Quando lemos qualquer texto literário é preciso fazer
algum tipo de interpretação daquilo que o autor ou autores desejaram expressar.
A forma com que interpretamos o texto pode nos ajudar ou atrapalhar a
compreender o sentido original ou primário com e para que o texto foi escrito.
A Bíblia é na verdade uma coleção e/ou pequena biblioteca de textos, escritos
por uma diversidade de autores em épocas distintas. Portanto, quando lemos um
destes textos é preciso resgatar o propósito original com que e para que ele tenha
sido escrito.
A hermenêutica[1] disponibiliza as
ferramentas necessárias para que o leitor possa interpretar um determinado
texto. Evidentemente que ao longo dos séculos foram elaborados diversos tipos
de hermenêuticas com o objetivo de aperfeiçoar os métodos interpretativos. Alguns
deles são antagônicos em relação à interpretação correta dos textos bíblicos,
outros são limitados e uns poucos oferecem boas ferramentas para uma
interpretação saudável das literaturas bíblicas. Lembrando que nenhuma destas
hermenêuticas é perfeita, pois foram elaboradas por pessoas humanas limitadas,
por isso como cristão dependemos em todo o tempo da capacitação e iluminação do
Espírito Santo para que possamos extrair a genuína mensagem dos textos que
compõem nossa bíblia.
O calcanhar de Aquiles de qualquer método hermenêutico
que se aproxima dos textos bíblicos são os preconceitos e pressupostos de seus
elaboradores. Quando o método está contaminado por uma hostilidade ou rejeição
aberta da inspiração bíblica, toda aquela hermenêutica tornar-se-á prejudicada
em suas premissas e certamente em suas conclusões. Por outro lado, uma
interpretação supersticiosa e centrada na letra do texto, acaba por induzir tal
método ao erro em seu esforço de buscar o sentido real da mensagem ali contida.
Hermenêutica
Judaica
Os judeus foram os primeiros a terem contato com os
textos bíblicos, portanto, foram os primeiros a estabelecerem métodos para seu
estudo. Muitos destes métodos extrapolaram os limites dos textos e adentraram a
caminhos tortuosos e absurdos de interpretações fantasiosas e fictícias. Alguns
intérpretes acabaram reduzindo as letras a um determinado valor numérico, de
maneira que uma palavra ou expressão cuja somatória numérica de suas letras seja
igual passaram a ter um mesmo significado, mesmo que em seu contexto isso seja
completamente incoerente. Tal método acaba por desfigurar completamente o
sentido do texto bíblico e sua mensagem fica completamente prejudicada. Evidente
que os rabinos judaicos desejavam demonstrar as múltiplas excelências e
sabedoria de suas literaturas sagradas, mas a utilização deste método
“numérico” acabou por prejudicar o estudo desta literatura contida no Primeiro
Testamento. Mas de uma forma muito cuidadosa e ponderada é possível utilizar-se
de alguns aspectos da antiga exegese judaica, no que concerne a elucidação de
certas doutrinas e costumes e com muita reserva no que se refere a critica do
texto hebraico.
Hermenêutica
Alegórica
Este método foi muito popular entre as escolas judaicas
de Alexandria. Aqui temos uma alquimia entre os métodos gregos de interpretação[2] e a interpretação dos
textos bíblicos. Para as mentes filosóficas gregas muitas figuras de linguagem
como teofanias e antropomorfismos, encontradas no Primeiro Testamento, eram rejeitadas
como fantasiosas, de maneira que era preciso descobrir por “trás” do texto, seu
real sentido ou mensagem. Desta forma, os textos bíblicos judaicos foram
interpretados como se estudavam os textos da mitologia grega. Um dos mais
proeminentes e que popularizou este método alegórico judaico foi Filo (Fílon)
de Alexandria (20 AC – 42 DC). Para ele todos os textos bíblicos eram
enigmáticos e se deveria buscar incansavelmente seu sentido moral e religioso.
Um modelo de sua hermenêutica está em sua intepretação do texto de Gênesis
2.10-14, que menciona os rios que nascem a partir do Éden. Para Filo o escritor
Moises deseja ensinar questões morais, de maneira que cada rio representa uma
característica especifica: prudência, temperança, coragem e justiça e o rio
principal de onde emanam os demais é a sabedoria de Deus.
A partir das escolas judaicas alexandrinas este método
alegórico foi adotado pelos primeiros mestres cristãos pós-apostólicos. Um de
seus primeiros e mais proeminentes representantes foi Clemente de Alexandria
(150-215 DC). Seus comentários bíblicos são amplamente alegorizados. Em relação
aos animais impuros segundo a Lei de Moisés – o porco, o falcão, a águia e o
corvo, para Clemente cada um deles representa características morais, por
exemplo: o porco é o emblema da cobiça voluptuosa. Desta forma, para o método
alegórico cada detalhe, ainda que insignificante ou supérfluo do texto,
torna-se extremamente relevante e determinam seu sentindo e mensagem.
Ainda que Clemente de Alexandria e muitos de seus
companheiros posteriores tivessem uma profunda reverência para com as
Escrituras e desejassem extrair delas o máximo de sabedoria, o fato de eles
desconsiderarem o significado comum das palavras e darem vasão à imaginação
interpretativa acabou por deturpar o sentido original do texto e sua mensagem.
O interprete tomou o lugar do autor/escritor do texto bíblico e passou a
determinar o que significa e qual a mensagem contida em determinada passagem,
não importando o quão extravagante, fantasiosa ou absurda seja. Este método foi
popular até a Idade Média e grandes comentaristas bíblicos como Agostinho se
utilizaram deles. Isso não significa que tudo que eles produziram deve ser
rejeitado ou jogado no lixo, mas apenas que devem ser lidos com acuidade. Resolve-se
com muita simplicidade a presença no cânon do livro de Cantares, onde a jovem é
a Igreja e o jovem é Cristo.
Hermenêutica
Mística
Um método muito semelhante ao Alegórico é a hermenêutica
Mística. O objetivo é se buscar sempre o sentido espiritual do texto ou
passagem. Desta forma cada palavra ou expressão bíblica deve ser perscrutada
até se revelar seu sentido mais profundo. O próprio Clemente de Alexandria, revelando
a confluência dos dois métodos, interpretava que as leis dadas através de
Moisés continham um significado quádruplo: o natural, o místico, o moral e o
profético. Já Orígenes (185-254 DC) fazendo uma analogia com a natureza humana
que segundo ele é composta de corpo (σωματικός), alma (ψυχικός) e
espírito (πνευματικός), afirmava
que as Escrituras bíblicas continham um sentido triplo correspondente:
alegórico, tropológico (moral) e anagógico[3] (místico/espiritual). No
século IX Rabano Mauro (776-856 DC) propôs um método hermenêutico quádruplo:
histórico, alegórico, analógico e tropológico, a diferença com a proposta de
Orígenes é a introdução do aspecto histórico. Em sua opinião o texto bíblico
para ser plenamente compreendido é preciso uma abordagem de acordo com os
quatro métodos juntos, pois cada um deles oferece apenas uma interpretação
fracionária.
Outras variações desta hermenêutica mística foram
surgindo ao longo dos séculos. Emmanuel Swedenborg (1688-1772 DC) manteve o
sentido triplo com sua “Ciência das
Correspondências”[4], fazendo analogia dos três
céus: o baixo, o meio e o superior – o natural ou literal, o espiritual e o
celestial. Para ele mais relevante do que as regras gramaticais e históricas o
que realmente importa é o testemunho interior do Espírito que é permanente e
infalível. Essa busca pelo celestial e testemunho interior influenciou diversos
movimentos posteriores como o pietista, de acordo com o qual o intérprete
afirma ser guiado por uma “luz interior”,
recebida como “uma unção do Espírito Santo”
(1 João 2.20). As regras da gramática e o significado comum e o uso das palavras
são descartados, e a Luz interna do Espírito é considerada a Reveladora
permanente e infalível. No período final os pietistas da Alemanha, e os Quacres
da Inglaterra e da América foram especialmente dados a essa forma de
interpretar os textos bíblicos. Mas essa iluminação/luz interior torna-se
falível na medida em que os interpretes bíblicos destes movimentos compreendem
um mesmo texto de formas distintas e até irreconciliáveis. O grande perigo é
que o sentido do texto fica refém do próprio interprete e suas emoções de
maneira que sua mensagem torna-se subjetiva e em alguns casos até mesmo
fantasiosa.
Métodos
Racionalistas
Mas em um movimento pendular surge com muita força o
movimento racionalista, que vai se constituir em contraponto aos movimentos anteriormente
mencionados. J. S. Semler (1725-1791) é o formulador do método conhecido por “Método do Acomodamento” e também é
considerado o pai do Racionalismo Cristão.
Ele conclui que os livros que compõe a cânon bíblico eram historicamente
condicionados, de maneira que seus escritores incorreram em equívocos e erros,
de maneira que cabe ao interprete (hermeneuta) identificar esses erros e
corrigi-los. Em sua proposta ele afirma que os ensinamentos bíblicos sobre
milagres, o sacrifício vicário e expiatório, a ressurreição, o julgamento
eterno e a existência de anjos e demônios, devem ser considerados como acomodação
de ideias supersticiosas, preocupações e ignorância do tempo em que os textos
foram escritos. Ele ensinava que o Primeiro Testamento foi escrito para os
judeus dentro de sua cultura histórica, cuja mentalidade estreita e cheia de
erros não deve ser adotada como regra geral de fé e prática. Os evangelistas
também estavam saturados de suas respectivas mentalidades culturais: Mateus escreve
para os judeus que estavam fora da Palestina; João escreve para cristãos inseridos,
em maior ou menor grau, na cultura grega. O apóstolo Paulo inicialmente
esforça-se para atrair os judeus para o cristianismo, mas, percebendo que não
alcançaria sucesso, volta-se para os gentios e alcançou grande distinção em
apresentar o cristianismo como religião para todos os homens. Desta forma ele
conclui que os diferentes livros que compõem as Escrituras serviram para suas
respectivas épocas e públicos, de maneira que muitas das suas declarações
podem, sem maiores formalidades, serem descartadas. Fica evidente que ele não
cria na inspiração e na infalibilidade dos textos bíblicos. Seu método de
interpretação necessariamente impugna a veracidade e a honra dos escritores bíblicos
e do próprio Filho de Deus, pois se tornam coniventes com os padrões e a
ignorância dos homens, e transforma todos aqueles que crerem na Bíblia em
pessoas ignorantes que compactuam passiva ou ativamente com a mentira e o erro.
Uma vez aceito tais pressupostos nossa pregação e vida cristã ficam
literalmente sem fundamentação. Semler era obcecado pela ideia de que religião
e teologia, assim como piedade pessoal e ensino público devem ser tratadas como
coisas distintas. Infelizmente, na pratica evangelical brasileira atual podemos
perceber essas dicotomias, não apenas nos movimentos neopentecostais, mas entre
os chamados evangélicos históricos.
O eminente filósofo Immanuel Kant (1724-1804) elaborou um
método denominado de “Método Moral”.
Ele aplica os princípios da razão pura e idealismo de seu sistema metafísico
para o campo da hermenêutica bíblica. Segundo ele apesar da Escritura ser
decorrente da inspiração divina, seu valor prático está em decorrência de sua
capacidade em melhorar a moral humana. Seguindo este critério qualquer passagem
bíblica da qual não se possa extrair uma lição moral útil, segundo a razão
prática, tem-se a liberdade para suplanta-las ou lhes conferir um significado
compatível com a religião da razão. Para Kant o único valor real das Escrituras
são a de ilustrar e confirmar a religião da razão – ele faz com que as Escrituras
se curvem diante da razão humana.
Na
medida em que esses métodos até aqui mencionados, abandonam completamente o sentido
gramatical e histórico da Bíblia, não existe qualquer regra confiável ou auto
consistente. Tanto os métodos místicos e alegóricos, que deixa tudo sujeito à
fé ou imaginação pessoal do intérprete, quanto esses métodos racionalistas,
estabelecem em última instância como validador das Escrituras, o próprio
interprete.
Seguindo
essa metodologia racionalista encontramos o chamado “Método Naturalista”, que sem duvida dos até aqui mencionados é com
certeza o a mais radical. Um modelo explícito desta hermenêutica pode ser encontrado
no Comentário do Novo Testamento,[5] produzido por Heinrich
Eberhard Gottlob Paulus (1761-1811), professor de Heidelberg, onde ele defende
que o hermeneuta bíblico deve fazer clara distinção entre o que são fatos e o
que são meras opiniões. Declara aceitar
a verdade histórica das narrativas evangélicas, todavia ensina que a maneira de
explica-las é uma questão de opinião. Rejeita qualquer ação sobrenatural nos
assuntos humanos e explica os milagres de Jesus como sendo atos de bondade,
como demonstração de perícia médica ou como exemplos da sagacidade e tato
pessoais, registradas na narrativa de uma forma característica da época e de
opiniões dos diferentes escritores evangélicos. As narrativas de Jesus andando
sobre as águas na verdade era Jesus andando na praia; o barco estava o tempo
todo perto da costa, que quando Pedro pulou na água, Jesus foi capaz de
alcança-lo e salvá-lo da praia. Mas a excitação foi tão grande e tão profunda a
impressão causada nos discípulos, que para eles parecia que Jesus,
milagrosamente, andou sobre as águas e foi em seu auxílio. E assim ele vai
explicando cada um dos milagres dos evangelhos, como sendo apenas ações
naturais que foram usadas ou interpretadas como sendo ações sobrenaturais.
Evidente que este tipo de interpretação
das narrativas evangélicas contraria a mais simples noção da linguagem humana e
transformam os evangelistas em motivo de total descredito e todos os que têm
crido neles como pessoas destituídas de qualquer capacidade de pensar
inteligentemente.
Na
sequencia temos David Federico Strauss (1808-1874) exegeta e teólogo alemão que
através de sua obra “A vida de Jesus
analisada criticamente”,[6] cuja primeira edição foi
1835 impactou as academias cristãs. Seu método foi denominado de “Mítico” e foi fundamentado na doutrina
de Hegel (panteísta) em que a ideia de Deus e do absoluto não surge ou se
revela ao individuo sobrenaturalmente, mas está desenvolvida na consciência da
humanidade. Desta forma, para Strauss, a ideia messiânica se desenvolveu
gradativamente na consciência dos judeus de maneira que quando Jesus apareceu a
expectativa estava maturada. Jesus, um judeu de notável beleza e força de
caráter, que por sua excelência e conduta sábia, causou uma forte impressão em
seus amigos e parentes. Para Strauss a ressurreição de Jesus foi um processo
inconsciente de imaginação mítica dos primeiros seguidores de Jesus, formado a
partir de lendas messiânicas do Primeiro Testamento. Nesta esteira ele vai
interpretar todos os relatos evangélicos como sendo uma apropriação do
conhecimento geral oferecido nos escritos da bíblia hebraica, incluindo toda
literatura apócrifa. Em suas primícias Strauss nega os milagres e que todas as
narrativas que se diferem devem ser falsas (míticas). Segundo ele nenhum dos
evangelhos foi escrito por testemunhas oculares, mas são recopilações de outros
escritos, e que no máximo apenas quatro epístolas de Paulo são autênticas. Evidente
que Strauss é muito mais produto de sua época racionalista, do que os
evangelistas do seu tempo histórico. As (des)construções dele são muito mais
elaboradas do que as narrativas simples dos evangelhos. Ele sabia muito bem,
mas não levou em consideração ou simplesmente omitiu, que uma mitologia para
ser criada precisa de muito tempo, todavia as narrativas sobre Jesus circularam
em um período muito curto, quando ainda havia inúmeras testemunhas oculares dos
fatos registrados pelos evangelistas e pregada pelos cristãos em toda parte,
podendo facilmente ser desmentidas ou confrontadas. Sua interpretação mítica
não teve aceitação entre as academias cristãs e tem muito poucos seguidores nos
dias atuais.
Como diz um ditado popular: “em porteira que passa um boi, passa uma boiada”, a perspectiva
racionalista motivou muitos outros autores a explorarem os textos bíblicos.
Ainda que as propostas de F. C. Baur, Renan, Schenkel e tantos outros possam
ter relativas diferenças de abordagem, eles compactuam com a ideia de que os
textos bíblicos não são inspirados e estão infectados de erros e mentiras.
Nessa perspectiva temos Bruno Bauer (1809-1882), da
influente Escola Tübingen. Ele rejeita a teoria mítica de Strauss seu
contemporâneo e defende que nos embates pela primazia apostólica dos discípulos
de Pedro e Paulo, no desenvolvimento da Igreja Primitiva, se originam a maior
parte dos escritos neotestamentários. O livro de Atos seria um esforço em acomodar
e acalmar os dois partidos, escrito na primeira parte do segundo século. Em sua
opinião o cristianismo é fruto da fértil imaginação de um grupo de judeus que
viveram no final do primeiro século, e que só escreveram suas ideias na
primeira metade do segundo. Uma de suas críticas a Strauss é que o colega não
havia sido efetivamente contundente em suas analises históricas da literatura
bíblica.
Por sua vez, Renan sustenta a ideia de lendas em relação
à origem dos evangelhos e que os relatos dos milagres de Jesus, assim como os
milagres associados aos santos medievais, são decorrentes de uma religiosidade
ignorante e cega de seus adeptos e mesmo uma dose de fraude piedosa. Assim como
os ensaios de Daniel Schenkel (1813-1885) que procura tornar inteligível a vida
e o caráter de Cristo tirando-o do divino e milagroso e apresentando-o como um
homem comum.
O cômico, se não fosse trágico, é que cada um destes
críticos desconstroem os demais. Strauss desmonta o método naturalista de
Paulus e Baur por sua vez provou que a teoria mítica de Strauss é
insustentável. Joseph Ernest Renan[7] (1823-1892) também um
crítico e contemporâneo deles, demonstra que a proposta de Baur de facções
petrina e paulina sejam a origem para a literatura neotestamentária é fictícia.
Por sua vez o método utilizado por Renan é destituído de ordem e suas críticas
fruto de um espírito capcioso, carente de qualquer convicção ou seriedade, e
que empreende qualquer tipo de meio para alcançar seu objetivo.
O
que podemos perceber claramente é que cada um deles introduzem suas próprias
ideias aos textos bíblicos, fazendo com que os escritos bíblicos digam ou
afirmem coisas que jamais imaginaram. Mas todos nós corremos esse mesmo risco,
ainda que seja em doses menores, quando nos aproximamos com nossos pressupostos
teológicos, filosóficos, sociológicos, econômicos, psicológicos e queremos que
os textos bíblicos afirmem o que nós já definimos como verdade. A pseudo
teologia da prosperidade usa e abusa de interpretações mirabolantes para curva
o texto bíblico à sua concepção e seus pressupostos. Muitos destes estudiosos
citados estavam revestidos de roupas de sinceridade e até mesmo de piedade,
todavia, essas e outras características nobres do espírito humano não
justificam uma única interpretação distorcida das verdades bíblicas contida nas
Escrituras, que foram e continuam a ser as únicas capazes de nos ensinar,
repreender, corrigir e instruir em justiça, afim de que sejamos perfeitos e
perfeitamente habilitados para toda boa obra (2 Timóteo 3.-16-17).
Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
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A Arte de Interpretar e Comunicar a
Palavra Escrita - Técnicas de Tradução da Bíblia. São Paulo: Vida Nova,
1992.
[1] Esse termo vem do grego, hermeneutikòs, que significa «interpretação», ou «arte de interpretar».
[2] Entre os gregos, a alegoria tinha por
nome hyponoia, considerada como o sentido oculto ou subterrâneo, percebido em
Homero, a partir do século VI, para dar uma significação aceitável àquilo que
se tornara estranho e para desculpar o comportamento dos deuses, que parecia
doravante escandaloso (COMPAGNON, 2010, p. 56). O método alegórico foi usado
pelas escolas filosóficas gregas no afã de interpretar os poemas de Homero e
Hesíodo, e reduzir os problemas teóricos e religiosos entre a tradição religiosa
e a herança filosófica.
[3] Anagogia é um derivado grego cujo
significado é elevar, subir, conduzir para o alto. Há registros dele em
português desde o séc. XV com o significado de 1) arrebatamento, êxtase místico,
elevação da alma na contemplação das coisas divinas, 2) interpretação mística
dos símbolos e alegorias das Sagradas Escrituras (Cfr. Aurélio).
[4] A noção mais geral que pode ser dada
da teoria das correspondências poderia ser afirmada dizendo que tudo na ordem
natural e humana tem uma correspondência com a ordem espiritual .
[5] Philologisch-kritischer und
historischer Commcntar über das neue Testament. 4 vols. 1800-1804.
[6] A perspectiva racionalista de Strauss
foi adotada mais tarde por Ernest Renan, em seu famoso e não menos polêmico “A
vida de Jesus”.
[7] Exerceu muita influência na posição
cética ante o cristianismo dos intelectuais franceses da segunda metade do
século XIX, através de sua obra “La Vie de Jésus” (1863).
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