Quem
é o conquistado e quem é o conquistador?
Para Estrabão, historiador-geógrafo da Capadocia
que viveu entre 6 a.C. e 25 d.C., se referindo aos judeus registra: “é difícil encontrar um lugar na terra que não tenha
esta tribo de pessoas e não seja possuído por eles”.
Flavio
Jose em
sua obra Contra Apión,
escrito pouco depois da queda do Segundo Templo confirma a opinião de Estrabão:
“Não há uma cidade grega ou barbara, nem uma só nação
onde não se observa a guarda do sétimo dia, com o descanso de todos os trabalhos,
as normas para o jejum e o acender de velas; assim há penetrado a Lei no
coração de todos os homens”.
Houve cinco impérios que
dominaram até o nascimento de Jesus:
1. Assírio–Destruiu Israel o Reino do
Norte e o levou cativo.
2. Babilônia–Levou
cativo Judá o Reino do Sul.
3. Pérsia–Restauração
de Judá.
4. Grécia–Período
inter–Bíblico.
5. Roma-Época do
nascimento de Jesus.
Profetas que viveram em Israel (Reino
do Norte) até o domínio Assírio: Joel, Jonas, Amós, Oséias, Isaías e
Miquéias..
Profetas que viveram no tempo de Judá (Reino
do Sul) até o domínio Babilônico: Jeremias, Obadias,
Naum, Habacuque e Sofonias.
Profetas que viveram no tempo do exílio de
Judá (Reino do Sul) na Babilônia: Ezequiel e Daniel.
Profetas que viveram depois do exílio,
que compreendem o período de restauração e o domínio do Império Persa:
Ageu, Zacarias e Malaquias.
Período Persa
O exílio babilônico terminou quando Ciro, o Grande, da Pérsia conquistou a
babilônia (tradicionalmente em 538 a.C.).
O reino de Judá virou uma
província dentro da satrapia[1] “Além do
Rio”, para onde posteriormente grupos de exilados retornaram a
Jerusalém. São esses que vem do exílio que reconstroem o Templo
(tradicionalmente 516/515 a.C.), todavia a capital administrativa permaneceu em
Mispá.
Ciro apontou Zorobabel (neto do penúltimo rei
de Judá, Jeoiaquim) para governador, mas não permitiu a restauração do
reino.
Sem a figura do rei, a
autoridade do Templo foi amplificada e os sacerdotes se tornaram a autoridade
dominante. Todavia, paira dúvidas sobre a legitimidade do Segundo Templo, pois foi construído sob o
poder estrangeiro.
Esse foi o moto para
proliferar os diversos ramos dissidentes (seitas, partidos religiosos dentro do
judaísmo). Muitos se tornaram radicais e proibiam qualquer mistura social,
especialmente casamentos mistos.
É nesse período Persa que se
inicia a redação final da Torá. Além dos sacerdotes que controlam
a política [preenchendo a ausência do rei], surge a figura dos escribas e
sábios (mais tarde denominados de Rabis), que monopolizam o
estudo da Torá e sua interpretação que passou a ser publicamente (cf. Esdras). Mas
os rabis desenvolveram e mantiveram uma tradição oral juntamente às
Escrituras e se identificavam com os profetas.
Contexto Babilônico
O historiador
veterotestamentário Noth conclui sua argumentação de que a cidade de Jerusalém,
mesmo durante o período do cativeiro, sempre se manteve como o centro ideal do
judaísmo - "O centro
da história de Israel era e seguia sendo a Palestina" (1966, p.
291).
EXILADOS X JERUSALÉM
Os Exilados (Babilônia)
|
Moradores de Jerusalém
(Judá)
|
O profeta Ezequiel proclamava aos exilados de que “A
glória de Deus havia deixado o Templo” (caps. 1 e 10; cf.
11.17; 15.20 e cap. 38). E acusa os profetas da Palestina, que assessoravam o
rei, de chacais (13.2).
Fica claro que se criou uma fratura séria
entre os que ficaram e os que foram exilados.
|
Os que permaneceram na Judeia se defendiam com a ideia de que Iavé havia
permanecido no Templo e continuava os protegendo com sua presença; foram os exilados que
haviam sido rejeitados e portanto estavam sem a proteção divina. Os que
ficaram na Palestina diziam: "A terra nos pertence agora, a nós que
permanecemos" (cf. Ez 11.15). Os que permaneceram na terra
(prometida) eram os fiéis e os
exilados eram os castigados por
Deus.
|
REAÇÃO
O profeta Ezequiel reinterpreta
a mensagem messiânica do ponto de vista politico teológico à luz do cativeiro
(22.6 e 45.9). Segundo sua hermenêutica profética, as profecias de Isaías(11.1) e Jeremias
(23.5) não consideravam o rei Davi como o inicio da linhagem do Messias, mas
ele tornou-se sua figura. Assim, o Davi
histórico se transforma em figura do
rei ideal que virá um dia para salvar a Israel - este
será o verdadeiro Davi (Ez 34.23-24).
"Haverá
de surgir sobre eles um pastor que os pastoreara, meu servo Davi; e os
pastoreará e será para eles um pastor".
|
QUESTÃO
A ideia é que preservando os interesses dos que ficaram resguardaria os interesses e território de Judá, mais ainda, manteria a dinastia do trono de Davi de onde haveria de se levantar o Grande
Rei.
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Mudança de Ótica
Antes
Davi era o antepassado do
rei messias, mas agora se transforma somente em sua
figura: não se modifica o conceito teológico, porém a ideologia política
enraizada neles é modificada em sua ordem.
O argumento do
profeta continua (Ez 37.24): "Meu servo Davi será seu rei; será para todos
eles o único pastor; seguirá meus mandamentos, observando minhas leis e pondo
em prática... Davi, meu servo, será seu rei para sempre. Farei com eles um
pacto de paz que será para eles uma aliança eterna...". Em
nenhum momento se fala da dinastia davídica: o profeta aguarda
um novo Davi que haveria de cumprir aquelas
esperanças que anteriormente estiveram depositadas em um descendente
histórico da casa davídica.
|
|
MANUTENÇÃO
DA IDENTIDADE
Os judeus não
perderam sua identidade porque a Babilônia, diferentemente do que
havia feito a Assíria com os israelitas e samaritanos, não
desnaturalizaram a Judeia introduzindo povos estrangeiros de
outras províncias do Império e igualmente não
alteraram a identidade dos deportados, o que os manteve unidos,
organizados em vilas para melhor desenvolvimento agrícola de algumas regiões.
Mas, foi o esforço
continuo de Ezequiel
que manteve não apenas a identidade nacional, bem como sua religião, mesmo
sem Templo, ativa durante todo o cativeiro.
|
Utilização
livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan
Pereira
Mestre em
Ciências da Religião.
Universidade
Presbiteriana Mackenzie
Outro Blog
Historiologia
Protestante
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[1] Satrapia era a unidade
administrativa do Império Aquemênida (primeiro Império Persa, e mais tarde
também dos Impérios Selêucida, Parta e Sassânida. O termo tem origem na antiga
língua persa, e significa "província",
e passou para a língua grega e mais tarde para o latim. A autoridade máxima das
satrapias era o sátrapa,
que significava “príncipe” ou “tenente”, mas no contexto administrativo persa se
constituíam em o "protetor da província", espécie de administradores/governadores locais nomeados pelo rei, que deviam
arrecadar tributo e realizar o recrutamento em seu nome. Eles também lidavam
com crises e revoltas, assim como asseguravam a defesa contra ameaças externas.
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