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Há um ditado popular que diz – uma andorinha
sozinha não faz verão. Quando pensamos no apóstolo Paulo somos automaticamente
levados a idealizarmos um grande herói – talvez até um super herói – gostamos disso!
Mas o próprio Paulo jamais pensaria algo nem ao menos próximo disso. Quando
escreve sua carta mais madura – epístola aos Romanos – depois de mais de vinte
e cinco anos de atividades missionárias, ele declara em alto e bom som – “porque dos pecadores eu sou o principal”.
Paulo tinha plena consciência de suas limitações e fragilidades, sabia de sua
insuficiência para realizar uma obra de tamanha envergadura e sabia que antes
de tudo sua suficiência somente poderia vir da graça de Cristo – sou o que sou
pela graça. Mas Paulo jamais poderia ter feito nem ao menos dez por cento de
tudo que realizou se não tivesse outras pessoas que o apoiasse; homens e
mulheres que caminharam lado-a-lado com ele desde seus primeiros passos nas
atividades missionárias; pessoas que fizeram diferença na sua vida e lhe deram
as condições para que realizasse tão extraordinário ministério. O propósito
desta série de artigos é resgatar esse circulo de pessoas que orbitaram ao
redor de Paulo durante toda sua vida desde o momento de sua conversão até seus
últimos momentos na solitária prisão romana.
Barnabé
De todas as pessoas que partilharam
da vida de Paulo, certamente a pessoa de Barnabé foi de indiscutível
relevância. Após sua conversão no caminho para Damasco o nome Saulo de Tarso
ainda inspirava terror aos ouvidos dos cristãos de Jerusalém e Palestina
judaica. Então surge a figura de Barnabé que tranquiliza as lideranças cristãs
de Jerusalém e afiança a conversão de Saulo (Paulo). Depois de pouco tempo em
Jerusalém Paulo vai para sua terra natal – Tarso - e ali permanece por alguns
anos. A história de Saulo/Paulo poderia ter acabado neste ponto, mas outra vez
surge a figura de Barnabé; o evangelho havia chegado na cidade de Antioquia e
rapidamente centenas de pessoas foram sendo convertidas a ponto das lideranças
cristãs de Jerusalém enviarem um deles para verificar se eram algo genuinamente
evangélica e o escolhido foi justamente Barnabé. Após perceber o tamanho da
obra que o Espírito Santo estava realizando naquela cidade ele não pensou duas
vezes, invés de voltar a Jerusalém e requisitar mais auxiliares, Barnabé viajou
até a cidade de Tarso, pois sabia que Saulo permanecia naquela cidade e o
convenceu-o a vir com ele para Antioquia.
Aqui
temos uma das mais extraordinárias manifestações da providência de Deus, pois
em pouco tempo esta igreja veio a se constituir no maior centro missionário
para todo o Império Romano. Foi aqui que pela primeira vez os discípulos foram
chamados de cristãos (cristianos – soldados ou seguidores de Cristo).[1] A
partir do capítulo treze do livro de Atos será Antioquia e não Jerusalém (com
exceção do capitulo 15 – Concilio) para onde convergiram todas as ações.
Orientados pelo Espírito Santo Barnabé e Saulo são separados e enviados como
missionários para os gentios. Inicialmente tiveram a companhia do jovem João
Marcos, primo de Barnabé e no transcorrer da viagem Saulo adota o nome de Paulo
e assume a liderança da equipe. Depois de dois anos eles retornam para
Antioquia e prestam seus relatórios demonstrando que os gentios estavam muito
mais receptivos ao Evangelho do que os judeus. Por causa do relatório deles é convocado
um Concílio em Jerusalém para discutir a questão dos gentios saindo vencedora a
tese de Paulo e Barnabé, de maneira que os crentes gentios estavam livres da
cultura religiosa judaica, o que com certeza contribuiu para a expansão do
cristianismo por todo o Império Romano.
Abaixo
temos uma sucinta biografia deste homem extraordinário – Barnabé - que tanto influenciou e cooperou com Paulo em seus
primórdios como cristão e líder.
A Pessoa
v "Barnabé" não era seu nome de nascimento (Jose
era), ele era tão prestativo e encorajador que acabou recebendo o qualificativo
de “Filho da Consolação” (Atos 4.36; 11.23).
v O livro de Atos (4.36) relata que Barnabé era um levita e
um cipriota (isto é, um nativo da ilha de Chipre).
v Também é caracterizado por sua bondade "homem
bom" (Atos 11.24).
v Barnabé colocou o reino em primeiro lugar com posses. Sua
primeira ação registrada é que ele “vendeu
um campo que lhe pertencia e trouxe o dinheiro e colocou-o aos pés dos
apóstolos” (Atos 4.37). Ele também foi reconhecido por Paulo por se
sustentar financeiramente em seu ministério ao invés de depender de igrejas (1
Coríntios 9: 6).
v Barnabé era um líder e pregador cristão (Atos 15.35) e quando
foi necessário enviar um representante para supervisionar as atividades em Antioquia
não tiveram dúvidas em enviá-lo e o escritor de Atos registra sua chegada:
“Quando ele veio e viu a graça de Deus, ele se alegrou, e exortou a todos a
permanecerem fiéis ao Senhor com firme propósito, pois ele era um homem bom,
cheio de Espírito Santo e da fé. E muitas pessoas foram acrescentadas ao
Senhor” (Atos 11.19-28).
v é caracterizado com um cristão cheio do Espírito Santo (Atos
11.24) e de fé (Atos 11.24)
v ele tinha os dons espirituais de um profeta e mestre (Atos
13.1)
v contado como um apóstolo (Atos 14.14)
Suas Atividades
v participante da igreja inicial de Jerusalém
v voluntariamente vendeu a sua propriedade e deu todo o
dinheiro aos apóstolos para ajudar os pobres (Atos 4.37)
v torna-se líder na igreja de Jerusalém (Atos 11.22)
Suas Atividades com Paulo
v Após a conversão de Paulo, Barnabé garantiu corajosamente
a ele quando a igreja de Jerusalém suspeitou que um ex-perseguidor implacável gostaria
de se juntar às suas fileiras (Atos 9.26-31).
v foi para Tarso para buscar Saulo/Paulo e levá-lo para
ajudar com a nova igreja em Antioquia ( Atos 11.24-26).
v Juntamente com Paulo levaram uma oferta da igreja de
Antioquia para a igreja em Jerusalém para socorrer os necessitados (Atos
11.29-30)
v Formou com Paulo e João Marcos a primeira equipe
missionária enviada pela igreja em Antioquia para evangelizar os judeus e gentios
(Atos 13.1-3)
v Barnabé lidera a equipe até Chipre (sua cidade natal),
mas no transcorrer da viagem reconhece a liderança de Paulo (Atos 13.13)
v Ao retornarem para Antioquia são enviados à igreja em
Jerusalém para explicar e documentar seu trabalho missionário entre os gentios
(Atos 15.1-21, chamado Concílio de Jerusalém).
v Enquanto se preparavam para uma segunda viagem
missionária Barnabé e Paulo tiveram uma discórdia sobre a manutenção de João
Marcos na equipe, pois o jovem havia retornado no meio da primeira viagem
missionária (Atos 13.13). Paulo foi radical em sua posição, de maneira que a
parceria com Barnabé se encerra (Atos 15.36-41), formando-se duas equipes (Barnabé/João
Marcos e Paulo/Silas).
Informação Extra Bíblica
v Encontramos algumas informações na História Eclesiástica
cristã mas são difíceis de serem corroboradas: Clemente de Alexandria o
identifica como um dos 70 discípulos enviado por Jesus (Lucas 10.1); por sua
vez Tertuliano o identifica como sendo o autor de Hebreus; e os Clementinos
afirmaram que ele era o Matias de Atos 1.23, 26.
v No segundo século, uma epístola com o nome de Barnabé
apareceu, tornou-se bastante popular e até recebeu alguma consideração por um
lugar no cânon. Mais tarde, um Atos apócrifos de Barnabé e talvez até mesmo um
Evangelho de Barnabé circularam.
Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
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Referências Bibliográficas
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David J. Novo Comentário Bíblico Contemporâneo – Atos. São
Paulo: Vida, 1996.
[1] Todavia esse conotativo é utilizado
apenas mais duas vezes no NT (Atos 26.28 e 1 Pedro 4.16), outros termos eram: discípulos,
irmãos, santos, os do Caminho, servos de Jesus.
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