Porque assim diz o Senhor DEUS, o Santo de Israel: Esperando
e com calma você será salvo, no silêncio e na confiança está a sua força.
Isaías 30:15
Vivemos
dias em que o volume do mundo está cada vez mais alto e o barulho torna-se ensurdecedor.
A cada dia estamos perdendo um pouco de nossa audição de maneira que somos
incapazes de ouvir com clareza e distinguir a multidão de vozes que nos
assediam desde quando acordamos até a hora em que dormimos. A internet e todos
os seus subprodutos invadem de forma violenta nossos ouvidos congestionando
nosso cérebro com centenas de informações por minuto, de maneira que encontramos
cada vez mais dificuldade para processar esse volume ensurdecedor de vozes que
exigem nossa atenção imediata e permanente.
Neste tempo cibernético do século XXI perdemos
a capacidade de nos assentarmos em quietude; não apenas de nos calarmos, mas
acima de tudo de fazermos calar a multidão de vozes ao nosso derredor que estão
a exigir nossa atenção imediata. No salmo 19 o poeta faz referência aos dois meios
pelos quais Deus fala com os seres humanos: o primeiro destes é a Criação, que apesar
dos milênios desde quando Deus a estabeleceu, permanece diariamente à
disposição de todos os seres humanos em todos os lugares e tempos, para que
possam ouvir Sua voz. Mas o poeta cita então uma segunda forma que Deus
escolheu para que os seres humanos pudessem ouvir sua maravilhosa e poderosa
voz: a Torah e/ou Escrituras Bíblicas.
Essas duas formas de ouvir Deus não se excluem,
ao contrário, ambas são perenes e se completam harmoniosamente. Ouvir as
Escrituras em uma noite de lua cheia e céu estrelado é uma experiência
fascinante e toca profundamente a mente e o coração; ouvir as Escrituras
contemplando a imensidão do mar em um dia ensolarado é algo incomparável e curativo
para qualquer doente da alma, da mente ou do corpo, pois a voz de Deus continua
tão poderosa quanto foi nos primeiros dias da Criação ou tão suave e
restauradora quanto foi na voz do Verbo, Jesus Cristo, que assumindo a
plenitude de nossa humanidade viveu e conviveu com toda sorte de pessoas na
Palestina do primeiro século da era cristã.
Infelizmente estamos perdendo dia-a-dia a
capacidade de ouvirmos o som salvador e abençoador deste Deus que nos criou com
a capacidade única entre toda a criação capazes de ouvi-lo. Adão e Eva não
ouviram a voz de Deus, mas ouviram a voz de Satanás; os israelitas não deram
ouvidos aos Profetas de Deus, mas ouviram os falsos profetas que viviam como comichões
em seus ouvidos; as pessoas nos dias de Jesus não conseguiam ouvir seu doce
convite – Vinde a Mim, mas ouviam com avidez as vozes de seus algozes –
Crucifica-o.
SILENCIAI-VOS E LEMBRAI
QUE EU SOU DEUS! A figura de Marta de Betânia, correndo de um lado para outro,
estressada, afadigada é um retrato perfeito de nós nesse tempo pós moderno,
cibernético; como precisamos urgentemente aprendermos com Maria, assentada,
aquietada, em silêncio, ouvindo cada palavra que sai da boca de seu Amado
Mestre. Aqui está o segredo da vida com qualidade; da vida em sua real
plenitude. Sim, a vida não está no turbilhão de mil vozes e compromissos
agendados até o ano dois mil e.....
Como bons crentes (no meu caso pastor) somos
treinados para “falarmos” e “fazer” coisas o tempo todo; mas não somos
treinados para “silenciar” e “aquietarmos”. Se não temos pessoas para nos ouvir
ou, pior ainda, se há páginas na nossa agenda que estão em branco, nos
frustramos e entramos em crise – o pânico toma conta: o que estou fazendo de
errado?
Por que será que Jesus antes de iniciar seu
ministério terreno foi levado para o Deserto? É no silêncio e quietude do Deserto,
com sua paisagem árida e simples, que durante quarenta dias, Jesus se preparou
para todos os embates de seus quase três anos de Ministério, intenso, árduo e
que culminou com a Cruz. Enquanto com seus discípulos e amigos (como Ele os
chama) e acossado pelos muitos adversários, Jesus tomava tempo para procurar um
lugar tranquilo e quieto onde podia se aquietar na presença do Pai.
Para o bem de nossa vida: corpo, mente e
espírito, precisamos buscarmos a cada dia um lugar para assossegarmos na presença
do nosso Pai Celeste. Lermos um texto bíblico e então sem qualquer necessidade
de falarmos uma única palavra; deixarmos as palavras de Deus ressoarem em nosso
coração e alma; contemplando a Criação em profundo silêncio. Essa é a melhor
maneira de nos preparamos para suportarmos os embates e anseios da vida
cotidiana neste inicio de século XXI, com suas violências físicas e emocionais;
pandemias criadas em laboratórios; proliferação de toda sorte de doenças psicossomáticas;
guerras ideológicas; glamourização do pecado em todas as suas formas mais
depravadas; crescente ceticismo e ateísmo; evangelicalismo materialista e
hedonista. O Mundo nunca foi tão tenebroso como neste início de século XXI.
SILENCIAI E SABEI QUE EU
CONTINUO SENDO DEUS! É preciso negociarmos momentos de silêncio e contemplação
em meio ao caos diário que tenta nos arrastar em seus turbilhões; esse é um desafio
pessoal e interno; é preciso transformarmos até mesmo as feridas que tanto nos
trazem transtorno, dor e sofrimento em oportunidades para nos silenciarmos na
presença de Deus.
Aprendemos mais sobre Deus em um dia de
contemplação e silêncio, do que em um semestre falando sobre Deus. Há um grande
engodo em relação ao sentido do termo “teologia”. A genuína teologia não é uma
infindável falação a respeito de Deus, mas um aprendizado a respeito de Deus
resultante de uma relação pessoal com Ele através dos dois livros que Ele nos
deu. Somente quando passo tempo em silêncio diante da Sua Criação e da Sua
Palavra começo de fato e de verdade apreender algo sobre esse Deus imensurável.
A genuína teologia, sem artificialismos
mesquinhos e arrogantes, é aquela que nos conduz cada vez mais a nos calarmos diante
do Deus eterno e glorioso; é aquela, parafraseando Agostinho, que nos capacita a
silenciosamente voarmos em direção a Deus; como diz o salmista nos faz calar e
sossegar nos braços amorosos do Senhor; e como diz Cantares é aquela que nos
faz esquecer de nós mesmos e somente contemplar o Amado; que nos faz
mergulharmos cada vez mais profundamente na graça maravilhosa de Deus. A boa e
edificante teologia é aquela que nos faz descobrir o “unum necessarium” –
que uma única coisa é de fato e de verdade necessário para a nossa vida: Deus! Qualquer
teologia que não nos conduza a esta verdade é no mínimo deficitária.
SILENCIARMOS é a maior e mais premente
necessidade dos nossos dias. Devemos nos silenciar, para podermos ouvir a voz
de Deus com clareza e sem ruídos; o silêncio é uma rendição incondicional onde reconhecemos,
sem falar, a nossa total dependência do Deus todo poderoso e pleno de graça, que
está conosco (Emanuel) até sorvermos o último gole do cálice que tiver que
tomar, pois mesmo quando tivermos que passar e teremos que passar, por vales
muitas vezes profundos e tenebrosos, temos plena certeza de que Ele estará conosco
a cada passo e se e quando fraquejarmos a Sua bondade e misericórdia nos acompanhara
em segurança até quando pudermos estarmos com Ele para sempre!
Apenas como adendo é necessário deixar bem
claro que esta atitude e busca pelo silêncio não caracteriza ou incentiva de
forma alguma quaisquer tipos de fuga da realidade, por mais dura que ela seja,
mas justamente ao contrário, é uma das formas de nos prepararmos para os
embates da vida. Os quarenta dias de Jesus no deserto não foram para evitar
(fugir) da Cruz, mas para caminhar seguro e resoluto em direção à Cruz (vontade
do Pai).
A Mulher à Beira do Poço
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Salmo 23.1 - O Cuidado Pastoral de Deus
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(Re)aprendendo a Olhar o Outro
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O Verdadeiro Espírito do Natal
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Um Luto Que Termina em Festa
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Tempus Fugit
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A Síndrome da Cegueira (Reflexão)
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O Homem Que Queria Ver Jesus
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O Grade Amor de Deus
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Betânia: Um Lugar de Refrigério e Vida
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