segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

NT - Epístolas Pastorais: Autenticidade


          A grande questão ao se abordar estas três epístola esta relacionada com a questão da autenticidade delas, ou seja, se de fato elas foram escritas ou ditadas pessoalmente por Paulo. Não é um assunto de pouca importância, pois se não foi o apostolo que as escreveu, quem foi? Algum companheiro de trabalho missionário? Houve uma escola paulina formada posteriormente à morte dele? E se não foi Paulo, por que foram incluídas na seleção do cânon?
            É preciso realçar que todos os argumentos que visam questionar a autenticidade paulina em relação a estes três documentos são historicamente recente em decorrência do movimento racionalista que eclodiu a partir do século dezenove e que desde então tem levado muitos estudiosos a questionarem, não apenas estas três epístolas, mas praticamente todos os livros bíblicos.

Evidência Externa
            Sem qualquer exagero podemos afirmar que até o século dezenove não se levantou qualquer duvida se estas epístolas foram escritas por Paulo e elas sempre foram contadas entre os Homologumena,[1] livros aceitos, como distinta das sete Antilegomena,[2] ou livros que eram colocados em disputa do Segundo Testamento.
Somente  aqueles que se opuseram à Igreja em meados do segundo século rejeitavam a canonicidade destas cartas: Marcião[3] que liderou um movimento separatista e que estabeleceu seu próprio canon bíblico as deixou de fora, provavelmente por causa de seu ensino e não por questionar a autoria paulina delas; Taciano e Basílio outros discidentes cristãos aceitavam a autenticidade de Tito, mas repudiavam as cartas à Timóteo; Orígenes nos informa que alguns questionavam a autoria paulina de 2 Timóteo porque continham os nome de Janes e Jambres, que não são encontrados no Primeiro Testamento. Mas de forma ampla a Igreja cristã aceitou estas três epístolas como sendo escritas pelo apóstolo Paulo.[4] Em sua introdução dessas epístolas para a série Cambridge Bíble, Humphreys enumera cronologicamente as diversas referências delas nos escritos pós apostólicos (HUMPHREYS,1895, pp. ):
Pais Apostólicos: Epístola de Barnabé (d.C. 75) – 1 Tm 3.16; Clemente de Romana (d.C. 95) - 1 Tm 2.8 e 1 Tm 1.17; Inácio de Antioquia (d.C. 112) – Tito 1.13 e 3.9, 2 Tm 2.4; Policarpo de Esmirna (d.C. 112) – 1 Tm 6.7 e 6.10; Epístola a Diogneto[5] (d.C. 117) – Tito 3.4; Os Apologistas gregos: Justino Mártir (d.C. 146) – Tito 3.4; Teófilo de Antioquia (d.C. 168) – Tito 3.1 e 1 Tm 3.4; Os Dissidentes: Basilides[6] (d.C. 110) – 1 Tm 2.6; Heracleon[7] (d.C. 150) – 2 Tm 3.13; Theodotus (d.C. 150), também da escola dos valentinianos, cita 1 Timóteo de acordo com Epifânio; Taciano (d.C. 160), da seita Encratitas[8] (Tito); As Antigas Versões: A Peshitta-siríaco (d.C. 130) não incluiu nenhum livro apócrifo, mas desde sua primeira versão incluiu as pastorais; Antiga Versão Latina[9] (d.C. 150) um dos testemunhos mais relevantes do cânon bíblico continha as três pastorais;
            Os que questionam a autoria paulina das Pastorais em bases externas o fazem com base em dois argumentos principais: 1) Elas não aparecem no cânon de Marcião; 2) elas estão ausentes do mais antigo manuscrito grego existente das cartas paulinas, o P46.[10]
Em relação a Marcião alegam que ele as deixou de fora de seu cânon por desconhece-las, uma vez que foram escritas posteriormente, todavia, Tertuliano afirma que Marcião optou por descarta-las, por contrariarem suas propostas teológicas, bem como mutilou algumas das outras epístolas paulinas para que se ajustassem aos seus pressupostos.[11] A favor da autoria paulina estão o amplo e abundante testemunho das lideranças cristãs do segundo e terceiro século, entre os quais Justino Mártir e Heracles com diversas alusões e Irineu que indica explicitamente que as pastorais são autênticos documentos de Paulo (HALE, 1983, p. 237).
O argumento da ausência no manuscrito P46[12] é frágil, pois há outros livros que também não fazem parte deste códice; também é observado pelos estudiosos menos belicosos que falta a primeira e as últimas páginas, calculada em número de sete, que poderiam comportar as Pastorais e Filemom; esses códices foram produzidos em Alexandria, cujas lideranças eclesiásticas reconhecem amplamente a autenticidade paulinas destes documentos. (HALE, 1983, p. 237). Este argumento fica bastante fragilizado pelo fato de que as pastorais já eram conhecidas e aceitas por Clemente (século dois), que era justamente da cidade de Alexandria (cf. KELLY, 2008, p. 12).

Evidência Interna
            A crítica mais contundente questionando a autoria paulina está centrada nas questões internas das próprias cartas. Abaixo citarei os principais argumentos, bem como os argumentos favoráveis:[13]
1)    O cenário Histórico
Aqui o argumento dos que negam a autoria paulina é que os lugares e os personagens citados nas Pastorais não se harmonizam com os registros encontrados em Atos e nas demais epístolas paulinas, de modo que estes documentos foram escritos em período posterior à morte de Paulo.[14] Eles não reconhecem a tradição de que Paulo saiu da sua prisão domiciliar conforme registrado no final de Atos e retomou seu trabalho missionário.
Os que defendem a autoria paulina partem justamente do pressuposto de que o apóstolo conseguiu sua liberdade nos tribunais romanos e retoma seus projetos missionários. As bases para essa postura tem duas vertentes: a) as expectativas do próprio Paulo de que em breve sairia livre de seu aprisionamento conforme revelam suas correspondências produzidas neste período: Filipenses, Filemom, Colossenses; b) uma segunda vertente é o testemunho histórico antigo que concordemente atestam a liberdade do apóstolo de seu aprisionamento conforme o final de Atos e desenvolve as atividades que se refletem nas correspondências pastorais.
Uma proposta de reconstituição deste período, conforme indicadas nas pastorais pode ser: empreende uma longa viagem pela Asia proconsular, Macedônia e Acaia, tendo por companheiros alternadamente Lucas, Tito, Timóteo, Tíquico, Erasto, Demas e provavelmente outros. O roteiro provável pode ser: a) ele alcança a ilha de Creta e deixa Tito para que organize a comunidade e mantenha os falsos mestres afastados (Tito 1.5), posteriormente pede que ele venha encontra-lo em Nicópolis, onde deveria passar o inverno (Tito 3.12), e depois devem se encontrar em Dalmácia (II Timóteo 4.10); b) o apostolo parte para Éfeso, onde encontra Timóteo, ali exerce sua autoridade apostólica sobre dois falsos mestres (1 Timóteo 1.20), partindo deixa ali Timóteo como seu representante; c) parte para Macedônia (I Timóteo 1.3), local provável em que escreve a primeira correspondência a Timóteo bem como a carta dirigida a Tito, enviando Artemas ou Tíquico a Creta como portador da correspondência a Tito, bem como a recomendação que viesse a encontra-lo em Nicópolis, onde passaria o inverno (Tito 3.12); d) retorna uma vez mais a Éfeso (I Timóteo 3.14), sabendo que encontraria ali muitas dificuldades (II Timóteo 1.15, 18; 4.14), causada pelos falsos ensinos judaicos e gnósticos, ficando hospedado na casa de Onesíforo (II Timóteo 1.16), mas percebendo algum tipo de risco eminente à sua própria vida apressa-se em partir para Mileto; e) em Mileto é obrigado a deixar Trófimo que adoentara (II Timóteo 4.6); f) parte para Trôade, entretanto, devido algum tipo de perseguição apressa-se e deixa com Carpo sua capa e livros (II Timóteo 4.13); g) chega a Corinto, onde deixa Erasto (II Timóteo 4.20); h) parte para Nicópolis onde vai passar o inverno (Tito 3.12).
É durante este período que Nero assume o trono do Império Romano (64 d.C.) e que entre outras coisas horríveis acaba por incendiar a cidade de Roma, colocando os cristãos como bodes expiatórios, o que acaba originando uma das mais cruéis perseguições contra todos os cristãos dentro do Império. O epicentro da perseguição é a Capital, mas suas ondas sísmicas rapidamente alcançam toda a extensão do Império, sendo sentido por Paulo em Acaia ou Nicópolis. Quando foi feito prisioneiro Demas o abandona e parte para Tessalônica, talvez intimidado pela onda de perseguição; Tito havia sido enviado para Dalmácia e Crescente para Galácia; Trófimo doente havia permanecido em Mileto; somente Lucas permanece com o apóstolo e ambos são levados a Roma. Ao comparecer diante dos juizes romanos está sozinho desta vez, diferentemente da vez anterior, pois os cristãos estão sobre fortíssima pressão governamental e qualquer manifestação aberta é punida com a morte. Após esta preliminar, onde foi ouvido, é levado à prisão para aguardar o julgamento final, e de onde sabe que não sairá com vida. O inverno chega com toda sua força, e privado de sua capa e livros, deixados em Trôade, solicita a Tíquico que ocupe o lugar de Timóteo em Éfeso, de maneira que esse possa vir a Roma, passando por Trôade e lhe traga sua capa e seus pergaminhos preciosos; lembra também de João Marcos e sua importância no desenvolvimento das atividades missionárias. Se Timóteo e Marcos conseguiram chegar a Roma antes do martírio do velho apóstolo Paulo, não temos como saber. (cf. CARROL, 1961, pp. 10-12).
Diante deste roteiro provável de um período final e intenso de atividades missionárias, a autenticidade paulina das epístolas pastorais ficam confortavelmente assegurada.

2)    O Vocabulário e Estilo
Uma das argumentações mais contundentes dos críticos esta em que o vocabulário e o estilo destas três cartas são harmoniosas entre si, mas diferem fortemente das demais correspondências paulinas, e com estes pressupostos te sido proposto um ou mais autores pós-paulino. Comparando os vacabulários das pastorais, chegam a um numero de 175 palavras inéditas (hapax legomena) com exceção de nomes próprios, que aparecem apenas nelas e que podem ser assim distribuidas: 71 encontram-se em 1 Timóteo, 46 em 2 Timóteo e 28 em Tito.[15] Ainda é possível se encontrar diversas frases e expressões peculiares que não são utilizadas por Paulo nas suas primeiras correspondências, e no reverso, estão ausentes das pastorais expressões que se destacam na literatura eminentemente paulina.[16] Entre varios exemplos do equivoco dessa primicia, destacada por Spain, as palavras “cruz” e “crucificar” aparecem 27 vezes nas cartas paulinas em geral, mas nem uma vez nas pastorais, entretanto, também não ocorre na carta aos Romanos e se restringem apenas a cinco das outras epistolas paulinas (1980, p. 16).
Esta argumentação gramatical aparentemente parece ser mais consistente do que realmente se pode comprovar. O argumento é ingenuo pois parte do pressuposto de que o vocabulário e a forma de construção gramatical, estilo de escrever, de uma pessoa é limitado e imutável.[17] Paulo era uma pessoa de vasto conhecimento e mesmo em suas cartas anteriores é possível perceber a multiformidade de seu vocabulário e mudanças significativas em suas construções gramaticais e seu estilo de compor suas correspondências e corroborando é preciso lembrar que Paulo envelhecera, de que as circunstâncias de sua vida foram alteradas e de que escreve a companheiros de longa jornada e que agora assumem funções relevantes e enfrentam situações dificéis e não menos relevante, ele em diversas ocasiões utiliza o serviço de um secretário (cf. Rm 16.22; 1 Co 16.21; 2 Ts 3.17; Gl 4.12-15; 6.11). Em seu comentário Spain demonstra a fragilidade dos argumentos críticos literários anti-paulinos:
“Um estudo das palavras classificadas como estranhas a Paulo e Lucas e ao restante do Novo Testamento revela que há 112 que mantêm uma relação provável ou possível com a linguagem de Paulo, e que 111 mantêm tal relação com a linguagem de Lucas, e ao todo 149 com ambos. Isto faz com que restem 126 palavras, das quais 3 são encontradas na Septuaginta. Algumas dessas palavras que restam são termos que deveriam ser familiares a Lucas como médico: gangrena, estômago, beber água, gerar ou conceber filhos, parte, dado ao vinho, doente, e abstenção de vinho. ... E há varias palavras que Paulo pode não ter tido ocasião de usar em seus outros escritos, tais como “a capa” que ele deixou para trás, e os “pergaminhos” que pediu a Timóteo para levar.” (1980, pp. 14-15).
Por fim, fica também evidenciado que os críticos anti-paulinos sutilmente desvalorizam o valor incontestável de que há muito do vocabulário e expressões amplamente utilizada pelo apóstolo nestes três documentos.   


Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/


Artigos Relacionados
Cartas ou Epístolas?
Paulo: Informações Biográficas
Paulo: Uma Nova Perspectiva
O MUNDO DO APOSTOLO PAULO: A Filosofia

Referências Bibliográficas
BARCLAY, William. El Nuevo Testamento comentado. Buenos Aires (Argentina), Asociación Editorial la Aurora, 1974.
BROWN, Raymond. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Paulinas, 2004 (Coleção Bíblia e história Série Maior).
BRUNET, Rosangela. O Cisne Branco: Canto e (Re) nascimento. Disponível em  http://contruindooser.blogspot.com.br/. Acesso em 19/06/2014.
CARROL, B. H. Exposição das epístolas pastorais. 2ª ed. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista.
CESARÉIA, Eusébio de. História eclesiástica. São Paulo: Novo Século, 1999.
COLLINS, R. F. Latters that Paul did not write (Wilmington, Glazier, 1988).
DEISSMANN, A. Light from the Ancient East – the New Testment illustrated by recently discovered text of the Graeco-Roman world. London: 1927, 2. ed. (apud BROWN, 2004, p. 550).
HALE, Broadus David. Introdução ao estudo do Novo Testamento. Trad. Cláudio Vital de Souza. Rio de Janeiro: JUERP, 1983.
HARRISON, P. N. The problem of the pastoral epistles. Londres: Oxford University Press, 1921.
HAWTHORNE, Gerald F. e MARTIN, Ralph P. e REID, Daniel G. (Org.). Dicionário de Paulo e suas cartas. 2ª ed. São Paulo: Edições Loyola, 2008.
HIEBERT, D. Edmond. A primeira epístola a Timóteo. Brasil: Imprensa Batista Regular, 1965.
HUMPHREYS, A. E. The epistles Timothy and Titus – with introduction and notes. Cambridge: The University Press, 1895 [Cambridge Biblie – PEROWNE J. J. S. Editor]
KELLY, John Norman Davidson. I e II Timóteo e Tito – introdução e comentário. São Paulo: Edições Vida Nova, 2008. [Série Cultura Bíblica].
REUSS, Eduard. The sacred scriptures of the New Testament, v. 1. Boston: Houghton, Mifflin e Company, 1884.
SPAIN, Carl. Epístolas de Paulo e Timóteo e Tito. São Paulo: Editora Vida Cristã, 1980.
WESTCOTT, Brooke Foss. A general survey of the history of the canon of the new testament. 4ª ed. London: Macmillan and Co., 1875. 




[1] Livros Aceitos por Todos: são chamados também de “homologoumena” [unanimemente, de acordo] e se constitui daqueles livros do cânon que foram aceitos unanimemente, desde o início, sem objeções. https://reflexaoipg.blogspot.com/2016/03/reconhecimento-progressivo-dos-livros.html
[2] Alguns livros que hoje fazem parte do nosso Segundo Testamento, permaneceram por muitos anos sendo questionados (antilegomena) por parte das lideranças cristãs até que finalmente foram aceitos por todos. https://reflexaoipg.blogspot.com/2017/09/nt-os-livros-questionados-eou.html
[3] Ver mais informações sobre Marcião: https://historiologiaprotestante.blogspot.com/2016/03/marciao-uma-voz-discordante.html  
[4]A apostolicidade dos documentos sempre foi um critério para que pudessem serem incluidos no Cânon neotestamentário, como Serapião, bispo de Antioquia (211 d.C.) escreveu: “...acolhemos Pedro e os outros Apóstolos como se fossem o próprio Cristo; mas...rechaçamos os falsos escritos que levam seus nomes [pseudepígrafos], pois sabemos que não nos transmitiram semelhantes escritos” (EUSÉBIO, 1999, p. 203).
[5][5] Uma das primeiras apologias cristãs, provavelmente dirigida a Diogneto então tutor de Marco Aurélio.
[6] Conforme informações dos Pais da Igreja era um gnóstico de Alexandria que alegava ter herdado seus ensinos de Mateus e seus seguidores, os basilidianos, mantiveram um movimento por ao menos mais dois séculos.
[7] De acordo com Clemente de Alexandria e Orígenes ele era gnóstico e amigo de Valentino, arroga para si o titulo de ser o primeiro comentarista do Novo Testamento.
[8] Esta seita combinava as doutrinas gnosticas de Valentino com o ascetismo de Marcião.
[9] Westcott (1895, p. 263) em seu estudo sobre o cânon do Novo Testamento afirma a importância dessas versões antigas, pois são testemunhos das Igrejas e não apenas de individuo. São provas que estes livros exerciam autoridade, eram amplamente disseminadas e carregam uma herança do período anterior, muito próximo da época dos Apóstolos. Combinadas com os manuscritos gregos representam a literatura do Novo Testamento como foram lidas em toda a cristandade perto do final do segundo século.
[10] Além das três pastorais também estão ausentes a 2 Tessalonicenses e Filêmon.
[11] “O Evangelho da Verdade, plausivelmente atribuído a Valentino (c. de 150) não faz referência a elas tampouco, embora cite de todos os demais livros do Novo Testamento. Mais uma vez, isto não é surpreendente; os gnósticos geralmente, segundo Clemente e Jerônimo, as repudiavam, e seu teor anti-gnótico fornece uma explicação suficiente”. (KELLY, 2008, p. 12).
[12] Papiro Chester Beatty (P 46), o códice paulino mais antigo, inicio do século três, que faz parte da coletânea paulina conhecida no Egito.
[13] A chamada Escola de Baur, em uma reconstrução hegeliana da história cristã primitiva, se agarraram às questões literárias para afirmarem que as epístolas pastorais refletiam um contexto pós-paulino; coube a H. J. Holtzmann sintetizar os argumentos contrarios a autenticidade paulina: 1) situação histórica, 2) condenação dos falsos mestres gnosticistas, 3) fase de organização das Igrejas, 4) vocabulário e estilo e 5) perspectivas e temas teológicos (HAWTHORNE, 2008, p. 182).
[14] Alguns estudiosos tentaram encaixar as pastorais no contexto de Atos e demais epístolas anteriores, mas os resultados foram irrisórios, de maneira que alguns deles acabaram posteriormente negando a autoria paulina (cf. REUSS, 1884, pp. 80-85 e 121-129). Kelly expõe com precisão as razões porque as pastorais não se encaixam no contexto histórico de Atos e das epistolas anteriores de Paulo (2008, pp. 14-16).
[15] “Em tempos mais modernos a legitimidade de 1 Timóteo foi negada por Schimidt em 1804. Em 1807, Schleiermacher negou a autenticidade de 1 Timóteo com base em 75 palavras que não encontrou em nenhum ponto do Novo Testamento além dessa epístola. Esta lista de palavras foi mais tarde expandida para incluir as constantes de 2 Timóteo e Tito, elevando o total a 175 palavras.” (SPAIN, 1980, p. 09).
[16] Harrison elabora uma lista de 112 (enclíticas, partículas, preposições, pronomes)  que segundo ele são amplamente utilizadas por Paulo e que não aparecem nas pastorais, todavia, J. W. Hoberts utilizando apenas as epístolas aos tessalonicenses, que são incontestavelmente paulina, acaba por reproduzir os mesmos resultados de Harrison, de maneira que é possível rejeitar igualmente suas autorias por parte de Paulo. (SPAIN, 1980, p. 15).
[17] Harrison, tornou-se o referencial de uma autoria anti-paulina com seu livro “The Problem of the Pastoral Epistles” publicado em 1921, todavia incorre nesse erro grasso, pois acaba se apegando “ rigidamente a um total de 2.177 termos que concede ao vocabulário de Paulo, baseado nas outras cartas do mesmo” (SPAIN, 1980, p. 13).

Nenhum comentário:

Postar um comentário