quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Historia do Antigo Israel: Judá e o Exílio Babilônico/Persa

Quem é o conquistado e quem é o conquistador?
Para Estrabão, historiador-geógrafo da Capadocia que viveu entre 6 a.C. e 25 d.C., se referindo aos judeus registra: “é difícil encontrar um lugar na terra que não tenha esta tribo de pessoas e não seja possuído por eles”.
Flavio Jose em sua obra Contra Apión, escrito pouco depois da queda do Segundo Templo confirma a opinião de Estrabão: “Não há uma cidade grega ou barbara, nem uma só nação onde não se observa a guarda do sétimo dia, com o descanso de todos os trabalhos, as normas para o jejum e o acender de velas; assim há penetrado a Lei no coração de todos os homens”.
Houve cinco impérios que dominaram até o nascimento de Jesus:
1.  Assírio–Destruiu Israel o Reino do Norte e o levou cativo.
2.  Babilônia–Levou cativo Judá o Reino do Sul.
3.  Pérsia–Restauração de Judá.
4. Grécia–Período inter–Bíblico.
5. Roma-Época do nascimento de Jesus.
Profetas que viveram em Israel (Reino do Norte) até o domínio Assírio: Joel, Jonas, Amós, Oséias, Isaías e Miquéias..
Profetas que viveram no tempo de Judá (Reino do Sul) até o domínio Babilônico: Jeremias, Obadias, Naum, Habacuque e Sofonias.
Profetas que viveram no tempo do exílio de Judá (Reino do Sul) na Babilônia: Ezequiel e Daniel.
Profetas que viveram depois do exílio, que compreendem o período de restauração e o domínio do Império Persa: Ageu, Zacarias e Malaquias.

Período Persa
O exílio babilônico terminou quando Ciro, o Grande, da Pérsia conquistou a babilônia (tradicionalmente em 538 a.C.).
O reino de Judá virou uma província dentro da satrapia[1]Além do Rio”, para onde posteriormente grupos de exilados retornaram a Jerusalém. São esses que vem do exílio que reconstroem o Templo (tradicionalmente 516/515 a.C.), todavia a capital administrativa permaneceu em Mispá.
Ciro apontou Zorobabel (neto do penúltimo rei de Judá, Jeoiaquim) para governador, mas não permitiu a restauração do reino.
Sem a figura do rei, a autoridade do Templo foi amplificada e os sacerdotes se tornaram a autoridade dominante. Todavia, paira dúvidas sobre a legitimidade do Segundo Templo, pois foi construído sob o poder estrangeiro.
Esse foi o moto para proliferar os diversos ramos dissidentes (seitas, partidos religiosos dentro do judaísmo). Muitos se tornaram radicais e proibiam qualquer mistura social, especialmente casamentos mistos.
É nesse período Persa que se inicia a redação final da Torá. Além dos sacerdotes que controlam a política [preenchendo a ausência do rei], surge a figura dos escribas e sábios (mais tarde denominados de Rabis), que monopolizam o estudo da Torá e sua interpretação que passou a ser publicamente (cf. Esdras). Mas os rabis desenvolveram e mantiveram uma tradição oral juntamente às Escrituras e se identificavam com os profetas.

Contexto Babilônico
O historiador veterotestamentário Noth conclui sua argumentação de que a cidade de Jerusalém, mesmo durante o período do cativeiro, sempre se manteve como o centro ideal do judaísmo - "O centro da história de Israel era e seguia sendo a Palestina" (1966, p. 291).
                                              EXILADOS   X   JERUSALÉM
Os Exilados (Babilônia)
Moradores de Jerusalém (Judá)
O profeta Ezequiel proclamava aos exilados de que A glória de Deus havia deixado o Templo” (caps. 1 e 10; cf. 11.17; 15.20 e cap. 38). E acusa os profetas da Palestina, que assessoravam o rei, de chacais (13.2).
Fica claro que se criou uma fratura séria entre os que ficaram e os que foram exilados.
Os que permaneceram na Judeia se defendiam com a ideia de que Iavé havia permanecido no Templo e continuava os protegendo com sua presença; foram os exilados que haviam sido rejeitados e portanto estavam sem a proteção divina. Os que ficaram na Palestina diziam: "A terra nos pertence agora, a nós que permanecemos" (cf. Ez 11.15). Os que permaneceram na terra (prometida) eram os fiéis e os exilados eram os castigados por Deus.
REAÇÃO
O profeta Ezequiel reinterpreta a mensagem messiânica do ponto de vista politico teológico à luz do cativeiro (22.6 e 45.9). Segundo sua hermenêutica profética, as profecias de Isaías(11.1) e Jeremias (23.5) não consideravam o rei Davi como o inicio da linhagem do Messias, mas ele tornou-se sua figura. Assim, o Davi histórico se transforma em figura do rei ideal que virá um dia para salvar a Israel - este será o verdadeiro Davi (Ez 34.23-24).
"Haverá de surgir sobre eles um pastor que os pastoreara, meu servo Davi; e os pastoreará e será para eles um pastor".
QUESTÃO
A ideia é que preservando os interesses dos que ficaram resguardaria os interesses e território de Judá, mais ainda, manteria a dinastia do trono de Davi de onde haveria de se levantar o Grande Rei.
Mudança de Ótica
Antes Davi era o antepassado do rei messias, mas agora se transforma somente em sua figura: não se modifica o conceito teológico, porém a ideologia política enraizada neles é modificada em sua ordem.
O argumento do profeta continua (Ez 37.24): "Meu servo Davi será seu rei; será para todos eles o único pastor; seguirá meus mandamentos, observando minhas leis e pondo em prática... Davi, meu servo, será seu rei para sempre. Farei com eles um pacto de paz que será para eles uma aliança eterna...". Em nenhum momento se fala da dinastia davídica: o profeta aguarda um novo Davi que haveria de cumprir aquelas esperanças que anteriormente estiveram depositadas em um descendente histórico da casa davídica.
MANUTENÇÃO DA IDENTIDADE
Os judeus não perderam sua identidade porque a Babilônia, diferentemente do que havia feito a Assíria com os israelitas e samaritanos, não desnaturalizaram Judeia introduzindo povos estrangeiros de outras províncias do Império e igualmente não alteraram a identidade dos deportados, o que os manteve unidos, organizados em vilas para melhor desenvolvimento agrícola de algumas regiões.
Mas, foi o esforço continuo de Ezequiel que manteve não apenas a identidade nacional, bem como sua religião, mesmo sem Templo, ativa durante todo o cativeiro.


Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Outro Blog
Historiologia Protestante


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[1] Satrapia era a unidade administrativa do Império Aquemênida (primeiro Império Persa, e mais tarde também dos Impérios Selêucida, Parta e Sassânida. O termo tem origem na antiga língua persa, e significa "província", e passou para a língua grega e mais tarde para o latim. A autoridade máxima das satrapias era o sátrapa, que significava “príncipe” ou “tenente”, mas no contexto administrativo persa se constituíam em o "protetor da província", espécie de administradores/governadores locais nomeados pelo rei, que deviam arrecadar tributo e realizar o recrutamento em seu nome. Eles também lidavam com crises e revoltas, assim como asseguravam a defesa contra ameaças externas.

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