenação de Deus, pois foi na cruz que Jesus pagou o preço de nosso resgate, que Ele rasgou a promissória da nossa dívida impagável – foi ali crucificado, em meios aos seus últimos brados, que Jesus tornou-se maldição em nosso lugar, para que nele pudéssemos ser feitos justo e santo para o nosso Deus e Pai.  

Foi na cruz, foi na cruz
Onde um dia eu vi
Meus pecados castigados em Jesus
Foi ali, pela Fé, que meus olhos abri
E agora me alegro em sua luz

            Nas narrativas evangélicas é perceptível de forma clara o esforço permanente de Satanás em desviar Jesus da cruz. A ordem infanticida do perverso e maligno rei Herodes (o Grande), para que matassem os meninos nascidos na região de Belém de dois anos para baixo é o primeiro sinal; ainda quando em preparação para o inicio de seu ministério terreno, após longo e debilitante período de jejum e oração no deserto, o próprio Satanás o tenta por três vezes seguidas e cujo objetivo é demover Jesus do propósito da cruz, mas Jesus lhe resiste com autoridade e harmonia com o propósito definido no Conselho triuno antes mesmo da eternidade. E finalmente, enquanto faz sua última subida para Jerusalém, um de seus discípulos mais próximo, após ouvir novamente as palavras de Jesus que haveria de ser preso, condenado e morto pelo conchavo das autoridades religiosas judaicas e romanas, mas que ao terceiro dia ressuscitaria, Pedro puxa Jesus de lado e começa a insistir com ele para que abandone essa história, que use seu poder divino, que tantas vezes ele próprio testemunhara, para impedir sua prisão e sua morte. Então Jesus olha para Pedro e imediatamente lhe repreende de forma contundente: arreda-te Satanás, pois não fazes parte do projeto eterno de Deus, mas pensas apenas nas coisas humanas e passageiras desta vida terrena.

E passados vinte e um séculos, todo o esforço do inferno ainda continua sendo o de afastar as pessoas da Cruz. O departamento de marketing infernal trabalha 24 horas por dia, produzindo milhares de versões de evangelhos SEM A CRUZ. Atraem com riquezas e prazeres deste mundo milhares de “pregadores” que oferecem aos milhões de ouvintes essa fake news que mantém o pecador debaixo da ira e condenação no tribunal de Deus.

Quando chegamos no último livro da Bíblia – o Apocalipse -  o tema da cruz continua sendo um dos pilares centrais da revelação. De imediato João retrata o Jesus ressurreto e glorioso como sendo “o primogênito dos mortos” (1.5) e “aquele que vive”; que experimentou a nossa morte, mas “agora vive para sempre” e que em Suas mãos estão “as chaves da morte e do inferno” (1.18). Então prossegue João registrando uma doxologia cantada continuamente na glória celestial: “Aquele que nos ama, e pelo sangue [cruz] nos libertou dos nossos pecados, e nos constituiu reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai, a ele a glória e o domínio pelos séculos dos séculos” (15-6).

    Se usarmos uma caneta marca texto e destacarmos a expressão “o Cordeiro”, maneira pela qual João identifica Jesus Cristo haveremos de ver que permeia toda essa narrativa apocalíptica. E a razão é simples: esse é o Cordeiro, que pelo seu sangue derramado no Calvário, tira o pecado de todos aqueles que creem, e que se constituem em uma “grande multidão que ninguém poderia contar”, compostos por pessoas advindas das mais diversas nações, povos, línguas e etnias e “cujas vestimentas (vidas) foram lavadas e alvejadas no sangue [cruz] do Cordeiro”. E que agora somados a todas as miríades angelicais cantam declarando:Ao nosso Deus que se assenta no trono, e ao Cordeiro, pertence a salvação”. Mais ainda, cada nome desta multidão incontável está registrado no “livro do Cordeiro”. E esse Cordeiro é o único digno de retirar os selos o Rolo dos desdobramentos e conclusão da História Humana. O Cordeiro é o Senhor da História, e o que o qualifica é a sua Cruz – aquele que foi morto, mas vive pelos séculos dos séculos. Amém.

Mas esse mesmo Cordeiro que salva o pecador arrependido, é o mesmo haverá de julgar os incrédulos e ímpios que não apenas o rejeitaram, mas que foram instrumentos de Satanás para infringir dor, sofrimento e morte aos cristãos e servos de Deus do Primeiro e Segundo Testamentos. Tais pessoas impenitentes e amantes de si mesmas ficaram transtornados diante do Juízo do Cordeiro: "Caí sobre nós, escondei-nos da face daquele que se assenta no trono, e da ira do Cordeiro, porque chegou o grande dia da ira deles; e quem é que pode suster-se?".

O fato de que “o Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo (13.8)” detém em suas mãos o livro da Vida, significa que desde a eternidade passada até à eternidade futura o centro é da História é ocupado pelo Cordeiro de Deus que foi morto [cruz] sim, mas que vive [ressurreição] para sempre e sempre. Aleluia! Ao nosso Deus que se assenta no trono, e ao Cordeiro, pertence a salvação e somente e exclusivamente a Ele.

Friederich Nietzsche (falecido em 1900) em uma de suas famosas obras (O Anticristo (1895), amada e utilizada como bíblia pelos ideólogos da nova (des)ordem mundial, já nas primeiras páginas deixa transparecer todo seu asco e repudio pelo Deus e Cristo revelados na Bíblia. Em relação a Deus ele o chama de “Deus dos enfermos, Deus como aranha, Deus como espírito" mas ele guarda ainda maior rancor em relação ao Messias cristão ao qual ele chama de “Deus sobre a cruz”, que para ele significa fraqueza e portanto deve ser desprezada como algo inútil e que somente serve de muleta para pessoas fracas e débeis. Nietzsche morreu a cento e vinte e dois anos, e o evangelho da Cruz continua sendo pregado e salvando milhares de pessoas. Todos os ideólogos da nova [tão antiga quanto o inferno] (des)ordem mundial [milionários e empresas transnacionais] combatem até mesmo fomentam a violência e a morte por asfixia jurídica dos cristãos em todo o mundo.

“Jesus e esse crucificado” permanece como o cerne do genuíno cristianismo. Não há cristianismo, nem evangelho, nem igreja e nem um único salvo sem a pregação da Cruz. Ninguém pode compreender e crer em Cristo até que compreenda a sua cruz. Quando a igreja (como instituição) abandona a Cruz ela a sua morte é apenas uma questão de tempo. Foi e está sendo assim em todos os grandes centros cristãos de outrora, como a Europa, e será assim em todo lugar em que a Cruz é rejeitada.

A História e o esforço de todos os Reformadores, antes e depois do século XVI para resgatar os princípios cardeais da fé genuinamente cristã e bíblica: sola fide, o soli deo gloria, e os demais pontos tinham em comum o resgate da centralidade da Cruz, pois somente aqueles que compreendem corretamente a Cruz — conforme o pensamento dos reformadores — estarão aptos para compreenderem corretamente a Bíblia e Jesus Cristo. O apostolo Pedro somente foi entender a Jesus Cristo, depois que ele entendeu o que se passou no Calvário, até então ele estava na ignorância como todos os demais.

Jesus coloca três características de um discípulo dele e um destes é: tome a cruz! Todos que escondem a cruz, que evitam a cruz e que rejeitam abertamente a cruz – não são discípulos de Cristo.

O evangelicalismo secular, materialista e hedonista predominante em grande parte do mundo hoje e particularmente no Brasil, não são evangélicos de fato e de verdade. São imitações baratas e vulgares do genuíno Evangelho, pois no centro da pregação do verdadeiro evangelho bíblico está a Cruz.

Entre o genuíno Natal e a genuína Páscoa, jamais haverá árvore enfeitada com bolas coloridas e papais Noel bonachão e nem coelhinhos fofinhos e chocolates, mas sempre haverá a Cruz ensanguentada de Jesus Cristo!

 

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Guedes, Ivan Pereira
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