quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Os Juízes de Israel: Aprendendo com Otoniel

 

Lista dos juízes e suas tribos segundo o livro Juízes

Otoniel

(Tribo de Judá) - Jz 1.11-15; Jz 3.7-11

Eúde

(Tribo de Benjamim) - Jz 3,12-30; Jz 4,1

Sangar

(desconhecido a origem) - Jz 3.31; Jz 5.6

Débora

(Tribo de Efraim) - Jz 4.1; Jz 5.31

Gideão

(Tribo de Manassés) - Jz 6.1-8; Jz 6.32

Tola

(Tribo de Issacar) - Jz 10.1-2

Jair

Tribo de (Manasses) - Jz 10.3-5

Jefté

(Tribo de Manassés) - Jz 10.6-12; Jz 7

Ibsã

(Tribo de Judá ou Zebulom) - Jz 12.8-9

Elom

(Tribo de Zebulom) - Jz 12.11-12

Abdon

(Tribo de Efraim) - Jz 12.13-15

Sansão

(Tribo de Dã) - Jz 13-16

            A história narrada no livro dos Juízes começa muito bem – duas tribos sob a direção do Senhor vencem os inimigos e conquista o território que lhes havia sido designado, um ideal muito nobre – mas a narrativa vai se concluir com uma nota muito triste: "Naqueles dias não havia rei em Israel; cada homem fazia o que era certo em seus próprios olhos" (Juízes 21.25). Não havia direção, nem ordem, nem lei, mas sim independência e ilegalidade. A história dos israelitas contém expressões extraordinárias de fé e coragem, mas também contém profundezas abismais de pecado, ilegalidade e perversidade. Portanto, é impossível lermos esse livro e não sermos confrontados com a nossa própria realidade – quantos momentos maravilhosos nós experimentamos no relacionamento com Deus, mas também, quantas vezes falhamos miseravelmente; quantas vezes caminhamos tão perto de Deus, como Enoque, mas por outro lado, quantas vezes tomamos caminhos diferentes e até na contramão da vontade de Deus. O apóstolo Paulo experimentou intensamente esse conflito na sua própria vida – as coisas boas eu não faço, mas as coisas ruins eu faço – e declara: miserável pessoa que sou (Rm 7); mas então ele olha para a Salvação que emana da Cruz: “Mas não há nenhuma condenação aguardando aqueles que pertencem a Cristo Jesus - livrou-me do círculo vicioso do pecado e da morte (Rm 8).

O Inimigo Extremamente Cruel

            Periódica e repetidamente os israelitas faziam pouco caso da Aliança estabelecida por Deus com eles. Esta atitude provocava a manifestação da disciplina divina e para o qual Deus levantava governante e povos que viviam ao redor deles.

            Nos dias de Otoniel a vara de Deus será Cusan-Risataim (3.8), cujo nome significa “duplamente perverso”, um epiteto que revela por si mesmo o tipo de reputação que esse governante havia construído ao longo de sua vida. Ele reina na Mesopotâmia que abrangia a região entre os rios Tigre e Eufrates e de onde futuramente surgirão dois impérios dominadores e violentos a Assíria que será dominada e sucedida pelo império da Babilônia. Os israelitas tinham apenas que se manterem dentro dos termos estabelecidos na Aliança com Yahvé, mas voluntariamente optavam por se afastarem e irem após outros deuses. O fato de estas nações virem sobre os israelitas não era decorrente apenas da iniciativa de seus desejos de expansões e domínios, mas Deus mesmo os levantava e incitava, pois a soberania de Deus nunca se restringiu apenas a Israel/Judá, mas sobre todos os domínios e potestades (Salmo 75.6-8; Daniel 4.17; Romanos 13.1). "Deus não apenas designa todos os nossos castigos, mas eles estão sob Sua direção e gerenciamento especial quanto à sua natureza, grau, continuidade e efeitos. Que reflexo reconfortante este! Ter todas as circunstâncias de nossa angústia no gerenciamento de tal mão!” (McLean).

            Então os filhos de Israel clamaram a Yahvé. Levou oito anos para que Israel percebesse que continuar a adorar Baal e Assera não trazia nenhum benefício para eles e não os libertaria da opressão.

A Pessoa de Otoniel, o Primeiro Juiz.

            Mas se a disciplina de Deus é dura a sua misericórdia é um balsamo. Depois de um período os israelitas clamam a Deus e são ouvidos e um juiz (líder) é levantado dentre eles - Otoniel é uma das luzes brilhantes do livro de Juízes. Seu nome significa 'leão de Deus', ou 'força de Deus', mas qualquer que seja a interpretação, podemos ver que significa que havia força e poder com este homem; nem sempre se harmonizam o nome e a vida da pessoa, mas neste caso ao examinarmos sua vida nos poucos detalhes que nos é fornecido na narrativa bíblica, o significado do nome que ele carrega é amplamente confirmado nas suas ações.

Otoniel não era apenas membro de uma tribo favorecida – Judá – “O cetro não se arredará de Judá” (Gênesis 49.10), mas também tinha em seu tio Calebe um modelo de fé e determinação, um homem que "seguia inteiramente ao Senhor" (Nm 32.12; Dt 1.36; Js 14.14). Por quarenta anos ele tinha vivido no deserto, mas em seu coração estava a genuína fé que o movia para conquistar a terra prometida; ele estava preparado para experimentar todas as circunstâncias do deserto, ele estava preparado para aceitar o governo de Deus por causa do fracasso dos outros, mas tudo o que estava em seu coração era o desejo de possuir a terra da promessa. Em certo momento ele desabafa: “Tive fé para entrar e conquistar a terra, mas os outros não quiseram me ajudar”, mas então chegou o momento em que ele teve a oportunidade de entrar e ele provou que tinha fé e determinação, e ele conquistou o território que era seu por direito e ali se estabeleceu. Que melhor mentor o jovem Otoniel poderia ter!

Agora era o momento de Otoniel demostrar as mesmas qualificações de seu tio e mentor. Seria maravilhoso se todos os jovens cristãos seguissem os bons modelos que Deus colocou em seus períodos de formação – de fé, consagração e compromisso com a Palavra de Deus - mas, infelizmente, não o fazem – a maioria deles desiste, revelam um total menosprezo pelas coisas espirituais; mas aqui estava um verdadeiro discípulo de Calebe; alguém que exibia exatamente as mesmas características de coragem, determinação e fé para fazer as coisas que agradavam a Deus; e ele venceu o inimigo e libertou o seu povo (jovens, sois fortes, e a palavra de Deus está em vós, e já vencestes o maligno – 1Jo 2.14). Otoniel sabia que Deus estava com ele, como sempre esteve com Calebe, e esta era a fonte de sua coragem e fé. Como faz falta atualmente jovem com a fé e compromisso de Otoniel e ancião com a fé e coragem de Calebe.

Compromisso em Meio a uma Geração Descompromissada

            Se precisasse expressar em uma única palavra o que caracteriza a geração evangélica atual, certamente seria a palavra descompromissada – o evangelicalismo brasileiro é descompromissado com a Palavra de Deus e por esta razão suas mentes estão sendo moldadas pelo sistema deste mundo. Otoniel tem que vivenciar sua fé em meio a uma geração descompromissada com os termos da Aliança - "surgiu outra geração depois deles, que não conhecia o Senhor, nem tampouco as obras que Ele fizera por Israel" (2.10). Uma geração que não foi ensinada em relação a Yahvé – Sua Aliança e Suas obras - e por esta razão descompromissada. Eles estavam dentro da Aliança, mas não tinham nenhuma preocupação com ela, e é tão fácil desistir de algo com o qual não estamos preocupados. O resultado disso foi que eles abandonaram o Senhor e adoraram ídolos, uma situação muito, muito triste.

            Mas tudo que se semeia um dia há de se colher. Não é possível professar uma fé em Deus e seguir ídolos e esperar que tudo seja tranquilo e maravilhoso. Não foi assim no caso de Israel e não será o nosso caso. Somente quando os israelitas foram entregues nas mãos de seus inimigos, eles sentiram o peso da disciplina de Deus que sobreveio por causa da infidelidade deles, e somente então clamam ao Senhor: "E quando os filhos de Israel clamaram ao Senhor, o Senhor levantou um libertador para os filhos de Israel, que os libertou, sim, Otniel,... E o Espírito do Senhor desceu sobre ele, e ele julgou Israel, e saiu para a guerra" (3.9). O exercício da liderança de Otoniel foi de quarenta anos e houve paz (bênção) entre eles (3.11). Este é o tipo de pessoa que Deus deseja usar, melhor ainda, que Deus tem prazer em usar; uma pessoa que se provou em conflito pessoal em relação às coisas de Deus e venceu. Este é o tipo de pessoa que o Espírito de Deus usará para abençoar a vida de outros.

           Aqui há uma lição urgente a ser apreendida – somos responsabilizados de assegurarmos de que a geração mais jovem seja corretamente ensinada, tendo em vista a continuação do testemunho por meio da graça. Esse é o momento de nos prostramos diante de Deus e clamarmos por sua misericórdia e graça em relação à nova geração que esta nos sucedendo. Vamos clamar ao Senhor para que levante aqueles que são capazes de nos ajudar em nossa fraqueza atual para que haja bênção, sobre a nossa nação. O Senhor sempre ouve o clamor genuíno por socorro, não orações egoístas ou religiosas, mas o clamor real que provem de um coração contrito. E o mesmo Deus que ouviu o clamor dos israelitas e providenciou-lhes um líder é o mesmo Deus que ouvira nosso clamor e levantara dentre esta geração uma liderança cheia do Espírito Santo.

 

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
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