836 Visualizações
Os
Salmos ocupam um espaço considerável da literatura que compõe a primeira parte
da Bíblia. Apesar de terem em comum a estrutura poética e melódica, todavia o
conteúdo deles é diversificado de maneira que a mensagem de cada salmo
segue uma temática distinta. Sem qualquer pretensão de radicalizar, podemos distribuir
os cento e cinquenta salmos bíblicos por afinidades temáticas conforme abaixo. Será fácil perceber que alguns salmos se encaixam em mais de uma
temática, pois seu conteúdo e os comentaristas nem sempre
concordam com as classificações e nem com os salmos nelas inseridas, portanto o que fazemos é apenas um exercício no sentido de termos uma visão mais
conjuntural dos salmos.
Salmos
de Petição: Eles são um numero expressivo no arranjo do saltério e podem serem subdivididos em ao menos três categorias:
Súplicas e Lamentos da Comunidade: Envolve uma situação de
sofrimento e carência, e contém uma expressão de dor, realçando a queixa,
reclamação e lamento. O contexto é uma desgraça nacional de ordem agrícola,
como seca, pragas, peste ou epidemia. Muitas vezes terminam com uma certeza de serem ouvidos: 12, 44, 58, 60, 74, 77, 79, 80, 82, 83,
85,90, 94, 106, 108, 123, 125, 126, 129,
137. Enfatizando a confiança: 115, 125, 129.
Súplicas e Lamentos do Individuo: É um
dos temas mais frequentes no salterio e se desenvolve dentro de três situações
– perseguição ou perigo, por enfermidade ou quando o salmista se vê injustiçado.
Convicção de ser ouvido (presente apenas em alguns Salmos) e / ou um
voto: 3-7, 9-11, 13, 16, 17, 22, 23,
25, 26, 27:7–14, 28, 31, 32, 35, 36, 38, 39, 43, 51, 54, 55, 56, 57, 59, 61,
63, 64, 69, 70, 71, 86, 88, 102, 109, 120, 130, 140, 141, 142, 143. Enfatizando
a confiança: 3, 4, 11,
16, 23, 27:1–6, 62, 63, 67, 91, 121, 131
Salmos Imprecatórios: São os salmos mais
constrangedores para a nossa cultura cristã, todavía é preciso lê-los em seu
contexto oriental. As maldições pronunciadas são sobre aqueles que
causaram uma crise, podendo ser interna de pessoas dentro da comunidade que
cometeram injustiça, e às vezes pessoas de fora que, como os babilônios, invadiram
o país e derrubaram as nações: 7, 28:4 ss., 35, 54:5, 55:15, 56:7, 58, 59, 69, 79, 83, 109, 137, 139.
Salmos Penitenciais: O salmista se defronta com seu pecado e se
entristece pois sabe que ofende a Deus, por consequente roga pelo perdão: 6,
32, 38, 51, 102, 130, 143
Salmos de Louvor (Ações de Graças): é louvor a Deus por algo que Ele fez pelo salmista (que pode
também representar a comunidade), oferecido em forma de adoração. É uma efusão de celebração emotiva na
adoração baseada em alguma experiência imediata da bondade e graça de Deus. 18.3-7, 30, 32.3-7, 34, 40:2–12,
41.5-13, 52, 65, 66.13-20, 67, (68?), (75?), 92, 107, 116, 124, 136, 138, 139
Hinos (Adoração): é louvar a Deus porque Ele é
Deus, e sabemos que Ele é porque clamamos a Ele e Ele agiu. Desde as mais
antigas memórias Deus vem agindo em favor de seu povo e nunca falhou, de
maneira que a fé descansa na soberania e providência de Deus, por isso o
coração crente o louva continuamente. A tônica é festiva e canto coral e geralmente composto por uma introdução,
corpo e conclusão. Um refrão normalmente é utilizado como por exemplo “Louvai
ao Senhor, porque ele é bom”: 8, 19, 29, 33, (47), 65, 66, 67, 68, 93, (96-99),
100, 103, 104, 105, 111, 113, 114, 117, 118, 135, 136, 145-150.
Salmos Litúrgicos: Estes salmos são caracterizados pela sua
estrutura antífonal, particularmente adequado para o culto comutário.
Salmos do Pacto: Relembra o momento em que Deus estabeleceu sua
Aliança com Israel: 50, 78, 81, 89, 132
Salmos de Entronização Real: Se distingue dos hinos
por causa do tema e ocasião. Canta-se ao Senhor que toma possessão de sua
autoridade real, o qual se representa em uma celebração litúrgica. É utilizada
com variações a expressão “o Senhor reina”. Eles celebram os acontecimentos
presentes e não escatológicos e somente posteriormente serão utilizados pelos
profetas, como Isaias, com uma reinterpretação profética, escatológica: 2, 8,
15, 18, 20, 21, 24, 29, 33, 45, 47, 50, 66, 72, 81, 84, 93, 95-99, 101, 103, 110, 114,
118, 132, 144, 149.
Salmos de Sião: São cânticos que tem
como tema Jerusalém a capital religiosa, o monte onde foi construido o Templo e
também como ocasião litúrgica da peregrinação e festa na cidade capital. O
refrão é “O Senhor nos protege desde sua cidade”: 46, 48, 76, 84, 87, 122
Salmos do Templo: Assim como o Tabernáculo demarcava a presença de
Deus no meio de seu povo, o Templo também detinha essa mesma conotação: 15, 24,
68, 82, 95*, 115, 134
Salmos Didáticos: surgidos em círculos de sabedoria com enfase
crescente no estudo da História e da Torá (sacerdotes e levitas):
Salmos Acrósticos: A poesía hebraica não tem ritmo regular nem rima e
muitas vezes é extremamente emocional. A estrutura acróstica facilita a
memomrização e o Sl 119 é o exemplo maior onde a cada oito versos inicia-se com
uma letra do alfabeto hebraico sempre enaltecendo o valor da Torá. Mas os acrósticos
tem temas variados, hinos, confiança, penitenciais: 9-10, 25, 34, 37, 111, 112,
119, 145 [Pv 31.10-31].
Salmos Sapienciais: Eles compartilham
características com as tradições da Sabedoria do Velho Testamento (Jó,
Provérbios, Eclesiastes) em termos de estruturas literárias, vocabulário e
conceitos. Se caracteriza pelo seu tom reflexivo e às vezes didádico tratando
de temas como as injustiças da vida e a justiça de Deus, as responsabilidades
de escolher o caminho correto ou o modo de viver, o valor relativo das riquezas
e a natureza transitória da existência humana, o sofrimento do inocente, o
destino do justo e do impio, a fraternidade comunitária. Os salmos da
sabedoria, como Provérbios, dão uma imagem ideal, são princípios gerais, não
leis absolutas. Este tipo de ensino é mais explicito no livro de Provérbios: 1, 37, 49, 73, 78, 91, 101, 112, 119, 127,
128, 133.
Salmos Históricos: É
claro que seu foco é a história bíblica, ou seja, as manifestações de Deus na
história de seu povo. Eles irão rever os grandes eventos da
criação do mundo, escolha de Abraão, o êxodo do Egito e nascimento da nação
israelita, o estabelecimento do trono de Davi, e o cativeiro babilônico, bem
como a promessa de retorno. Como essas narrativas já se encontram nos livros de
Gênesis a Ester, o salmista apresentar uma perspectiva diferente, sintetizando-os facilita a memorização e possibilita
uma melhor compreensão destes eventos, talvez um pouco como uma comparação dos
Evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) que amplia a compreensão da
história de Jesus Cristo. Entretanto é preciso lembrar que os Salmos são
outro gênero de literatura, ou seja, a poesia, e utiliza livremente a linguagem figurativa, de maneira que não se
deve interpretar uma figura nos salmos como uma realidade literal da
história: 8, 19, 29, 33, 46, 47, 48,
76, 84, 87, 93, 96, 97, 98, 99, 103, 104, 105, 106, 113, 114, 117, 122, 135,
136, 137.
Salmos Messianicos: Os Salmos que fazem referência a vinda de
Cristo, a encarnação, o julgamento, os sofrimentos, a morte, a ressurreição, a
ascensão, etc. Os Salmos são citados pelo próprio Jesus mais do que
qualquer outro livro do Antigo Testamento, mesmo o livro de Isaías. Há mais de
100 citações ou referências no NT sobre Jesus Cristo tiradas do livro dos
Salmos. Nestes
salmos encontram-se referencias ao Messias e muitos deles foram assim
interpretados e utilizados pelos escritores do Novo Testamento: 2, 8, 16, [21], 22, [23, 24, 34], 40,
41, 45, [61], 68, 69, [72, 75], 89, 91, 97, 102, 109, 110, 118, 132 (cf. Lucas
24:44; Atos 13:33).
Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
Artigo
Relacionado
Os Livros Poéticos e de Sabedoria - Introdução Geral
Livros Poéticos e Sabedoria - Conclusão da Introdução
http://reflexaoipg.blogspot.com/2016/06/livros-poeticos-e-sabedoria-conclusao.html?spref=tw
http://reflexaoipg.blogspot.com/2016/06/livros-poeticos-e-sabedoria-conclusao.html?spref=tw
Livros Poéticos e Sabedoria - Tempo da Autoria
http://reflexaoipg.blogspot.com/2016/06/livros-poeticos-e-sabedoria-tempo-da.html?spref=twA
http://reflexaoipg.blogspot.com/2016/06/livros-poeticos-e-sabedoria-tempo-da.html?spref=twA
A Bondade de Deus - Salmo 136
Salmo 23.1 - O Cuidado Pastoral de Deus
http://reflexaoipg.blogspot.com/2016/09/salmo-231-o-cuidado-pastoral-de-deus.html?spref=tw
http://reflexaoipg.blogspot.com/2016/09/salmo-231-o-cuidado-pastoral-de-deus.html?spref=tw
Referências
Bibliográficas
ARNOLD, Bill T. e BEYER, Bryan E. Descobrindo
o Antigo Testamento. São
Paulo: Cultura Cristã, 2001.
BAXTER, J. Sidlow. Examinai as Escrituras, v.3, São Paulo: ed. Vida Nova, 1993.
BEVINCK, Hermann. Teologia Sistemática. Tradução
Vagner Barbosa. Santa Barbara do Oeste (SP): SOCEP, 2001.
BULLOCK,
C. Hassell. An Introduction to the Old Testament Poetic Books. Chicago.
Moody Press, 1988.
CALVINO, João. O livro dos salmos. Tradução
Valter Graciano Martins. São Paulo: Edições Parakletos, 2002.
CHOURAQUI, André. A Bíblia – louvores I
(Salmos), v. 1. Tradução Paulo Neves. Rio de Janeiro: Imago Ed., 1998.
[Coleção Bereshit].
CONSTABLE,
Thomas L. Expository Notes on Psalms. Disponível em:
http://www.soniclight.com/constablc/notcs.htm Acesso em: 30/01/2016.
ELLISEN, Stanley A. Conheça Melhor o Antigo Testamento. Flórida: ed. Vida, 1991.
GRUDEM, Wayne A. Manual de teologia
sistemática – uma introdução aos ensinos fundamentais da fé cristã. Tradução
Heber Carlos de Campos. São Paulo: Editora Vida, 2001.
KIDNER, Derek. Salmos 73-150 – introdução e
comentário, v. 14. São Paulo: Sociedade Vida Nova e Mundo Cristão,
1981. [Série Cultura Cristã].
LASOR, William S., Hubbard David A. e Bush, Frederic
W. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova,
1999.
MONLOUBOU, L. (Org.). Os salmos e os outros
escritos. Tradução Benôni Lemos. São Paulo: Paulus, 1996. [Biblioteca
de ciências bíblicas]
PURLISER, W. T. O livro de Salmos, v.3
Tradução Valdemar Kroker e Haroldo Janzen. Rio de Janeiro: CPAD, 2005.
[Comentário Bíblico Beacon, 2ª ed.].
RODRIGUES, José Carlos. Estudo Histórico e Crítico sobre o Velho Testamento, v.1. Rio
de Janeiro: 1921.
RYRIE, Charles Caldwell. Teologia básica – ao
alcance de todos. Tradução Jarbas Aragão. São Paulo: Mundo Cristão,
2004.
SCHREINER, Josef. Palavra e mensagem do
Antigo Testamento. Tradução Benôni Lemos. 2ª ed. São Paulo: Editora
Teológica, 2004.
Nenhum comentário:
Postar um comentário