E o sacerdote queimará tudo isso no altar. É um holocausto, oferta preparada no fogo, de aroma agradável ao Senhor — Levítico 1.9, NVI
No livro de Gênesis
temos o quadro terrível da queda da raça humana. O ser humano criado à imagem e
semelhança de Deus escolhe confrontá-lo e acaba rompendo sua comunhão com seu
Criador. Mas Deus já de antemão providencia um caminho de volta Gn 3.15.
Esta promessa será o fio condutor de toda a história bíblica sendo concluída apenas
no livro do Apocalipse onde o ser humano é reinserido no Jardim de Deus.
No livro do Êxodo
temos a formação da nação de Israel e por meio dela Deus efetivará seu plano
redentor. O simbolismo salvífico de Deus está presente em todo o
desenvolvimento deste livro tendo sua apoteose no sacrifício do cordeiro
pascoal – o qual Jesus Cristo – o cordeiro pascoal definitivo vai se revestir
integralmente na cruz do calvário.
O livro de Levítico
segue o fim condutor estabelecido nos livros anteriores. Em Gênesis o ser
humano afasta-se de Deus; em Êxodo Deus resgata o ser humano escravizado pelo
pecado e em Levítico esse ser humano resgatado é capacitado a se relacionar
novamente com seu Criador.
O livro de Levítico somente faz sentido para
aqueles que foram reconciliados com Deus. Seu ensino, à luz do Novo Testamento,
é para aqueles que já reconheceram seu estado de pecador, que reconheceram
Cristo como seu resgatador e agora estão habilitados buscarem a presença de
Deus. O livro nos mostra a perfeita santidade divina e a absoluta
impossibilidade do pecador se aproximar de Deus, exceto por meio da expiação.
Uma vez estabelecido o tema central o livro
passa a ilustrá-lo. Ele nos coloca frente a frente com a grande questão do
sacrifício em prol do pecado. A ênfase continua no sacrifício destina-se a impactar
fortemente o leitor/ouvinte sobre o quão terrível é o pecado aos olhos de Deus.
Para aqueles que não entendem a seriedade do pecado e quão terrível são suas consequências,
o livro não passa de uma lista interminável e horrenda de sacrifícios.
Como um grande farol construído sobre a rocha que
é Cristo, o livro conduz o ser humano entre os rochedos do pecado de maneira
que suas vidas não sejam despedaçadas e venham a naufragar no mar da vida.
O que só temos em ilustrações virtuais
em Levítico, vemos em realidade na cruz de Cristo. A cruz torna-se
verdadeiramente uma manifestação do amor imensurável de Deus; O amor de Deus
Pai revelado em plenitude por meio do Filho que, "Por um espírito
eterno, ofereceu-se imaculado a Deus" Hebreus 9.14. Mas ela
fez mais do que isso, pois revela que Deus está de fato e de verdade comprometido
em resgatar o pecador.
A Cruz de Cristo revela as duas faces do pecado
humano: revela a total aversão que Deus tem do pecado (em todas as suas
nuances) o que fica evidente no calvário; e o amor imensurável de Deus que vai
às últimas consequências para, entregando-se a si mesmo no Filho, para salvar o
pecador João 3.16.
Embora nosso intelecto não possa compreender o
mistério da Expiação, nossos corações e consciências são habilitados a proclamá-la
com eficiência. Tendo reestabelecido a paz pelo sangue de sua cruz Colossenses
1.20. Consolo sem medida tem sido estas palavras para as almas em aflição
em todos os lugares e épocas! Somente aqueles que experimentam verdadeiramente
toda a agonia e dor produzida pelo pecado, que tão tenazmente nos acedia,
reconhece o valor imensurável da Cruz de Cristo.
Os primeiros capítulos de Levítico descrevem
cinco tipos de ofertas. Uma apenas não seria suficiente para renderizar a ideia
da perfeição do sacrifício do Cristo.
O primeiro aspecto que atrai a nossa atenção é que
em cada oferta, temos três objetos distintos: a oferta, o sacerdote, e o
ofertante (aquele que traz a oferta). Portanto, é preciso compreender-se o
significado ou abrangência destas três figuras, pois Jesus Cristo está
representado em cada uma delas:
· Cristo é a oferta. "A oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todos” Hebreus 10.10.
· Cristo é o sacerdote. "Temos um Sumo Sacerdote, Jesus, o Filho de Deus” Hebreus 4.14.
· Cristo é quem oferece. "Ele se entregou para nós, a fim de nos redimir de todos iniquidade" Tito 2.14.
As ofertas são divididas em duas classes
principais: aromas suaves/agradáveis, entre os quais o holocausto (o sacrifício
consumido pelo fogo) é o mais importante, pois era oferecido em expiação pelo
pecado. A vítima era completamente queimada no altar no pátio do Tabernáculo. Era
um sacrifício integral, completo, inteiro – nada era reservado.
Aqui temos a representação da vida de perfeita
obediência de Cristo à vontade de seu Pai, em favor de nós, não apenas como
Aquele que carrega nossos pecados, mas como Ele próprio se constituindo na oferta
perfeita a Deus que é suficiente para satisfazer plenamente a justiça de Deus:
uma vida de completo abandono, coração, mente e vontade, oferecidos sem
reservas a Deus Efésios 5.2. Na oferta, de farinha fina e do óleo representa-se
o cumprimento do dever ao próximo.
Jesus, como Homem, cumpriu estas duas oferendas
em sua vida humana perfeita na terra. Na flor de farinha triturada, reduzida a
pó e oferecida pelo fogo, vemos uma imagem de Jesus, machucado, dia após dia,
por aqueles a quem Ele fez o bem, pelo qual se doou continuamente, suportando a
contradição dos pecadores.
A oferta pelo pecado se distingue do holocausto.
Ela era especificamente oferecida em expiação pelo pecado. A gordura queimada no
altar de brasa, mostrava que o sacrifício fora aceito, mas todo o resto era
queimado fora do acampamento indicando a extrema gravidade do pecado aos olhos
de Deus. O Senhor Jesus tornou-se está "oferta pelo pecado" por nós:
"Agora, no final dos tempos, apareceu apenas uma vez para abolir o pecado
por seu sacrifício. Hebreus 9.26. Jamais poderemos imaginar a
angústia desse contato com o pecado para a alma imaculada do nosso Redentor, a
angústia causada pelo abandono de Deus, quando Ele foi "feito pecado
por nós". (Ele Coríntios 5:21).
Na consagração de Arão como Sumo Sacerdote e em
seus deveres ao longo deste livro, temos um símbolo do nosso grande soberano
Sacerdote. Na consagração de seu filho e dos levitas, devemos ver o sacerdócio
de todos os verdadeiros crentes em Jesus. Na terrível cena em que dois filhos
de Arão Nadab e Abihu não levam a sério as ordenanças em relação ao tabernáculo
e oferecem fogo estranho em seus incensários e ali são consumidos pelo fogo do
altar, fica o alerta para todos aqueles que acham que podem adorar a Deus de
qualquer maneira.
Os incensários dos sacerdotes deveriam ser
acesos no altar dos holocaustos cf. Levíticos 16.12 e Números 16.46,
somente esta era a forma correta pela qual eles deveriam servir no altar do
Senhor. Da mesma forma somente com base na obra expiatória de Cristo as orações
podem subir a Deus como perfume agradável a Ele. No culto quem deve ser
agradado não é o ofertante, mas aquele que está sendo adorado.
Muitos capítulos de Levítico são relacionados às
leis da vida cotidiana dos israelitas. Aqui temos duas verdades paralelas –
essas leis revelam o quanto Deus se preocupa com o bem-estar físico e moral de
seus filhos. Mas também demonstraram que o serviço do Senhor extrapola os
espaços do tabernáculo e invadem os espaços cotidianos dos ofertantes. A
expressão tão cara ao livro de Levítico - "Sereis santos, pois eu, o
SENHOR, teu Deus, eu sou santo" - implica que santidade não apenas
momentos estáticos de culto, mas um estilo de vida que deve distinguir aqueles
que tem um compromisso com Deus e aqueles que vivem descompromissados Dele. As
palavras santo e santidade, permeia toda a narrativa deste livro. O apostolo
Paulo compreendeu muito bem este princípios e escreve aos cristãos em Corinto: “Assim
seja se você está comendo, bebendo ou fazendo qualquer outra coisa, tudo deve
ser feito como que para a glória de Deus. Tendo, portanto, tais promessas,
Amados, vamos nos purificar de todos contaminação da carne ou do espírito, na
conclusão do Nossa santificação no temor de Deus” 1Coríntios 7.1.
No símbolo da lepra (Capítulos 13 e 14), temos
o alerta de que o pecado nos priva da comunhão com Deus. Somente depois de ter
sido examinados e constatado de que não há quaisquer vestígios da doença (da
cabeça aos pés, ou seja, em sua totalidade) é que a pessoa era declarada limpa
e apta para oferecer sacrifícios ao Senhor e estaria livre para participar das
celebrações. João escreve de forma maravilhosa esse princípio com base no sacrifício
remidor de Jesus Cristo: “Se confessarmos os nossos pecados (declararmos que
somos de fato e de verdade culpados), Ele [Cristo] é fiel e justo para nos
perdoar os pecados (todos e cada um) e nos purificar de toda injustiça”
1João 1.9.
Assim como o sacerdote tinha que sacrificar os dois
pombos ou passarinhos como ofertas pelo pecador purificado, assim Jesus Cristo morreu
por nossas transgressões e ressuscitou por nossas ofensas, para a nossa
justificação. Quanto a previsão divina é Misericordiosa! Os pardais estavam ao
alcance dos mais pobres: assim o ato de fé está disponível a todos igualmente.
Todavia, antes do leproso já purificado retomar
seu lugar na comunidade ele precisa tomar um banho completo. O simbolismo de
consagração e separação de toda imundícia do pecado. Agora ele estava livre
para se apresentar diante do Senhor e lhe oferecer seu sacrifício.
De todo calendário religioso contido no livro
de Levítico – o grande Dia da Expiação (Capítulo 16) é sem dúvida alguma o
ápice. Era um Dia da humilhação. Todo o povo era conclamado a confessar a Deus
os seus pecados. Só acontecia uma vez por ano, igualmente, registra o escritor
de Hebreus 9.28 "Cristo ofereceu-se uma única vez para carregar [sobre
si] os pecados de muitos [os nossos pecados]”. O sacrifício de Jesus
Cristo não será repetido jamais.
Neste dia o Sumo Sacerdote adentrava ao Santos
dos Santos e ali oferecia sacrifício [sangue de touro] por si mesmo, por sua
família. A oferta pelo Pecado do povo
consistia em dois bodes. Lançada sorte um era imolado e o sangue dele era
aspergido no propiciatório e diante do propiciatório, por sete vezes (número do
completo). O outro bode, denominado de emissário, o Sacerdote colocava a mão
sobre a cabeça dele confessando o pecado do povo, e depois era conduzido para o
deserto "com a ajuda de um homem que tinha esse cargo – ouçamos as
palavras testemunhais de João Batista em relação a Jesus Cristo - "Eis que
o Cordeiro de Deus tira os pecados do mundo;”; agora as palavras do
profeta Isaías “o SENHOR pôs sobre Si a iniquidade de Todos nós”
João 1.29; Isaías 53.6.
Evidente que nenhum animal grande ou pequeno
(ou mesmo milhares) poderiam substituir perfeitamente o pecador. Mas todo o
livro de Levito é sombra daquele sacrifício perfeito que Jesus Cristo ofereceria
em nosso favor. Por esta razão ele assume a plenitude de nossa humanidade - "Deus em
Cristo reconciliando o mundo consigo mesmo 2Coríntios 5.19.
Assim Cristo como sendo perfeitamente humano e perfeitamente divino expiou os
nossos Pecados de uma vez por todas Hebreus 1.2-3 e 2.14.
A nossa salvação e o perdão de nossos pecados
estão relacionados diretamente com o sacrifício de Jesus Cristo no calvário.
Não sem motivo o apostolo Pedro escreve: “Pois vocês
sabem que não foi por meio de coisas perecíveis como prata ou ouro que vocês
foram redimidos da sua maneira vazia de viver, transmitida por seus
antepassados, mas pelo precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro sem
mancha e sem defeito” 1Pedro 1.18-19.
O PRECIOSO SANGUE DE CRISTO
Redenção através do sangue - 1 Pedro 1.18-19.
Perdão através do sangue - Efésios 1.7.
Justificação pelo sangue - Romanos 5.9.
Paz através do sangue - Colossenses 1.20.
Purificação pelo sangue - 1 João 1.7.
A Libertação do pecado pelo sangue - Apocalipse
1.5.
Santificação pelo sangue - Hebraico 13.12.
Entrada gratuita pelo sangue - Hebreus 10.19.
Vitória através do sangue - Apocalipse 12.11.
Glória Eterna através do sangue - Apocalipse 7.14-15.
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citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
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