PARÁBOLAS: Uma Ordem
Cronológica
Introdução
Nas páginas evangélicas haveremos de
encontrar uma quantidade grande de pequenas e preciosas pérolas da didática e
pedagogia de Jesus – as parábolas. São pequenas e singulares histórias fáceis
de serem memorizadas, extraídas do cotidiano das pessoas que as ouviram pela
primeira vez, contendo cada uma delas apenas um único ensino ou mensagem. Um
dos expoentes da pedagogia brasileira Rubem Alves assimilou esse método de
Jesus e tinha como principio de que para se ensinar alguma coisa precisamos
apenas de um ponto (história) e uma imagem (ilustração). E Jesus soube
utilizar-se dessa forma de ensinar como ninguém; suas parábolas eram
desconcertantes de tão simples, mas surpreendentes e paradoxais. A parábola do
“bom samaritano” transforma a figura
hostilizada do samaritano no modelo a ser seguido em relação a amar o próximo.
Essas parábolas eram simples e fáceis de serem memorizadas, de maneira que
mesmo após a ascensão de Jesus elas ficaram encravadas nas mentes e corações
dos seus discípulos e demais ouvintes primários.
Por outro lado, as parábolas não são
apenas historietas, mas assim como os profetas que o antecederam, Jesus se
comunica por meio de parábolas para desperta o raciocínio de seus ouvintes e
estimula-los a uma resposta em relação à Deus e seu Reino. Todas as vezes que
Jesus contava uma parábola ele atraia a atenção das pessoas, produzia uma
reflexão e estimulava a uma ação, que poderia ser positiva ou negativa,
favorável ou desfavorável. Mormente os religiosos da época de Jesus reagiam
negativa e desfavoravelmente, pois as parábolas de Jesus os faziam se sentirem
desconfortáveis em suas zonas de conforto estabelecido pelo judaísmo, assim
como hoje deve irritar os evangélicos que se ajustaram confortavelmente em suas
zonas de conforto erigida em suas centenas de denominações. Concordo plenamente
com a conclusão de Klyne Snodgrass:
As parábolas nos instigam –
literalmente, por causa de Jesus – a fazer algo! As parábolas não procuram uma
‘moralidade branda’ sobre a qual Kierlegaard reclamava, mas uma resposta
radical de pessoas que tomam para a si a sua cruz e passam a ser imitadoras de
Deus: uma mudança a tal ponto de receber, merecidamente, o nome de “conversão”
(2012, p. 32)
Técnica ou academicamente se discutem
muito sobre a quantidade de parábolas que está contida nos registros
evangélicos, variando de trinta e sete até sessenta e cinco. A questão está na
classificação, pois alguns incluem um numero maior e outros fazem distinções
entre ditos de Jesus e parábolas, por exemplo. Muitos afirmam que as parábolas
encontram-se somente nos evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas),
enquanto outros conseguem ver parábolas também no quarto evangelho escrito por
João[1].
Portanto, o numero de parábolas será
sempre subordinado à classificação delas. O estudioso Simon J. Kistemaker faz
ao menos três distinções: parábolas autênticas – onde Jesus se utiliza de
fatos corriqueiros para ilustrar princípios espirituais; histórias
em formas de parábolas – não se relacionam com uma verdade obvia ou com
um costume diário; ilustrações – aqui se propõe modelos que devem
ser imitados ou evitados, focando diretamente o caráter e a conduta de um
personagem especifico. Mas além de Kistemaker há outras propostas de se
classificar o que é uma parábola, de maneira que o numero aumenta ou diminui de
acordo com as definições como exemplificada acima onde ele incluiu quarenta em
seu trabalho; mas eu acompanho Dave Ahl que é um pouco mais flexível nessa
classificação e inclui quarenta e seis parábolas.
Outra
questão técnica implica cronologia dessas parábolas, ou seja, em que momento
elas foram contadas pela primeira vez, visto que entre os evangelistas não se
seguem uma mesma ordem cronológica de seus registros. Nessa sequencia que pretendo
esboçar aqui seguirei a proposta da “Bíblia em Ordem Cronológica” da Editora Vida,
organizada originalmente por Edward Reese e Frank R. Klassen (The Reese
chronological Bible).
Evidentemente
que toda e qualquer tentativa de organizar cronologicamente os acontecimentos
envolvendo o ministério de Jesus e por inclusão suas parábolas é sempre um
exercício edificante, porém com implícitas limitações.
Portanto,
todas as cronologias são propostas ou sugestões de seus referidos autores, pois
os escritores evangélicos não tinham está preocupação cronológica ao elaborarem
seus respectivos trabalhos. O propósito deles eram registrarem os
acontecimentos com fidelidade visando alcançarem seus públicos alvos.
Quando
organizadas de forma cronológica é possível percebermos uma sequência temáticas
das parábolas, de maneira que elas não ficam tão aleatórias no seu conjunto. As
três primeiras anunciam que há algo novo que está surgindo, que há algo novo
que vai substituir o velho e isto não poderá ficar escondido, deverá ser
proclamado e revelado. Essa mensagem nova será semeada, ainda que seus
adversários tentem descaracterizá-la (joio). A mensagem nova é do Reino do Céu
que iniciará pequena (semente), mas crescerá (fermento) e se tornará muito
preciosa (pérola). Exige-se daqueles que haverão de participar desse novo Reino
um comportamento adequado (talentos, minas, administrador, vigilância).
Percebemos então que há uma sequencia progressiva das parábolas em relação ao
discipulado proposto por Jesus.
Na
medida em que cada uma das parábolas for sendo destacada estarei mencionando as
discussões acadêmicas apropriadas no intuito de proporcionar uma visão mais
abrangente destas pequenas porções da literatura evangélica.
Uma Cronologia das Parábolas de Jesus
|
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Parábolas
|
Mateus
|
Marcos
|
Lucas
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01
|
Pano novo em roupa velha
|
9.16
|
2.21
|
5.36
|
02
|
Vinho novo em odres velhos
|
9.17
|
2.22
|
5.37-38
|
03
|
Lâmpada no velador (luz e sal da
terra)
|
5.14.15
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04
|
Construtores sábios e tolos
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7.24-27
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6.47-49
|
05
|
O credor perdoa dívidas desiguais
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7.41-43
|
06
|
Lâmpada no velador (2ª vez)
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4.21-22
|
8.16; 11.33
|
07
|
Homem rico constrói celeiros maiores
|
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|
12.16-21
|
08
|
O servo vigilante
|
|
|
12. 35-40
|
09
|
Servos sábios e tolos
|
|
|
12. 42-48
|
10
|
Figueira sem frutos
|
|
|
13. 6-9
|
11
|
Semeador e quatro tipos de solo
|
13.3-8,18-23
|
4.3-8,14-20
|
8.5-8,11-15
|
12
|
Trigo e Joio (Reino dos Céus)
|
13.24-30,36-43
|
|
|
13
|
Semente crescente (Reino dos Céus)
|
|
4. 26-29
|
|
14
|
Semente de mostarda (Reino dos Céus)
|
13. 31-32
|
4. 30-32
|
13. 18-19
|
15
|
Levedura
(Reino dos Céus)
|
13.33
|
|
13. 20-21
|
16
|
Tesouro escondido (Reino dos Céus)
|
13.44
|
|
|
17
|
Pérola valiosa (Reino dos Céus)
|
13. 45-46
|
|
|
18
|
Rede de pesca (Reino dos Céus)
|
13.47-50
|
|
|
19
|
Proprietário de uma casa (Reino dos Céus)
|
13.52
|
|
|
20
|
Ovelha perdida
|
18.12-14
|
|
|
21
|
A ovelha, a porta e o pastor.
|
João
10.1-5,7-18
|
|
|
22
|
Mestre e seu servo
|
|
|
17.7-10
|
23
|
Servo sem misericórdia (Reino dos
Céus)
|
18. 23-34
|
|
|
24
|
Bom Samaritano
|
|
|
10.30-37
|
25
|
Amigo em necessidade
|
|
|
11. 5-8
|
26
|
Os primeiros assentos na festa
|
|
|
14. 7-14
|
27
|
Convite para um excelente banquete
|
|
|
14. 16-24
|
28
|
Custo do discipulado
|
|
|
14. 28-33
|
29
|
Ovelha perdida
|
|
|
15. 4-7
|
30
|
Moeda perdida
|
|
|
15. 8-10
|
31
|
Filho perdido (pródigo)
|
|
|
15. 11-32
|
32
|
Gerente astuto
|
|
|
16. 1-8
|
33
|
O rico e Lázaro
|
|
|
16. 19-31
|
34
|
Trabalhadores na vinha
|
20. 1-16
|
|
|
35
|
Viúva persistente e juiz iniquo
|
|
|
18. 2-8
|
36
|
Fariseu e cobrador de impostos 37
|
|
|
18. 10-14
|
37
|
As minas
|
|
|
19. 12-27
|
38
|
Dois filhos
|
21. 28-32
|
|
|
39
|
Lavradores maus
|
21. 33-44
|
12. 1-11
|
20. 9-18
|
40
|
Um banquete de casamento
|
22. 2-14
|
|
|
41
|
A figueira
|
24. 32-35
|
13. 28-29
|
21. 29-31
|
42
|
Servos sábios e tolos
|
24. 45-51
|
|
|
43
|
Virgens sábias e tolas
|
25. 1-13
|
|
|
44
|
Os servos devem vigiar
|
|
13. 35-37
|
|
45
|
Dos talentos
|
25. 14-30
|
|
|
46
|
Separação das ovelhas e bodes
|
25. 31-46
|
|
|
Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
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Referências Bibliográficas
ANDERSON, Ana Flora e GORGULHO, Gilberto. Parábolas: a palavra que liberta. São
Paulo: Artcolor, 2000.
BAILEY, Kenneth. As Parábolas
de Lucas. São Paulo: Vida Nova, ????
CABRAL, Elienai. Todas
as Parábolas de Jesus. Rio de Janeiro: CPAD, 2005.
CERFAUX, Mons. L. O
tesouro das parábolas. São Paulo: Paulinas, 1974.
DODD, C. H. Las
parabolas del Reino. Madrid: Edciones Cristiandad, 1965. São Paulo:
Paulinas, 1982. DUPONT, Jacques. O método das parábolas de Jesus hoje. São Paulo: Edições Paulinas, 1985.
GOURGUES, Michel. Parábolas
de Jesus em Marcos e Mateus. São Paulo: Loyola. 2006.
JEREMIAS, Joachim. As
parábolas de Jesus. São Paulo: Paulus, 2007.
MACARTHUR, John. As
parábolas de Jesus comentadas por John Macarthur. São Paulo: Thomas Nelson,
2016.
MIRANDA, Osmundo Afonso. Introdução ao estudo das parábolas. São Paulo:
Aste, 1984.
PLOEG, J. P. M. van der. Jesus nos fala: as parábolas e alegorias dos quatro evangelhos. São
Paulo: Paulinas, 1999.
SANT’ANA, Marco Antônio Domingues. O gênero da parábola. São Paulo: Unesp, 2010.
SCHOTTROFF, Luise. As
Parábolas de Jesus: Uma nova hermenêutica. São Leopoldo: Sinodal, 2007.
SNODGRASS, Klyne. Compreendendo
todas as parábolas de Jesus – guia completo. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.
[1]
Tecnicamente não há parábolas em João. Ele nunca utiliza o termo ‘parabole’,
mas opta por ‘paroimia’, mormente traduzida como ‘provérbio’ (João 10.6 e
16.25)
Parabéns, muito obrigado por compartilhar este este estudo tão relevante e de muito aprendizado.
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