sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Companheiros de Paulo - Barnabé


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            Há um ditado popular que diz – uma andorinha sozinha não faz verão. Quando pensamos no apóstolo Paulo somos automaticamente levados a idealizarmos um grande herói – talvez até um super herói – gostamos disso! Mas o próprio Paulo jamais pensaria algo nem ao menos próximo disso. Quando escreve sua carta mais madura – epístola aos Romanos – depois de mais de vinte e cinco anos de atividades missionárias, ele declara em alto e bom som – “porque dos pecadores eu sou o principal”. Paulo tinha plena consciência de suas limitações e fragilidades, sabia de sua insuficiência para realizar uma obra de tamanha envergadura e sabia que antes de tudo sua suficiência somente poderia vir da graça de Cristo – sou o que sou pela graça. Mas Paulo jamais poderia ter feito nem ao menos dez por cento de tudo que realizou se não tivesse outras pessoas que o apoiasse; homens e mulheres que caminharam lado-a-lado com ele desde seus primeiros passos nas atividades missionárias; pessoas que fizeram diferença na sua vida e lhe deram as condições para que realizasse tão extraordinário ministério. O propósito desta série de artigos é resgatar esse circulo de pessoas que orbitaram ao redor de Paulo durante toda sua vida desde o momento de sua conversão até seus últimos momentos na solitária prisão romana.

Barnabé
            De todas as pessoas que partilharam da vida de Paulo, certamente a pessoa de Barnabé foi de indiscutível relevância. Após sua conversão no caminho para Damasco o nome Saulo de Tarso ainda inspirava terror aos ouvidos dos cristãos de Jerusalém e Palestina judaica. Então surge a figura de Barnabé que tranquiliza as lideranças cristãs de Jerusalém e afiança a conversão de Saulo (Paulo). Depois de pouco tempo em Jerusalém Paulo vai para sua terra natal – Tarso - e ali permanece por alguns anos. A história de Saulo/Paulo poderia ter acabado neste ponto, mas outra vez surge a figura de Barnabé; o evangelho havia chegado na cidade de Antioquia e rapidamente centenas de pessoas foram sendo convertidas a ponto das lideranças cristãs de Jerusalém enviarem um deles para verificar se eram algo genuinamente evangélica e o escolhido foi justamente Barnabé. Após perceber o tamanho da obra que o Espírito Santo estava realizando naquela cidade ele não pensou duas vezes, invés de voltar a Jerusalém e requisitar mais auxiliares, Barnabé viajou até a cidade de Tarso, pois sabia que Saulo permanecia naquela cidade e o convenceu-o a vir com ele para Antioquia.
Aqui temos uma das mais extraordinárias manifestações da providência de Deus, pois em pouco tempo esta igreja veio a se constituir no maior centro missionário para todo o Império Romano. Foi aqui que pela primeira vez os discípulos foram chamados de cristãos (cristianos – soldados ou seguidores de Cristo).[1] A partir do capítulo treze do livro de Atos será Antioquia e não Jerusalém (com exceção do capitulo 15 – Concilio) para onde convergiram todas as ações. Orientados pelo Espírito Santo Barnabé e Saulo são separados e enviados como missionários para os gentios. Inicialmente tiveram a companhia do jovem João Marcos, primo de Barnabé e no transcorrer da viagem Saulo adota o nome de Paulo e assume a liderança da equipe. Depois de dois anos eles retornam para Antioquia e prestam seus relatórios demonstrando que os gentios estavam muito mais receptivos ao Evangelho do que os judeus. Por causa do relatório deles é convocado um Concílio em Jerusalém para discutir a questão dos gentios saindo vencedora a tese de Paulo e Barnabé, de maneira que os crentes gentios estavam livres da cultura religiosa judaica, o que com certeza contribuiu para a expansão do cristianismo por todo o Império Romano.
Abaixo temos uma sucinta biografia deste homem extraordinário – Barnabé - que tanto influenciou e cooperou com Paulo em seus primórdios como cristão e líder.
A Pessoa
v  "Barnabé" não era seu nome de nascimento (Jose era), ele era tão prestativo e encorajador que acabou recebendo o qualificativo de “Filho da Consolação” (Atos 4.36; 11.23).
v  O livro de Atos (4.36) relata que Barnabé era um levita e um cipriota (isto é, um nativo da ilha de Chipre).
v  Também é caracterizado por sua bondade "homem bom" (Atos 11.24).
v  Barnabé colocou o reino em primeiro lugar com posses. Sua primeira ação registrada é que ele “vendeu um campo que lhe pertencia e trouxe o dinheiro e colocou-o aos pés dos apóstolos” (Atos 4.37). Ele também foi reconhecido por Paulo por se sustentar financeiramente em seu ministério ao invés de depender de igrejas (1 Coríntios 9: 6).
v  Barnabé era um líder e pregador cristão (Atos 15.35) e quando foi necessário enviar um representante para supervisionar as atividades em Antioquia não tiveram dúvidas em enviá-lo e o escritor de Atos registra sua chegada: “Quando ele veio e viu a graça de Deus, ele se alegrou, e exortou a todos a permanecerem fiéis ao Senhor com firme propósito, pois ele era um homem bom, cheio de Espírito Santo e da fé. E muitas pessoas foram acrescentadas ao Senhor”  (Atos 11.19-28).
v  é caracterizado com um cristão cheio do Espírito Santo (Atos 11.24) e de fé (Atos 11.24)
v  ele tinha os dons espirituais de um profeta e mestre (Atos 13.1)
v  contado como um apóstolo (Atos 14.14)
Suas Atividades
v  participante da igreja inicial de Jerusalém
v  voluntariamente vendeu a sua propriedade e deu todo o dinheiro aos apóstolos para ajudar os pobres (Atos 4.37)
v  torna-se líder na igreja de Jerusalém (Atos 11.22)
Suas Atividades com Paulo
v  Após a conversão de Paulo, Barnabé garantiu corajosamente a ele quando a igreja de Jerusalém suspeitou que um ex-perseguidor implacável gostaria de se juntar às suas fileiras (Atos 9.26-31).
v  foi para Tarso para buscar Saulo/Paulo e levá-lo para ajudar com a nova igreja em Antioquia ( Atos 11.24-26).
v  Juntamente com Paulo levaram uma oferta da igreja de Antioquia para a igreja em Jerusalém para socorrer os necessitados (Atos 11.29-30)
v  Formou com Paulo e João Marcos a primeira equipe missionária enviada pela igreja em Antioquia para evangelizar os judeus e gentios (Atos 13.1-3)
v  Barnabé lidera a equipe até Chipre (sua cidade natal), mas no transcorrer da viagem reconhece a liderança de Paulo (Atos 13.13)
v  Ao retornarem para Antioquia são enviados à igreja em Jerusalém para explicar e documentar seu trabalho missionário entre os gentios (Atos 15.1-21, chamado Concílio de Jerusalém).
v  Enquanto se preparavam para uma segunda viagem missionária Barnabé e Paulo tiveram uma discórdia sobre a manutenção de João Marcos na equipe, pois o jovem havia retornado no meio da primeira viagem missionária (Atos 13.13). Paulo foi radical em sua posição, de maneira que a parceria com Barnabé se encerra (Atos 15.36-41), formando-se duas equipes (Barnabé/João Marcos e Paulo/Silas).
Informação Extra Bíblica
v  Encontramos algumas informações na História Eclesiástica cristã mas são difíceis de serem corroboradas: Clemente de Alexandria o identifica como um dos 70 discípulos enviado por Jesus (Lucas 10.1); por sua vez Tertuliano o identifica como sendo o autor de Hebreus; e os Clementinos afirmaram que ele era o Matias de Atos 1.23, 26.
v  No segundo século, uma epístola com o nome de Barnabé apareceu, tornou-se bastante popular e até recebeu alguma consideração por um lugar no cânon. Mais tarde, um Atos apócrifos de Barnabé e talvez até mesmo um Evangelho de Barnabé circularam.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/


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Referências Bibliográficas
BAXTER, J. Sidlow. Examinai as Escrituras, v. 6. São Paulo: Vida Nova, 1989.
BERKHOF, Louis. New Testament Introduction. Eerdmans, 1915, https://archive.org/details/NewTestamentIntroduction Scanned and Edited Mike Randall.
CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. São Paulo: Hagnos, 8ª ed., 2006.
ERDMAN, Charles R. Hechos de Los Apóstoles. Ed. TELL, 1974.
RICE, Edwin W. People’s commentary on the Acts giving. Philadelphia: The American Sunday-School Union, 1896.
RYRIE, Charles C. Bíblia de estúdio Ryrie. Chicago (Illinois): Moody Press, 1991.
SMITH, T. C. Comentário Bíblico Broadman, v.10. Rio de Janeiro: JUERP, 1984.
WILLIAMS, David J. Novo Comentário Bíblico Contemporâneo – Atos. São Paulo: Vida, 1996.




[1] Todavia esse conotativo é utilizado apenas mais duas vezes no NT (Atos 26.28 e 1 Pedro 4.16), outros termos eram: discípulos, irmãos, santos, os do Caminho, servos de Jesus.

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