terça-feira, 27 de abril de 2021

Bibliografia: Origem e Autenticidade da Bíblia


            Esse livro deve ser leitura obrigatória para todo estudante da Bíblia. Conforme o índice abaixo é possível verificar o nível de excelência dos colaboradores desta obra e a abrangência dos temas abordados ao longo de seus capítulos o que o torna leitura primária para todos aqueles que apreciam o valor incomparável da Bíblia.

Evidentemente que cada capítulo poderia ser tema de um volume próprio, mas os escritores conseguem sintetizar os temas sem deixar de abordar as questões mais relevantes de cada um deles. A leitura torna-se cativante para qualquer leitor pois evita-se uma linguagem eminentemente acadêmica, ainda que as abordagens sejam relevantes e de alto nível. De maneira que, o livro pode ser facilmente adaptado para estudos bíblicos semanais ou mesmo para classes da Escola Bíblica Dominical.

Transcrevo abaixo a Introdução escrita por Philip W. Comfort o editor desta obra e que sucintamente esboça as particularidades de cada seção.

Introdução

A BÍBLIA. Não há outra obra literária sobre a qual se tenham escrito tantos livros — então, por que mais um? Embora haja muitos livros que ajudam os leitores a compreenderem o conteúdo da Bíblia, poucos explicam suas origens. Este volume fornece uma visão geral de como a Bíblia foi inspirada, canonizada, lida como literatura sacra, copiada em antigos manuscritos hebraicos e gregos e traduzida para os idiomas do mundo inteiro.

A primeira seção, "A Autoridade e Inspiração da Bíblia", concentra-se na inspiração divina da Bíblia e sua permanente autoridade e infalibilidade. A segunda seção, "O Cânon da Bíblia", revela os processos ocorridos na seleção dos 39 livros do Antigo e dos 27 do Novo Testamento para juntos formarem a Escritura canonizada. Contém ainda um ensaio sobre os livros apócrifos do Antigo e do Novo Testamento. A terceira seção, "A Bíblia como Texto Literário", elucida o pano de fundo literário da Bíblia e mostra como a Bíblia é uma obra-prima da literatura. A quarta seção, "Textos e Manuscritos da Bíblia", faz uma descrição dos antigos manuscritos bíblicos já descobertos e usados na composição das edições dos textos hebraicos e gregos. A quinta seção, "Traduções da Bíblia", fornece informações acerca das línguas originais da Bíblia (hebraico, aramaico e grego) e da tradução bíblica em si. Além disso, apresenta um breve histórico da Bíblia nas línguas inglesa e portuguesa e de outras versões em muitos idiomas.

Espero que este livro inspire em cada leitor novas ponderações a respeito de nossa Bíblia e traga um maior entendimento dos procedimentos que transformaram a Bíblia no texto inspirado que é.

Philip W. Comfort

Índice
Introdução.......................................................9
SEÇÃO UM
A Autoridade e Inspiração da Bíblia
A Bíblia
F. F. Bruce..................................................13
A Autoridade da Bíblia
Carl F. H. Henry.............................................27
A Inspiração da Bíblia
]. I. Packer.................................................49
A Inerrância e a Infalibilidade da Bíblia
Harold O. j. Broivn..........................................61
SEÇÃO DOIS
O Canon da Bíblia
O Cânon do Antigo Testamento
R. T. Beckvith................................................79
O Cânon do Novo Testamento
Milton Fisher.................................................97
Os Livros Apócrifos do Antigo e do Novo Testamento
R. K. Harrison................................................115
SEÇÃO TRÊS
A Bíblia como Texto Literário
A Literatura nos Tempos Bíblicos
Milton Fisher................................................139
A Bíblia como Literatura Leland Ryken...........157
SEÇÃO QUATRO
Textos e Manuscritos da Bíblia
Textos e Manuscritos do Antigo Testamento
Mark R. Norton................................................213
Textos e Manuscritos do Novo Testamento
Philip W. Comfort.............................................251
SEÇÃO CINCO
Traduções da Bíblia
As Línguas Originais da Bíblia
Lamj Walker...................................................291
Tradução da Bíblia
Raymond Elliot................................................321
História da Bíblia em Língua Inglesa e em Língua Portuguesa
Philip W. Comfort.............................................361
Versões da Bíblia
Victor Walter.................................................409

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br

Referência Bibliográfica
WESLEY, Philip (Editor). Origem e autenticidade da Bíblia. 1ª ed. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 1998.

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sexta-feira, 9 de abril de 2021

Provérbios Verso-a-Verso: Introdução (1.1)

 


Provérbios de Salomão, filho de Davi, rei de Israel:

(Revisada-Almeida)

Estes são os provérbios de Salomão, filho de Davi, rei de Israel.

 (NIV)

ESTES SÃO OS provérbios e ditados de Salomão, rei de Israel, filho de Davi.

(Bíblia Viva)

מִ֭שְׁלֵי שְׁלֹמֹ֣ה בֶן־דָּוִ֑ד מֶ֝֗לֶךְ יִשְׂרָאֵֽל׃

(Westminster Leningrad Codex)

ΠΑΡΟΙΜΙΑΙ Σαλωμῶντος υἱοῦ Δαυεὶδ ὃς ἐβασίλευσεν ἐν Ἰσραήλ,

(Swete's Septuagint)

Estamos entrando em uma das mais extraordinárias bibliotecas particulares de todos os tempos. Estaremos acessando um pouco daquilo que Salomão, o sábio rei de Israel, filho do rei Davi, coletou e preservou de seu vasto conhecimento e sabedoria.

Tiago em sua epístola fala de dois tipos de sabedoria: a mundana, carnal e forjada na bigorna do inferno e a sabedoria que vem do alto – o livro de Provérbios contém em cada uma de suas páginas gotas preciosas desta sabedoria impregnada da atmosfera celestial.

Diferente de outras literaturas bíblicas, o livro de Provérbios é para ser lido sem pressa – o leitor deve degustar cada um de seus provérbios como se fosse único, da mesma forma que se degusta um prato caríssimo preparado especialmente para você por um incomparável Grande Chefe culinário.  

Esta biblioteca de sabedoria inesgotável foi selecionada e preservada pelo Espírito Santo especialmente para você e capacitara você a viver deforma agradável a Deus e com dignidade em meio a uma sociedade humana alienada dos valores espirituais, éticos e morais (Pv 3.1-4; 10.1; 25.1). É uma porta aberta que lhe dará acesso ilimitado ao genuíno conhecimento, prudência, honra e vida saudável e prospera. Esses provérbios vão muito além das palavras e conceitos formulados pela mente humana, pois estão revestidos da ação inspiradora do Espírito Santo e que foram apreendidas, comprovadas e registradas por uma das mentes mais capazes que viveu neste mundo (Ec 1.12-18; 2.1-2).

            Quando adentramos a essa biblioteca vem a nossa mente: o que vem a ser um provérbio? No dicionário de língua portuguesa encontramos: frase curta, ger. de origem popular, freq. com ritmo e rima, rica em imagens, que sintetiza um conceito a respeito da realidade ou uma regra social ou moral (p.ex.: Deus ajuda a quem madruga); na Bíblia, pequena frase que visa aconselhar, educar, edificar; exortação, pensamento, máxima. Um dos maiores escritores espanhóis de todos os tempos, Cervantes, definiu assim: provérbio “é uma frase curta baseada em longa experiência”. A palavra hebraica “mashal” é traduzida como "provérbio" e também “parábola” e até “alegoria”, mas seu significado básico é

"uma comparação" e um número expressivo dos provérbios de Salomão são comparações ou contrastes (cf. 11.22; 25.25; 26. 6-9).

Mas como mencionado rapidamente essa coleção de provérbios inseridos no cânon bíblico, não são simplesmente máximas ou truísmos (obviedades), mas estão fecundados de questões religiosas e éticas dentro da revelação de Deus dadas aos israelitas e que se constituem no fundamento de toda a fé veterotestamentária (Pv. 3.1-12, 27-35; 6.16-19; 14.12).

Evidente que os provérbios não eram utilizados apensa e tão somente nas liturgias cultuais israelitas, e grande parte deles provinham da vivência cotidiana deles, todavia, mesmo os mais populares desses provérbios foram aqui reunidos para fornecer instruções sobre como se deve viver o cotidiano dentro dos parâmetros estabelecidos por Deus (Pv 1.2-7).

Apesar da aparência simplória dos provérbios eles contém um grau elevado de dificuldade para ser corretamente entendido. Jesus escolheu comunicar sua mensagem através de Parábolas, o que poderia ser uma pequena história proverbial, que segundo o Mestre a grande maioria das pessoas ouviam, mas não compreendiam, e a qual ele explicava o verdadeiro sentido aos seus discípulos em particular (Lc 8.4-15). O grau de dificuldade está relacionado à linguagem metafórica, onde se utilizam palavras de forma figurativa e não literal. As literaturas bíblicas de Ezequiel, Daniel e o livro do Apocalipse são exemplos clássicos da linguagem metafórica-figurativa para se comunicar a mensagem profética escatológicas. A grande vantagem desse tipo de linguagem é que se preserva o sentido da mensagem, pois a linguagem não se deteriora com as mutações linguísticas temporais. Por esta razão os provérbios são sempre atuais e mantém sua beleza e força.  

            A boa e correta hermenêutica, ferramenta utilizada para extrair o sentido genuíno do texto, deve ser seguida em todos os textos bíblicos incluído os provérbios. Uma hermenêutica distorcida ou mal intencionada certamente haverá de desvirtuar o sentido do provérbio. Uma regra de ouro da hermenêutica bíblica é de que nenhuma interpretação do texto, neste caso um provérbio ou um conjunto deles, pode entrar em contradição com outros textos bíblicos, de maneira que um dos dois textos está sendo erroneamente interpretado ou que ambos não estão sendo estudados corretamente – no caso do estudioso mal intencionado (o que mais tem proliferado nesses dias de nefastas ideologias), fica nítido que o problema não está nos textos estudados, mas naquele que está estudando. Jesus disse que “se seus olhos são trevas, quão densas são essas trevas(Mt 6:22,23), infelizmente as trevas tem prevalecido em uma parcela cada vez mais crescentes de “mestres” bíblicos no século XXI.

            Mas apesar dos provérbios necessitarem de uma análise e interpretação cuidadosa não deve nos intimidar ou desmotivar, mas como é a proposta primária deles, devem nos instigar e motivar para explora-los até compreendermos sua lição e/ou princípio estabelecido.

O livro de Provérbios é a expressão da sabedoria de Deus e se constituem em orientações seguras, valiosas e desafiadoras para vivermos nesse mundo influenciado por Satanás e em permanente estado de decomposição ético moral. Eles são placas sinalizadoras que nos ajudam a nos mantermos na direção correta e a evitarmos os perigos que toda estrada contém. Provérbios é uma forma literária plena de beleza e instrução – demonstrando mais uma vez que o Espírito Santo não apenas é o mais extraordinário dos pedagogos, mas também que possui um gosto pelo belo.  

 Nesse primeiro verso temos a informação que se não todos, mas a grande maioria desses provérbios contidos nesse livro inserido no cânon veterotestamentário, são de autoria de Salomão, filho de Davi e que veio a sucedê-lo no trono de Israel. Pouco antes de suceder seu pai no trono o jovem príncipe ora a Deus e lhe pede sabedoria para poder exercer suas pesadas e complexas funções de governante e Deus se agradou do pedido dele e lhe falou: “Porquanto pediste isso, e não pediste para ti muitos dias, nem riquezas, nem a vida de teus inimigos, mas pediste entendimento para discernires o que é justo, eis que faço segundo as tuas palavras. Eis que te dou um coração tão sábio e entendido, que antes de ti teu igual não houve, e depois de ti teu igual não se levantará. Também te dou o que não pediste, assim riquezas como glória de modo que não haverá teu igual entre os reis, por todos os teus dias(1Rs 3.11-13; 4:29-31).

            Salomão e seus provérbios foram fontes de ensino saudável para o povo israelitas de sua época (Ec 12.9-11), mas o Espírito Santo, ao inseri-los no cânon bíblico, os preservou e tornaram-se ensinos fidedignos para todo o povo de Deus do passado e do presente. De um total de três mil provérbios (1Rs 4.32), uma seleção de quinhentos estão aqui. Que coleção! Nela encontramos verdade e sabedoria para nos orientar nas mais diversas áreas de nossa vida cristã cotidiana. O caminho da honra, vida longa, paz, prosperidade e segurança estão colocadas graciosamente diante de nós.

A Bíblia é a maior e mais extraordinária biblioteca à qual podemos ter acesso, inclusive de forma digital, pois contém a revelação de Deus para a nossa vida. Precisamos evitar nos aproximarmos desses livros apenas com espírito acadêmico crítico ou especulativo, mas sempre com temor e reverente desejo de adquirir a genuína sabedoria que nos faz agradáveis a Deus e uteis às pessoas que convivem conosco. Estudando e apreendendo o livro de Provérbios certamente seremos melhores luzes e melhor sal na Sociedade brasileira.

 

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
 
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Referências Bibliográficas 
ALSTER, Bendt. World's Earliest Proverb Collections. Two volumes. Bethesda, PRESS, 1997.
ARNOLD, Bill T. e BEYER, Bryan E. Descobrindo o Antigo TestamentoSão Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001.
EVERETT, Gary H. Study Notes on the Holy Scriptures - using a theme based approach to identify literary structures - The Book of Proverbs, 2017. [versão pdf].
HARRISON, Roland Kenneth. Introduction to the Old Testament. Grand Rapids: Eerdmans, 1969.
HORNE, Milton P. Proverbs-Ecclesiastes. Macon, Georgia: Smyth & Helwys Publishing, 2003. [Bible Commentary, v.12].
KIDNER, R. Derek. Provérbios - Introdução e Comentário. Tradução de Gordon Chown. São Paulo: Edições vida Nova e Mundo Cristão,1980. [Série Cultura Bíblica].
LONGMAN, Tremper. How to read Proverbs. Illinois: InterVarsity Press, 2002.
POWELL, Mark Allan (Ed.). HarperCollins Bible Dictionary Revised Updated.  With the Society of Biblical Literature, 2009.
MONLOUBOU, L. (Org.). Os salmos e os outros escritos. Tradução Benôni Lemos. São Paulo: Paulus, 1996. [Biblioteca de ciências bíblicas].
RADMACHER, Earl; ALLEN, Ronald B.; HOUSE, H. Wayne (Editores). O novo comentário bíblico AT, com recursos adicionais — A Palavra de Deus ao alcance de todos. Rio de Janeiro: Editora Central Gospel, 2010.
STEINMANN, Andrew E. Steinmann. “Proverbs 1-9 As A Solomonic Composition”, Journal of the Evangelical Theological Society 43.4 (December 2000): 659-674.
TENNEY, Merril C. Enciclopédia da Bíblia - cultura cristã, v.4. Tradução da Equipe de colaboradores da Cultura Cristã - São Paulo: Cultura Cristã, 2008. [em cinco volumes].
WALTKE, Bruce. Comentários do Antigo Testamento – Provérbios, vol. 01. Tradução de Susana Klassen. São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2011.
 

quarta-feira, 7 de abril de 2021

Epistola de Judas 1.1 – Um Exercício Interlinear Grego-Português

 


            A epístola escrita por Judas é um dos livros mais curtos do Novo Testamento e da própria bíblia. Talvez por esta razão os leitores nem sempre prestam atenção ou lhe dão o devido valor. Todavia, esse pequeno documento foi preservado e inserido no cânon das Escrituras e isto por si só o reveste de significado e autoridade.

            O fato da pequena carta escrita por Judas anteceder o Apocalipse é significativo, pois o conteúdo da sua mensagem se encaixa perfeitamente à mensagem profética do último livro do cânon e podemos até dizer que a epistola serve de introito à sinfonia do Apocalipse.

Epístola de Judas 1.1 Interlinear Greek New Testament  (IGNT)

 Ἰούδας Ἰησοῦ Χριστοῦ δοῦλος ἀδελφὸς δὲ Ἰακώβου

     Judas        de Jesus        Cristo         escravo       irmão          e       de Tiago

τοῖς ἐν  θεῷ    πατρὶ ἠγίασμένοις, καὶ  Ἰησοῦ Χριστῷ

  para   o    em Deus       “o” Pai       santificado              para       Jesus        Cristo

Τετηρημενοις     κλητοις.

           mantido                   chamados.

Ἰούδας

Ocorre 45 vezes no NT sendo transliterado “Judá, Judas” e uma única vez “Jude” nesta epístola. O Dr. Morris Murray Jr. deduz que talvez seja para se dissociar da imagem negativa com outros nomes, como por exemplo “Judas Iscariotes”.  Do hebraico [יְהוּדָה] e significa: “elogiado, honrado, celebrado”.

 

Ἰησοῦ - 

É uma transliteração do Heb. “Josué", que significa "Yahweh é salvação", ou seja, "é o Salvador". Ainda em gestação um anjo disse a José que colocasse esse nome especifico quando ele nascesse (Mt 1.21).

 

Χριστοῦ - 

ungido, ou seja, o Messias, um epíteto de Jesus: Cristo. Do hebraico מָשִׁיחַ [ungido]. o título com o artigo especifica o Senhor Jesus como "o Cristo", sem o artigo, o caso aqui, enfatiza seu caráter e sua relação com os crentes. No caso especifico aqui tanto do escritor quanto dos leitores a quem se dirige.

 

δοῦλος -

A relação acima mencionada é especifica como sendo de doûlos [escravo, servo] que pode ser em um sentido literal ou figurativo, involuntário ou voluntário, mas frequentemente em um sentido qualificado de sujeição ou submissão). Judas coloca-se na mesma condição das grandes lideranças cristãs Pedro, Tiago e Paulo que se apresentam igualmente como “doûlos” de Jesus Cristo, uma expressão de plena e voluntária sujeição ao senhorio de Cristo. Durante o transcorrer da carta ele se refere sempre a Jesus como Senhor. Se ideia não era de escravo (doûlos) ele poderia ter utilizado o termo diakonos (“servo [doméstico]”).

 

ἀδελφὸς  -

Denota um “irmão, ou parente próximo”, no plural, “uma comunidade baseada na identidade de origem ou vida”. Este é o único lugar no NT onde o autor de uma carta menciona laços de família com seus leitores.

Do fato de Judas se identificar como irmão de Tiago pode se inferir que ele não tinha as credenciais apostólicas ou que os seus leitores reconheciam a autoridade de Tiago como líder da Igreja. Paulo escrevendo aos Coríntios (1Co 9.5) faz referência aos irmãos do Senhor, possivelmente incluindo Judas, como missionários itinerantes.

 

δὲ -

Uma partícula adversa, distinta, disjuntiva (também, e, mas, além disso, agora).

 

Ἰακώβου  -

Tiago, assim como Judas, era meio irmão de Jesus (Mt 12.46-47; Gl 1.19), um dos líderes da igreja em Jerusalém (At 15), e autor da carta que traz seu nome. Uma razão é de que o objetivo principal de ambos era

destacar e engrandecer a Ele e não a si próprios. Talvez, se lembrassem de que inicialmente eles demoraram a crer em Jesus como o Messias e Salvador (Jo 7.5).

 

τοῖς -

corresponde ao nosso artigo definido e que é propriamente um pronome demonstrativo.

 

ἐν -

Preposição “em”, neste caso melhor do que “por”; A expressão, "amado em Deus” é unívoca no Novo Testamento.

 

θεῷ -

Deus [Pai], a primeira pessoa da Trindade.

 

πατρὶ -

Pai – aquele que é o gerador de todos. A salvação é gerada pelo Pai, efetuada pelo Filho e aplicada pelo Espírito Santo. A palavra patri ("Pai") denota um relacionamento com Deus em que o amor predomina de forma inata e pulsa em cada faceta do Pai em uma base contínua e interminável.

 

ἠγίασμένοις

É o particípio passivo perfeito de “hagiazo” significando, "para fazer santo. É uma ação exclusiva de Deus "ser separado por Deu; ser modelado para ser semelhante a Ele no caráter (santo, santificado – Se santo como Eu sou santo). O termo vem do cerimonial de purificação dos utensílios que seriam utilizados no templo, bem como dos sacerdotes e levitas que estariam ministrando diante de Deus. O escritor e os seus leitores foram “santificados” para serem instrumentos de Deus. Em português somente a tradução Corrigida Fiel optou por “santificados”, outras como a Revista Corrigida e a NIV optaram por “amados”, ambas têm respaldo nos manuscritos neotestamentários.  

 

καὶ -

O simples dativo sem preposição, portanto, “para” Jesus Cristo, melhor do que “em”.

 

Ἰησοῦ -

Jesus, revelando seu caráter salvador – “Deus salva ou Deus é salvação”

 

Χριστῷ -

Cristo, pronome conectado a Jesus como referência messiânica-divino.

 

Τετηρημενοις

Preservado no sentido de manter a nova condição em Cristo e que se distingui do esforço humano (doutrina dos gnósticos e nicolaítas que seguiram o caminho de Balaão), pois somente por Cristo são salvos e preservados.  Melhor “preservado para Jesus Cristo”, enquanto aguardam a parousia, para ser Seu no Reino (glória). O que preserva (guarda, cuida) é Deus – os que são preservados são os chamados - e tudo está sendo feito “para Jesus Cristo”.

 

κλητοις -

Chamado, selecionado de forma especifica e definida. Todos os que foram chamados a um conhecimento de Deus através do evangelho. A ideia é de que o chamado, mesmo tendo sido feito no passado, permanece valido no presente. Segundo  Vincent, Marvin Richardson Vicent [New Testament Word Studies] colocado no final da frase para dar ênfase.

 

 

 

 

Epístola de Judas 1.2 Interlinear Greek New Testament  (IGNT)

 

 ἔλεος    ὑμῖν    καὶ εἰρήνη καὶ ἀγάπη πληθυνθείη

 

Misericórdia   para você (s)      e             paz           e          amor             seja multiplicado

 

ἔλεος

 Misericórdia [compaixão] – é a base da relação de Deus (Pai) com os “chamados” – trás a ideia de ação em favor daqueles que não possuem mérito algum em si mesmos. Mesmo depois de “chamados” eles estão sujeitos à corrupção pecaminosa, mas Deus continuamente manifesta sua misericórdia e os “preserva” para Jesus Cristo.

 

ὑμῖν

para (com ou por) você(s)

 

καὶ

tendo uma força copulativa e às vezes também cumulativa - e, também, mesmo, então, também, etc.; muitas vezes usado em conexão (ou composição) com outras partículas ou pequenas palavras.

 

εἰρήνη

Traduzida como "paz" e expressa os limites da relação de Deus com os que foram chamados, com base no sacrifício de Cristo. É o estado de contentamento (satisfação; descanso; reconciliação). “É uma sensação de estar em casa na presença de Deus - necessária, feliz e livre”. (MURRAY, 2018, p. 8).

 

καὶ 

A adição καὶ ἀγάπη é peculiar desta epístola.

 

ἀγάπη

A palavra aqui traduzida como "amor" e refere-se ao amor abnegado, sacrificial e abrangente para o bem de outros. Deus ama os “chamados” dessa forma e torna-se o modelo para que eles amem igualmente. Amor tanto de Deus para com eles, como deles para com o próximo.

 

πληθυνθείη

Aumentar; multiplicar; abundar – eles não devem ser econômicos, mesquinhos manifestação do amor para com Deus e para com os outros.

 

 

 

 

 

 

 

 

Notas

A carta de Judas foi escrita para ser lida em público quando a comunidade estivesse reunida e seu objetivo é anular a influência dos falsos mestres que haviam se infiltrado entre eles.

Nestes dois versos iniciais ele apresenta as credenciais que lhe dão credibilidade e autoridade e ao mesmo tempo descredencia os falsos mestres. Também utiliza termos que serão repetidos e darão consistência temática à correspondência, como por exemplo ele descreve os destinatários como sendo “preservados por Cristo” (v.1), e quase ao final exorta-os a se preservarem no amor de Deus (v. 21). Há também as recorrências: “misericórdia” (vv. 2, 21, 22-23); “amor, amado” (vv. 1, 2, 17, 20, 21).

O autor faz duas reivindicações iniciais para fundamentar suas credenciais: ele é um escravo de Jesus Cristo e irmão de Tiago, que era o líder da igreja de Jerusalém e meio irmão do próprio Senhor. Líderes do Primeira Testamento como Moisés, Josué, Davi e os profetas foram chamados de “escravo [servo] de Deus” como atestado de que estavam comprometidos totalmente a vontade de Deus na terra, assim como Paulo, Tiago, Pedro e João fazem uso desse título honorífico como distintivo para seu chamado e vocação apostólica missionária. Cumulativamente ele faz uso de seu parentesco com Tiago, liderança reconhecida por toda comunidade cristã (cf. Gl 2.9,11-12; Atos 15.13-21; 21.18) e até mesmo entre os judeus não cristãos, por seu zelo pela Torá e piedade pessoal (cf. (Eusébio, Híst. Eccl 2.23.4-7). E por fim, o autor se identifica como um dos meios-irmãos do próprio Jesus, que em um primeiro momento chegam a se opor a Jesus, mas após a ressurreição tornaram-se parte integrante dos cristãos (Atos 1.14) e reconhecidos como missionários itinerantes (1Co 9.5).

Ao se referir aos leitores/ouvintes Judas expressa os laços que os unem: eles são igualmente chamados, amados em Deus Pai e guardados por Jesus Cristo e conclui sua saudação inicial expressando o desejo sincero de que a misericórdia, a paz e o amor sejam multiplicados continuamente sobre suas vidas (v. 2). É muito importante que ele cative a mente e o coração de seus leitores/ouvintes, visto que ele haverá de tratar de forma contundente temas difíceis e desagradáveis, assim como um bom médico, por mais agradável e gentil que seja, precisa extirpar o câncer maligno do corpo de seu paciente, para que o mesmo não venha a morrer.


Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/

 

Referências Bibliográficas (citadas neste artigo)
Robert H. Gundry. Commentary on First and Second Peter, Jude. Michigan: Baker Academic, 2011. [Commentary on the New Testament v.17].
MAYOR, Joseph B. The Epistle of St. Jude and Second Epistle of St. Peter - Greek Text with introductio, notes and comments. Eugene, Oregon: Wipf and Stock Publisher, 2004.
MURRAY, Morris Jr. Jude: A Commentary. 10/25/2018
PAINTER, John and deSILVA, David A. James and Jude. Michigan: Backer Academic, 2012. [Paideia Commentaries on the New Testament].
VICENT, Marvin R. The Word Studies in the New Testament.

Referências Bibliográficas (pesquisadas)
BARCLAY, William. The Letters of Peter e The Letters of John and Jude. Daily Study Bible, 1958.
CALVINO, João. Epistolas Gerais. Tradução Valter Graciano Martins. São José dos Campos, SP: Fiel, 2015. (Comentários Bíblicos).
CARREZ, M. et all. As cartas de Paulo, Tiago, Pedro e Judas. São Paulo: Paulinas,1987.
GREEN, Michael. Segunda epístola de Pedro e Judas. Tradução Gordon Chown. São Paulo: Vida Nova e Mundo Cristão, 1983.
KISTEMAKER, Simon J. Comentário do Novo Testamento: 1Pedro, 2Pedro e Judas. Tradução Susana Klassen. São Paulo: Cultura Cristã, 2006.
KÚMMEL, W. Introdução ao Novo Testamento. S. Paulo: Paulinas, 1982.
ROSE, Delbert R. A Epístola de Judas. Rio de Janeiro: CPAD, 2006. [Comentário Bíblico Beacon – Hebreus a Apocalipse, v. 10]
 
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