Houve um tempo, creio que poucos evangélicos atuais se lembram, de que a vida cristã refletia um compromisso moral-ético estritamente bíblico. Um tempo em que havia somente dois Caminhos – o ético e moralmente certo e o ético e moralmente errado. Mas então chegou o chamado pós-modernismo, que até hoje não se encontra dois filósofos que o definam igualmente, e as novas gerações – mas também uma grande parcela da antiga – desesperados para saírem do armário ético-moral em que estavam escondidos – abraçaram com avidez a “adaptação” evangélica desta nova modalidade de moralidade “evangélica” em que o “sim, sim e o não, não” e o que passa disso “é do diabo”, foi completamente exonerado e entrou o “não é bem assim” que tem prevalecido em setores cada vez amplo do evangelicalismo brasileiro e mundial.
Os Dez Mandamentos e as Bem
Aventuranças, que estão inseridas na Bíblia Cristã desde suas origens e que
serviram de bússola ético-moral para a uma vida cristã genuína por dois mil
anos ainda continuam ocupando seus espaços nas páginas da Bíblia (não sei por
quanto mais tempo), mas não mais como única diretriz para o vivencial
evangélico.
Enquanto nos primórdios da Igreja Cristã os
“catecúmenos ou neófitos na fé cristã” tinham que antes de serem inseridos na
comunidade memorizarem estes dois conjuntos de diretrizes e recitá-los em
público, como testemunho de seu compromissos em vivencia-los em todas as
esferas de suas vidas, esses dois parâmetros ético-moral foram sendo
paulatinamente “esquecidos” pelas lideranças, pregadores e professores
evangélicos, de maneira que as gerações mais recentes de “evangélicos” pouco ou
quase nada sabem a respeito deles e por consequência não possuem nenhum
compromisso de vivencia-los, como não tem compromisso algum de vivenciar o
próprio Evangelho.
Todavia, ambos os conjuntos normativos
continuam valendo, pois fazem parte de “toda Escritura” que são inspiradas
por Deus e, portanto, continuam sendo úteis para deixar claro o que é
verdadeiro, para confrontar o mal (maldade), para corrigir os que vivem nas
práticas erradas e para ensinar a maneira certa de viver (2Tm.
3.16-17). E se há uma maneira certa para se viver, existe também uma
forma errada de se viver. De maneira que tanto os Dez Mandamentos, quanto as
Bem Aventuranças constituem a forma certa de se viver e os que os rejeitam ou
alienam de suas práticas vivenciais estão optando pela forma errada de viver.
Abaixo temos em paralelo os dois conjuntos de
normas que devem nortear a vivência cristã-evangélica. Isso nos possibilitara
não uma comparação, mas uma visão mais ampla destes dois preciosos textos
bíblicos. A partir desta leitura simples, sem uma análise mais detalhada de
cada ponto deles, poderemos desenvolvermos uma prática bíblica saudável
espiritual e correta em suas dimensões ético-moral. Isso não é pouca coisa,
visto que vivemos em um mundo influenciado pelo maligno que instiga a natureza humana
pecaminosa para proliferar toda sorte de pensamentos impuros; ansiedade pelo
prazer carnal; idolatria, feitiçaria, (isto é, incentivo à atividade dos
demônios); ódio e luta; ciúme e ira; esforço constante para viver em função de
si próprio; queixas e críticas; o sentimento de que todo mundo está errado,
menos aqueles que são do seu próprio grupinho; e falsa doutrina, inveja,
assassinato, embriaguez, divisões ferozes e toda essa espécie de coisas (Gl
5.19-21).
Dez
Mandamentos (Êxodo 20.1-17; Deuteronômio 5.6-21) |
Bem
Aventuranças (Mateus 5.1-12) |
Eu Sou Javé, o
SENHOR, teu Deus, que te fez sair da terra do Egito, da casa da escravidão! |
Bem-aventurados os humildes de espírito,
porque deles é o reino dos céus.
|
Não terás outros
deuses além de mim. |
Bem-aventurados os que choram, porque eles
serão consolados. |
"Não farás para
ti nenhum ídolo, nenhuma imagem esculpida, nada que se assemelhe ao que
existe lá em cima, nos céus, ou embaixo na terra, ou mesmo nas águas que
estão debaixo da terra. Não te prostrarás diante desses deuses e não os
servirás, porquanto Eu, o SENHOR teu Deus, sou um Deus ciumento, que puno a
iniquidade dos pais sobre os filhos até a terceira e quarta geração dos que
me odeiam, mas que também ajo com amor até a milésima geração para aqueles
que me amam e guardam os meus mandamentos. |
Bem-aventurados os mansos, porque eles
herdarão a terra. |
Não pronunciarás em
vão o Nome de Javé, o SENHOR teu Deus, porque Javé não deixará
impune qualquer pessoa que pronunciar em vão o Seu Nome. |
Bem-aventurados os que têm fome e sede de
justiça porque eles serão fartos.
|
Lembra-te do dia do sábado, para
santificá-lo. |
Bem-aventurados os misericordiosos, porque
eles alcançarão misericórdia. |
Honra teu pai e tua mãe. |
Bem-aventurados os limpos de coração,
porque eles verão a Deus. |
Não matarás |
Bem-aventurados os pacificadores, porque
serão chamados filhos de Deus. |
Não adulterarás |
Bem-aventurados os que são perseguidos por
causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. |
Não furtarás |
Bem-aventurados sois vós, quando vos
injuriarem e perseguiram e, mentindo, disserem todo mal contra vós por minha
causa. |
Não darás falso testemunho contra o teu
próximo |
Alegrai-vos e exultai, porque é grande o
vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram aos profetas que foram
antes de vós. |
Não cobiçarás a casa do teu próximo,
nem a mulher de teu próximo; nem seus servos, animais ou coisa alguma que lhe
pertença. |
Utilização
livre desde que citando a fonte
Guedes,
Ivan Pereira
Mestre
em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
Outro
Blog
Historiologia
Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
Referências
Bibliográficas
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[Título anterior: Contracultura Cristã].
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