quinta-feira, 28 de março de 2019

Apocalipse: Babilônia x Nova Jerusalém


         
O livro do Apocalipse tem como uma de suas características literárias peculiares a utilização de figuras de linguagem. No caso especifico que tratamos aqui encontraremos no último livro bíblico as figuras contrastantes de duas cidades: a Babilônia (17.1-19.5) e a Nova Jerusalém (21.1-22.21). O valor significativo destas duas figuras esta no fato de que elas sintetizam a temática do Apocalipse sobre o fim do sistema pecaminoso e o inicio definitivo do sistema divino. Abaixo temos um quadro comparativo que vai ilustrar esta bipolaridade contrastante:           

Babilônia
Nova Jerusalém
Descrição Básica
A Grande Cidade (16.19; 17.18; 18.16 e 18).
A Cidade de Deus (3.12); a Cidade Santa (21.2 e 10).
Metáfora (Simbolismo)
A grande prostituta (17.1; 19,2)
A noiva / esposa do Cordeiro (21.2; 21.9)
Características Físicas
Grande, importante e poderosa (17.18; 18.2; 18.10; 18.16, 18, 19, 21); rica (18.3, 7, 9-19; cf. 17.4); o palco de todas as atividades sociais terrenas (18.22-23)
Compacta, estável e segura, perfeita em sua estrutura, feita de dos metais mais preciosos e de beleza exuberante (21: 10-21)
Origem
Planejada e construída com base no esforço humano (17.15)
Planejada e construída por Deus, ela vem do céu (3.12; 21.2, 10)
Habitantes
Aqueles que habitam na terra (17,2, 8); mas nenhum daqueles cujos nomes estão escritos no livro da vida do Cordeiro (17.8); nem aqueles que são parte do povo de Deus (18.4); nem um dos cristãos, apóstolos, profetas e mártires (17.6; 18.20, 24)
Aqueles que venceram  (3.12; 21.7); aqueles cujos nomes estão escritos no livro da vida  do Cordeiro (21.27); os que tiveram lavadas suas vestes (22.14); os servos de Deus e do Cordeiro (22.3-4); ficaram de fora os incrédulos, idólatras, mentirosos, etc. (21.8, 27; 22.15); e os que alterarem o que está escrito nesse livro (22.19)
Relação com as Nações e Seus Líderes
Exerce o domínio sobre os reis da terra (17.18); os reis e os habitantes da terra se prostituíram com sua imoralidade; as nações se embriagaram com o seu vinho (17.2; 18.3, 9); os governantes lamentam sua morte (18.10); comerciantes se enriqueceram negociando com ela (18.3) e choraram quando ela for destruída (18.11 s)
As nações caminharam na luz da cidade (21.24); reis e nações trarão sua glória para ela (21.24, 26); os povos experimentam a cura nela (22.2)
Significado
Perseguira os seguidores de Jesus (17.6; 18.24); fara guerra contra o cordeiro em associação com a besta (17.13-14); multiplicação do pecado, arrogância e luxuria (18.4-7)
Deus habitando entre o seu povo escolhido e recebendo deles adoração (21.3, 22; 22.3-4); estará cheia da glória de Deus (21.11, 23)
Destino Final
Sentirá a ira de Deus (16.19-21); será traída pela besta (17.16-17); ficará desolada (18.2; 21-23); receberá a retribuição por suas maldades (18.6); experimentará uma destruição súbita e violenta através do fogo (17.16; 18.8-10)
Habitação permanente (3.12); erradicação de toda tristeza, dor e morte (21.4); manancial da água da vida (21.6; 22.1,2, 17) e da árvore da vida (22.2, 19); será um reino eterno (22.5)

                Diante deste quadro é possível perceber que não há alternativas; o ser humano será cidadão de uma ou de outra cidade, de maneira que haverá “dupla nacionalidade”. Os que fazem parte da cidade da Babilônia devem usufruir ao máximo dela, pois o destino final deles será semelhante ao da própria cidade. Os que haverão de fazer parte da Nova Jerusalém devem viver de modo digno desta cidadania, pois não há comunhão deles com a Babilônia. Todos aqueles que tentam viver com dupla cidadania enganam-se a si mesmos e perderam duplamente, pois nem usufruíram da Babilônia e nem entraram na Nova Jerusalém.
            O escritor da epístola aos Hebreus (11.13-16), recordando os crentes do passado que morreram, muitas vezes de formas cruéis, sem negar sua fé e alertando os crentes do seus dias, como que contemplando esse quadro acima escreve: Estas pessoas de fé que eu mencionei morreram sem jamais terem recebido tudo quanto Deus lhes prometeu; mas viram tudo que os esperava adiante, e ficaram contentes, pois concordavam que esta terra não era a sua verdadeira pátria, mas que eles eram apenas forasteiros de visita aqui embaixo. E muito logicamente, quando eles falavam assim, estavam com os olhos postos na sua verdadeira pátria no céu. E se, na verdade, se lembrassem daquela de onde haviam saído, teriam oportunidade de tornar. Mas não; eles aspiravam por uma pátria melhor, isto é, a pátria celeste. Por isso, Deus não se envergonha de ser chamado de Deus deles; na verdade, Deus preparou uma cidade para eles".
            O dia do juízo está se aproximando rapidamente e o destino final de ambos os cidadãos será definitivamente estabelecido. Maranata! Oh Vem Senhor Jesus!

Não compreendo os Teus caminhos
Mas te darei a minha canção
Doces palavras te darei
Me sustentas em minha dor
E isso me leva mais perto de Ti
Mais perto dos Teus caminhos
E ao redor de cada esquina
Em cima de cada montanha
Eu não procuro por coroas
Ou pelas águas das fontes
Desesperado eu Te busco
Frenético, acredito
Que a visão da Tua face
É tudo o que eu preciso
Eu te direi
Que vai valer a pena
Vai valer a pena
Vai valer a pena mesmo
Sim, vai valer a pena
Vai valer a pena
Vai valer a pena mesmo
O grande dia haverá de chegar
Quando eu e você, eu e você nos encontraremos com ele
Naquele dia
E eu e você, eu e você
Cantaremos em uma só voz, a Ele, a Ele, a Ele
Senhor, valeu a pena
Senhor, valeu a pena
Senhor, valeu a pena mesmo
Senhor, valeu a pena
Senhor, valeu a pena
Eu haverei de cantar ao meu Senhor
Quando o grande dia chegar
Quando o grande dia chegar, e ele vem
Quando o grande dia chegar
Eu cantarei, eu cantarei, eu cantarei
Jesus, sim, sim, sim
Sim, sim, sim
Jesus, valeu, valeu, valeu, valeu, valeu, valeu, valeu
Viver pra Ti
Morrer pra Ti
Música: Vai Valer a Pena
Livres Para Adorar


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Referências Bibliográficas
ALEXANDER H. E. Apocalipse. São Paulo: Ed. Ação Bíblica do Brasil, 1987.
ASHCRAFT, Morris. Comentário Bíblico Broadman, v.12, ed. JUERP, 3ª ed., 1983.
CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado, v. 6, ed Milenium, São Paulo, 1988.
CLARKE, Adam, The New Testamento of Our Lord and Saviour Jesus Christ. Nova York: Abingdon-Cokesbury Press, vol. II, s. d.
CORSINI Eugênio. O Apocalipse de São João. São Paulo: Edições Paulinas, 1984.
DOUGLAS J. D. O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo: Ed. Vida Nova, 2001.
HENDRIKSEN, William. Mais Que Vendedores - Interpretação do livro do Apocalipse. São Paulo:  ed. CEP, 1987.
LAYMON, Charles M. The Book of Revelacion. Nova York: Abingdon Press, 1960.
LADD, George. Apocalipse – Introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 2008.
McDOWELL, Edward A. O Apocalipse – Sua Mensagem e Significação. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1960.
SUMMERS Ray. A Mensagem do Apocalipse. Rio de Janeiro: Ed. JUERP, 1980.

quarta-feira, 27 de março de 2019

Páscoa: Cultura e Arte - Jesus diante do Povo

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terça-feira, 26 de março de 2019

Jacó e Esaú: Uma luta de Gênesis a Herodes




A história de Jacó e Esaú registrada nas páginas do livro de Gênesis não trata apenas e tão somente das disputas entre dois irmãos, mas se constitui na verdade em uma figura das lutas que estão sendo travadas desde a queda entre a linhagem do Messias e a linhagem da natureza humana decaída.
A mensagem proclamada pelo profeta Obadias é uma consequendia direta da história de Esaú e Jacó ocorrido séculos antes, quando as duas crianças ainda estavam no útero de sua mãe Rebeca (Gênesis 25). A promessa ali proclamada de que o mais velho (Esaú) serviria o mais novo (Jacó) vai se concretizar no transcorrer da história deles e quando Jacó utiliza-se da malandragem para receber a benção da primogenitura seu irmão amargurado promete mata-lo depois dos dias de luto do pai (Isaque) passar. Orientado pela mãe Jacó busca exílio na terra de seus tios em Padã-Arã onde ele trabalhou 14 anos para Labão em troca de se casar com Leia e Raquel (Gênesis 29). Durante este tempo Jacó viu nascer muitos filhos que posteriormente vieram a formar as doze tribos de Israel (Jacó). Simultaneamente Esaú também constitui família e gerou muitos filhos, bem como aumentou grandemente em força econômica e política. Gênesis 36 trás detalhes da linhagem de Esaú e sua expansão geográfica.
Acossado pelo tio Jacó resolve retornar à Canaã, e depois de uma breve reconciliação com seu irmão Esaú, cada um deles vai viver sua vida e não temos mais registro de interação entre os irmãos ou suas famílias. Isto dura até o tempo em que Israel sai da escravidão do Egito, um período de 430 anos. Quando Moisés conduz Israel pelo deserto, ele solicita permissão do rei de Edom (descendentes de Esaú) para passarem através de seu país, mas o rei recusa (Números 20.14-21). Enquanto contornavam Edom os Israelitas vieram a Moabe, que também recusou permissão para atravessarem por suas terras. Neste ponto entra Balaão profetizado a favor de Israel e contra Edom (Números 24.18).
Alguns destaques interessantes da história de Edom e seu relacionamento com Israel podem ser vista no cronograma abaixo:
1406 a.C. Edom recusou passagem a Israel a caminho do Jordão (Nm. 20.14-21)
  992 a.C. Davi conquistou Edom, matando a maioria dos homens (2Sm.8.13; 1Rs. 11.15 ss.)
  860 a.C. Edom (com Moabe e Amom) atacou Judá, mas foi destruído pelo seus aliados, depois de Josafá ter convocado o povo à oração (2Cr.20).
  847 a.C. Edom revoltou-se contra Judá, constituindo o seu próprio rei (2Cr. 21.8).
  845 a.C. Edom e Filístia pilharam Judá (2Cr. 21.16-17). É provável que o livro de Obadias tenha sido escrito logo após estes acontecimentos.
  785 a.C. Amazias atacou Edom, matando 20.000 homens (2Cr. 25.11-12).
  735 a.C. Edom revolta-se novamente, levando muito cativos (2Cr. 28.17).
  586 a.C. Edom vingativamente ajudou a Babilônia a destruir Jerusalém, e por esse motivo foi-lhe permitido estabelecer-se na parte sul de Judá (Sl.137.7, Ez. 25.12). Vários estudiosos entendem que Obadias escreveu neste período a sua profecia.
  300 a.C. Cidades e terra de Edom foram tomadas pelos árabes nabateus, forçando os edomitas a ir para o centro e o sul de Judá.
  165 a.C. Judas Macabeu tomou Hebrom, que se tinha tornado capital dos edomitas.
  126 a.C. João Hircano subjugou os edomitas (agora chamados idumeus) e forçou-os a serem circuncidados com os judeus.
   40  a.C. Herodes, o Idumeu, sucedendo a seu pai Antipater, tornou-se rei da Palestina, conquistando Jerusalém em 37 a.C.
   70  d.C. Os idumeus foram completamente destruídos pelos exércitos romanos de Tito, cumprindo-se as palavras de Obadias. “Serás exterminado para sempre” (v.10), bem como as profecias de Joel (3.19) e Jeremias (49.17,18).

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segunda-feira, 25 de março de 2019

Epístolas Paulinas: Romanos (Tema e Propósito)



Temos conhecimento de que o apóstolo Paulo não teve uma participação direta no inicio das comunidades cristãs na grande capital do Império Romano, mas com certeza teve uma participação indireta muito forte para a expansão e fortalecimento do trabalho inicial, pois ele se refere pessoalmente a um grande numero de pessoas que ali residem e participam efetivamente das atividades eclesiásticas das comunidades estabelecidas.
A cidade de Roma comportava toda sorte de pessoas, desde os cidadãos romanos por nascimento ou por direitos adquiridos, advindos de todos os lugares do Império, bem como um numero grande de escravos e serviçais, e um numero acentuado de viajantes que por ela transitavam diariamente, quer comprando quer vendendo seus produtos. Há também uma forte colônia judaica e diversas sinagogas espalhadas pela capital e delas fazem parte não apenas os judeus, mas também muitos prosélitos e grande numero de mulheres, que como em outros lugares encontram no judaísmo uma segurança e proteção moral que não encontravam em outras religiões que perfaziam o panteão greco-romano e as chamadas religiões de mistérios.
O que parece é que um número significativo de judeus, advindos de Jerusalém após o Pentecostes e tendo ouvido a pregação dos apóstolos foram convertidos e retornando a Roma iniciaram as comunidades cristãs, tendo logo aderência tanto dos prosélitos quanto das mulheres que frequentavam as sinagogas, o que deixou as lideranças judaicas muito irritadas e belicosas. Um edito imperial que expulsava os judeus da capital romana produziu uma grande diáspora judaica para outras cidades e lugares do Império e a revogação posterior possibilitou o retorno de grande parte deles. Nesse interim as comunidades cristãs se desenvolveram com base no trabalho dos cristãos gentios e agora com o retorno dos judeus cristãos tornam-se comunidades mistas, mas tendo a predominância numérica dos gentios e não mais dos judeus cristãos como em suas origens. Com esse pequeno pano de fundo em vista é possível nos aproximar melhor da epístola de Paulo aos Romanos e compreendermos melhor os temas que ele trata com muito tato no transcorrer da missiva apostólica.

Tema e Propósito:

Diferentemente de algumas de suas outras epístolas, Romanos não foi escrita para tratar de algum problema local específico. Entretanto, três propósitos se desdobram na carta de Romanos. O primeiro era simplesmente anunciar os planos de Paulo para visitar Roma depois de seu retorno a Jerusalém e para preparar a igreja para sua ida (15.24,28-29; Atos 19.21). Paulo queria coloca-los à par de seus planos de maneira que eles pudessem participar e orar pela a concretização destes objetivos (15.30-32). Visto que a grande maioria dos cristãos de Roma nunca o tinha visto, ele sentiu a necessidade de se apresentar. Assim, é significativo que o sobrescrito de Romanos (1,1‑6) seja bem mais longo do que em qualquer outra carta Paulina. Uma vez que para Paulo o mais importante a respeito de um apóstolo era a mensagem que ele estava incumbido de proclamar, dificilmente surpreende ter decidido que o melhor meio de apresentar‑se seria incorporar na sua carta um relato do evangelho conforme chegara a entendê‑lo.
O que nos leva ao segundo propósito que era apresentar de forma completa e detalhada a mensagem do evangelho que Deus o chamou para proclamar. O apóstolo não desejava apenas “anunciar o evangelho àqueles que estavam em Roma” (1.15), uma vez que eles já eram convertidos, mas ele queria que tivessem uma compreensão clara de seu significado e todas as suas implicações. Diversas considerações práticas provavelmente o estimularam a fazer este relato especialmente pleno e cuidadoso. Ele pregara o evangelho durante cerca de mais de vinte anos e pode perfeitamente ter estado consciente de ter atingido certa maturidade de experiência, de reflexão e de compreensão, o que o capacitava para tentar, com o auxílio divino, fazer uma apresentação mais ordenada do Evangelho. Pode perfeitamente ter pensado que, em vista do tamanho e da importância da comunidade cristã romana e da sua localização estratégica, para onde muitos cristãos de outros lugares viriam numa época ou em outra, uma apresentação ordenada da mensagem cristã dentro de sua carta aos cristãos romanos seria uma forma de contribuir com eles e de beneficiar tantas pessoas quanto fosse possível (não só edificando os crentes, mas também proporcionando orientação para os esforços missionários da Igreja), para apresentação tão cuidadosa do Evangelho.
Um terceiro propósito está relacionado às questões que surgiram naturalmente no meio dos judeus e dos cristãos gentios em Roma no que se referia à conciliação do Evangelho e a Lei e ritos do Primeiro Testamento, como bem coloca Baxter (1989, p.69).
 “o evangelho tinha sido pregado através do Império Romano durante um quarto de século e muitas comunidades cristãs tinham surgido. A fé recém-divulgada não poderia deixar de provocar perguntas importantíssimas. Que dizer da doutrina da justiça de Deus se, como diz esta nova pregação, os pecadores em toda parte podem ser livremente perdoados mediante a graça? Qual a relação entre este "Evangelho" e a Lei de Moisés? Ele não repudia Moisés? E a aliança abraâmica? Como a admissão dos gentios a privilégios equivalentes aos judeus pode ser reconciliada com isso? O que acontecerá com a moral se Deus for tratar agora com os homens através da graça em lugar de torná-los responsáveis perante uma lei justa? As pessoas não pecarão cada vez mais, a fim de que a graça possa prevalecer? E a relação especial de aliança entre Deus e Israel? O Novo "evangelho" não sugere que Deus repudiou agora o seu povo? Para muitos judeus piedosos, a nova doutrina parecia abandonar aquelas heranças mais apreciadas e vitais. Muitos cristãos recém-convertidos, quer judeus ou gentios, ficariam perplexos diante de tais perguntas.”
Diante de questões tão complexas, quem mais naquele momento estava devidamente preparado para respondê-las, a não ser Paulo o judeu que fora chamado e enviado para ser o apostolo dos gentios. O Professor Findlay  sintetiza isto de forma brilhante:
Com sua educação farisaica, sua consciência estrita e sensível e sua fé intensa na religião de Israel, Paulo compreendeu, mais ainda que seus oponentes, a força e a dificuldade dessas questões; podemos ver que isso lhe custou, tanto antes como durante a controvérsia, um esforço prolongado e o mais árduo empenho mental, a fim de chegar à solução que nos apresentou. Não devemos supor que a inspiração tivesse superado o estudo da parte dos mestres das Escrituras, que os dons do Espírito Santo servissem de artifício para poupar esforços. Pelo contrário, só com trabalho árduo e empenho contínuo, não poupando suas capacidades espirituais e intelectuais, é que Paulo compôs suas grandes epístolas doutrinárias; e o Espírito Santo estimulou, sustentou e recompensou o labor de sua vontade e razão humanas (abud, BAXTER, 1989, p.69).
O tema e seu desenvolvimento da epístola estão sintetizados de forma admirável logo na abertura (1.16-17). Aqui o apóstolo mostra como Deus salva o pecador. Nestes versos, os grandes temas da epístola são reunidos — o evangelho, o poder de Deus, salvação, todo mundo, o que crê, justiça de Deus, judeu e gentios. Baxter uma vez mais faz um resumo excelente desta questão:
Os oito primeiros capítulos são doutrinários, da primeira à última folha. Eles explanam as doutrinas básicas do evangelho. Os três capítulos seguintes (9-11) são nacionais, no sentido de responderem a perguntas quanto à ligação entre o evangelho e Israel. Os capítulos restantes (12-16) são práticos, aplicando as doutrinas do evangelho à conduta individual. Esses são, portanto, os três principais movimentos de Romanos. No primeiro temos exposição; no segundo, explanação; no terceiro, aplicação. A primeira parte é universal; a segunda, israelita; a terceira individual. A primeira parte trata com o problema do pecado; a segunda com o problema judeu; a terceira com o problema da vida (1989, p.71).

Termos Importantes

As formas diversas do termo “justo” e “justiça” são abundantemente espalhadas ao longo de Romanos. O substantivo grego dikaiosune  “retidão,” ocorre 34 vezes, o substantivo dikaios “uma ação íntegra, absolvição, ordenança,” cinco vezes, o substantivo dikaiokrisia “julgamento íntegro” uma vez, o adjetivo dikaios “justo,” acontece sete vezes, o substantivo dikaiosis “justificação, absolvição,” duas vezes, e o verbo dikaioo “declarar ou pronunciar como justo,” ocorre 15 vezes para um total geral de 64 ocorrências.

Versos Centrais:

Ø  1.16-17. Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito. Mas o justo viverá da fé.
Ø  3.21-26. Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos profetas; justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos e sobre todos os que creem; porque não há distinção, pois todos pecaram e carecem da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, a quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente cometidos;  tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo presente, para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus.
Ø    6.1-4 Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante? De modo nenhum! Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos? Ou, porventura, ignorais que todos nós que fomos batizados em Cristo Jesus fomos batizados na sua morte? Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida.
Capítulos Centrais.
Selecionar Capítulos Centrais em Romanos é realmente difícil por se constituir de um grande tratado doutrinário e sua aplicação para a vida, ou seja, todos os capítulos são importantes. Mas certamente uma seção da carta distingue-se.
Ø  Os capítulos 35 distinguem-se pelo seu ensino da justificação por graça através da fé em Cristo independentemente das obras da lei. Em nenhum lugar é o evangelho da graça exposto mais claramente que nestes capítulos extraordinários. Aqui nós aprendemos como ser livre da condenação do pecado através da fé em Cristo Jesus, o dom de Deus.

Cristo como Vistos em Romanos.

Paulo apresenta Jesus Cristo como o Segundo Adão cuja justiça e morte redentiva concede justificação para todo aquele que deposita sua fé nele. Ele oferece Sua justiça como um dom para os pecadores, tendo suportado a condenação e ira de Deus por causa do pecado deles. Sua morte e ressurreição são a base para a redenção, justificação, reconciliação, salvação, e glorificação do crente.

Esboço.

Independente da introdução (1.1-17), onde Paulo declara também seu tema, e da conclusão, onde ele também insere mensagens pessoais e bênção (15.14–16.27), Romanos pode ser facilmente divida em três divisões, conforme indica Baxter (1989, p.71).
Ø  Os primeiros oito capítulos são doutrinários e esboçam as doutrinas básicas do evangelho da salvação (justificação e santificação) de Deus através da fé.
Ø  Os próximos três capítulos (9-11) são nacionais e descrevem os procedimentos de Deus com judeus e gentios e a relação de cada um com o evangelho.
Ø  Os capítulos restantes (12-16) são práticos ou aplicativos onde o apostolo demonstram as implicações do evangelho na vida diária do crente.
I. Introdução. (1.1-17)
II. Condenação. A Necessidade de Justificação por causa do Pecado em todos (1.18–3.20)
A. A Condenação do Homem Imoral (os Gentios) (1.18-32)
B. A Condenação do Homem Moral (2.1-16)
C. A Condenação do Homem Religioso (os judeus) (2.17–3.8)
D. A Condenação de Todos os Homens (3.9-20)
III. Justificação. A Imputação da Justiça de Deus através de Cristo (3.21–5.21)
A. A Descrição Justiça (3.21-31)
B. A Ilustração da Justiça (4.1-25)
C. As Bênçãos da Justiça (5.1-11)
D. O Contraste da Justiça e Condenação (5.12-21)
IV. Santificação. A justiça de Deu na prática (6.1–8.39)
A. Santificação quanto ao Pecado (6.1-23)
B. Santificação quanto a Lei (7.1-25)
C. Santificação efetuado pelo Espírito Santo (8.1-39)
V. Vindicação de judeus e gentios, no âmbito da Justiça de Deus (9.1–11.36)
A. Passado de Israel. Eleição de Deus (9.1-29)
B. Presente de Israel. Rejeição de Deus (9.30–10.21)
C. Futuro de Israel. Restauração por Deus (11.1-36)
VI. Aplicativo. a Prática da Justiça em Serviço (12.1–15.13)
A. Em relação a Deus (12.1-2)
B. Em relação a si Próprio (12.3)
C. Em relação à Igreja (12.4-8)
D. Em relação à Sociedade (12.9-21)
E. Em relação ao Governo (13.1-14)
F. Em relação a Outros cristãos (14.1–15.13)
VII. Mensagens e Bênção pessoais (15.14–16.27)
A. Planos de Paulo (15.14-33)
B. Saudações pessoais de Paulo (16.1-16)
C. Conclusão e Bênção de Paulo (16.17-27)


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Referências Bibliográficas
BARCLAY, William. Romanos - El Nuevo Testamento comentado. Buenos Aires (Argentina), Asociación Editorial la Aurora, 1974.
BAXTER, J Sidlow. Examinai as Escrituras. v.6. São Paulo: Ed. Vida Nova, 1989.
BROWN, Raymond. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Paulinas, 2004 (Coleção Bíblia e história Série Maior).
BRUCE, F. F. Romanos – introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova e Mundo Cristão, 1991.
CALVINO, João. Exposição de Romanos. São Paulo: Edições Paracletos, 1997.
CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. São Paulo: Hagnos, 8ª ed., 2006.
CARSON, D. A., MOO, Douglas J e MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento. Tradução Márcio Loureiro Redondo. São Paulo: Vida Nova, 1997.
CRANFIELD, C.E.B. Carta aos Romanos – Grande Comentário Bíblico, Edições Paulinas, São Paulo, 1992.
ELWELL, Walter A. e YARBROUGH, Robert W. Tradução Lúcia Kerr Jóia. Descobrindo o Novo Testamento – uma perspectiva histórica e teológica. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2002.
ERDMAN, Charles R. Comentários de Romanos. Tradução Waldyr Carvalho Luz. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, s/d. (Fhiladelphia: The Westminster Press, 1925).
GAEBELEIN, Frank E. (Editor) The Expositor's Bible Commentary, New Testament – Romans.  Zondervan, Grand Rapids, 1976-1992, electronic media.
GREATHOUSE, William M., METZ, Donald S. e CARVER, Frank G. Tradução Degmar Ribas Júnior. Romanos a 1 e 2 Coríntios. Rio de Janeiro: CPAD, 2006. [Comentário Bíblico Beacon, v. 8].
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