É preciso realçar que todos os
argumentos que visam questionar a autenticidade paulina em relação a estes três
documentos são historicamente recente em decorrência do movimento racionalista
que eclodiu a partir do século dezenove e que desde então tem levado muitos
estudiosos a questionarem, não apenas estas três epístolas, mas praticamente
todos os livros bíblicos.
Evidência
Externa
Sem
qualquer exagero podemos afirmar que até o século dezenove não se levantou
qualquer duvida se estas epístolas foram escritas por Paulo e elas sempre foram
contadas entre os Homologumena,[1] livros aceitos, como
distinta das sete Antilegomena,[2] ou livros que eram
colocados em disputa do Segundo Testamento.
Somente aqueles que se opuseram à Igreja em meados do
segundo século rejeitavam a canonicidade destas cartas: Marcião[3] que liderou um
movimento separatista e que estabeleceu seu próprio canon bíblico as deixou de
fora, provavelmente por causa de seu ensino e não por questionar a autoria
paulina delas; Taciano e Basílio outros discidentes cristãos aceitavam a
autenticidade de Tito, mas repudiavam as cartas à Timóteo; Orígenes nos informa
que alguns questionavam a autoria paulina de 2 Timóteo porque continham os nome
de Janes e Jambres, que não são encontrados no Primeiro Testamento. Mas de
forma ampla a Igreja cristã aceitou estas três epístolas como sendo escritas
pelo apóstolo Paulo.[4] Em sua introdução
dessas epístolas para a série Cambridge Bíble, Humphreys enumera
cronologicamente as diversas referências delas nos escritos pós apostólicos (HUMPHREYS,1895,
pp. ):
Pais Apostólicos: Epístola de Barnabé (d.C. 75) – 1 Tm 3.16;
Clemente de Romana (d.C. 95) - 1 Tm 2.8 e 1 Tm 1.17; Inácio de Antioquia (d.C.
112) – Tito 1.13 e 3.9, 2 Tm 2.4; Policarpo de Esmirna (d.C. 112) – 1 Tm 6.7 e
6.10; Epístola a Diogneto[5] (d.C. 117) – Tito
3.4; Os Apologistas gregos: Justino
Mártir (d.C. 146) – Tito 3.4; Teófilo de Antioquia (d.C. 168) – Tito 3.1 e 1 Tm
3.4; Os Dissidentes: Basilides[6] (d.C. 110) – 1 Tm
2.6; Heracleon[7] (d.C. 150) – 2 Tm
3.13; Theodotus (d.C. 150), também da escola dos valentinianos, cita 1 Timóteo de
acordo com Epifânio; Taciano (d.C. 160), da seita Encratitas[8] (Tito); As Antigas
Versões: A Peshitta-siríaco (d.C. 130) não incluiu nenhum livro apócrifo, mas
desde sua primeira versão incluiu as pastorais; Antiga Versão Latina[9] (d.C. 150) um dos
testemunhos mais relevantes do cânon bíblico continha as três pastorais;
Os
que questionam a autoria paulina das Pastorais em bases externas o fazem com
base em dois argumentos principais: 1) Elas não aparecem no cânon de Marcião;
2) elas estão ausentes do mais antigo manuscrito grego existente das cartas
paulinas, o P46.[10]
Em relação a Marcião
alegam que ele as deixou de fora de seu cânon por desconhece-las, uma vez que
foram escritas posteriormente, todavia, Tertuliano afirma que Marcião optou por
descarta-las, por contrariarem suas propostas teológicas, bem como mutilou algumas
das outras epístolas paulinas para que se ajustassem aos seus pressupostos.[11] A favor da autoria
paulina estão o amplo e abundante testemunho das lideranças cristãs do segundo
e terceiro século, entre os quais Justino Mártir e Heracles com diversas alusões
e Irineu que indica explicitamente que as pastorais são autênticos documentos
de Paulo (HALE, 1983, p. 237).
O argumento da
ausência no manuscrito P46[12] é frágil, pois há
outros livros que também não fazem parte deste códice; também é observado pelos
estudiosos menos belicosos que falta a primeira e as últimas páginas, calculada
em número de sete, que poderiam comportar as Pastorais e Filemom; esses códices
foram produzidos em Alexandria, cujas lideranças eclesiásticas reconhecem
amplamente a autenticidade paulinas destes documentos. (HALE, 1983, p. 237).
Este argumento fica bastante fragilizado pelo fato de que as pastorais já eram
conhecidas e aceitas por Clemente (século dois), que era justamente da cidade
de Alexandria (cf. KELLY, 2008, p. 12).
Evidência
Interna
A
crítica mais contundente questionando a autoria paulina está centrada nas
questões internas das próprias cartas. Abaixo citarei os principais argumentos,
bem como os argumentos favoráveis:[13]
1) O cenário Histórico
Aqui o argumento dos
que negam a autoria paulina é que os lugares e os personagens citados nas
Pastorais não se harmonizam com os registros encontrados em Atos e nas demais
epístolas paulinas, de modo que estes documentos foram escritos em período
posterior à morte de Paulo.[14] Eles não reconhecem
a tradição de que Paulo saiu da sua prisão domiciliar conforme registrado no
final de Atos e retomou seu trabalho missionário.
Os que defendem a
autoria paulina partem justamente do pressuposto de que o apóstolo conseguiu
sua liberdade nos tribunais romanos e retoma seus projetos missionários. As
bases para essa postura tem duas vertentes: a) as expectativas do próprio Paulo
de que em breve sairia livre de seu aprisionamento conforme revelam suas
correspondências produzidas neste período: Filipenses, Filemom, Colossenses; b)
uma segunda vertente é o testemunho histórico antigo que concordemente atestam
a liberdade do apóstolo de seu aprisionamento conforme o final de Atos e
desenvolve as atividades que se refletem nas correspondências pastorais.
Uma proposta de
reconstituição deste período, conforme indicadas nas pastorais pode ser: empreende
uma longa viagem pela Asia proconsular, Macedônia e Acaia, tendo por
companheiros alternadamente Lucas, Tito, Timóteo, Tíquico, Erasto, Demas e
provavelmente outros. O roteiro provável pode ser: a) ele alcança a ilha de Creta e deixa Tito para que organize a
comunidade e mantenha os falsos mestres afastados (Tito 1.5), posteriormente
pede que ele venha encontra-lo em Nicópolis, onde deveria passar o inverno
(Tito 3.12), e depois devem se encontrar em Dalmácia (II Timóteo 4.10); b) o apostolo parte para Éfeso, onde
encontra Timóteo, ali exerce sua autoridade apostólica sobre dois falsos
mestres (1 Timóteo 1.20), partindo deixa ali Timóteo como seu representante; c) parte para Macedônia (I Timóteo
1.3), local provável em que escreve a primeira correspondência a Timóteo bem
como a carta dirigida a Tito, enviando Artemas ou Tíquico a Creta como portador
da correspondência a Tito, bem como a recomendação que viesse a encontra-lo em
Nicópolis, onde passaria o inverno (Tito 3.12); d) retorna uma vez mais a Éfeso (I Timóteo 3.14), sabendo que
encontraria ali muitas dificuldades (II Timóteo 1.15, 18; 4.14), causada pelos
falsos ensinos judaicos e gnósticos, ficando hospedado na casa de Onesíforo (II
Timóteo 1.16), mas percebendo algum tipo de risco eminente à sua própria vida
apressa-se em partir para Mileto; e)
em Mileto é obrigado a deixar Trófimo que adoentara (II Timóteo 4.6); f) parte para Trôade, entretanto,
devido algum tipo de perseguição apressa-se e deixa com Carpo sua capa e livros
(II Timóteo 4.13); g) chega a
Corinto, onde deixa Erasto (II Timóteo 4.20); h) parte para Nicópolis onde vai passar o inverno (Tito 3.12).
É durante este período
que Nero assume o trono do Império Romano (64 d.C.) e que entre outras coisas
horríveis acaba por incendiar a cidade de Roma, colocando os cristãos como
bodes expiatórios, o que acaba originando uma das mais cruéis perseguições
contra todos os cristãos dentro do Império. O epicentro da perseguição é a
Capital, mas suas ondas sísmicas rapidamente alcançam toda a extensão do
Império, sendo sentido por Paulo em Acaia ou Nicópolis. Quando foi feito
prisioneiro Demas o abandona e parte para Tessalônica, talvez intimidado pela
onda de perseguição; Tito havia sido enviado para Dalmácia e Crescente para
Galácia; Trófimo doente havia permanecido em Mileto; somente Lucas permanece
com o apóstolo e ambos são levados a Roma. Ao comparecer diante dos juizes
romanos está sozinho desta vez, diferentemente da vez anterior, pois os
cristãos estão sobre fortíssima pressão governamental e qualquer manifestação
aberta é punida com a morte. Após esta preliminar, onde foi ouvido, é levado à
prisão para aguardar o julgamento final, e de onde sabe que não sairá com vida.
O inverno chega com toda sua força, e privado de sua capa e livros, deixados em
Trôade, solicita a Tíquico que ocupe o lugar de Timóteo em Éfeso, de maneira
que esse possa vir a Roma, passando por Trôade e lhe traga sua capa e seus
pergaminhos preciosos; lembra também de João Marcos e sua importância no
desenvolvimento das atividades missionárias. Se Timóteo e Marcos conseguiram
chegar a Roma antes do martírio do velho apóstolo Paulo, não temos como saber. (cf.
CARROL, 1961, pp. 10-12).
Diante deste roteiro provável
de um período final e intenso de atividades missionárias, a autenticidade
paulina das epístolas pastorais ficam confortavelmente assegurada.
2) O Vocabulário e Estilo
Uma das argumentações
mais contundentes dos críticos esta em que o vocabulário e o estilo destas três
cartas são harmoniosas entre si, mas diferem fortemente das demais
correspondências paulinas, e com estes pressupostos te sido proposto um ou mais
autores pós-paulino. Comparando os vacabulários das pastorais, chegam a um
numero de 175 palavras inéditas (hapax legomena) com exceção de nomes próprios,
que aparecem apenas nelas e que podem ser assim distribuidas: 71 encontram-se
em 1 Timóteo, 46 em 2 Timóteo e 28 em Tito.[15] Ainda é possível se
encontrar diversas frases e expressões peculiares que não são utilizadas por
Paulo nas suas primeiras correspondências, e no reverso, estão ausentes das
pastorais expressões que se destacam na literatura eminentemente paulina.[16] Entre varios
exemplos do equivoco dessa primicia, destacada por Spain, as palavras “cruz” e
“crucificar” aparecem 27 vezes nas cartas paulinas em geral, mas nem uma vez
nas pastorais, entretanto, também não ocorre na carta aos Romanos e se
restringem apenas a cinco das outras epistolas paulinas (1980, p. 16).
Esta argumentação
gramatical aparentemente parece ser mais consistente do que realmente se pode
comprovar. O argumento é ingenuo pois parte do pressuposto de que o vocabulário
e a forma de construção gramatical, estilo de escrever, de uma pessoa é
limitado e imutável.[17] Paulo era uma pessoa
de vasto conhecimento e mesmo em suas cartas anteriores é possível perceber a
multiformidade de seu vocabulário e mudanças significativas em suas construções
gramaticais e seu estilo de compor suas correspondências e corroborando é
preciso lembrar que Paulo envelhecera, de que as circunstâncias de sua vida
foram alteradas e de que escreve a companheiros de longa jornada e que agora
assumem funções relevantes e enfrentam situações dificéis e não menos
relevante, ele em diversas ocasiões utiliza o serviço de um secretário (cf. Rm
16.22; 1 Co 16.21; 2 Ts 3.17; Gl 4.12-15; 6.11). Em seu comentário Spain
demonstra a fragilidade dos argumentos críticos literários anti-paulinos:
“Um
estudo das palavras classificadas como estranhas a Paulo e Lucas e ao restante
do Novo Testamento revela que há 112 que mantêm uma relação provável ou
possível com a linguagem de Paulo, e que 111 mantêm tal relação com a linguagem
de Lucas, e ao todo 149 com ambos. Isto faz com que restem 126 palavras, das
quais 3 são encontradas na Septuaginta. Algumas dessas palavras que restam são
termos que deveriam ser familiares a Lucas como médico: gangrena, estômago,
beber água, gerar ou conceber filhos, parte, dado ao vinho, doente, e abstenção
de vinho. ... E há varias palavras que Paulo pode não ter tido ocasião de usar
em seus outros escritos, tais como “a capa” que ele deixou para trás, e os
“pergaminhos” que pediu a Timóteo para levar.” (1980, pp. 14-15).
Por fim, fica também
evidenciado que os críticos anti-paulinos sutilmente desvalorizam o valor
incontestável de que há muito do vocabulário e expressões amplamente utilizada pelo
apóstolo nestes três documentos.
Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
Artigos Relacionados
Cartas ou Epístolas?
Paulo: Informações Biográficas
Paulo: Uma Nova Perspectiva
O MUNDO DO APOSTOLO PAULO: A Filosofia
Referências Bibliográficas
BARCLAY, William. El Nuevo Testamento comentado. Buenos
Aires (Argentina), Asociación Editorial la Aurora, 1974.
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Paulo: Paulinas, 2004 (Coleção Bíblia e história Série Maior).
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Rosangela. O Cisne Branco: Canto e (Re)
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http://contruindooser.blogspot.com.br/. Acesso em 19/06/2014.
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B. H. Exposição das epístolas pastorais.
2ª ed. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista.
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Eusébio de. História eclesiástica. São Paulo: Novo
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DEISSMANN, A. Light from the Ancient East – the New
Testment illustrated by recently discovered text of the Graeco-Roman world.
London: 1927, 2. ed. (apud BROWN, 2004,
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KELLY,
John Norman Davidson. I e II Timóteo e
Tito – introdução e comentário. São Paulo: Edições Vida Nova, 2008. [Série
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sacred scriptures of the New Testament, v. 1. Boston: Houghton, Mifflin e
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SPAIN, Carl. Epístolas de Paulo e Timóteo e Tito.
São Paulo: Editora Vida Cristã, 1980.
WESTCOTT, Brooke Foss. A general survey of the history
of the canon of the new testament. 4ª ed. London: Macmillan and Co., 1875.
[1]
Livros Aceitos por Todos: são chamados também de “homologoumena” [unanimemente,
de acordo] e se constitui daqueles livros do cânon que foram aceitos
unanimemente, desde o início, sem objeções. https://reflexaoipg.blogspot.com/2016/03/reconhecimento-progressivo-dos-livros.html
[2]
Alguns livros que hoje fazem parte do nosso Segundo Testamento, permaneceram
por muitos anos sendo questionados (antilegomena) por parte das lideranças
cristãs até que finalmente foram aceitos por todos. https://reflexaoipg.blogspot.com/2017/09/nt-os-livros-questionados-eou.html
[3]
Ver mais informações sobre Marcião: https://historiologiaprotestante.blogspot.com/2016/03/marciao-uma-voz-discordante.html
[4]A
apostolicidade dos documentos sempre foi um critério para que pudessem serem
incluidos no Cânon neotestamentário, como Serapião, bispo de Antioquia (211
d.C.) escreveu: “...acolhemos Pedro e os outros Apóstolos como se fossem o
próprio Cristo; mas...rechaçamos os falsos escritos que levam seus nomes
[pseudepígrafos], pois sabemos que não nos transmitiram semelhantes escritos” (EUSÉBIO,
1999, p. 203).
[5][5]
Uma das primeiras apologias cristãs, provavelmente dirigida a Diogneto então
tutor de Marco Aurélio.
[6]
Conforme informações dos Pais da Igreja era um gnóstico de Alexandria que
alegava ter herdado seus ensinos de Mateus e seus seguidores, os basilidianos,
mantiveram um movimento por ao menos mais dois séculos.
[7]
De acordo com Clemente de Alexandria e Orígenes ele era gnóstico e amigo de
Valentino, arroga para si o titulo de ser o primeiro comentarista do Novo
Testamento.
[8]
Esta seita combinava as doutrinas gnosticas de Valentino com o ascetismo de
Marcião.
[9]
Westcott (1895, p. 263) em seu estudo sobre o cânon do Novo Testamento afirma a
importância dessas versões antigas, pois são testemunhos das Igrejas e não
apenas de individuo. São provas que estes livros exerciam autoridade, eram
amplamente disseminadas e carregam uma herança do período anterior, muito
próximo da época dos Apóstolos. Combinadas com os manuscritos gregos
representam a literatura do Novo Testamento como foram lidas em toda a
cristandade perto do final do segundo século.
[10]
Além das três pastorais também estão ausentes a 2 Tessalonicenses e Filêmon.
[11]
“O Evangelho da Verdade, plausivelmente atribuído a Valentino (c. de 150) não
faz referência a elas tampouco, embora cite de todos os demais livros do Novo
Testamento. Mais uma vez, isto não é surpreendente; os gnósticos geralmente,
segundo Clemente e Jerônimo, as repudiavam, e seu teor anti-gnótico fornece uma
explicação suficiente”. (KELLY, 2008, p. 12).
[12]
Papiro Chester Beatty (P 46), o códice paulino mais antigo, inicio do século
três, que faz parte da coletânea paulina conhecida no Egito.
[13]
A chamada Escola de Baur, em uma reconstrução hegeliana da história cristã
primitiva, se agarraram às questões literárias para afirmarem que as epístolas
pastorais refletiam um contexto pós-paulino; coube a H. J. Holtzmann sintetizar
os argumentos contrarios a autenticidade paulina: 1) situação histórica, 2)
condenação dos falsos mestres gnosticistas, 3) fase de organização das Igrejas,
4) vocabulário e estilo e 5) perspectivas e temas teológicos (HAWTHORNE, 2008,
p. 182).
[14]
Alguns estudiosos tentaram encaixar as pastorais no contexto de Atos e demais
epístolas anteriores, mas os resultados foram irrisórios, de maneira que alguns
deles acabaram posteriormente negando a autoria paulina (cf. REUSS, 1884, pp.
80-85 e 121-129). Kelly expõe com precisão as razões porque as pastorais não se
encaixam no contexto histórico de Atos e das epistolas anteriores de Paulo
(2008, pp. 14-16).
[15]
“Em tempos mais modernos a legitimidade de 1 Timóteo foi negada por Schimidt em
1804. Em 1807, Schleiermacher negou a autenticidade de 1 Timóteo com base em 75
palavras que não encontrou em nenhum ponto do Novo Testamento além dessa
epístola. Esta lista de palavras foi mais tarde expandida para incluir as
constantes de 2 Timóteo e Tito, elevando o total a 175 palavras.” (SPAIN, 1980,
p. 09).
[16]
Harrison elabora uma lista de 112 (enclíticas, partículas, preposições,
pronomes) que segundo ele são amplamente
utilizadas por Paulo e que não aparecem nas pastorais, todavia, J. W. Hoberts
utilizando apenas as epístolas aos tessalonicenses, que são incontestavelmente
paulina, acaba por reproduzir os mesmos resultados de Harrison, de maneira que
é possível rejeitar igualmente suas autorias por parte de Paulo. (SPAIN, 1980,
p. 15).
[17]
Harrison, tornou-se o referencial de uma autoria anti-paulina com seu livro
“The Problem of the Pastoral Epistles” publicado em 1921, todavia incorre nesse
erro grasso, pois acaba se apegando “ rigidamente a um total de 2.177 termos
que concede ao vocabulário de Paulo, baseado nas outras cartas do mesmo”
(SPAIN, 1980, p. 13).
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