sábado, 20 de novembro de 2021

Reflexão: Quando o Silêncio Fala Mais Alto

 


 Porque assim diz o Senhor DEUS, o Santo de Israel: Esperando e com calma você será salvo, no silêncio e na confiança está a sua força.

Isaías 30:15

 Vivemos dias em que o volume do mundo está cada vez mais alto e o barulho torna-se ensurdecedor. A cada dia estamos perdendo um pouco de nossa audição de maneira que somos incapazes de ouvir com clareza e distinguir a multidão de vozes que nos assediam desde quando acordamos até a hora em que dormimos. A internet e todos os seus subprodutos invadem de forma violenta nossos ouvidos congestionando nosso cérebro com centenas de informações por minuto, de maneira que encontramos cada vez mais dificuldade para processar esse volume ensurdecedor de vozes que exigem nossa atenção imediata e permanente.

Neste tempo cibernético do século XXI perdemos a capacidade de nos assentarmos em quietude; não apenas de nos calarmos, mas acima de tudo de fazermos calar a multidão de vozes ao nosso derredor que estão a exigir nossa atenção imediata. No salmo 19 o poeta faz referência aos dois meios pelos quais Deus fala com os seres humanos: o primeiro destes é a Criação, que apesar dos milênios desde quando Deus a estabeleceu, permanece diariamente à disposição de todos os seres humanos em todos os lugares e tempos, para que possam ouvir Sua voz. Mas o poeta cita então uma segunda forma que Deus escolheu para que os seres humanos pudessem ouvir sua maravilhosa e poderosa voz: a Torah e/ou Escrituras Bíblicas.

Essas duas formas de ouvir Deus não se excluem, ao contrário, ambas são perenes e se completam harmoniosamente. Ouvir as Escrituras em uma noite de lua cheia e céu estrelado é uma experiência fascinante e toca profundamente a mente e o coração; ouvir as Escrituras contemplando a imensidão do mar em um dia ensolarado é algo incomparável e curativo para qualquer doente da alma, da mente ou do corpo, pois a voz de Deus continua tão poderosa quanto foi nos primeiros dias da Criação ou tão suave e restauradora quanto foi na voz do Verbo, Jesus Cristo, que assumindo a plenitude de nossa humanidade viveu e conviveu com toda sorte de pessoas na Palestina do primeiro século da era cristã.

Infelizmente estamos perdendo dia-a-dia a capacidade de ouvirmos o som salvador e abençoador deste Deus que nos criou com a capacidade única entre toda a criação capazes de ouvi-lo. Adão e Eva não ouviram a voz de Deus, mas ouviram a voz de Satanás; os israelitas não deram ouvidos aos Profetas de Deus, mas ouviram os falsos profetas que viviam como comichões em seus ouvidos; as pessoas nos dias de Jesus não conseguiam ouvir seu doce convite – Vinde a Mim, mas ouviam com avidez as vozes de seus algozes – Crucifica-o.

SILENCIAI-VOS E LEMBRAI QUE EU SOU DEUS! A figura de Marta de Betânia, correndo de um lado para outro, estressada, afadigada é um retrato perfeito de nós nesse tempo pós moderno, cibernético; como precisamos urgentemente aprendermos com Maria, assentada, aquietada, em silêncio, ouvindo cada palavra que sai da boca de seu Amado Mestre. Aqui está o segredo da vida com qualidade; da vida em sua real plenitude. Sim, a vida não está no turbilhão de mil vozes e compromissos agendados até o ano dois mil e.....

Como bons crentes (no meu caso pastor) somos treinados para “falarmos” e “fazer” coisas o tempo todo; mas não somos treinados para “silenciar” e “aquietarmos”. Se não temos pessoas para nos ouvir ou, pior ainda, se há páginas na nossa agenda que estão em branco, nos frustramos e entramos em crise – o pânico toma conta: o que estou fazendo de errado?

Por que será que Jesus antes de iniciar seu ministério terreno foi levado para o Deserto? É no silêncio e quietude do Deserto, com sua paisagem árida e simples, que durante quarenta dias, Jesus se preparou para todos os embates de seus quase três anos de Ministério, intenso, árduo e que culminou com a Cruz. Enquanto com seus discípulos e amigos (como Ele os chama) e acossado pelos muitos adversários, Jesus tomava tempo para procurar um lugar tranquilo e quieto onde podia se aquietar na presença do Pai.

Para o bem de nossa vida: corpo, mente e espírito, precisamos buscarmos a cada dia um lugar para assossegarmos na presença do nosso Pai Celeste. Lermos um texto bíblico e então sem qualquer necessidade de falarmos uma única palavra; deixarmos as palavras de Deus ressoarem em nosso coração e alma; contemplando a Criação em profundo silêncio. Essa é a melhor maneira de nos preparamos para suportarmos os embates e anseios da vida cotidiana neste inicio de século XXI, com suas violências físicas e emocionais; pandemias criadas em laboratórios; proliferação de toda sorte de doenças psicossomáticas; guerras ideológicas; glamourização do pecado em todas as suas formas mais depravadas; crescente ceticismo e ateísmo; evangelicalismo materialista e hedonista. O Mundo nunca foi tão tenebroso como neste início de século XXI.

SILENCIAI E SABEI QUE EU CONTINUO SENDO DEUS! É preciso negociarmos momentos de silêncio e contemplação em meio ao caos diário que tenta nos arrastar em seus turbilhões; esse é um desafio pessoal e interno; é preciso transformarmos até mesmo as feridas que tanto nos trazem transtorno, dor e sofrimento em oportunidades para nos silenciarmos na presença de Deus.

Aprendemos mais sobre Deus em um dia de contemplação e silêncio, do que em um semestre falando sobre Deus. Há um grande engodo em relação ao sentido do termo “teologia”. A genuína teologia não é uma infindável falação a respeito de Deus, mas um aprendizado a respeito de Deus resultante de uma relação pessoal com Ele através dos dois livros que Ele nos deu. Somente quando passo tempo em silêncio diante da Sua Criação e da Sua Palavra começo de fato e de verdade apreender algo sobre esse Deus imensurável.

A genuína teologia, sem artificialismos mesquinhos e arrogantes, é aquela que nos conduz cada vez mais a nos calarmos diante do Deus eterno e glorioso; é aquela, parafraseando Agostinho, que nos capacita a silenciosamente voarmos em direção a Deus; como diz o salmista nos faz calar e sossegar nos braços amorosos do Senhor; e como diz Cantares é aquela que nos faz esquecer de nós mesmos e somente contemplar o Amado; que nos faz mergulharmos cada vez mais profundamente na graça maravilhosa de Deus. A boa e edificante teologia é aquela que nos faz descobrir o “unum necessarium” – que uma única coisa é de fato e de verdade necessário para a nossa vida: Deus! Qualquer teologia que não nos conduza a esta verdade é no mínimo deficitária.    

SILENCIARMOS é a maior e mais premente necessidade dos nossos dias. Devemos nos silenciar, para podermos ouvir a voz de Deus com clareza e sem ruídos; o silêncio é uma rendição incondicional onde reconhecemos, sem falar, a nossa total dependência do Deus todo poderoso e pleno de graça, que está conosco (Emanuel) até sorvermos o último gole do cálice que tiver que tomar, pois mesmo quando tivermos que passar e teremos que passar, por vales muitas vezes profundos e tenebrosos, temos plena certeza de que Ele estará conosco a cada passo e se e quando fraquejarmos a Sua bondade e misericórdia nos acompanhara em segurança até quando pudermos estarmos com Ele para sempre!

Apenas como adendo é necessário deixar bem claro que esta atitude e busca pelo silêncio não caracteriza ou incentiva de forma alguma quaisquer tipos de fuga da realidade, por mais dura que ela seja, mas justamente ao contrário, é uma das formas de nos prepararmos para os embates da vida. Os quarenta dias de Jesus no deserto não foram para evitar (fugir) da Cruz, mas para caminhar seguro e resoluto em direção à Cruz (vontade do Pai).

 Utilização livre desde que citando a fonte

Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
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quarta-feira, 10 de novembro de 2021

O Transfundo das Parábolas de Jesus


Jesus exerceu a maior parte de seu ministério no interior da Palestina judaica. Ainda que em muitas ocasiões ele entrasse em alguma cidade ou Vila de maior expressão, foi na área campestre e pastoril que ele proferiu a maior parte de seus ensinos. Portanto, é natural e coerente que suas famosas Parábolas reflitam o contexto rural cotidiano de seus ouvintes e discípulos. Vejamos algumas destas características ruralistas:

- A parábola não tem uma origem fantástica, ou seja, não são uma invenção fictícia de Jesus, alienada da vida real e cotidiana de seus ouvintes.

- Jesus tira suas parábolas do mundo real ao seu redor. Muitas de suas figuras são do campo, o que indica que ele foi criado neste ambiente. Ele fala do semeador, do trigo, joio, mostarda, ovelha perdida, ninhos, tocas, dos peixes grandes e pequenos, do fazendeiro e seu arado, do fazendeiro paciente, da chuva, do sol, das flores e dos pássaros ...

- Ele também nos fala sobre os sinais do tempo: da nuvem no Oeste que anuncia

chuva, do vento sul que traz calor, da figueira com brotos que anuncia o verão, dos campos brancos de trigo que pedem a colheita e dos lavradores prontos para colher os resultados de seu trabalho.

- As parábolas também nos falam sobre a vida familiar: sobre a mulher que amassa uma grande quantidade de pão, do fermento que ela acrescenta à massa, da mulher varrendo etc.

- Ele também nos fala sobre a vida do povoado: as brincadeiras na praça da aldeia, as festas de casamentos e dos rituais de funerais ...

- Os atores das parábolas são pessoas reais: dois tipos de construtores; ambos os lados em uma disputa; o fazendeiro rico e seus grandes celeiros; o servo incansável; o desempregado esperando na praça; o camponês que descobre um tesouro no campo; o comprador ou negociador de pedra fina ...

- Finalmente, eles nos falam sobre eventos reais, mesmo que alguns deles não sejam tão comuns como os outros: o ladrão noturno; casamentos e pessoas não convidados; o juiz corrompido e a viúva; o gerente astuto; os ladrões na estrada de Jericó ...

            São estas características cotidianas, comuns e plenamente humanizadas que cativavam aqueles primeiros ouvintes, que muitas vezes eram pequenas multidões e que continuaram atraindo milhões de leitores, após os registros evangélicos. Ainda hoje as Parábolas de Jesus continuam cumprindo seu papel de atrair o interesse das pessoas e conduzi-las para as verdades do Evangelho do Reino de Deus, que sempre foi a principal e real razão pela qual Jesus proferiu cada uma delas.

            O grande e terrível erro que as pessoas comentem é tratar as Parábolas de Jesus como contos infantilizados ou meras ilustrações de sabedoria; cada uma delas expõe um ponto central de seu ensino e devem ser compreendidas em sua realidade espiritual. Foram através delas que Jesus expos o mais claramente possível e em uma linhagem totalmente acessível por todas as pessoas, até mesmo os iletrados, pois a mensagem de salvação que Ele trouxe deve ser compreendida e crida por todas as pessoas.

            Desafio você a ler a cada dia uma destas Parábolas de Jesus e meditar nela, deixar essa mensagem subir à sua mente, para que você compreenda a mensagem nela contida, mas também descer ao seu coração, para que possa crer nele como Senhor e Salvador de sua vida.

            Entre os links abaixo: “Parábolas: Uma Ordem Cronológica” você encontrará uma lista contendo 46 parábolas encontradas nos quatro relatos evangélicos contidos em nossa bíblia. Alguns comentários a diminuem e outros até mesmo acrescentam mais algumas, mas de forma consensual essa lista é aceita por um numero expressivo de estudiosos bíblicos.

            Você também encontrara nas referências bibliográficas uma oportunidade para que aprofunde seu conhecimento sobre as Parábolas.

 

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
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Referências Bibliográficas

ANDERSON, Ana Flora e GORGULHO, Gilberto. Parábolas: a palavra que liberta. São Paulo: Artcolor, 2000.

BAILEY, Kenneth. As Parábolas de Lucas [A poesia e o camponês – uma análise literária-cultural das parábolas de Lucas]. São Paulo: Vida Nova, 1985.

CABRAL, Elienai. Todas as Parábolas de Jesus. Rio de Janeiro: CPAD, 2005.

CERFAUX, Mons. L. O tesouro das parábolas. São Paulo: Paulinas, 1974.

DODD, C. H. Las parabolas del Reino. Madrid: Edciones Cristiandad, 1965. São Paulo:

Paulinas, 1982. DUPONT, Jacques. O método das parábolas de Jesus hoje. São Paulo: Edições Paulinas, 1985.

GOURGUES, Michel. Parábolas de Jesus em Marcos e Mateus. São Paulo: Loyola. 2006.

LOCKYER, Herbert. Todas as parábolas da bíblia – uma análise detalhada de todas as parábolas da bíblia. São Paulo: Editora Vida, 1999.  

JEREMIAS, Joachim. As parábolas de Jesus. São Paulo: Paulus, 2007.

KISTEMAKER, Simon J. As Parábolas de Jesus. Tradução: Eunice Pereira de Souza. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1992. [13º edições]

MACARTHUR, John. As parábolas de Jesus comentadas por John Macarthur. São Paulo: Thomas Nelson, 2016.

MIRANDA, Osmundo Afonso. Introdução ao estudo das parábolas. São Paulo:

 Aste, 1984.

PLOEG, J. P. M. van der. Jesus nos fala: as parábolas e alegorias dos quatro evangelhos. São Paulo: Paulinas, 1999.

SANT’ANA, Marco Antônio Domingues. O gênero da parábola. São Paulo: Unesp, 2010.

SCHOTTROFF, Luise. As Parábolas de Jesus: Uma nova hermenêutica. São Leopoldo: Sinodal, 2007.

SNODGRASS, Klyne. Compreendendo todas as parábolas de Jesus – guia completo. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.