sábado, 13 de maio de 2017

Geografia Bíblica: Os Israelitas e a Conquista do Território


            Após a saída do Egito e a peregrinação por quarenta anos no deserto, bem como a morte do grande líder Moisés,  uma nova geração de israelitas, agora liderados por Josué, estão prontos para tomarem posse da terra que lhes  havia sido prometida por Deus.
            A chamada conquista da terra de Canaã[2] não foi rapida e nem foi fácil. As nações que estavam localizadas na zona fronteiriça com o deserto do Sinai ofereceram grande resistência. Os movimentos ao norte por ambos os lados do Mar Morto tiveram que superar resistencias e embates, a estratégia deles foi ocupar o Vale do Jordão[3]. Durante o período do Juízes eles sofreram bastante com as investidas do cananeos e seus carros de guerra, com a resistência dos moabitas e a belicosidade dos filisteus. Somente nos reinados de Davi e Salomão os israelitas conseguiram ocupar de fato a quase totalidade do território palestino.
            A estratégia israelitas visava evitar a chamada “via do Rei”, que se constituia na principal rota na Transjordania, bem como evitar também os reinos de Edom e Moabe; foram ocupando paulatinamente a região da Transjordania até cruzarem o rio Jordão para conquistarem a região da Cisjordania.
A conquista da cidade de Jericó: A posição que ocupa o oásis de Jericó demonstra que se tratava de uma cidade estratégica para a ocupação da Transjordânia em direção as montanhas de Canaã.
A Jericó veterotestamentária se localiza na atual Tell es-Sultan, entretanto, a grande erosão naquele local não permite a extração de muitas informações arqueológicas sobre suas origens. Tratava-se de uma cidade de porte médio, guardada por muralhas que se remonta a idade do Médio Bronze. Segundo o relato bíblico somente com ajuda de Yahvé foi possível aos israelitas invadirem e conquistarem esta cidade.
            Uma vez ocupada o sul da Cisjordania, a narrativa do livro de Josué (capto 11) informa que os reis do norte de Canaã, preocupados com o avanço israelita, se unem para um ataque, mas Josué se mobiliza rapidamente, promove um ataque surpresa junto as margens de Merom, e alcança uma significativa vitória sobre estes reis, tendo como grande conquista a cidade de Hasor[4].
            Ao final do século XIII a.C. os israelitas estavam ocupando as colinas às margens do rio Jordão. Mas como podemos perceber na leitura dos livros Históricos da bíblia esta conquista arrastou-se por um longo e sofrido período, e no capítulo 13 de Josué relaciona-se diversas regiões que ainda estavam pendentes. A arqueologia indica que cidades como Megido e Basã resistiram durante gerações, provavelmente pelo aporte egipcios a estas cidades.
A Divisão da Terra em relação às Doze Tribos israelitas
Ainda nos dias de Josué (capto 13) acontece uma distribuição das tribos pelo território conquistado. Aqui se colocam os limites geográficos e jurídicas da futura nação israelita. Encontra-se muitas dificuldades para identificar com exatidão os marcos de possessão de cada tribo. Incluem-se também muitos territórios que ainda estavam por serem conquistados e alguns somente o foram nos dias de Davi e Salomão. É provável que estas divisões foram sendo modificadas e atualizadas por escribas posteriores para refletirem as divisões administrativas que foram ocorrendo ao longo da história da nação. Destaca-se desde então a tribo de Judá,[5] as demais recebem menos atenção e algumas são meras referências, como Issacar, Gade e Naftalí.
O Período dos Juízes[6]
 Posteriormente à morte do líder “nacional” Josué, a tenua unidade israelita é fragmentada. A narrativa de Juízes demonstra que cada tribo intenta afirmar-se por si mesma obtendo maior ou menor éxito e sofrendo continua influencia das religiões cananéias que nunca foram totalmente erradicadas da região. Nenhum dos Juízes (lideres regionais e/ou tribais) conseguiu unificar as doze tribos, o que vai ocorrer somente e por curto período com a implantação do governo monárquico, e assim mesmo, apenas com Davi e Salomão, pois Saul o primeiro rei não alcança essa unificação de fato e Roboão logo após a morte de seu pai Salomão, divide o reino.
            A figura dos Juízes surgiam somente quando as tribos corriam grande perigo. Não havia também um local único de adoração e culto, pois Siló era apenas um destes diversos locais espalhados por todo o território israelita. Somente depois da conquista de Jerusalém que tornou-se a capital da nação, nos dias de Davi e com a construção do Templo, nos dias de Salomão, é que se alcançou certo grau de unidade nacional politica, econômica e religiosa.
            Essa fragmentação das tribos fica explicitada na guerra sangrenta ocorrida entre as tribos de Efraim e Gileade (Jz 12.6), onde se relata que para distinguir a que tribo a pessoa pertencia, deveria se pronunciar uma determinada palavra, que caracterizava o “sotoque” da origem do individuo.
            O exercício da função de “Juiz” podia ser por um chamado especifico, como o caso de Gedeão, ou por predestinação desde o nascimento, como o exemplo de Sansão. Muitos estudiosos também fazem uma distinção entre juízes “maiores” e “menores”, não por causa da quantidade de relatos ou registros das atividades deles, mas pelo fato de que os primeiros exerceram de fato uma autoridade judicial e administrativa (governo) neste período premonárquico.
            O marco fundante do estabelecimento da monarquia israelita esta no século XI a.C., quando os filisteus invandiram a Palestina, apoderaram-se da Arca da Aliança e destruiram o santuario de Siló. Aproximadamente em torno de 1030 a.C. Saul assume a função de rei e conclama a todas as tribos para que formem um único exército, com o qual vence os filisteus e recuperam o domínio do país. A partir de Saul a nação passa a ter uma liderança nacional capaz de enfrentar seus inimigos em defesa de seus territórios. Estão entrando em uma outra fase, de crescimento urbano e organização social, econômica, politica (Jerusalém como capital) e religiosa (construção do Templo).

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/


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Referências Bibliográficas
ABBAGNANO, Nicola (1901-1990). Dicionário de Filosofia. Tradução da 1ª edição brasileira coordenada e revista por Alfredo Bossi; revisão da tradução dos novos textos Ivone Castilho Benedetti, 5ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
ADAMS, J. McKee. A Bíblia e as civilizações antigas. Rio de Janeiro: Dois Irmãos, 1962.
ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Geografia bíblica. Rio de Janeiro: CPAD, 1987
KRESTSCHMER, K. História dela geografia. 3ªed. Barcelona: Editorial Labor, 1942
MORA, José Ferrater. Diccionario de filosofía (A-K), 5ª ed. Buenos Aires: Editorial Sudamericana, 1964.
ROCHA, Genylton Odilon Rêgo da. Geografia clássica – uma contribuição para história da ciência geográfica. Presença - Revista de Educação, Cultura e Meio Ambiente, dez. nº 10, vol. I, 1997 (Universidade Federal de Rondônia). Disponível em: http://www.revistapresenca.unir.br/artigos_presenca/10genyltonodilonregodarocha_geografiaclassicaumacontribuicaoprahistoriadaciencia.pdf. Acesso em 04/08/2014.





[1] Formação Acadêmica: Mestre em Ciências da Religião (Universidade Mackenzie); Teologia (Seminário Presbiteriano); Especialização em História do Cristianismo (Universidade Metodista de Piracicaba); Ciências Contábeis (Universidade Cruzeiro do Sul); Profº Introdução Bíblica: Seminário Bíblico de São Paulo (SBB); Faculdade de Teologia Integral da América Latina (FLAM);  Faculdade de Teologia Paschoal Dantas (SP). Dissertação de Mestrado: O protestantismo na capital de São Paulo - Igreja Presbiteriana Jardim das Oliveira. Dissertação [Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2013]; Blogs: Reflexão Bíblicahttp://reflexaobiblica.spaceblog.com.br/ e Historiologia Protestante - http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
[2] Após a dispersão da humanidade, ocorrida quando da construção da Torre de Babel, os descendentes de Canaã, filho de Cam e neto de Noé, fixaram-se nas terras que seriam entregues a Abraão. Isso ocorreu há mais de três mil e quinhentos anos antes de Cristo. Nessas paragens, notórias por sua fertilidade e riquezas naturais, os cananeus multiplicaram-se e forjaram uma vigorosa civilização.
[3] É o maior vale de Canaã. Começa no sopé do Monte Hermom, no extremo norte, e vai até ao mar Morto, no extremo sul, recontando longitudinalmente o território israelita. Esse vale, importantíssimo cenário na história do povo de Israel, é na verdade uma grande fenda geológica. Através desse vale, corre o rio que lhe empresta o nome: o Jordão, onde foi o Senhor Jesus batizado. É o vale mais profundo da Terra: encontra-se a 426m abaixo do nível do Mar Mediterrâneo. Do Hermom, onde nasce, até ao Mar Morto, onde termina, tem o Vale do Jordão uma extensão de 215km de extensão.
[4] Hazor era uma cidade do período Bronze Recente e era a mais importante de Canaã e mantinha relações internacionais. Sofreu influencia hitita e fontes egipcias a mencionam em diversos textos comerciais. Há vestigios arqueológicos de intensa atividade religiosa, templos, objetos de culto, mesas de libações e um grande altar de incesario de basalto decorado e estelas de pedra. Também encontra-se indicios de que foi destruida por fogo em torno de 1.200 a.C., que pode ser relacionado com a narrativa bíblica. Somente nos dias de Salomão esta cidade resgatou um pouco de seu explendor.
[5] As doze tribos israelitas remontam aos descendentes de Jacó (Gn 29.31-35 e 30.1-24). São os filhos das esposas de Jacó (Lía e Raquel) e suas concubinas (Billá e Zilpá). A distribuição dos territórios seguem o grau de parentesco: os quatro primeiros filhos de Lía (Rubem, Simeão, Levi e Judá) são as tribos meridionais e os dois filhos de Raquel (José e Benjamim) ocuparam o centro da Palestina. Essa dualidade manteve-se e demarcou os eventos históricos da nação quando posteriormente o reino dividiu-se em duas nações independentes: Judá e Israel.
[6] O Termo “juíz” vem da mesma raíz da palavra semítica que trás a idéia de alguém que exerce plenos poderes de governo e não somente funções judiciais. Eles eram pequenos “reis” regionais em uma época premonárquica. 

terça-feira, 9 de maio de 2017

Compreendendo Melhor os Profetas e Suas Mensagens


Quando vamos estudar um determinado livro ou autor é importante sabermos algumas informações para que nossa leitura e estudo possam ser o mais fiel possível não somente sobre o que ele escreveu, mas porque escreveu, quando escreveu e para quem escreveu. Quem era o autor, em que época e o que estava acontecendo quando ele escreveu.
No caso especifico dos Profetas bíblicos ao menos seis questões devem serem levantadas, para que possamos usufruir melhor de sua mensagem, minimizando ao máximo as sempre possibilidades de interpreta-los equivocadamente.
Período Histórico: É importante obter informações sobre o contexto histórico do profeta, pois auxilia na compreensão do porque ele esta abordando aquele determinado assunto e as razões de seus questionamentos e propostas. Serve para demonstrar que o profeta e sua pregação estão inseridos no mundo real e suas problemáticas politicas, sociais, econômicas, militares e não apenas, ainda que centrais, as questões religiosas.
A Pessoa do Profeta: Ainda que em alguns casos haja pouca informação pessoal sobre um determinado profeta é oportuno explorarmos o quanto possível a vida dele, sua origem, seus parentescos, estado civil (esposa, filhos), sua formação e ocupação, sua aproximação ou distanciamento do Templo, sacerdotes e governantes.
A Literatura: Todo livro ou literatura carrega características distintivas e identifica-las torna-se importante; um esboço ainda que sintético haverá de proporcionar uma visualização panorâmica do conteúdo total do texto produzido. 
Temas e Passagens Relevantes: A proposta desse Fichário não é discutir exaustivamente cada livro, dissecando capítulo por capítulo (isso é tarefa do exegeta e comentarista). O objetivo é mais de ser instrumento de auxílio para que o leitor compreenda com mais propriedade as questões e preocupações que foram relevantes para o profeta naquele momento e as implicações em outras literaturas bíblicas judaicas e posteriormente cristãs (Segundo Testamento e/ou Novo Testamento). Aqui esta a razão pela qual a mensagem do profeta foi preservada e acoplada aos demais escritos bíblicos.
O Profeta e Herança Religiosa Recebida: O profeta e sua mensagem não é um acontecimento inédito, mas estão totalmente inseridos na história e tradição religiosa de seu povo. Na mensagem do profeta ecoa os temas e conceitos forjados na bigorna da revelação recebida anteriormente, que muitas vezes são referendados e reinterpretados à luz dos acontecimentos atualizados para os dias atuais do pregador.
O Profeta e a Herança Religiosa Póstuma: Aqui o propósito é identificar como a mensagem do profeta foi recebida e interpretada na literatura judaica posterior e pelos escritores do Segundo Testamento e, por conseguinte na literatura cristã até os dias presentes.

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Guedes, Ivan Pereira
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