terça-feira, 28 de abril de 2020

História Bíblica: Hebreu, Judeu ou Israel



Muitas pessoas que não estão familiarizadas com os textos bíblico, principalmente do Primeiro Testamento, fazem certa confusão com os termos: hebreu, judeu e israel. São povos diferentes? São nomes sinônimos? Vejamos, pois:
Etimologicamente, o termo “hebreu” (ברי ע - pronuncia-se "Ivri") significa aqueles que vão de um lugar para outro ou nômades. Historicamente o vocábulo vem de Eber, descendente de Sem, filho de Noé. Isso significa que “hebreu” identificava um dos povos semitas, ou seja, de Sem (Gn 10.21, 25). Abraão era hebreu por ser da descendência de Sem por Eber (Gn 11.10-26; 14.13) e desta forma, os descendentes de Abraão também eram chamados de hebreus (Gn 39.17; 40.15; 43.32). De acordo com o rabino Samuel Lerer (1984, p. 305) Abraão foi chamado de hebreu porque a raiz dessa palavra significa – do outro lado – e Abraão recebe este etnônimo por duas razões: ele chegou a Canaã do outro lado do Eufrates, portanto, e não era um cananeu nativo; a segunda razão é que ele foi o primeiro monoteísta (Noé, Sem, Eber) e, de alguma forma, ele era do outro lado, acreditando em um Deus, portanto, diferentes dos outros clãs canaanitas que acreditavam em diversos deuses. Em tábuas cuneiformes datada de 1.400 a.C., descobertas em Tell el-Amarna, no Egito, identifica-se as pessoas que vinham de Canaã, os familiares de José (Jacó), como “habiru – hebreus”. Embora usualmente o termo “hebreu” seja atualmente menos utilizado para identificar os descendentes de Abraão, ele continua sendo usado para identificar a língua hebraica – de origem semítica.
Uma peculiaridade bíblica é que a última pessoa a ser identificado como “hebreu” é José. Ainda adolescente foi trazido para o Egito como escravo. Em meio ao panteão egípcio José manteve firme sua fé monoteísta, herdada de seus ancestrais (Noé, Sem, Eber, Abraão, Isaque e Jacó, seu pai). E foi depois que não cedeu aos caprichos sexuais da esposa de Potifar (seu dono) que ele é identificado pela primeira vez como sendo um “Ivri – hebreu”. Posteriormente Deus o colocou como o segundo em comando no Egito e trouxe seus familiares para viverem no Egito e ali habitaram e se tornaram um grande povo.
O termo “israelita” (Israel), também é extremamente antigo, vem do terceiro patriarca Jacó (neto de Abraão), que teve seu nome mudado por Deus para Israel, “príncipe de Deus” (Lerer, 1984, p. 306), mas, independentemente do seu significado, foi o nome utilizado nos tempos antigos para identificar os descendentes de Jacó e posteriormente, após o período monarquista, os moradores da nação de Israel até o desaparecimento do Reino do Norte (Israel), cuja queda é considerada como tendo ocorrido no ano 722 ou 721 AEC. Também é um termo amplamente conhecido por ser a denominação atual da população do Estado de Israel, tanto para os judeus nascidos no país, mas também inclui imigrantes judeus de diferentes partes do mundo que vieram via imigração para a terra de Israel (Zadoff, Efraim, 2009, p. 16).
O mais conhecido dos três termos é o “judeu” e de acordo com Lerer (1984, p. 306) a origem do termo relaciona-se com as doze tribos que se originaram dos doze filhos de Jacó (Israel). Como mencionado acima todos eles inicialmente eram denominados de israelitas, mas no período monárquico, após a morte do rei Salomão, o reino foi dividido em duas nações: Israel formado pelas tribos ao Norte e a tribo de Judá que ficava ao Sul. A região da Judéia sobreviveu além do tempo em que o reino do norte foi destruído. O povo da Judeia era chamado de judeu e no transcorrer da história e principalmente após a destruição da cidade de Jerusalém e do Templo pelos romanos em 70 d.C., o termo passou a identificar todos descendentes de Abraão, Isaque e Jacó.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
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quarta-feira, 15 de abril de 2020

Ester: Introdução Geral



No filme clássico “O Violinista no Telhado” o personagem principal, o judeu russo Tevye, explica sua vida nestes termos: Um violinista no telhado parece louco, não? Mas aqui em nossa pequena vila de Anatevke, você pode dizer que todos nós somos um violinista no telhado, tentando tocar uma música agradável e simples sem quebrar o pescoço. Não é fácil. Então você pode perguntar: por que ficamos lá em cima, se é tão perigoso? Bem, nós moramos aqui e Anatevke é a nossa casa. E como mantemos nosso equilíbrio? Posso resumir em uma palavra: Tradição!
Certamente esta é a situação dos judeus nos dias de Ester. Eles são estrangeiros na Pérsia e a cada dia eles precisam “tocar” a vida, pois uma grande parte deles nasceu ali e os mais velhos estão distantes de Jerusalém e do Templo há muitos anos – mas a vida continua e precisa se equilibrar para não caírem e isso somente é possível porque Deus continua cuidando deles.
Este é também o cotidiano de cada cristão que vive neste mundo tenebroso. Precisam se equilibrar para não serem absorvidos pela cultura maligna que molda esta sociedade depravada. O contexto Persa é o contexto desta sociedade pós-moderna onde a natureza humana não tem limites para suas depravações, onde tudo é permitido e onde o nome de Deus não é ouvido. A única coisa que nos mantém é a nossa dependência da providência diária de Deus.
Linha Cronológica
  ↕516 a.C._____________↕483-474 a.C.___________↕445 a.C.___________
            Reedificação Templo                   Eventos de Ester                           Reedificação dos Muros
                      (Jerusalém)                                       (Pérsia)                                                 (Jerusalém)
Autoria
O livro não dá nenhuma sugestão de quem registrou os acontecimentos aqui narrados. Mas certamente foi uma pessoa que conhecia bem a cultura Persa daqueles dias. A leitura deixa transparecer as marcas de uma pessoa que vivenciou os fatos como uma testemunha ocular. E ele era provavelmente um judeu. O autor do Livro de Ester é desconhecido, embora, com base em 9.20,32 alguns estudiosos judeus acreditam que foi o próprio Mardoqueu[1]. Outros têm proposto que Esdras[2] ou Neemias escreveram a história, mas não
NASCIMENTO DA CRÍTICA MODERNA
Em meados do século XVIII, surgiu o notável movimento de pensamento conhecido como Aufkldrung (tradução aproximada – esclarecimento) a partir do conceito do filosofo iluminista Emanuel Kant. Em todos os domínios do conhecimento, os homens se afastaram da tradição e submeteram tudo o que foi recebido do passado a um exame minucioso. Em relação à exegese bíblica produziu um abalo sísmico desproporcional. Um dos primeiros frutos desse movimento foi um estudo crítico do texto do AT, já em 1720 J. H. Michaelis em sua Bíblia Hebraica coletou uma série de variantes no texto Hebraico. Desde 1736 surgiram restrições adversas em relação ao livro de Ester por parte dos deístas ingleses e dos racionalistas alemães, mas foi Johann Salomo Semler (1725-1791), em 1773, o primeiro crítico a fazer um ataque formal à credibilidade histórica de Ester.
há nenhum apoio de evidência específica que comprove esta proposta. De acordo com o Talmude, os homens da Grande Sinagoga[3] (nos dias de Esdras) escreveram o livro (Baba Bathra 15a), mas embora o termo “escreveram” seja usado parece significar: "editaram", "compilaram" ou "coletaram".
Data
Podemos delimitar ao menos um tempo cronológico do livro partindo da menção ao rei Assuero[4] da Pérsia cujo reinado cobre os anos 486/85-465/64 a.C., de maneira que o livro não poderia ter sido escrito antes disso e a primeira referência dessa narrativa aparece em 2 Macabeus 15.36 (escrito perto do final do século II a.C.), onde, curiosamente, a festa de Purim é referido como "o dia de Mardoqueu", não o "dia de Ester", de modo que seja improvável que o livro de Ester tenha sido escrito depois disso.[5]
Embora não haja manuscritos hebraicos do livro que datem do século XI d.C., a análise da língua hebraica usada no livro indica que ela é mais antiga que o segundo século aC. É mais provável que o livro tenha sido escrito no quarto ou mesmo no final do século V a.C. (HILL e WALTON, 2010).
Os eventos de Ester estão dentro do contexto do período da diáspora e se ajustam entre o sexto e sétimos capítulos de Esdras, pois há um intervalo de
FONTES HISTÓRICAS
A. As tábuas cuneiformes de Nippur escritas durante o reinado de Artaxerxes I (465-424 a.C.) confirmam a presença de uma grande população judaica na Mesopotâmia após o retorno permitido por Ciro II em 538 a.C.
B. História de Heródito:
1. A história de Heródoto sobre Xerxes parece encaixar-se na história de Ester:
a. convocou uma Assembléia para planejar a invasão da Grécia;
b. depois da derrota, passou muito mais tempo com o harém;
c. descreve Xerxes como um homem caprichoso, despótico e apaixonado.
2. Isso, no entanto, funciona nos dois sentidos. Heródoto também nomeia e descreve a esposa de Xerxes I. O nome dela era Amestris, e ela tinha que ser da "família dos sete". O rei persa tinha sete conselheiros próximos (1.14). Heródito menciona que Amestris acompanhou Xerxes I em sua campanha grega.
C. As tábuas elamitas de Persépolis (durante os reinados de Dario I e Xerxes I) listam o nome Mordecai {Mardoqueu] como oficial do portão.
57 anos no relato de Esdras neste ponto. Estaria entre o primeiro retorno liderado por Zorobabel e o segundo retorno liderado por Esdras, em algum tempo entre 470 e 465,[6] durante os anos posteriores de reinado do Xerxes (cf. 10.2-3), ou no reinado de seu filho Artaxerxes (485-424)[7]. Provavelmente foi escrito em Susã[8] (Heb. Shushan), a residência oficial[9] do rei Assuero e antiga capital da Pérsia (Ne 1.1; Et 1.1,2, Dn 8.2), após a vitória de Ciro (550 a.C.) sobre um vasto império de povos, incluindo os judeus capturados por Nabucodonosor. A narrativa contém tradições e informações que remontam ao período persa e lida com as preocupações e os problemas dos judeus em terras estrangeiras, bem como um desinteresse pelas instituições religiosas palestinas, de forma que tudo indica tenha sido composto durante o período da diáspora. Os escritos do historiador grego Heródoto[10] e as descobertas no palácio de Susã de Xerxe pela arqueóloga francesa Jane Dieulafoy trazem à tona a veracidade de muitos dos detalhes descritos na história. Neste ponto trago a opinião de Carey A. Moore (1971, p. ix) que nega a inspiração e a historicidade absoluta do livro, todavia admite que o "núcleo narrativo" do livro teve que ser escrito durante o período persa e enumera as razões: 1) porque o hebraico usado no livro pertence a um período anterior à literatura de Qumran (século 2 aC); 2) porque no livro nota-se a completa ausência do vocabulário grego e 3) porque “o hebraico usado em Ester é mais parecida com a de Crônicas, datada por volta de 400 aC.” Além disso, a atitude compassiva de Ester em relação ao rei persa “é bastante provável para um escritor judeu do período persa (539-332), mas menos apropriado para o período helenístico (331-168) e bastante improvável durante o período dos Macabeus (167-135)”.
Na organização do cânon judaico o livro de Ester foi colocado na lista especial de cinco rolos chamada Megilote ou “cinco rolos”. Estes cinco pequenos livros: Rute, Eclesiastes, Cantares, Lamentações e Ester, fazem parte da última seção do cânon hebraico denominado de “Escritos [Kethuvim]”. Cada um deles é lido em uma determinada festa do calendário religioso judaico, no caso de Ester é lido no Purim.
Não há consenso na data da canonização do livro, em parte porque não há consenso na data da canonização dos Kethuvim (Escritos) a terceira e última parte da Bíblia hebraica. Alguns estudiosos o colocam em meados do século 2 a.C.; outros datam do século 1 d.C. Os críticos liberais se esforçam por colocar o chamado Concílio de Jâmnia (final do primeiro século e inicio do segundo d.C.) como determinante para atestar as datas dos livros bíblicos,  todavia o que esse Concílio realizou foi apenas referendar os livros que já eram parte integrante do cânon hebraico. Em relação ao livro de Ester as palavras de Carey A. Moore são oportunas:
É fácil suspeitar das razões pelas quais se afirma que o livro ganhou sua canonicidade durante o Concílio de Jamnia: (1) o livro afirma ser um relato histórico exato de uma época em que os judeus foram salvos de quase ser completamente exterminado e (2) o livro se tornou o motivo de um feriado religioso popular. Além disso, quando ocorreu o Concílio de Jâmnia os judeus, depois de Jerusalém ter sido destruída pelos romanos em 70 d.C. e que o povo havia se espalhado ainda mais do que antes, eles tinham boas razões para encontrar consolo na esperança de que outro Ester ou outro Mardoqueu surgisse (1971, p. xxiv).
Curiosamente, Ester é o único livro bíblico do qual nenhuma cópia foi encontrada em Qumran (Manuscritos do Mar Morto, encontrados em 1947), aparentemente essa comunidade não preservou este livro (embora pareçam ter histórias do mesmo gênero), talvez porque não observassem a festa do Purim, que não consta do calendário mosaico. Juntamente com Cânticos dos Cânticos, Obadias e Naum, não são citados ou encontram-se quaisquer alusões a esses livros. Além de Ester, Esdras e Neemias tem como contexto histórico o período do pós-cativeiro, em que grande parte dos exilados optou por não retornar para Palestina Judaica e/ou Jerusalém, mesmo após o decreto de Ciro. Ester e Rute são os únicos livros da bíblia com nome de mulheres.
Mediante a todo o escrutínio que o livro tem passado por toda sorte de críticos e em conformidade com todas as evidencias históricas comprovadas, o leitor cristão pode com toda tranquilidade afirmar com plena confiança, no que diz respeito ao livro de Ester, assim como em qualquer outra parte canônica da Escritura: "A tua palavra é a verdade" (João 17.17).
Título do livro:
O livro toma seu nome do personagem principal, cujo nome hebreu Hadassah (Murta – espécie de planta e/ou Compaixão) foi mudado para o nome Ester[11], que significa “estrela”, obviamente para que ela pudesse se inserir melhor no contexto social persa. Os judeus o denominam "o Rolo [Pergaminho] de Ester" ou simplesmente "o Rolo [Pergaminho]", e nos tempos antigos, era sempre escrito em um rolo separado, que era lido na integra durante a Festa de Purim. O arranjo canônico que coloca Ester após as Lamentações [Jeremias] tem uma razão lógica, uma vez que fala de tempos de luto (4: 1-4, 16; 8: 3), mas sua ênfase está nas celebrações e na transformação do luto em alegria. A tradução grega da Septuaginta optou, como em outros casos, manter o nome do personagem principal da narrativa – Ester - que se tornou o título comum entre os cristãos.
A gênese histórica para o drama vivido entre Mardoqueu (benjamita descendente de Saul — 2:5) e Hamã (agagita — 3:1,10; 8:3,5; 9:24) volta no tempo quase mil anos, quando os judeus saíram do Egito (por volta de 1445 a.C.) e foram atacados pelos amalequitas (Êx 17:8-16), cuja linhagem começou com Amaleque, neto de Esaú (Gn 36:12). Deus pronunciou uma maldição sobre os amalequitas, que resultou na total eliminação deles como nação (Êx 17:14; Dt 25:17-19). Embora Saul (por volta de 1030 a.C.) tenha recebido ordem para matar todos os amalequitas, inclusive o rei Agague (1Sm 15:2-3), ele a desobedeceu (1Sm 15:7-9), desagradando a Deus (1Sm 15:11, 26; 28:18). Samuel finalmente despedaçou Agague (1Sm 15:32-33). Pelo fato de descender de Agague, Hamã nutria grande hostilidade contra os judeus. (MACARTHUR, 2015, p. 219 – versão pdf).
Jerônimo enquanto preparava sua versão bíblica para o latim (Vulgata Latina), reconheceu 107 versículos como adições ao livro de Ester. Como tais passagens eram encontradas somente no texto grego da Septuaginta, mas não no texto hebraico Massorético, ele as removeu do corpo do livro e as colocou no final. Quando do período da Reforma Protestante esses acréscimos do texto grego foram separados e colocados no conjunto das literaturas apócrifas. As adições tornam o livro de Ester um trabalho dramaticamente diferente, ainda que seja preciso notar que as adições não trazem nenhuma heresia, mas apenas acrescenta um tom mais piedoso e religioso a narrativa sendo os seis episódios extras: um sonho profético que Mardoqueu tem antes do início da ação e sua explicação no final da história, orações de Mardoqueu e Ester, o texto do edito genocida e o edito que salva os judeus e por fim uma aparição altamente dramática de Ester perante o rei.
Tema e Propósito:
O livro registra a história de uma jovem judia bonita que o rei Xerxes da Pérsia escolheu ser sua rainha em lugar da anterior rainha Vasti. Ester uma descendente de Sara, substituiu Vasti uma descendente real de Nabucodonosor. Quando um homem influente e poderoso na corte real chamado Hamã[12] conspirou para assassinar todos os judeus, Mardoqueu primo de Ester, agora rainha, a persuadiu para que intercedesse junto ao rei pela vida de seu povo. Arriscando sua própria vida, ela consegue fazer com que o rei mude seu decreto e não apenas salve seu povo, como ordena a morte de todos os seus inimigos. Embora o nome de Deus não apareça neste relato, o tema e propósito do livro são para mostrar a ação providencial de Deus em preservar seu povo da extinção.
Ao abrir sua narrativa com a expressão: “Aconteceu nos dias de” (1.1) o autor utiliza um termo comum de abertura, usado para vincular os eventos (ou histórias) atuais aos eventos anteriores. O mesmo termo abrem os livros bíblicos de Josué, Juízes, Rute, I e 2 Samuel, Neemias, Ezequiel e Jonas. Ester também conclui com um final padronizado usado em 1 Reis (cf. 1Rs 14: 19; 1Rs 14.29; 1Rs 15.23), o que deixa claro que o autor espera que seu relato seja entendido como história e não como ficção.
Partindo desta premissa historicamente a narrativa tem grande relevância ao retratar o contexto vivencial dos judeus durante o grande período do cativeiro babilônico – diáspora. Mantém a identidade judaica, fortalece os laços fraternos de comunidade (povo) e mantém o vínculo com toda a tradição bíblica anterior. O livro aborda os problemas inerentes a um povo minoritário, sua vulnerabilidade diante de forças políticas e decretos governamentais; a falta de autonomia e dependência do favor dos governantes e a capacidade de seus líderes para enfrentar tais adversidades.
Mas apesar do contexto tão conturbado e tenso, a mensagem final é positiva: o bem triunfa e o mal é erradicado; a ameaça de aniquilação judaica é evitada e a comunidade judaica tem garantia de continuidade e prosperidade. Não é de admirar que Hamã tenha se tornado o símbolo dos inimigos posteriores dos judeus e o Purim[13] (chamada assim por causa da palavra acadiana para “sortes” — 3.7; 9.26) se revestiu de um significado atemporal, visto que os judeus reviveram esse mesmo contexto em diversos momentos posteriores de sua história, sendo a do nazismo a mais horrorosa dentre todas contemporâneas. Os cristãos do primeiro e segundo séculos e depois em diversos momentos e ainda hoje em vários países comunistas e muçulmanos tem experimentado atrocidades, mas o mesmo Deus tem sustentado e livrado sua igreja, assim como fez nos dias de Ester.
A Soberania de Deus e o Pecado Humano
            Uma das questões sensíveis do livro de Ester é a matança dos inimigos dos judeus. Como pode Deus consentir com um ato tão brutal e sanguinário? Evidentemente que isolando esse fato torna-o repugnante e inapropriado, mas quando colocado dentro do âmbito maior de toda a Escritura do Primeiro Testamento e à luz do Apocalipse os acontecimentos registrados em Ester não ficam deslocados, mas se harmoniza perfeitamente com todas as ações de Deus na História humana.
            O primeiro equívoco dos críticos é não discernir a peculiaridade do programa de Deus em relação a Israel/Judá, que é distinto do programa para a Igreja. Há muitos textos bíblicos que deixam os leitores desconfortáveis, pois eles esperam que Deus seja tolerante com toda sorte de pecados e que passe as mãos benevolentes nas cabeças dos perversos e arrogantes; mas o mesmo Deus que é graça e misericórdia, também é o Deus da ira e do juízo.
            A questão de uma teocracia israelita sempre suscitou desconforto aos cristãos modernos e muito mais nesses dias de pós-modernismo em que o “eu” define o limite de tudo. Um Deus que liberta milhares de israelitas e os insere na terra de Canãa produzindo nesse caminho milhares de egípcios e canaanitas mortos não é uma contradição à ética cristã? Como pode Deus permitir que os judeus matem milhares de pessoas por todo o império Persa e ainda celebrar uma festa para marcar essa data?
            Por trás dessa sensibilidade há o esforço permanente de cercear a Soberania de Deus; todavia, o mesmo Deus que manifesta sua graça para salvar é o mesmo Deus que manifesta sua justiça para condenar. Deus estabeleceu Israel como manifestação de sua graça (Gn 12.1-3; Dt 7.6-11), ainda que a maioria deles nunca compreendesse isso o que os levou aos cativeiros. Mas por causa de sua Aliança e do Seu nome, todos aqueles que tentaram destruir Israel tiveram que enfrentar a ira de Deus. E todas as vezes que os israelitas se associaram às nações ímpias sofreram as consequências da dura disciplina de Deus (os cativeiros). Portanto, os planos de Hamã para destruir todos os judeus (incluindo os da Palestina) e as consequências posteriores que causaram a morte de milhares de inimigos dos judeus por todo o império persa se ajustam perfeitamente ao modus operante de Deus dentro dos limitas da teocracia estabelecida nos termos da Aliança.
            E esse é o mistério e a mensagem que o livro de Ester tem para os leitores de ontem e de hoje. Vivemos em um tempo que as pessoas ignoram Deus, mas para os remanescentes sempre será tempo para a proveniência divina. Há tragédia, mas ao mesmo tempo há esperança.
Palabra Central
A palavra que mais se destaca no texto é “judeus”; das 92 vezes que as palavras “judeu” e “judeus” são usadas no Primeiro Testamento, 53 estão no livro de Ester; são utilizadas 197 vezes no Segundo Testamento sempre se referindo a todas os descendentes de Abraão, Isaque e Jacó. Um conceito fundamental é a providência de Deus em preservar o povo da aliança.
Versos Centrais
4.14 “pois, se você ficar calada nesta hora, socorro e livramento surgirão de outra parte para os judeus, mas você e a família do seu pai morrerão. Quem sabe se não foi para um momento como este que você chegou à posição de rainha?”
8.17 “Em cada província e em cada cidade, onde quer que chegue o decreto do rei, havia alegria e júbilo entre os judeus, com banquetes e festas. Muitos que pertenciam a outros povos do reino tornaram-se judeus, porque o temor dos judeus tinha se apoderado deles”.
Capítulos Centrais
Alguns capítulos demarcam momentos cruciais para a narrativa: capítulo 3 – Hamã convence o rei Assuero para baixar um decreto para aniquilar todos os judeus; capítulos 6-7 – em uma reviravolta extraordinária Mardoqueu é honrado Hamã é morto na forca que ele mesmo havia mandado construir; capítulo 8 – elaboração do decreto que salvou o povo judeu; capítulo 9 - a vitória dos judeus e a primeira Festa de Purim.
Personagens Relevantes na Narrativa:
Assuero[14] (Xerxes), Ester[15], Hegai[16], Mardoqueu[17], Hamã[18].
Cristo como Visto em Ester:
Ester se ajusta como modelo de Cristo no sentido de que ela estava disposta a se colocar em situação de morte para salvar seu povo e também que ela agiu como um advogado em favor deles. Na ação providencial de Deus temos a manutenção da linhagem messiânica. Ester poderia tranquilamente ser colocada na genealogia de Jesus e só não foi incluída por não fazer parte da linhagem de Judá.
Esboço:
Ester facilmente divide em duas seções: (1) o perigo ou ameaça para os judeus (1-3) e (2) a libertação ou triunfo dos judeus (4-10). Ou ele pode ser dividido em três seções: (1) o perigo para o povo de Deus (1-3), (2) a decisão do servo de Deus (4-5.), e (3) o livramento do povo do Deus (6-10).
I. O Perigo para os judeus (1.1-3.15)
A. A Escolha de Ester como Rainha em lugar de Vasti (1.1-2.23)
B. A Conspiração de Hamã Contra os judeus (3.1-15)
II. O Livramento dos judeus (4.1-10.3)
A. A Decisão de Ester (4.1-5.14)
B. A Derrota de Hamã (6.1-7.10)
C. O Decreto do rei Assuero (Xerxes) e a elevação de Mardoqueu (8.1-17)
D. A Morte dos Inimigos dos judeus (9.1-19)
E. A Primeira Festa de Purim (9:20-32)
F. A Declaração e Exaltação do Mardoqueu nos registros reais (10.1-3)

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Referências Bibliográficas
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[1] Ibn Esra, Clemente de Alexandria e Josefo (Antiguidades, 11.6.1) e mais recentemente Stafford Wright apoiam esta proposta, ainda que Et 10.3 pareça contradizer isto, a menos que tenha sido acrescentado por um editor posterior.
[2] Tem o apoio de Isidoro e Agostinho
[3] Aparentemente constituíam um grupo de líderes em Jerusalém iniciado por Esdras, quando de seu retorno, que mais tarde veio a se constituir no Sinédrio, tão mencionado nas narrativas evangélicas.
[4] O nome Assuero representa a transliteração hebraica do nome persa “Khshayarsha”, enquanto “Xerxes” representa o seu nome grego.
[5] Outra inferência histórica é de que uma data anterior à ascensão do império grego no leste (cerca de 330 a.C.) parece mais plausível, uma vez que não há nenhum vestígios da influência da língua grega sobre o hebraico do livro.
[6] A viagem de Neemias (o terceiro retorno) de Susã a Jerusalém (Ne 1—2) ocorreu mais tarde (aproximadamente em 445 a.C.).
[7] O Império Persa controlou o Oriente Próximo por mais tempo do que os impérios Assírio e Babilônico juntos, e governou muito mais território do que qualquer um de seus antecessores e consistiu 127 províncias da Índia à Etiópia (1.1). Muitos judeus ainda estavam espalhados por todo este vasto Império (4.3; 8.9,17) durante o tempo de Ester e do rei Xerxes.
[8] Susã ficava na província do Elam, 160 quilometros ao norte do atual Golfo Pérsico e a 320 km a leste da Babilônia. Foi originalmente a capital do Elam, séculos antes dos tempos de Ester. A cidade estava no lado oriental do vale de Tigres, onde o vale se eleva para encontrar-se com as montanhas do Irã. Entre suas extensas ruínas, que cobrem uma área de 5 quilometros quadrados se pode ver os restos do espaçoso palácio onde ocorreu grande parte do dramático relato do livro do Ester. Este palácio, erigido no sítio do antigo castelo elamita, foi construído por Dario Histaspes, pai do Xerxes.
[9] O monarca persa residia parte do ano na Ecbatana, e às vezes visitava Persépolis e Babilônia; mas passava a maior parte do tempo na sede do governo.
[10] Heródoto era um historiador grego que viveu no século V a.C. mais conhecido por suas Histórias (escritas sobre 445 a.C.), que documentam a história das Guerras Persas contra os gregos, incluindo as batalhas de Maratona, Termópilas e Salamina. Embora suas histórias possam às vezes ser contraditórias, ele é considerado um cronista importante de eventos, lugares e práticas. Existem numerosos lugares no livro de Ester onde a comparação pode ser feita com as informações contidas em Heródoto.
[11] Alguns comentaristas tentam identificar o nome de Ester com a da deusa babilônica do amor, Ishtar, mas não há quaisquer comprovações. É mais simples entender que seu nome foi alterado para que ela pudesse transitar livremente no mundo social persa.
[12] Hamã, o agagita: assim como Mardoqueu estava identificado como benjamita de forma a evocar memórias do rei Saul (em 2.5), Hamã é agora introduzido de uma maneira que o associa com o antigo protagonista de Saul, Agague, rei da os amalequitas (cf. 1Sm 15.7-9, 32-33). Embora nenhum título seja dado a Hamã no texto de Ester, aqueles que estudam o livro muitas vezes o intitulem o vizir.
[13] A Festa de Purim é um feriado anual com dois dias de festa, alegria, envio de alimentos uns para os outros e doação de presentes aos pobres (9:21-22), foi decretada para ser celebrada por todas as gerações, por todas as famílias, em todas as províncias e cidades (9:27-28).
[14] Significa o Poderoso ou Venerável rei, era um título dado a certos reis persas. Muitos entendem que aqui reinava Xerxes, filho de Dario Histaspes.
[15] Hadassa (murta) era órfã, seus pais (tios de Mardequeu) haviam morrido e ele tomara a prima como sua filha (2.7). Posteriormente seu nome foi mudado para Ester (estrela), ajustando-se à cultura Persa. O tio com certeza tinha ocupações no palácio, mas a sobrinha vivia fora deste ambiente. O nome Ester aparece 55 vezes na narrativa do livro.
[16] Ainda que seja citado poucas vezes ele é o instrumento fundamental para que Ester seja adequadamente apresentada ao rei. Ele favorece claramente a Ester em relação as demais moças que haveriam de se apresentarem diante do rei. É muito provável que ele tivesse uma boa amizade com Mardoqueu, pois ambos eram serviçais do palácio. Todos são instrumentos da providencia de Deus.
[17] Era da tribo de Benjamim e chamado judeu porque todas as tribos eram descendentes de Jacó (Israel). Os Benjamitas eram igualmente da mesma semente dos judeus (6.13).
[18] Seu nome significa “bem disposto” é identificado como sendo agagita em decorrência de suas origens amalequita (inimigos de Israel Ex 17.8-16; Nu 24.20). É mencionado 54 vezes na narrativa (3.1-9.24). Sua inimizade com Mardoqueu (judeus) foi em decorrência de seu narcisismo de querer ser exaltado acima de todos os demais. Sua arrogância provocou sua própria destruição. Nunca teve qualquer escrúpulo na sua busca pelo poder e glória. Os Hamã(s) proliferam em todos os lugares, mas o fim deles é sempre o mesmo – morrem na própria forca.