Uma grande parte do Novo Testamento é constituído pelas
correspondências escrita por líderes cristãos e dirigida às comunidades e/ou
lideranças espalhadas por todo o Império Romano. Como devem ser denominadas
estas correspondências: cartas ou epístolas? Qual a diferença entre estes dois
tipos de correspondências?
Para alguns estudiosos, entre eles Adolf Deissmann (Light
from the Anciente East),[1] a
"carta" tem um cunho mais pessoal sendo dirigida a uma pessoa e
abordando uma situação especifica, não tendo como objetivo primário o ser lido
pela comunidade. A "epístola", por sua vez, é um dispositivo
literário que tinha como propósito um público maior e mais diversificado.
Pode se dizer que a "epístola" era uma
"carta" que tinha a finalidade principal de ser amplamente divulgada.
O escritor esta visando alcançar além de um público primário (comunidade local
ou individuo) alcançar também um número muito maior de leitores.
Partindo deste pressuposto, muitos estudiosos procuram
demonstrar que as "epístolas" contidas no NT, de modo mais específico
as escritas pelo apóstolo Paulo e seus contemporâneos neotestamentários, seriam
na verdade "cartas" e não "epístolas", ou seja, eles não
tinham intenção de que suas correspondências pudessem alcançar outros leitores
além daqueles que originalmente endereçaram.
Todavia, como tão bem sabemos hoje, ainda que Paulo e seus
colegas não tivessem essa intenção mais ampla, a autoridade apostólica deles,
acabou por revestir estas correspondências de um valor muito maior e muito mais
abrangente para todos os cristãos e igrejas em todas as épocas e lugares.
Procurando uma alternativa conciliadora podemos dizer que
as correspondências contidas no NT são "cartas" quanto ao tom, ao
espírito e ao propósito primário, mas simultaneamente, tornaram-se
"epístolas" por causa da importância e abrangência universal de sua
mensagem.
Ainda que Paulo tenha escrito duas cartas ao jovem pastor
Timóteo, visando primariamente animá-lo e orienta-lo quanto às suas
responsabilidades pastorais naqueles primeiros dias do cristianismo, tornou-se
inevitável que está "carta" tão pessoal, na medida em que foi sendo
lida também por outros cristãos, acabasse por tornar-se um instrumento precioso
para todos pastores em todos os tempos, passando naturalmente à categoria de
"epístola".
Utilização livre desde que
citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da
Religião.
Universidade Presbiteriana
Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br//
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[1] Deissmann
utiliza-se das palavras de Cícero: "Vocês veem, eu tenho uma maneira de
escrever o que acho que será lido por aqueles a quem envio minha carta, e outra
maneira de escrever o que acho que será lido por muitos" (cit. R.P.
Martin, New Testament Foudations, II, p. 242).
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