Como já abordamos a Bíblia não é um
livro cientifico e também não se constitui em um manual de geografia, todavia,
suas informações podem serem amplamente situada no tempo e espaço, de maneira
que os eventos nela registrados são reais e não fictícios.
O objetivo da Bíblia é registrar os
eventos passados tanto de pessoas, quanto de povos e nações, e para estas
informações sejam melhor compreendidas pressupõe-se que seus leitores possuam
referências e conhecimentos geográficos. Um exemplo demonstrativo pode ser
visto nos registros das profecias de Amós (captos 1-2). Ele esta anunciando o
eminente juízo de Deus que esta por vir sobre seus ouvintes (Israel) para isso
ele começa por anunciar o juízo sobre as nações mais distantes: Damasco, Gaza e
Tiro, menciona algumas mais próximas como Edom, Amom e Moabe, chega até a vinha
e co-irmã nação de Judá e finalmente os próprios israelitas. Olhando um mapa da
época é possível perceber a dramaticidade da mensagem do profeta, que não cita
as cidades aleatoriamente, mas da proximidade com seus ouvintes.
O livro de Gênesis inicia com um
relato poético e estilizado da Criação, mas, ao repeti-la no capítulo dois
insere o Jardim do Éden, que de
acordo com o escritor esta localizado a Leste (lado Oriental – Gn 2.8), e mais
ainda, ele faz referência a um rio que saindo do Jardim ramifica-se em quatro
vertentes, os quais ele nomeia (Gn 2. 10-14).
A partir do capítulo três, onde se
registra a queda da raça humana e sua expulsão do Jardim do Éden, inicia-se a
peregrinação da raça humana e sua ocupação geografica do planeta Terra.
O nosso propósito não é advogar se
um determinado evento aconteceu ou não, mas se este acontecimento registrado
fornece uma real configuração geográfica de maneira que através das ferramentas
da geografia e da arqueologia se possa estabelecer o contexto em que o registro
histórico se passa. O argumento aqui é simples, pois se o registro histórico
preserva com exatidão o contexto em que os fatos aconteceram, porque não pode
se pode ter a mesma precisão quanto os personagens aos quais se referem. E
sendo assim, a Bíblia torna-se uma fonte histórica confiável.
O objetivo principal desta matéria
é proporcionar aos alunos uma consciência do mundo em que as narrativas
bíblicas são definidas - o contexto
onde
o texto a ser lido.
Os Patriarcas em Canaã
Canaã
Utilizamos
o termo 'Canaã' aqui de forma livre
para indicarmos especialmente a região ao sul Levante. Há várias alusões
bíblicas a sua extensão, mas não coincidem com precisão. A "Tabela das Nações" (Gn 10.15-19)
sugere que seu compilador tinha uma concepção de Canaã a partir de Gaza, no sul,
além de Sidon, no que se refere ao norte até o Hamate. Entretanto, uma outra
descrição dos limites de Canaã (Nm 34.2-12) coloca o limite norte em
Lebo-Hamate (Lebweh), localizada mais ao sul. Números 33.51 sugere que Canaã abrangia
toda área a oeste do Jordão, entretanto Números 13.29 registra que os cananeus habitaram
a área costeira e a terra ao longo tão somente do Jordão. Não há aqui qualquer
informação que venha a desvalorizar a veracidade histórica, mas apenas o fato
de que o escritor teve acesso a informações diferentes quanto as informações
registradas.
Abraão
Como
já foi referido a narrativa bíblica apresenta Abraão (originalmente chamado de
Abrão) como tendo se estabelecido a partir de Ur, no sul da Mesopotâmia e de empreender
viagem via Harã para a terra de Canaã.
É
oportuno notarmos que nas narrativas históricas dos Patriarcas, faz-se
referências à construção de altares e escavação de poços, como que dando
autenticação e estabelecendo direitos sobre aqueles locais.
Abraão
é apresentado como tendo chegado a Siquém onde constrói um altar (Gn 12.6-7),
passando em seguida para um ponto entre Betel e Ai, onde erigiu um outro altar
(Gn 12.8). Depois ele se dirige para o sul do Negueve (Gn 12.9) e desce até o
Egito (Gn12.10-20). Depois da experiência do Egito, ele retorna pela mesma via até
o local entre Betel e Ai (Gn 13.1-4).
É
neste ponto que Abraão resolve separar-se de seu sobrinho Ló, que escolhe o
vale do Jor narrativa bíblica define a decisão de Abraão e vai se estabelecer
em Sodoma, enquanto Abraão permaneceu a oeste do Jordão, montando seu acampamento
em Manre, uma região de carvalhos, perto
de Hebrom (Gn 13). Alguns pesquisadores tem procurado identificar este rei com
outros personagens biblicos, em períodos posteriores (Hamurabi da Babilônia),
todavia não utilizam argumentos convincentes.
O
capítulo descreve como um grupo de reis das Cidades da Planície (Sodoma,
Gomorra, Admá, Zeboim e Zoar) se rebelaram contra o rei de Elão Quedorlaomer, e
se reuniram no Vale de Sidim (que a narrativa bíblica identifica com o "Mar
Morto”. Eles chegam até Sodoma e Gomorra e saquearam suas cidades e levam
cativo Ló sobrinho de Abraão. Então Abraão monta uma equipe e persegue os
sequestradores até o norte de Dan, e para o norte de Damasco, recuperando Ló e
os bens saqueados. Ao retornar desta vitoriosa campanha Abraão recebe a bênção
do rei Melquisedeque de Salém (isto é, Jerusalém).
Mais
tarde, Abraão deixa a região de Manre e viaja
através do Neguebe até Gerar, onde encontra o rei Abimeleque com quem negocia a
propriedade em Beer-Seba (Gen. 20; 21. 22-34). Enquanto estava morando no
Neguebe que Sarah deu a luz a Isaque, o filho prometido (Gn 20.1-8). A
narrativa também registra a prova que Deus faz com Abraão de Deus, solicitando
que tomasse a Isaque e o levasse "à terra de Moriá" (Gn 22: 2; provavelmente
Jerusalém - ver 2 Cr. 3.1) e o oferecesse como sacrifício, mas no momento
crucial Deus mesmo lhe proporcionou um substituto, na forma de "um
carneiro preso num mato” (Gn 22.13). Abraão também adquire uma caverna em
Macpela, a leste de Manre, onde sepulta sua esposa Sarah (Gn 23);
posteriormente, ele também foi enterrado lá (Gn 25.7-10).
ISAQUE
Dos
Patriarcas Isaque é o que menos informação possui, ocupando um espaço limitado
na narrativa bíblica, de modo que ele fica dentro do contexto de seu pai
Abraão. Mas vale ressaltar que ele também se estabeleceu em Gerar e encontrou
Abimeleque, e que ele também está associada com a escavação de novos poços e
altares, continuando a demarcação territorial, como do poço em Beer-Seba e
outros poços na vizinhança (Gn 26). Estas tradições sublinham a importância de
suprimentos de água, como o de Berseba para aqueles que viveram ou viajaram
através da árida região do Negueve.
JACÓ
A
história de Jacob, como a de Abraão, associa-se com a construção de santuários.
De acordo com o relato bíblico, Jaco utilizando um artificio enganoso obtém de seu pai Isaque a bênção de
primogenitura, por direito de nascimento de seu irmão Esaú (Gn 27). Ele, então,
partiu de Berseba para Padã-Arã (Alta Mesopotâmia), em busca de uma esposa, e
foi no caminho que ele parou em Betel durante a noite e teve seu famoso sonho
da escada unindo
o
céu e a terra, ali ele faz um altar de pedra demarcando o lugar (Gn 28). Depois
de muitas aventuras ele finalmente retorna com suas esposas Lia e Raquel. Em Gênesis
32 temos a descrição de sua luta com o Anjo do Senhor, provável referência ao
próprio Deus (versículo 28), perto do rio Jaboque em Penuel / Peniel (versos 30
e 31). A narrativa também fala do encontro com seu irmão Esaú, depois que ele
foi pelo caminho de Sucote para Siquém, onde erigiu um altar, enquanto Esaú
voltou a Seir (Edom) (Gn 33.16-20). Posteriormente Jacob passou novamente a
Betel e construiu um altar (Gn 35.1-7). Raquel morreu e foi enterrada perto de
Belém (Gênesis 35: 19). Jacob
em
seguida, foi para perto de seu pai Isaque em Mambré; ali Isaque morreu e foi
enterrado por seus filhos (Gn 35: 27-9).
Utilização
livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre
em Ciências da Religião.
Universidade
Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro
Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
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Referências Bibliográficas
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da. Geografia clássica – uma
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Acesso em 04/08/2014.
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