terça-feira, 18 de agosto de 2020

Geografia Bíblica: Cidades Mencionadas no Novo Testamento

 

            Quando nos referimos a cidades no contexto bíblico e aqui mais especificamente na literatura neotestamentária, não podemos pensar nas cidades atuais ou metrópoles como São Paulo por exemplo. O conceito de cidade na literatura bíblica é bem mais modesto e simples.
            A nação de Israel tem suas origens nos povos nômades e posteriormente quando se estabelecem em Canaã o foco é pastoril e agrícola, portanto, a construção de grandes centros urbanos não era uma prioridade. O que prolifera são a vilas, micro cidades, sem muita infraestrutura, composta por uma ou duas ruas principais e um conjunto habitacional com casas simples e sem muito embelezamento, mormente com poucos cômodos. Josefo, um historiador judeu da época, calcula que havia 240 aldeias espalhadas pela Galiléia, com não mais do que alguns acres e extensão e com uma população de pouco mais do que algumas centenas de pessoas. Os centros habitacionais maiores (com dez acres ou mais) exigem uma infraestrutura mais elaborada, bem como muros de proteção e as casas são construídas com formas arquitetônicas mais desenvolvidas, bem como suas ruas principais e as ruas transversais, pois o numero de habitantes permanentes são mais expressivos. A cidade de Jerusalém, por ser a capital politica-religiosa dos judeus, tinha dimensões muito maiores e não serve de parâmetro em relação às demais cidades espalhadas por toda Palestina judaica. Mesmo assim, ela fica muito aquém das dimensões e população das cidades atuais e mesmo de outras grandes cidades como Roma, Grécia e Éfeso por exemplo.
            Durante seu ministério Jesus percorreu cidades e vilas espalhadas por toda Palestina Judaica anunciando a mensagem do Reino de Deus. Inicia seu ministério na cidade de Cafarnaum, uma agitada cidade pesqueira e um centro comercial importante e que se torna uma espécie de base na região da Galiléia. Ali ele chama seus primeiros discípulos e realiza seus primeiros milagres. Ele perpassa outras cidades como Jericó, onde cura o cego Bartimeu e entra na casa de um coletor de impostos chamado Zaqueu. O fato de ter ali um posto tarifário implica de que a cidade era um importe centro comercial de importação e exportação de mercadorias. Mas certamente a cidade de Jerusalém é o palco maior e convergente do ministério terreno de Jesus. Essa cidade representa todo a nação israelita e por essa razão Jesus chora por ela, quando pela última vez a contempla do alto do monte das Oliveiras, antes de sua entrada triunfal e posterior paixão. É aqui também que Ele ressuscita e se revela aos discípulos e depois ascende aos céus, deixando a promessa de que voltaria (parousia).
    O apóstolo Pedro vai para Jope, uma importante cidade de artesãos com vistas impressionantes do mar e sua vizinha Cesaréia, cujos portos eram rivais, será nessas duas cidades que Pedro experimentara uma profunda transformação na sua maneira de pensar – transição do judaísmo para o cristianismo – principalmente com a conversão e comitente batismo do Espírito Santo do centurião romano (gentil) Cornélio, juntamente com toda a sua família e demais presentes na reunião e que foram batizados pelo apóstolo.
    Na expansão do cristianismo por todo o império Romano, Lucas nos proporciona a oportunidade de acompanharmos o apóstolo Paulo em suas viagens missionárias, que soube como poucos aproveitar as estruturas dos grandes centros urbanos, pois uma de suas estratégias era alcançar um centro maior, estabelecendo ali uma comunidade cristã bem fundamentada, e a partir dela alcançar as cidades menores da circunvizinhança, como por exemplo ele o fez na grande cidade de Éfeso, também portuária, e de onde irradiou a mensagem do Evangelho para outras cidades menores.
    Nossa abordagem aqui é um panorama das cidades que são mencionadas nas narrativas neotestamentárias e o faremos por região geográfica, na expectativa que possa ser útil aos leitores as sucintas informações sobre cada uma delas, visto que nossa mentalidade moderna é urbana e não rural.
 

JUDEIA

Terra de ravinas, dura e ingrata, de clima quente e árido, geralmente acidentada com alturas superiores a 1.010 metros perto de Hebrom e estendendo-se por uma extensão de quarenta quilômetros. Geograficamente, constitui a parte meridional da Palestina, limitada a leste pelo rio Jordão e o mar Morto, ao sul pela Idumeia, a oeste pelo mar Mediterrâneo, ao norte por Samaria.
Desde o retorno do exílio, até os dias de Jesus, este termo designa em sentido estrito os territórios em torno de Jerusalém habitados pelos judeus (Lc 2,4), mas também em sentido amplo toda região: Galiléia, Samaria, Judéia, Idumeia e Peréia (7300 km2) que foi reduzida a Província romana de 6 DC (Lc 3.1; 5.17; Jo 4.3; At 9.31). Após a destruição de Jerusalém pelos Romanos em 70 DC a região foi ocupada por outros povos.
A Judéia era governada no tempo de Jesus por Herodes o Grande (4 antes - 6 depois do nascimento de Jesus) e após sua morte por seu filho Arquelau.
Agripa I reconstituiu em sua totalidade de 41 a 44 o reino de seu avô Herodes o Grande, a província romana da Judéia em sentido amplo reagrupou as cinco regiões: até à grande revolta judaica de 66 DC. Depois desta última diáspora judaica a região foi ocupada por outros povos.

Azoto

No Primeiro Testamento é denominada de Ashdod (fortaleza). Uma das cinco principais cidades dos filisteus (Js 13.3), mas no Segundo Testamento é chamada de Azoto (seguindo a versão da Septuaginta). Ela fazia parte do território designado à tribo de Judá que não a conquistou (Jz 1.19); foi palco de muitas cenas na literatura veterotestamentária (1 Sm 5.17-7; 2 Cr 26.6; Am 1.8; Is 20.1; Jr 25.15-29; Sf 2.4; Zc 9.6; Ne 4.7-9; 13.23,24).
Na literatura apócrifa dos Macabeus ela continua sendo relevante, sendo palco de muitas batalhas entre eles e as tropas romanas. Após a derrota final dos Macabeus o General romano Pompeu tirou Azoto da geografia da Judeia, mas posteriormente ela voltou a fazer parte do território judaico. O reino de Herodes incluía a cidade, que ele legou a sua irmã Salomé e Vespasiano estabeleceu nela uma guarnição inteira para inibir novas revoltas.
Nas literaturas neotestamentária a cidade de Azoto é mencionado uma única vez (Atos 8.40) para onde Felipe foi levado pelo Espírito Santo depois de evangelizar e batizar o Eunuco Etíope.

Betânia

Assim como Cafarnaum era o lugar de repouso de Jesus na Galiléia (Mc 2.1), Betânia era o lugar preferido de Jesus, pois quando se concluía a viagem extenuante da subida da Galileia para Jerusalém, ela era o local onde ele descansava na casa de seus queridos amigos Lazaro, Marta e Maria (Lc 10.38). Estava localizada na encosta Leste do monte das Oliveiras, num antigo acesso a Jerusalém, vindo de Jericó e do Jordão. (Mc 10.46; 11.1; Lc 19.29).
Estrategicamente ela ficava apenas três quilômetros de Jerusalém (equivalendo os “quinze estádios” mencionados por João 11:18). Foi aqui que Jesus ressuscitou Lazaro (Jo 11.1, 38-44).
Será em Betânia que Jesus se preparara para os momentos finais de seu ministério cominando com sua morte e ressurreição (Jo 12.1); participa de um jantar onde uma mulher derrama um vidro inteiro de caríssimo perfume sobre ele (Mt 26.6-13; Mc 14.3-9; Jo 12.2-8); uma grande multidão de judeus afluiu para vê-lo e a Lázaro que havia sido ressuscitado (Jo 12.9). Saindo de Betânia, percorrendo a estrada que circunda o monte das Oliveiras, de onde tem uma vista ampla da cidade, Jesus entra em Jerusalém montado em um jumento e aclamado pela multidão (Mt 21.1-11; Mc 11.:1-11; Lc 19.29-38); neste mesmo caminho de Betânia para Jerusalém, Jesus amaldiçoou a figueira infrutífera, que já havia murchado totalmente quando ele e seus discípulos passaram por ela no dia seguinte (Mc 11.12-14, 19, 20). Nos últimos quatro dias, antes da crucificação, Jesus se dirigia pela manhã à Jerusalém e à tarde retornava para Betânia para repousar (— Mc 11.11; Mt 21.17; Lc 21.37).
Quarenta dias depois da sua ressurreição Jesus se despede de seus discípulos e “para fora, até Betânia”, no monte das Oliveiras, ele ascende aos céus (Lc 24.50-53; At 1.9-12).

Belém

Havia outra Belém na tribo de Zebulom, perto do mar da Galiléia (Js 19.15). Outro nome para Belém era Efrata (Gn 35.19; 48.7; Mq 5.2).
Significa “casa do pão” estava localizada a dez quilômetros ao sul de Jerusalém e era conhecida como “a cidade de Davi”, local da origem de sua família (Rt 1.1; 19). Seu nome antigo era Efrate ou Efrata (fértil) e foi local da sepultura de Raquel (Gn 35.16, 19; 48.7). Nos dias de Juízes passou a ser denominada de Belém de Judá (Rt 1.1) para distingui-la de outra Belém (no território de Zebulom, onze quilómetros a noroeste de Nazaré - Js 19.15).
Ela é mencionada 40 vezes no Primeiro e 8 vezes no Segundo Testamento. Localizada em um monte a cerca de oito quilómetros ao sul de Jerusalém, centro de uma área fértil, por isso era a casa do pão. A história de Rute se passa nessa cidade e foi aqui que Samuel vai ungir o juvenil Davi como rei de Israel em substituição à Saul (1 Sm 16.13,15) e por isso era apelidade de “Cidade de Davi” (Lc 2.4-11). Mas a razão de sua grande relevância é o fato de que é o local onde nasceria (Mq 5.2) e nasceu o Messias-Jesus (Mt 2.1; Lc 2.1-7). Mas também é aqui que ocorre uma das cenas mais horrorosas da história bíblica, o assassinato dos meninos abaixo de dois anos, por ordem de Herodes, na tentativa de matar Jesus, o menino Rei conforme os sábios do Oriente buscavam (Mt 2.16).  
 

Emaús

Povoado mencionado apenas em Lucas (24.13). Após a ressurreição, uma das aparições de Jesus foi para dois discípulos que caminhavam de Jerusalém para Emaús, cujo nome de um deles era Cleofas, caminharam com Cristo sem o reconhecer (Lc 24.13-35). Estavam tão desanimados após a crucificação que somente quando Jesus parte o pão na hora da refeição compreenderam a real identidade daquele que caminhara com eles um dia inteiro. foi somente após sua partida que eles entenderam sua identidade.

Gaza

Importante cidade portuária na costa sul da Palestina. Nos dias de Juízes os israelitas deveriam tê-la conquistado, mas falharam (Jz 1.18; 3.3), e a cidade tornou-se parte da Pentápolis filisteu, a cidade mais ao sul naquela liga de cinco cidades (Js 13.3; 1 Sm 6.17; Jr 25.20); Gaza teve um lugar de destaque nas narrativas de Sansão: enquanto visitava uma prostituta, escapou da captura pelos filisteus e, tomando os portões da cidade de Gaza, os levou para Hebron (Jz 16.1-3); depois de ser traído por Dalila, Sansão foi levado como prisioneiro para Gaza, onde foi torturado e confinado (16.21-25), mas após recuperar suas forças ele derrubou os pilares do templo de Dagom em Gaza (16.28-30).
Por sua importância econômica-militar ela foi conquista e reconquistada varias vezes, dependendo do poderio militar de plantão (2 Rs 18.8; Jr 47.1). Os profetas Sofonias (2.4) e Zacarias (9.5) previram que ela seria devastada e abandonada.  Depois de ter sido devastada em 93 AC pelo Hasmomeu (Macabeu) Alexandre Jannaeus em 96 aC (Jewish Antiquities, XIII, 364 (xiii, 3); ela foi  reconstruída pelo general romano Gabinius em 57 AC, porém mais a beira-mar, um pouco ao sul da antiga cidade. Herodes, o Grande, manteve Gaza por um curto período, mas depois de sua morte, ela ficou sob a autoridade do procônsul romano da Síria.
Desta forma, Lucas está correto ao descrever que Filipe foi orientado por um anjo a tomar a antiga estrada que descia de Jerusalém ate Gaza, e que este era um caminho que estava deserto (At 8.26).
Ela floresceu como uma cidade romana e vai, principalmente depois da destruição de Jerusalém (70 DC), se constituir em um importante um centro para a comunidade judaica e a comunidade cristã emergente durante a era romana (63 AC-324 DC) e permanecendo relevante no período bizantino (324-1453 DC).
A providência de Deus é maravilhosa, transforma uma cidade destruída e uma região abandonada em um oásis para os cristãos refugiados de Jerusalém e adjacências.

Jericó

A primeira cidade Cananeia ao Oeste do Vale do Jordão a ser conquistada pelos israelitas. (Nm 22.1; Js 6.1, 24, 25), 270 metros abaixo do nível do mar, em um local muito fértil famosa por seus jardins e palmeirais. Depois de destruída nos dias de Josué o território fixou anexado à tribo de Benjamim, mas posteriormente acabou ficando de posse dos moabitas, por 18 anos, mas foi reconquistada novamente pelos israelitas (Jz 3.12-30). O profeta Eliseu transforma águas contaminadas em águas limpas nas fontes de Jericó ((2Rs 2.11-15,19-22). Após a libertação do exílio babilônico, 345 “filhos de Jericó” achavam-se entre os que voltaram com Zorobabel, em 537 AC, e, pelo que parece, fixaram-se em Jericó. (Ed 2.1,2,34; Ne 7.36) Posteriormente alguns dos homens de Jericó cooperaram na reconstrução dos muros de Jerusalém (Ne 3.2). 
No período Romano neotestamentário Jericó foi reconstruído perto de uma antiga cidade de mesmo nome por Herodes, o Grande, que mandou construir um magnífico palácio para torná-la sua capital de inverno. Uma estrada de 25 quilômetros a ligava diretamente à capital Jerusalém através do deserto de Judá, tendo quase mil metros de descida (daí a expressão "descer de Jerusalém a Jericó" em Lc 10.30) que aumentava o perigo para os viajantes. Jesus curou um cego, Bartimeu, ali (Mt 20.30; Lc 18.35). Um posto alfandegário romano foi estabelecido nesta cidade famosa por seus bálsamos e frutas tropicais com grande tráfego comercial, que a tornava a cidade da Judeia mais importante depois de Jerusalém. O chefe deste posto alfandegário era um homem chamado Zaqueu (Lc 19.1,2) e que na última vez em que Jesus passou pela cidade foi recebido na casa dele e o qual deu testemunho de conversão.

Jerusalém

Certamente a mais importante da história judaica e a grande Capital estabelecida por e nos dias de Davi. O Templo projetado por Davi e construído por Salomão tornou-se o coração da jovem nação israelita e depois da divisão do Reino dos judeus. Nas Escrituras, há mais de 800 referências a Jerusalém. O mais antigo nome registrado da cidade é “Salém”. (Gn 14.18) cuja raiz hebraica significa “paz” e quando na forma dual “dupla paz”.
Apesar de ela estar localizada fora das grandes rotas comerciais, Davi a escolheu como capital política e religiosa por estar localizada entre as tribos ao Norte e as localizadas no Sul. Mas não ficava isolada, pois tinha duas rotas comerciais importantes, uma que a ligava ao Norte-Sul e outras cidades importantes; uma segunda estrada, mais perigosa ligava Leste-Oeste, circundando as íngremes encostas de Judá e serpenteando as encostas ocidentais até a costa do Mediterrâneo e a cidade portuária de Jope.
Jerusalém estava situada a uns 55 km do mar Mediterrâneo, e a uns 24 km ao do mar Morto, fica entre as colinas da cordilheira central. (Sl 125.2.) Sua elevada altitude com cerca de 750 m acima do nível do mar a tornava uma das capitais mais elevadas do mundo daquele tempo. Sua “elevação” é mencionada nas Escrituras, e os viajantes tinham de ‘subir’ das planícies costeiras para chegar à cidade. (Sal 48:2; 122:3, 4) O clima é agradável, com noites frescas.
Sem duvida alguma de todos os eventos que teve por palco a cidade de Jerusalém, nenhum pode ser comparado à paixão de Cristo. Todos os evangelistas dedicam a maior parte de suas narrativas para descrever em detalhes a última semana de Jesus, bem como sua morte e ressurreição.
Foi ali no Monte das Oliveiras que Jesus ascendeu aos céus ordenando que seus discípulos permanecessem em Jerusalém até que o Espírito Santo fosse derramado sobre eles, que vai ocorrer durante a Festa do Pentecostes.
A partir do Pentecostes e principalmente com o apedrejamento do diácono Estevão os cristãos iniciam uma diáspora de Jerusalém e espalhando a mensagem do Evangelho por todas as regiões, partindo de Jerusalém alcançaram a Judéia, Samaria e chegaram ao coração do império Roma.
 

Jope

Salomão utilizou seu porto para receber o transporte dos cedros do Líbano usados ​​para a construção do Templo (2 Cr 2.6), Jope foi conquistada durante a revolta dos Macabeus e destruída durante a grande revolta judaica de Vespasiano, que instalou ali uma guarnição romana. Foi nesta cidade que aconteceu a ressurreição da viúva chamada Tabita (At 9.36-42) e foi lá que o apóstolo Pedro recebeu a visão de Deus pedindo-lhe que não fizesse distinção entre alimentos puros e impuros, e, portanto, entre judeus e pagãos quando entrasse na casa de Cornélio um centurião romano (At 10.0-16).

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Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
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Historiologia Protestante
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Referências Bibliográficas
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JEREMIAS, Joachim. Jerusalém no Tempo de Jesus: pesquisa de história econômico-social no período neotestamentário. 4 ed. São Paulo: Paulus, 1983.
MONEY, Netta Kemp de. Geografia Histórica do Mundo Bíblico. São Paulo, SP: Editora Vida.
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quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Os Juízes de Israel: Aprendendo com Otoniel

 

Lista dos juízes e suas tribos segundo o livro Juízes

Otoniel

(Tribo de Judá) - Jz 1.11-15; Jz 3.7-11

Eúde

(Tribo de Benjamim) - Jz 3,12-30; Jz 4,1

Sangar

(desconhecido a origem) - Jz 3.31; Jz 5.6

Débora

(Tribo de Efraim) - Jz 4.1; Jz 5.31

Gideão

(Tribo de Manassés) - Jz 6.1-8; Jz 6.32

Tola

(Tribo de Issacar) - Jz 10.1-2

Jair

Tribo de (Manasses) - Jz 10.3-5

Jefté

(Tribo de Manassés) - Jz 10.6-12; Jz 7

Ibsã

(Tribo de Judá ou Zebulom) - Jz 12.8-9

Elom

(Tribo de Zebulom) - Jz 12.11-12

Abdon

(Tribo de Efraim) - Jz 12.13-15

Sansão

(Tribo de Dã) - Jz 13-16

            A história narrada no livro dos Juízes começa muito bem – duas tribos sob a direção do Senhor vencem os inimigos e conquista o território que lhes havia sido designado, um ideal muito nobre – mas a narrativa vai se concluir com uma nota muito triste: "Naqueles dias não havia rei em Israel; cada homem fazia o que era certo em seus próprios olhos" (Juízes 21.25). Não havia direção, nem ordem, nem lei, mas sim independência e ilegalidade. A história dos israelitas contém expressões extraordinárias de fé e coragem, mas também contém profundezas abismais de pecado, ilegalidade e perversidade. Portanto, é impossível lermos esse livro e não sermos confrontados com a nossa própria realidade – quantos momentos maravilhosos nós experimentamos no relacionamento com Deus, mas também, quantas vezes falhamos miseravelmente; quantas vezes caminhamos tão perto de Deus, como Enoque, mas por outro lado, quantas vezes tomamos caminhos diferentes e até na contramão da vontade de Deus. O apóstolo Paulo experimentou intensamente esse conflito na sua própria vida – as coisas boas eu não faço, mas as coisas ruins eu faço – e declara: miserável pessoa que sou (Rm 7); mas então ele olha para a Salvação que emana da Cruz: “Mas não há nenhuma condenação aguardando aqueles que pertencem a Cristo Jesus - livrou-me do círculo vicioso do pecado e da morte (Rm 8).

O Inimigo Extremamente Cruel

            Periódica e repetidamente os israelitas faziam pouco caso da Aliança estabelecida por Deus com eles. Esta atitude provocava a manifestação da disciplina divina e para o qual Deus levantava governante e povos que viviam ao redor deles.

            Nos dias de Otoniel a vara de Deus será Cusan-Risataim (3.8), cujo nome significa “duplamente perverso”, um epiteto que revela por si mesmo o tipo de reputação que esse governante havia construído ao longo de sua vida. Ele reina na Mesopotâmia que abrangia a região entre os rios Tigre e Eufrates e de onde futuramente surgirão dois impérios dominadores e violentos a Assíria que será dominada e sucedida pelo império da Babilônia. Os israelitas tinham apenas que se manterem dentro dos termos estabelecidos na Aliança com Yahvé, mas voluntariamente optavam por se afastarem e irem após outros deuses. O fato de estas nações virem sobre os israelitas não era decorrente apenas da iniciativa de seus desejos de expansões e domínios, mas Deus mesmo os levantava e incitava, pois a soberania de Deus nunca se restringiu apenas a Israel/Judá, mas sobre todos os domínios e potestades (Salmo 75.6-8; Daniel 4.17; Romanos 13.1). "Deus não apenas designa todos os nossos castigos, mas eles estão sob Sua direção e gerenciamento especial quanto à sua natureza, grau, continuidade e efeitos. Que reflexo reconfortante este! Ter todas as circunstâncias de nossa angústia no gerenciamento de tal mão!” (McLean).

            Então os filhos de Israel clamaram a Yahvé. Levou oito anos para que Israel percebesse que continuar a adorar Baal e Assera não trazia nenhum benefício para eles e não os libertaria da opressão.

A Pessoa de Otoniel, o Primeiro Juiz.

            Mas se a disciplina de Deus é dura a sua misericórdia é um balsamo. Depois de um período os israelitas clamam a Deus e são ouvidos e um juiz (líder) é levantado dentre eles - Otoniel é uma das luzes brilhantes do livro de Juízes. Seu nome significa 'leão de Deus', ou 'força de Deus', mas qualquer que seja a interpretação, podemos ver que significa que havia força e poder com este homem; nem sempre se harmonizam o nome e a vida da pessoa, mas neste caso ao examinarmos sua vida nos poucos detalhes que nos é fornecido na narrativa bíblica, o significado do nome que ele carrega é amplamente confirmado nas suas ações.

Otoniel não era apenas membro de uma tribo favorecida – Judá – “O cetro não se arredará de Judá” (Gênesis 49.10), mas também tinha em seu tio Calebe um modelo de fé e determinação, um homem que "seguia inteiramente ao Senhor" (Nm 32.12; Dt 1.36; Js 14.14). Por quarenta anos ele tinha vivido no deserto, mas em seu coração estava a genuína fé que o movia para conquistar a terra prometida; ele estava preparado para experimentar todas as circunstâncias do deserto, ele estava preparado para aceitar o governo de Deus por causa do fracasso dos outros, mas tudo o que estava em seu coração era o desejo de possuir a terra da promessa. Em certo momento ele desabafa: “Tive fé para entrar e conquistar a terra, mas os outros não quiseram me ajudar”, mas então chegou o momento em que ele teve a oportunidade de entrar e ele provou que tinha fé e determinação, e ele conquistou o território que era seu por direito e ali se estabeleceu. Que melhor mentor o jovem Otoniel poderia ter!

Agora era o momento de Otoniel demostrar as mesmas qualificações de seu tio e mentor. Seria maravilhoso se todos os jovens cristãos seguissem os bons modelos que Deus colocou em seus períodos de formação – de fé, consagração e compromisso com a Palavra de Deus - mas, infelizmente, não o fazem – a maioria deles desiste, revelam um total menosprezo pelas coisas espirituais; mas aqui estava um verdadeiro discípulo de Calebe; alguém que exibia exatamente as mesmas características de coragem, determinação e fé para fazer as coisas que agradavam a Deus; e ele venceu o inimigo e libertou o seu povo (jovens, sois fortes, e a palavra de Deus está em vós, e já vencestes o maligno – 1Jo 2.14). Otoniel sabia que Deus estava com ele, como sempre esteve com Calebe, e esta era a fonte de sua coragem e fé. Como faz falta atualmente jovem com a fé e compromisso de Otoniel e ancião com a fé e coragem de Calebe.

Compromisso em Meio a uma Geração Descompromissada

            Se precisasse expressar em uma única palavra o que caracteriza a geração evangélica atual, certamente seria a palavra descompromissada – o evangelicalismo brasileiro é descompromissado com a Palavra de Deus e por esta razão suas mentes estão sendo moldadas pelo sistema deste mundo. Otoniel tem que vivenciar sua fé em meio a uma geração descompromissada com os termos da Aliança - "surgiu outra geração depois deles, que não conhecia o Senhor, nem tampouco as obras que Ele fizera por Israel" (2.10). Uma geração que não foi ensinada em relação a Yahvé – Sua Aliança e Suas obras - e por esta razão descompromissada. Eles estavam dentro da Aliança, mas não tinham nenhuma preocupação com ela, e é tão fácil desistir de algo com o qual não estamos preocupados. O resultado disso foi que eles abandonaram o Senhor e adoraram ídolos, uma situação muito, muito triste.

            Mas tudo que se semeia um dia há de se colher. Não é possível professar uma fé em Deus e seguir ídolos e esperar que tudo seja tranquilo e maravilhoso. Não foi assim no caso de Israel e não será o nosso caso. Somente quando os israelitas foram entregues nas mãos de seus inimigos, eles sentiram o peso da disciplina de Deus que sobreveio por causa da infidelidade deles, e somente então clamam ao Senhor: "E quando os filhos de Israel clamaram ao Senhor, o Senhor levantou um libertador para os filhos de Israel, que os libertou, sim, Otniel,... E o Espírito do Senhor desceu sobre ele, e ele julgou Israel, e saiu para a guerra" (3.9). O exercício da liderança de Otoniel foi de quarenta anos e houve paz (bênção) entre eles (3.11). Este é o tipo de pessoa que Deus deseja usar, melhor ainda, que Deus tem prazer em usar; uma pessoa que se provou em conflito pessoal em relação às coisas de Deus e venceu. Este é o tipo de pessoa que o Espírito de Deus usará para abençoar a vida de outros.

           Aqui há uma lição urgente a ser apreendida – somos responsabilizados de assegurarmos de que a geração mais jovem seja corretamente ensinada, tendo em vista a continuação do testemunho por meio da graça. Esse é o momento de nos prostramos diante de Deus e clamarmos por sua misericórdia e graça em relação à nova geração que esta nos sucedendo. Vamos clamar ao Senhor para que levante aqueles que são capazes de nos ajudar em nossa fraqueza atual para que haja bênção, sobre a nossa nação. O Senhor sempre ouve o clamor genuíno por socorro, não orações egoístas ou religiosas, mas o clamor real que provem de um coração contrito. E o mesmo Deus que ouviu o clamor dos israelitas e providenciou-lhes um líder é o mesmo Deus que ouvira nosso clamor e levantara dentre esta geração uma liderança cheia do Espírito Santo.

 

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
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Historia do Antigo Israel. Judá e o Exílio Babilônico

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Referências Bibliográficas

BAXTER, J. Sidlow. Examinai as Escrituras – Juízes a Ester. São Paulo: Vida Nova, 1993.

BRIGTH, Jonh. História de Israel. 7ª. ed. São Paulo: Paulus, 2003.

CASTEL, Francois. Historia de Israel y de Judá. Desde los orígenes hasta el siglo II d.C. Estella. Editorial Verbo Divio, 1998.

CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. São Paulo: Hagnos, 2006, 8ª ed.

DOUGLAS, J. D. O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1995.

DRANE, John (Org.) Enciclopédia da Bíblia. Tradução Barbara Theoto Lambert. São Paulo: Edições Paulinas e Edições Loyola, 2009.

FRUCHTENBAUM, Arnold G. Ariel’s Bible Commentary: The Books of Judges and Ruth. San Antonio: Ariel Ministres, 2007.

GARDNER, Paul (Editor). Quem é quem na bíblia sagrada – a história de todos os personagens da bíblia. Tradução de Josué Ribeiro. São Paulo. Vida, 1999.

HALLEY, H. Manual Bíblico. São Paulo: Sociedade Religiosa Edições Nova Vida, 1983.

HOFF, Paul.  Os livros históricos. São Paulo: Vida, 1996.

TENNEY, Merrill C. (Org.). Enciclopédia da Bíblia. São Paulo: Cultura Cristã, 2008.

quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Juízes: Leitura Comentada & Aplicada (1.1- 2.23)


Introdução

O livro de Juízes vem imediatamente após a narrativa de Josué, todavia há uma profunda mudança de atmosfera do primeiro para o segundo.  Em quanto no primeiro temos um povo israelita comprometido com Deus simbolizado na liderança de Josué, a segunda narrativa histórica descreve uma geração completamente descompromissada com os termos da Aliança. Há um triste refrão que revela a origem da decadência dos israelitas nesse período - Então fizeram os filhos de Israel o que era mau aos olhos do SENHOR (2.11; 3.7, 12; 4.1; 6.1; 10.6 e 13.1), ao repeti-la sete vezes o escritor faz uma referência a um período completo, ou seja, continuamente eles se afastavam de Deus. Mas Deus sempre amou o seu povo e designou juízes para libertá-lo (2.16,18).

 Os líderes que surgem nesse período em sua maioria são débeis e o final do livro descreve uma das cenas mais deploráveis das Escrituras. Em Juízes, um perfeito espelho para os dias atuais, nos alerta o quão terrível é se afastar de Deus e Seus preceitos estabelecidos na Bíblia – esse é o caminho para o declínio espiritual que antecede o declínio moral e se constitui nas marcas distintivas da falência social-política de uma Nação.

Mas há esperança, pois se os israelitas mudaram - Deus não mudou - permanece fiel aos termos da Aliança que Ele havia sido estabelecido por meio de Moisés. Em meio ao caos da incredulidade e desobediência do povo, Deus revela sua graça e misericórdia manifestando Seu poder ao levantar líderes, como Otoniel que ainda mantém uma vida de comunhão com Deus, que luta contra seu poderoso inimigo e o vence – esta bênção também está disponível para todos os crentes em todas as épocas. 

Deus tem prazer em derramar sobre nós o seu Espírito que nos habilita a compreendermos Sua Palavra que são fontes inesgotáveis de água viva para nossas vidas, em meio ao terrível deserto deste mundo em que vivemos. Por essa razão Jesus declara: “Se alguém tem sede, venha a mim, e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu interior (João 7.37,38)”. E na conclusão da História humana se ouvira a voz do Jesus glorificado: “Está cumprido. Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim. A quem quer que tiver sede, de graça lhe darei da fonte da água da vida (Apocalipse 21.6)”.

Juízes 1.1-15

Esses versos iniciais tem a função de um prefácio para descrever todo o período. Depois que Josué morreu (Js 24.30–32 e Jz 2.7–9), uma pergunta surge: “Quem liderará Israel na luta contra os cananeus?” Isso representa a transição do povo nos dias de Josué, geralmente obedecendo a Deus e experimentando a vitória, passando para a idolatria e desobediência no período subsequente dos juízes. Judá (louvor) é uma referência negativa deste período. Suas ações têm como objetivo sua própria glória e não a de Deus. Quantas vezes a nossa as nossas “vitórias” expressam tão somente a nossa própria glória? Esse é o inicio de uma trajetória para a decadência espiritual.

Juízes 1.16-26

 

Nas primeiras linhas do livro temos a descrição do declínio triste e rápido da geração posterior a Josué. A causa primária da degradação deles – se afastaram de Deus! Qual é a causa disso? Esqueceram-se dos termos estabelecidos na Aliança com Yahvé. Abandonaram Gilgal, o lugar onde Deus renovou Sua Aliança nos dias de Josué (A primeira Páscoa celebrada em Canaã foi realizada em Gilgal - Js 5.10) e passaram a se reunir em Boquim (choro, pranto). Essa mudança é significativa: não precisamos de Deus, somos capazes de realizarmos as coisas por nós mesmos – fracassaram terrivelmente. O processo de  deterioração é rápida e generalizada; cada tribo é caracterizada individualmente pelo fato de tolerar, conviver, compactuar com os inimigos em seu território com mais ou menos resistência. A tolerância com o pecado é o caminho rápido para a deterioração da comunhão e afastamento de Deus. Como tem sido meu testemunho cristão desde o dia em que fui convertido?

Juízes 1.27-2.5

A justiça de Deus exige que o pecado seja erradicado. Os israelitas não deveriam manter relacionamentos com os povos canaanitas. Mas infelizmente eles não obedeceram a Deus. Aproprio-me de um ditado popular – diga-me com quem compactua e lhe direi a influencia que sofreras. Convivemos com inúmeras pessoas, inclusive familiares, que não possuem temor do Senhor, de maneira que o tempo todo nós estamos sujeitos a nos adaptarmos ou a nos posicionarmos (Daniel e seus amigos). É menos desgastante nos adaptarmos ao politicamente correto, mas tal posicionamento tem um alto preço (fornalha, cova dos leões....) e poucos estão dispostos a pagar. Os israelitas foram paulatinamente se ajustando entre os canaanitas e o preço foi seu afastamento de Deus. O apóstolo Paulo não é politicamente correto ao declarar aos crentes de Corinto – afastem-se das más companhias (1Co 15.33). Existem pessoas que devemos evitar, mesmo que elas zombem de nós, caso contrário, seremos empurrados para as montanhas (verso 34) como aconteceu com a tribo de Dan (versículo 34), ou seja, nos afastando de Gilgal (comunhão; aliança). O anjo de Yahvé esperava Israel em Gilgal, o ponto de partida das antigas vitórias gloriosas, mas os israelitas estão em Boquim. O povo que se reuniu para um banquete festivo; termina em lágrimas, e o nome Boquim (lugar de lágrimas), dado a este lugar, perpetuou a memória dessa cena dolorosa, prelúdio de três séculos de infortúnio. Enquanto não houver quebrantamento e lágrimas de arrependimento, não experimentaremos o avivamento espiritual que tanto se faz necessário nesses tempos de degradação moral-espiritual da nossa nação. Mas aqui temos o princípio estabelecido de que o arrependimento, mesmo quando sincero, não retira as consequências dos atos de desobediência anteriormente praticados – Porque vocês não obedeceram? Agora, como vocês romperam o trato, também não vou expulsar estes povos. Eles ficarão aí como espinho nos lombos de vocês, e os deuses deles serão sempre uma tentação para vocês!" (2.3). Ao seu lado, como aguilhões e como varas da disciplina corretiva de Deus (cf.Nm 33.55 e Js 23.13).

Juízes 2.6-23

Os anos se passaram e em Israel "surgiu uma nova geração que não conhecia o Senhor e o que ele havia feito por Israel". Esta geração não teve a experiência da fidelidade de Deus nem do seu poder durante a peregrinação no deserto.

O autor primeiro recorda a relativa fidelidade de Israel sob Josué e nos primeiros dias que se seguiram à sua morte (versículos 6 a 10); então ele descreve a infidelidade constantemente renovada de Israel como resultado desses primeiros dias (versículos 11 a 13), bem como a futilidade dos castigos com os quais Deus os disciplinou e do envio dos juízes que os libertavam por um tempo (versículos 14 a 19); ele então expõe o propósito de Deus, que era testar e castigar o povo infiel (versículos 20 a 23).

 Aqui temos algo a pensar, pois pertencemos a uma nova geração do povo de Deus. Como filhos de pais cristãos, ouvimos falar das coisas maravilhosas que Deus fez pelas gerações anteriores; mas podemos não conhecer o Senhor por experiência pessoal. O menosprezo pela História da Igreja e do Protestantismo cobrara um preço muito alto desta geração e outras que vierem. A exortação do escritor de Hebreus deve ser um alerta: "Lembre-se de seus líderes" (13.7). Eles nos deixaram seu ministério escrito, seu exemplo. Imitemos acima de tudo sua fé. E lembremo-nos: eles morreram, mas o Senhor ainda permanece. Sua presença é suficiente, mesmo em um período de fraqueza como hoje!

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
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Historiologia Protestante

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Referências Bibliográficas

BAXTER, J. Sidlow. Examinai as Escrituras – Juízes a Ester, ed. Vida Nova, São Paulo, 1993.

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Halley, H. Manual Bíblico. São Paulo. Sociedade Religiosa Edições Nova Vida, 1983.

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TENNEY, Merrill C. (Org.). Enciclopédia da Bíblia. São Paulo. Cultura Cristã, 2008.