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O Período Clássico do Profetismo Bíblico: Século VIII
Historicamente o período, inaugurado
com Oseias e Amós, é frequentemente chamado de “período clássico” da
profecia veterotestamentária e eles também iniciaram a prática de “registrar”
suas mensagens proféticas. Entretanto, tal designação é muito mais para
efeito didático do que um fato exato, visto que, não há uma radical ruptura
entre os profetas antes do início do "período clássico” e
aqueles que surgiram depois, como a classificação pode deixar
transparecer.
Conforme coloca de forma clara Bright (1980, p. 353), ainda que a
originalidade ou inovação de registrarem suas mensagens tenha enorme valor,
pois puderam serem preservadas até hoje, eles não romperam com tradição profética
em que estavam inseridos. Tão somente incorporaram e se adaptaram a uma nova
realidade, exatamente como fazemos hoje ao nos ajustarmos à comunicação nestes
tempos cibernéticos, que muitas vezes exige uma nova linguagem e formatos na
transmissão da mensagem a ser comunicada. Por muitos anos eles transmitiam suas
mensagens oralmente, e que foram preservadas e divulgadas por seus ouvintes,
também de forma oral, mas paulatinamente os registros destas mensagens foram
prevalecendo, dando origem aos livros proféticos como os conhecemos.
Aqui torna-se oportuno um esclarecimento
didático. Os profetas que não deixaram registros de suas mensagens são denominados
de “profetas orais” ou “sem escritos”, porque não temos no Cânon
Hebraico nenhum livro produzido por eles individualmente, tais como uma “profecia segundo Elias ou Eliseu”. Desta
forma, aqueles cujas mensagens foram registradas são chamados de “literários” ou “escritores” porque os livros (mensagem) trazem seus nomes ou estão
diretamente ligados a eles.
Todavia, esta classificação traz suas
limitações, como bem demonstra LaSor:
Por um lado, um livro (ou dois) leva o
nome de Samuel. (Não vem ao caso se ele escreveu ou não.) Por outro lado, não
se deve pressupor que os profetas ‘escritores’ puseram-se a escrever livros de
profecia. Os indícios no livro que leva o nome de Jeremias indicam que ele era
principalmente um profeta ‘oral’ e que o registro escrito de sua profecia foi
em grande parte trabalho de Baruque (Jr.36:4,32). Fica claro pelo conteúdo
deles que a maior parte dos livros proféticos foi primeiro mensagem oral,
escrita mais tarde, talvez pelo próprio profeta, talvez por seus discípulos”. (1995,
p. 243-244).
É bom destacar também, que Jesus
Cristo, o maior de todos os profetas, não escreveu suas profecias; elas foram
registradas por outros e preservadas nos evangelhos.
As datas indicadas para cada livro
procuram refletir o ministério ativo dos profetas dentro de uma proximidade e
harmonia dos seus respectivos contextos históricos. Entretanto, muitas vezes os
escritores e/ou redatores não fornecem subsídios suficientes para se concluir
com maior grau de exatidão as datas, fazendo com que os estudiosos ofereçam
opções até certo ponto contraditórias.
O quadro cronológico abaixo é um
exercício deste esforço que se tem feito ao longo dos séculos para localizar os
profetas e suas mensagens no tempo/espaço da história de Israel e
posteriormente Judá. É uma proposta conservadora, optando sempre pelas datas
mais consensuais e menos extravagantes de muitos eruditos e/ou escolas mais
liberais. Mas mesmo entre os conservadores ainda há muitas controvérsias e
alguns profetas muitas vezes são alocados para datas muito distintas entre
eles. Os profetas com * são os denominados “profetas orais”.
Quadro Cronológico dos Reis e Profetas
Reino Unido
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Data
(a.C.)
1075-931
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Rei
|
Profeta
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Saul e Davi
|
Samuel*
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Saul e Davi
|
Gade* (2
Sm.22:5)
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Davi
|
Natã* (2 Sm.12:1)
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Salomão
|
Ido*
(vidente – 2 Cr.9:29)
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Reino DIVIDIdo
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Em 931,
ano da morte de Salomão, a nação dividiu-se em dois reinos, Judá e Israel.
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Judá (Reino do Sul)
|
Israel (Reino do Norte)
|
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Data
(a.C.)
|
Rei
|
Profeta
|
Data
(a.C.)
|
Rei
|
Profeta
|
||||||
931
|
Roboão
|
931
|
Jeroboão I
|
||||||||
913
|
Abias
|
909
|
Nadabe
|
||||||||
911
|
Asa
|
886
|
Baasa
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||||||||
885
|
Elá
|
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885
|
Zinri
|
||||||||||
885
|
Onri
|
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873
|
Josafá
|
874
|
Acabe
|
Elias* (870-845)
|
|||||||
853
|
Acazias
|
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853/848
|
Jeorão (Jorão)
|
Obadias
|
852
|
Jorão (Jeorão)
|
Eliseu* (845-798)
|
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841
|
Acazias
|
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Em 841,
Jeú matou os reis de ambos os reinos, apoderou-se do trono de Israel e
destruiu o generalizado culto a Baal no Reino do Norte.
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841
|
Rainha Atalia
|
841
|
Jeú
|
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835
|
Joás
|
Joel (830-825)
|
814
|
Jeocaz
|
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798
|
Jeoás
|
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796
|
Amazias
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793
|
Jeroboão II
|
Jonas (785-760)
|
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792
|
Azarias (Uzias)
|
Amós (760)
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753
|
Zacarias
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Oséias (755-725)
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752
|
Salum
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752
|
Menaém
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750
|
Jotão
|
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743
|
Acaz
|
Isaías (740-680)
|
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Miquéias (730-720)
|
742
|
Pecaías
|
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752*
|
Peca
|
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732
|
Oséias
|
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728
|
Ezequias
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Em 722, os assírios destruíram Samaria e
exilaram Israel para a Assíria. Judá foi poupada em virtude da reforma de
Ezequias e do expurgo da idolatria.
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Ezequias
|
710
|
Naum 710 (aproximadamente)
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697
|
Manassés
|
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642
|
Amom
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640
|
Josias
|
Jeremias (627-585)
|
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609
|
Jeoacaz
|
Sofonias (625)
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|||||||||
609
|
Jeoaquim
|
||||||||||
597
|
Joaquim
|
Habacuque (607)
|
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597
|
Zedequias
|
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Em 586, os babilônicos
destruíram Jerusalém e exilaram os judeus para a Babilônia.
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Daniel (603-536)
Ezequiel (592-570)
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Em 538, a Pérsia libertou e devolveu os exilados para eles
construírem o Templo em Jerusalém.
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536
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Zorobabel (Governador)
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Ageu (520)
Zacarias (520-480)
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Em 444, a Pérsia mandou Neemias reconstruir
o muro de Jerusalém e tornar-se governador.
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444
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Neemias
(Administrador)
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Malaquias (430)
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Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
[*] Estes são
denominados de “profetas orais” ou “sem escritos”, porque não
temos no Cânon Hebraico nenhum livro produzido por eles individualmente, tais
como uma “profecia segundo Elias ou Eliseu”. Os demais profetas
mencionados são chamados de “literários” ou “escritores” porque
os livros trazem seus nomes ou estão diretamente ligados a eles. Mas esta
classificação demonstra ser limitada, como bem demonstra LaSor: “Por um lado,
um livro (ou dois) leva o nome de Samuel. (Não vem ao caso se ele escreveu ou
não.) Por outro lado, não se deve pressupor que os profetas ‘escritores’
puseram-se a escrever livros de profecia. Os indícios no livro que leva o nome
de Jeremias indicam que ele era principalmente um profeta ‘oral’ e que o
registro escrito de sua profecia foi em grande parte trabalho de Baruque
(Jr.36:4,32). Fica claro pelo conteúdo deles que a maior parte dos livros
proféticos foi primeiro mensagem oral, escrita mais tarde, talvez pelo próprio
profeta, talvez por seus discípulos”. LASOR, William S. Op. cit., p.
243-244 [É bom destacar também, que Jesus Cristo, o maior de todos os
profetas, não escreveu suas profecias; elas foram registradas por outros e
preservadas nos evangelhos.]
As datas procuram refletir o
ministério ativo dos profetas dentro de uma proximidade e harmonia do contexto
histórico. Mas, muitas os escritores não fornecem subsídios suficientes para se
concluir com maior grau de exatidão as datas, fazendo com que os estudiosos
ofereçam opções até certo ponto contraditórias.
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Referências
Bibliográficas
BRIGTH, J. História de Israel. São Paulo: Paulus, 1980.
FEINBERG, Charles L. Os profetas menores. Miami,
Florida: Ed. Vida, 1988.
FOHRER, Georg. História da religião de Israel. [Tradução:
Josué Xavier; Revisão: João Bosco de Lavor Medeiros]. São Paulo: Edições
Paulinas, 1982.
HILL, Andrew E. e WALTON, J. H. Panorama do Antigo Testamento. [Tradução:
Lailah de Noronha]. São Paulo, Editora Vida, 2006.
LASOR, William S., HUBBARD, David A. e BUSH, Frederic W. Introdução
ao Antigo Testamento. São Paulo: Edições Vida Nova, 1999.
PAPE, Dionísio. Justiça e esperança para hoje – a mensagem dos
profetas menores. São Paulo: ABU, 1983.
POTT, Jerónimo. El mensaje de los profetas menores. USA:
Iglesia Cristiana Reformada [Subcomissão Literatura Cristiana], 1977.
ROWLEY, A fé em Israel – aspectos do pensamento do Antigo
Testamento.[Tradução: Alexandre Macintyre]. São Paulo: Editora Teológica,
2003.
SCHREINER, Josef. Palavra e mensagem do Antigo Testamento. [Tradução:
Benôni Lemos], 2ª ed. São Paulo: Editora Teológica, 2004.
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