terça-feira, 26 de julho de 2016

O HOMEM QUE QUERIA SABER MAIS (Reflexão)


Já era noite, pois os últimos raios de claridade haviam desaparecido. Desde alguns dias vinha lutando internamente com a possibilidade de procura-lo, mas sabia que as implicações disto seriam grandes. Quando a notícia se espalhasse teria que dar muitas explicações

e certamente haveria de conviver com muitos olhares de desconfiança, afinal era muito conhecido e ocupava uma posição proeminente na principal Sinagoga de Jerusalém.
Pensara em conversar com a esposa ou com algum de seus amigos mais chegados, para saber a opinião deles e assim tomar uma decisão mais abalizada, todavia sabia que a resistência seria muito grande e por fim resolvera que a decisão seria apenas sua.
Ficou sabendo que Ele havia subido e que passaria a Páscoa com os seus amigos em Jerusalém. Certamente esta seria a melhor oportunidade para encontra-lo. Mas como no ano anterior, os dias se passaram tão rapidamente e agora sabe que logo pela manhã Ele partiria novamente, pois seu ministério era itinerante, portanto, chegara a hora de tomar uma decisão: iria ou ficaria – então se levantou e foi.
O caminho de sua casa até onde Ele estava hospedado não era longo, apenas algumas ruas, mas naquele momento cada passo seu parecia demorar um quilometro. Sua mente estava agitada como nunca antes. Havia tantas questões a serem debatidas, mas seleciona-las e organiza-las por ordem de importância tinha lhe tomado muito tempo nestes últimos dias, e cada vez que repensava a ordem das questões se alteravam. Por fim resolvera que o primeiro assunto que abordaria seria a respeito do Reino de Deus.
Desde sua infância ele havia recebido toda a orientação possível sobre a religião judaica. Aprendera, como todos os meninos, a ler e escrever tendo como livro texto a Torá. Havia memorizado os textos principais e todas as orações diárias o qual recitava ao menos três vezes ao dia como havia sido orientado a fazer, o que fazia não apenas como obrigação religiosa, mas com satisfação da alma.
Enquanto caminhava lembrou-se com alegria de seu “Bar-Mitzvá”[1] que marcava sua transição para a vida adulta. Os anos se passaram rapidamente e agora já na casa dos cinquenta anos, enquanto caminha pela noite, seu coração dispara novamente, como naquele dia da sua primeira leitura da Torá na Sinagoga.
Finalmente chegara à porta da casa onde o Ele estava. Em fração de segundos repensa a razão que o levava a procura-lo. Por todos anos de sua vida sempre procurou ser uma pessoa melhor. Sempre levara a sério as prescrições da religião de seus pais e que também havia tomado para si. Observava com zelo ardoroso o calendário religioso e nunca, até mesmo nos momentos mais difíceis, como aquele em que debilitado por uma enfermidade, deixou de oferecer seus sacrifícios conforme a Lei de Moisés ordenava.
Por causa de seu zelo e conhecimento adquirido da Torá foi convidado, ainda muito jovem, a fazer parte da direção da Sinagoga. Com o passar dos anos, naturalmente, tornou-se um de seus principais chefes. Em muitas ocasiões leu e expôs as Escrituras de tal maneira que seus ouvintes ficavam absorvendo atentos em completo silêncio. Por causa disso muitos convites eram feitos para que visitasse outras Sinagogas de Jerusalém e arredores.
Sempre procurou ser um bom marido, assim também um bom pai. Sabia que os olhares de seus vizinhos, amigos e de todos os que faziam negócios com ele estavam sempre atentos, por isso sempre honrou sua palavra e era conhecido pela sua honestidade nos negócios.
Mas apesar de tudo isso, de toda sua dedicação religiosa e de uma vida honrada, em muitas ocasiões seu coração se perturbava e sua alma se inquietava, pois não podia ter a plena certeza, a total garantia de que entraria no Reino de Deus. E esta era a razão que o levara a sair à noite e se dirigir até aquela casa onde Jesus estava.
Bateu na porta e rapidamente alguém abriu e o mandou entrar. Seus olhos logo localizaram Jesus, que calmamente falava com as pessoas ali presentes. Sua voz era suave, porém, transmitiam uma autoridade tão grande que impactava a todos os que o ouviam. Encerrando sua argumentação levantou os olhos e convidou Nicodemos a se aproximar. As pessoas abriram espaço para que ele pudesse ficar mais próximo do Mestre. Assentou-se e fez a melhor saudação possível a uma pessoa: “Rabi, sabemos que és Mestre vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele”.
Nicodemos havia se preparado para muitas coisas, mas não para as palavras de Jesus. Em vez de retribuir a gentileza de suas palavras, Jesus lança lhe uma afirmação categórica: “Em verdade em verdade te digo, se alguém não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus”.
Por alguns segundos ele fica ali, pensando nas palavras de Jesus, o qual não fazia sentido algum. Então formula seu questionamento: “Como pode alguém nascer novamente, sendo já velho, pode por ventura entrar novamente no ventre de sua mãe e nascer novamente..
Diante de seu questionamento, Jesus responde: “Se você não nascer da água e do Espírito, não poderá entrar no Reino de Deus”. Nicodemos ficou ali, pensando, mas não conseguia compreender o que Jesus estava dizendo. Então Jesus, como que percebendo a angustia de seu coração continua a falar; fala do amor imensurável de Deus que enviou Seu unigênito Filho para que morresse em lugar dos pecadores; fala da necessidade de se crer no Filho, que veio não para condenar, mas para salvar os que estavam perdidos. Jesus concluiu suas palavras afirmando que os que praticam a verdade não precisam temer a luz, pois suas obras são feitas em Deus.
Nicodemos ouviu tudo com uma atenção infantil, não querendo perder uma única palavra de Jesus. Agradeceu a atenção do Mestre, levantou-se e saiu.
Enquanto retornava para sua casa, ele percebeu que aquelas palavras de Jesus começavam a fazer sentindo e na mesma medida o seu coração começava a ser tomado por uma alegria incontida. Uma paz começou a invadir sua alma, de maneira que toda ansiedade, toda a angustia, todas as apreensões, foram apaziguadas – algo completamente novo estava acontecendo – seria isto que Jesus chamou de Novo Nascimento.
Quando Nicodemos entrou em sua casa, ele tinha plena certeza, não era mais o mesmo Nicodemos que havia saído para encontrar-se com Jesus. Ele agora era uma nova pessoa. O Espírito Santo produziu em seu interior um renascimento!!
Então Nicodemos abraçou sua esposa, mandou chamar seus filhos e todos que faziam parte de sua casa...e começou a contar-lhes tudo quanto havia acontecido com ele....

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/

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[1] Ao completar 13 anos, o jovem atinge a maioridade religiosa judaica. Para marcar esta passagem, é celebrado o Bar-Mitzvá, uma cerimônia que ressalta a importância de cada um dos judeus na corrente ancestral do judaísmo. É nessa data que o jovem, pela primeira vez, coloca os Tefilin e é chamado para ler na Torá.

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