Estamos entrando agora naquele grupo de doze livros
chamados pelos judeus de profetas anteriores e que, seguindo a
classificação grega, denominamos de históricos. Iniciando com Josué
e indo até Ester, veremos que estes doze
livros retratam a história da nação de Israel. Eles cobrem a vida da nação
desde possessão da terra prometida até as duas deportações e perda da terra por
causa da incredulidade e desobediência deles.
Por que os judeus classificam este grupo de livros de “profetas anteriores”, enquanto nós,
seguindo a Septuaginta os
classificamos de “históricos”? Paulo Hoff procura responder esta questão em
seu livro:
“Há duas razões possíveis.
Em primeiro lugar, a tradição hebraica atribui a ‘profetas’ a composição
destes livros. Em segundo lugar, o
objetivo principal dos escritores não é tanto ensinar a história de Israel tal
como ela foi, e sim ‘a forma pela qual a mensagem de Deus entrou na vida da
nação’, ou seja, os historiadores
cristãos escrevem sempre guiados por um fim doutrinário, e inspirados na lei e
nos profetas. Apresentam a história de
Israel desde o ponto de vista profético. ... Assim como os profetas, os escritores
dos livros históricos se interessavam mais em interpretar a história que em
registrá-la. Sua motivação era dar
ensinamento e edificação aos seus leitores.
Os historiadores sagrados não tentavam narrar todos os acontecimentos de
Israel e das nações que estavam ao seu redor.
Passaram por alto certos períodos ou os trataram de forma breve, por
estes não terem relacionamento direto com seu tema. Escolheram, selecionaram e orientaram todos
os acontecimentos históricos com um fim religioso, dando-lhes uma significação
profunda e sublime: a atuação de Deus na história. ” (1996, p.13).
É importante também destacarmos aqui as duas formas de se
escrever história, conforme observou Philip Hyatt:
“... os escritos históricos são de duas espécies: objetivos
e subjetivos. Os escritos objetivos
relatam-nos os acontecimentos como se desenvolveram, evitando, tanto quanto
possível, o preconceito do investigador.
A história subjetiva procura descobrir e interpretar os fatos e o seu
valor em relação como o homem. Consiste
de ‘eventos ligados entre si por uma linha de interpretação’. A história objetiva procura ser impessoal,
enquanto a subjetiva é pessoal no seu escopo.
O alvo principal da história subjetiva é levantar o interesse, de modo a
inspirar ação; o principal alvo da história objetiva é suprir informação. O historiador subjetivo tem os olhos postos
nos leitores; e o objetivo, nos fatos que procurar relatar.” (apud, FRANCISCO, 1969, p. 68). A história veterotestamentária é subjetiva.
Cobrindo aproximadamente 800 anos da história de Israel,
os doze livros que compõe esta parte da bíblia registram a conquista e possessão
de Canaã, as lideranças dos juízes, o estabelecimento de reis, a divisão de Israel nos Reinos do Norte e Sul, a queda do
Reino do Norte para Assíria, a queda e o exílio do Reino do Sul para a
Babilônia, e o retorno dos exilados para Jerusalém debaixo da liderança de dois
homens Neemias e Esdras.
As palavras finais de Moisés em Deuteronômio 28-30
constituem uma introdução excelente aos livros históricos. Ou, digamos, os livros demonstram exatamente o que Moisés disse naqueles capítulos
sobre o que seria feito pelo Senhor no caso de serem ou não obediente. As bênçãos
prometidas como resultado da obediência se evidenciam na conquista vitoriosa de
Josué e nos extraordinários reinados de Davi e Salomão. Por sua vez, as maldições surgem na apostasia dos juízes, na posterior idolatria e
no cativeiro dos dois reinos. As
promessas de restauração final, relacionada com os “últimos dias” (Deuteronômio 4:30), tiveram cumprimento parcial na
volta de Zorobabel, Esdras e Neemias.
Conforme o quadro abaixo, podemos ter uma visão
panorâmica destes doze livros históricos e seus assuntos e temas
centrais:
LIVROS HISTÓRICOS
|
||
Josué
Juizes e Rute
|
a possessão da terra pela nação e a
opressão da nação
|
A Teocracia: Estes livros
cobrem o período quando Israel era governado por Deus (1405-1043 A.C.).
|
1 Samuel
2 Samuel
1 Reis 1-10
1 Reis 11-22
II Reis 1-17
II Reis 18-25
1 Crônicas
2 Crônicas
|
a estabilização da nação
a expansão da nação
a glorificação da nação
a divisão da nação
a deterioração do Reino do
Norte
a deportação do Reino
Meridional
a preparação do Templo
a destruição do Templo
|
A Monarquia: Estes livros
focalizam a história da monarquia de Israel e seu estabelecimento bem como a
sua destruição em 586 A.C.
|
Esdras
Neemias
Ester
|
A restauração do Templo
A reconstrução da cidade
a preservação do povo israelita (qdo. no
exílio)
|
A Restauração: Estes livros
descrevem o retorno dos remanescentes à terra depois de 70 anos de cativeiro
(605-536 A.C.).
|
Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
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Referências
Bibliográficas
FRANCISCO, Clyde T. Introdução
ao Velho Testamento. Rio de Janeiro: JUERP, 1969.
HOFF, Paul. Os livros históricos. São
Paulo: Vida, 1996.
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