quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Juízes: Leitura Comentada & Aplicada (1.1- 2.23)


Introdução

O livro de Juízes vem imediatamente após a narrativa de Josué, todavia há uma profunda mudança de atmosfera do primeiro para o segundo.  Em quanto no primeiro temos um povo israelita comprometido com Deus simbolizado na liderança de Josué, a segunda narrativa histórica descreve uma geração completamente descompromissada com os termos da Aliança. Há um triste refrão que revela a origem da decadência dos israelitas nesse período - Então fizeram os filhos de Israel o que era mau aos olhos do SENHOR (2.11; 3.7, 12; 4.1; 6.1; 10.6 e 13.1), ao repeti-la sete vezes o escritor faz uma referência a um período completo, ou seja, continuamente eles se afastavam de Deus. Mas Deus sempre amou o seu povo e designou juízes para libertá-lo (2.16,18).

 Os líderes que surgem nesse período em sua maioria são débeis e o final do livro descreve uma das cenas mais deploráveis das Escrituras. Em Juízes, um perfeito espelho para os dias atuais, nos alerta o quão terrível é se afastar de Deus e Seus preceitos estabelecidos na Bíblia – esse é o caminho para o declínio espiritual que antecede o declínio moral e se constitui nas marcas distintivas da falência social-política de uma Nação.

Mas há esperança, pois se os israelitas mudaram - Deus não mudou - permanece fiel aos termos da Aliança que Ele havia sido estabelecido por meio de Moisés. Em meio ao caos da incredulidade e desobediência do povo, Deus revela sua graça e misericórdia manifestando Seu poder ao levantar líderes, como Otoniel que ainda mantém uma vida de comunhão com Deus, que luta contra seu poderoso inimigo e o vence – esta bênção também está disponível para todos os crentes em todas as épocas. 

Deus tem prazer em derramar sobre nós o seu Espírito que nos habilita a compreendermos Sua Palavra que são fontes inesgotáveis de água viva para nossas vidas, em meio ao terrível deserto deste mundo em que vivemos. Por essa razão Jesus declara: “Se alguém tem sede, venha a mim, e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu interior (João 7.37,38)”. E na conclusão da História humana se ouvira a voz do Jesus glorificado: “Está cumprido. Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim. A quem quer que tiver sede, de graça lhe darei da fonte da água da vida (Apocalipse 21.6)”.

Juízes 1.1-15

Esses versos iniciais tem a função de um prefácio para descrever todo o período. Depois que Josué morreu (Js 24.30–32 e Jz 2.7–9), uma pergunta surge: “Quem liderará Israel na luta contra os cananeus?” Isso representa a transição do povo nos dias de Josué, geralmente obedecendo a Deus e experimentando a vitória, passando para a idolatria e desobediência no período subsequente dos juízes. Judá (louvor) é uma referência negativa deste período. Suas ações têm como objetivo sua própria glória e não a de Deus. Quantas vezes a nossa as nossas “vitórias” expressam tão somente a nossa própria glória? Esse é o inicio de uma trajetória para a decadência espiritual.

Juízes 1.16-26

 

Nas primeiras linhas do livro temos a descrição do declínio triste e rápido da geração posterior a Josué. A causa primária da degradação deles – se afastaram de Deus! Qual é a causa disso? Esqueceram-se dos termos estabelecidos na Aliança com Yahvé. Abandonaram Gilgal, o lugar onde Deus renovou Sua Aliança nos dias de Josué (A primeira Páscoa celebrada em Canaã foi realizada em Gilgal - Js 5.10) e passaram a se reunir em Boquim (choro, pranto). Essa mudança é significativa: não precisamos de Deus, somos capazes de realizarmos as coisas por nós mesmos – fracassaram terrivelmente. O processo de  deterioração é rápida e generalizada; cada tribo é caracterizada individualmente pelo fato de tolerar, conviver, compactuar com os inimigos em seu território com mais ou menos resistência. A tolerância com o pecado é o caminho rápido para a deterioração da comunhão e afastamento de Deus. Como tem sido meu testemunho cristão desde o dia em que fui convertido?

Juízes 1.27-2.5

A justiça de Deus exige que o pecado seja erradicado. Os israelitas não deveriam manter relacionamentos com os povos canaanitas. Mas infelizmente eles não obedeceram a Deus. Aproprio-me de um ditado popular – diga-me com quem compactua e lhe direi a influencia que sofreras. Convivemos com inúmeras pessoas, inclusive familiares, que não possuem temor do Senhor, de maneira que o tempo todo nós estamos sujeitos a nos adaptarmos ou a nos posicionarmos (Daniel e seus amigos). É menos desgastante nos adaptarmos ao politicamente correto, mas tal posicionamento tem um alto preço (fornalha, cova dos leões....) e poucos estão dispostos a pagar. Os israelitas foram paulatinamente se ajustando entre os canaanitas e o preço foi seu afastamento de Deus. O apóstolo Paulo não é politicamente correto ao declarar aos crentes de Corinto – afastem-se das más companhias (1Co 15.33). Existem pessoas que devemos evitar, mesmo que elas zombem de nós, caso contrário, seremos empurrados para as montanhas (verso 34) como aconteceu com a tribo de Dan (versículo 34), ou seja, nos afastando de Gilgal (comunhão; aliança). O anjo de Yahvé esperava Israel em Gilgal, o ponto de partida das antigas vitórias gloriosas, mas os israelitas estão em Boquim. O povo que se reuniu para um banquete festivo; termina em lágrimas, e o nome Boquim (lugar de lágrimas), dado a este lugar, perpetuou a memória dessa cena dolorosa, prelúdio de três séculos de infortúnio. Enquanto não houver quebrantamento e lágrimas de arrependimento, não experimentaremos o avivamento espiritual que tanto se faz necessário nesses tempos de degradação moral-espiritual da nossa nação. Mas aqui temos o princípio estabelecido de que o arrependimento, mesmo quando sincero, não retira as consequências dos atos de desobediência anteriormente praticados – Porque vocês não obedeceram? Agora, como vocês romperam o trato, também não vou expulsar estes povos. Eles ficarão aí como espinho nos lombos de vocês, e os deuses deles serão sempre uma tentação para vocês!" (2.3). Ao seu lado, como aguilhões e como varas da disciplina corretiva de Deus (cf.Nm 33.55 e Js 23.13).

Juízes 2.6-23

Os anos se passaram e em Israel "surgiu uma nova geração que não conhecia o Senhor e o que ele havia feito por Israel". Esta geração não teve a experiência da fidelidade de Deus nem do seu poder durante a peregrinação no deserto.

O autor primeiro recorda a relativa fidelidade de Israel sob Josué e nos primeiros dias que se seguiram à sua morte (versículos 6 a 10); então ele descreve a infidelidade constantemente renovada de Israel como resultado desses primeiros dias (versículos 11 a 13), bem como a futilidade dos castigos com os quais Deus os disciplinou e do envio dos juízes que os libertavam por um tempo (versículos 14 a 19); ele então expõe o propósito de Deus, que era testar e castigar o povo infiel (versículos 20 a 23).

 Aqui temos algo a pensar, pois pertencemos a uma nova geração do povo de Deus. Como filhos de pais cristãos, ouvimos falar das coisas maravilhosas que Deus fez pelas gerações anteriores; mas podemos não conhecer o Senhor por experiência pessoal. O menosprezo pela História da Igreja e do Protestantismo cobrara um preço muito alto desta geração e outras que vierem. A exortação do escritor de Hebreus deve ser um alerta: "Lembre-se de seus líderes" (13.7). Eles nos deixaram seu ministério escrito, seu exemplo. Imitemos acima de tudo sua fé. E lembremo-nos: eles morreram, mas o Senhor ainda permanece. Sua presença é suficiente, mesmo em um período de fraqueza como hoje!

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
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