Introdução
Paulo, chamado por Deus para ser o apóstolo aos gentios
ou povos não judeus, é o que chamaríamos de “ponto de referência por excelência” da atividade missionária
registrada nas páginas do Segundo Testamento.
Sabemos que ele foi uma pessoa de atividade intensa e sempre
motivada, tanto antes como depois de sua conversão a caminho de Damasco (Atos
9). Suas atividades missionárias contribuíram de forma inigualável para a
expansão da Igreja para além das fronteiras limitadas do judaísmo em prol do
mundo gentílico. Deste modo, na história da Igreja, ele tornou-se um modelo preeminente
de missionário cristão.
Uma questão surge: “Paulo
elaborou uma estratégia missionária?” A dificuldade em respondermos
esta questão é o fato de que vivemos em um tempo antropocêntrico. Pensamos que
nada pode ser realizado, até mesmo na obra de Deus, sem ter os comitês, oficinas e conferências.
Se olharmos para as atividades missionárias de Paulo como algo deliberadamente
formulado e devidamente executado em todos os seus mínimos detalhes sociológicos, antropológicos e logísticos,
então somos obrigados a concluir que Paulo não estabeleceu estratégia alguma.
Mas se por outro lado, entendermos estratégia como um
meio flexível de procedimentos, desenvolvidos sob a orientação soberana do
Espírito Santo, então podemos afirmar com toda certeza de que Paulo tinha uma
estratégia missionária. E quando examinamos com acuidade os relatos nos deixado
por Lucas sobre as viagens missionárias efetuadas pelo apóstolo dos gentios,
podemos perceber vários aspectos desta estratégia.
Concentrou Esforços em Quatro Províncias: Quando examinamos
Romanos (15.18,19) podemos notar dois elementos que resumem o trabalho
missionário de Paulo. Primeiro,
ele direcionou seu esforço particularmente ao mundo não judaico “para conduzir os gentios ao conhecimento”
(v 18). Segundo,
ele limitou seu trabalho principalmente à área geográfica do mundo Romano onde
outros ainda não havia atuado. Ele mesmo declara que “desde Jerusalém e circunvizinhanças até ao Ilírico, tenho divulgado o
evangelho de Cristo” (v 19). Sua missão se concentra nas quatro províncias
mais populosas e prospera – Galácia,
Ásia, Macedônia e Acaia. E tanto
Paulo quanto Lucas dá mais ênfase às províncias
em vez das cidades (Atos 9.31; 15.23;
16.6,9; 1Cor 9.2).
Escolha Deliberada por Grandes Cidades como Centros
Estratégicos: Paulo optou pelos centros
urbanos para realizar seu trabalho missionário.
Em sua óptica Paulo não se via pregando em todos os lugares, o que seria
humana impossível, mas estabelecendo Igrejas em lugares estratégicos, de modo que o Evangelho se espalharia pelas
cidades e vilarejos ao derredor. As cidades onde estabeleceu comunidades
cristãs tinham status na administração Romana, se destacava pela cultura Grega,
tinha forte influência Judaica ou tinha importância econômica. Isto não
significa que Paulo menosprezou os centros menores ou as regiões rurais. Sua
intenção era que uma vez estabelecida uma Comunidade forte, ela pudesse constituir-se
em centro luminoso espargindo sua luz ao derredor (Atos 19.10). As próprias
comunidades estabelecidas na capital romana, da qual ele não participou em suas
formações, tornam-se pontes indispensáveis para as pretensões missionárias de
Paulo que desejava deixar o Oriente e começar trabalho no Oeste, mais
especificamente na Espanha (Rom 15.23,24).
Iniciava sua Pregação nas Sinagogas: Paulo seguia o
princípio de "primeiro ao Judeu"
(Rom. 16.1), assim sua estratégia era alcançar as pessoas da Aliança que frequentavam
a sinagoga (Atos 13.5,14; 14.1; 17.1 2, 10; 18.4, 19) Havia um costume de se
convidar um rabino que estivesse de visita para dar uma palavra de exortação
(Atos 13.15), assim Paulo aproveitava essa cortesia e a plateia esclarecida. Nas
Sinagogas judaicas sempre poderia ser encontrado três grupos distintos: Judeus, prosélitos e gentios tementes
a Deus. Aqui Paulo sentia-se em casa,
pois seus ouvintes tinham um conhecimento do Deus verdadeiro, um conhecimento
do Primeiro Testamento e uma expectativa da "vinda do Messias”. Somente quando era expulso da sinagoga ele se estabelecia em outro lugar.
Concentrava-se Naqueles Grupos Mais Acessíveis: Paulo tinha como seu
maior objetivo e responsabilidade anunciar o Evangelho e contribuir com a
expansão do Reino de Deus. Ele acreditava que todo grupo étnico tinha o direito de escutar o Evangelho e ele incansavelmente
pregava a eles, mas se determinados ouvintes recusava a mensagem e perseguia o
mensageiro, entendia que não haveria razão para continuar a lhes pregar a
mensagem. Ele entendia que deveria concentrar seus esforços naqueles grupos que
respondiam à sua pregação. Paulo experimenta isto com os Gentios devotos que se constituíram na maioria que respondiam
positivamente à sua mensagem evangélica (Atos 13.43; 14.1; 16.14; 17.4; 18.7),
e os Judeus que se opuseram à sua
mensagem (Atos 13.45,50; 14.2,19; 17.5; 18.12; 21.27; 23.12). Embora ele os
colocasse como prioritários (Atos 13.46), e os amasse profundamente (Rm 9.2,3),
ele não podia comprometer a expansão do Evangelho. Ele tinha consciência de que
seu ministério apostólico requeria fidelidade (1Co 4.2).
Mantinha Contato com a Igreja Base: Embora Paulo fosse chamado diretamente por Deus para ser
um missionário (Atos 13.2; Atos 9.15; Atos 13.47), ele é confirmado (Atos 13.2,3) e enviado
por uma igreja local (Atos 13.3 4).
Paulo entendia que o missionário deveria ter uma base forte e ao fim de cada
viagem ele sempre voltava a Antioquia
para prestar seus relatórios (Atos 14.26 28; 18.22, 23). Para ele a conexão
entre as orações da igreja e o sucesso das missões era necessidade vital. Paulo
gastava tempo significativo nestas visitas de volta, pois sabia da importância
disto. Quando ele estava planejando prosseguir até a Espanha para anunciar lá o
evangelho, escreveu uma carta e enviou aos crentes da cidade de Roma para
pedir-lhes o apoio, ou seja, serem sua nova base (Rom. 15.15 24).
Estabelecia Igrejas Organizadas: A meta final de Paulo
era estabelecer igrejas locais, fortes; congregações que poderiam se desenvolver
e dar continuidade a tarefa de pregar o Evangelho (1 Cor. 1.2,7; 1 Tes. 1.1,8).
Ele ficava, e não sendo possível deixava um de seus companheiros, o quanto
podia e quando líderes locais maduros tinham sido treinados, prosseguia
adiante, deixando os líderes locais com a responsabilidade de pastorearem a
comunidade. Estas igrejas plantadas se multiplicavam e formavam novas comunidades
e assim o Evangelho se expandia mais rapidamente.
Trabalhava Sempre em Equipe: Paulo jamais teve
pretensões de se constituir em uma espécie de herói missionário, assim como seu
modelo maior, Jesus Cristo, ele detestava a solidão, a não ser em períodos de
oração. Em todas as suas viagens missionárias
teve companheiros: Barnabé e João Marcos na primeira viagem (Atos 12.25;
Atos 13.13), e Silas, depois Lucas e Timóteo na segunda (Atos 15.40). Para ele a pregação do Evangelho
exigia um esforço conjugado (1Ts 1.1). Paulo sempre se associou ao maior numero
de pessoas possíveis, basta observarmos quantos nomes aparece em suas epístolas
(2Co 1.19; 8.23; Cl 4.14; Atos 19.22; Cl 4.7,10; Atos 20.4; Fp. 2.20 22,25; Cl
2.7; Atos 18.2,3; Rm 16). Como vimos acima, Paulo deseja se associar aos
crentes em Roma para poder alcançar a Espanha (Rm. 1.11,12) ele sabia que
sozinho não conseguiria fazer quase nada, mas juntos os resultados seria
incalculavelmente maiores.
Comunicou uma Mensagem Imutável: Paulo sabia que era
um mensageiro escolhido para anunciar uma mensagem de Deus que haveria de
afetar toda humanidade (2Co 5.19). A mensagem não era produzida por ele mesmo
(1Ts 2.13). Ele foi chamado e enviado (1Co 15.14), e a sua própria vida havia
sido transformada por esta mensagem que agora pregava com toda a intrepidez e
confiança (Atos 9.20,29). A proclamação
de Cristo Jesus é o cerne da tarefa missionária (Rm 10.14 15) e Paulo comunicava Cristo Jesus através de seu
estilo de vida, trabalho e atividades. Compare a comunicação de Paulo para
com grupos diferentes. Quando pregava aos Judeus,
ele se utilizava amplamente das Sagradas Escrituras (AT). Ele começava com seus
primórdios históricos e rapidamente continuava até chegar à vinda de Cristo, o
Messias prometido (Atos 13.16 41; Atos 17.2,3). Aos Gentios, Paulo apelava para a obra da criação (Atos 14.14 18), e
lições de objeto circunstanciais utilizadas para efetuar uma melhor compreensão
do Evangelho (Atos 17.16 23). Note também o testemunho de Paulo em seu discurso
de despedida aos anciões de Éfeso (Atos 20.17 38) como ele foi inflexível na
declaração de Cristo como o único Salvador (vs. 20,21,26,27) e como eles
deveriam viver o evangelho (vs. 18,19, 24,31,33,34,35).
Evidente que se poderia escrever um
capítulo longo sobre cada um dos pontos acima mencionados, mas o propósito
deste artigo é realçar a importância de se ter uma estratégia na realização da
propagação do Evangelho, mas ao mesmo tempo, cuidarmos para não cairmos na
armadilha institucional de gastar muito mais tempo e recursos no meio do que
nos fins. Muitas vezes se pensa demasiadamente nas estratégias e menos na ação
soberana do Espírito Santo. Paulo nunca abriu mão de pensar inteligentemente
suas ações missionárias, mas jamais deixou de ser orientado e sustentado pelo
poder do Espírito Santo.
Utilização livre desde que
citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da
Religião.
Universidade Presbiteriana
Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
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NT - O Mundo Greco-Romano
ATOS – Introdução
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