Paulo
foi conhecido por muitos anos como Saulo de Tarso. A razão e utilização destes
dois nomes tem suas peculiaridades:
“Paulos é a forma grega do latim Paul(l)us, atestada para o
tempo de Paulo como praenomen, por exemplo Paullus Fabius Maximus e Paullus
Aemilius Lepidus, e também como cognomen, por exemplo L. Sergius Paullus (At
13.7; ‘Sérgio Paulo’). O primeiro é tão raro quanto o segundo é comum e, no
mundo romano, o cognomen era o nome usado com mais freqüência, porque era o
mais específico”. E ele continua citando a conclusão de Sherwin-White: “A
explicação mais provável para o cognomen Paulus é que foi escolhido por ser o
nome latino mais parecido com o nome hebraico de Saulo” (MURPHY-O’CONNOR, 2000,
p. 56).
Ele
nasceu com ascendência judia na cidade de Tarso na Cilicia.[1] Há
inferências de que os antepassados de Paulo viveram na Galileia e posteriormente
migraram para Tarso, fazendo parte dos chamados judeus da diáspora. Desconhecemos
a razão especifica deste deslocamento, uma vez que havia as mais diversas
razões que faziam com que muitos judeus abandonassem a Judéia, entre os quais, o
próprio crescimento do comércio no Império.
Ele
era um judeu típico e por seu próprio testemunho sabemos que ele era um Fariseu
e filho de Fariseu (Atos 23:6), era um hebreu de hebreus[2] (é impossível saber se ele tinha em mente a
língua hebraica ou aramaica), era da tribo de Benjamin (Fp.3:4-5 –
aparentemente Lucas não tinha consciência das ligações benjaminitas de Paulo –
Atos 13:21), e foi evidentemente iniciado no comércio de confecção de tendas
e/ou barracas em sua mocidade e segundo Atos, ainda jovem foi para Jerusalém [4], pois ainda que a cidade de Tarso fosse uma ótima
cidade, sua cultura e costumes eram estranhos ao judaísmo. Como bons pais eles parecem
ter se preocupado com a formação religiosa do filho. Assim, Saulo foi morar em
Jerusalém (At.26.4), onde estavam sua irmã e seu sobrinho (At.23.16). Tal
mudança deve ter ocorrido por volta dos 13 anos de idade, quando todo judeu
deveria se apresentar no templo judaico.
Ainda
de acordo com seu testemunho, estudou aos cuidados de Gamaliel [5], um dos
maiores mestres da notável Escola de Hillel (Atos 22:3). Em seus estudos, ele
avançou na religião dos judeus além de muitos de seus companheiros com
extremado zelo pelas suas tradições ancestrais (Gal. 1:14). Gamaliel tem sua
imagem vinculada com frequência ao Templo e como um dos mestres mais
proeminentes, exatamente como retratado por Lucas: “Mas um homem se levantou no
Sinédrio; era um fariseu chamado Gamaliel, doutor da Lei estimado por todo o
povo’ (At 5,34)”.
Segundo a Mishná, ‘Quando Rabban Gamaliel, o Velho, morreu,
a glória da Torá cessou, e a pureza e a abstinência morreram’. (m. Sotah 9,15).
... Os detalhes do ensinamento de Gamaliel não são relevantes aqui, com exceção
de sua resposta à pergunta: ‘Quantas Torás foram dadas a Israel? ‘Rabban
Gamaliel disse: ‘Duas, uma por escrito e uma oralmente’. Os fariseus eram obrigados
a obedecer não só a lei escrita, mas também sua interpretação e expansão
tradicionais. Esse é o único ponto em que as tradições rabínicas e Josefo
concordam. Este último diz: ‘Os fariseus impuseram ao povo muitas leis da
tradição dos pais, não escritas na lei de Moisés’ (MURPHY-O’CONNOR, 2000, pp.
70-71).
O
zelo religioso de Saulo era tão extremado que não perdeu a oportunidade de
perseguir implacavelmente a igreja cristã. Ainda que tenha tomado conhecimento
a respeito de Jesus Cristo, ele, como fariseu, não via em Cristo a realização
de suas esperanças, uma vez que os fariseus aguardavam a emancipação política
de Israel. Desta forma, o cristianismo, que anunciava um reino espiritual,
apresentava-se como abominação aos olhos de Paulo, o qual se tornou um
perseguidor implacável contra os cristãos (Gál. 1.13; I Cor. 15.9). Nos seus
relatos históricos, Lucas traz diversos detalhes desta perseguição da Igreja
por Saulo. Menciona-o primeiro como um jovem (At. 7:58) que assistiu com
satisfação à horrível execução de Estevão (At. 8:1; cf. 22:20). Sua aparição
seguinte é como o grande perseguidor, penetrando nas casas dos cristãos e
lançando os ocupantes na prisão (At. 8:3). Sua autoridade confirma-se quando, a
seu pedido, o sumo sacerdote emite cartas que o autorizam a levar prisioneiros cristãos
de Damasco (At. 9:1-2; cf. 22:4-5). A natureza desta autoridade fica evidente
nas próprias palavras de Paulo (At.26:10). Como só o Sinédrio era competente em
casos de pena capital e só membro pleno podia votar, sem dúvida aqui Paulo é
apresentado como membro do Sinédrio. Mas foi justamente em uma destas missões
que Saulo foi convertido enquanto viajava na estrada para Damasco.
Paulo
era também um grego por cultura[3]
tendo evidentemente recebido uma educação grega (cf. Atos 17:28; Tito 1:12).
Ele demonstra um grande conhecimento da cultura grega e seu pensamento. Como um
estudante, ele estava familiarizado com muitas das declarações dos escritores
clássicos e contemporâneos.
Além
disto, Paulo era também um cidadão romano,[4]
sendo romano por direito de nascimento (Atos 22:28). Por causa disto, ele pode
apelar para César como um cidadão de Roma enquanto encarcerado em Filipos (Atos
16:37-39).
Com
todas estas referências, Paulo tornava-se excepcionalmente qualificado para ser
o escolhido para levar a mensagem do evangelho aos Gentios. Paulo podia dizer,
“Fiz-me tudo para com todos, com o fim
de, por todos os modos, salvar alguns” (I Cor. 9:22).
Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
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Referência Bibliográfica
BECKER, J. Apóstolo Paulo –
Vida, Obra e Teologia, ed. Academia Cristã Ltda, 2007.
BORNKAMM, Gunther. Bíblia: Novo Testamento – Introdução aos
seus escritos no quadro da história do cristianismo primitivo. São Paulo:
Paulus e Teológica, 3ª edição, 2003.
CARSON, D.A. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo:
Vida Nova, 2001.
FABRIS, Reinaldo. Para Ler Paulo. São Paulo: Loyola, 1996.
MURPHY-O’CONNOR,
Jerome. Paulo – Biografia Crítica.
São Paulo: Edições Loyola, 2000.
ROBERTSON, A.T. Épocas na Vida de Paulo, 3ª edição. Rio
de Janeiro: JUERP, 1987.
[1] “No século IV a.C., Xenofonte chamou
Tarso de ‘uma grande e próspera cidade’, descrição que continuou verdadeira bem
depois do tempo de Paulo, ... Seus mercadores sempre utilizaram com eficiência
o rio navegável e a posição da cidade ‘em uma das grandes rotas comerciais do
mundo antigo; a rota terrestre mais fácil e mais frequentada da Síria e do
Oriente para a Ásia Menor e o Egeu atravessava o monte Amano pelas portas
Sírias e o Tauro pelas portas Cilícias’. Tarso tivera uma longa história antes
de Antíoco IV Epífanes (175-164 a.C.) conferir-lhe a posição de cidade-estado
grega governada por magistrados eleitos e que emitia moedas próprias. Está bem
comprovada a continuidade da presença judaica até o século I d.C.”(
MURPHY-O’CONNOR, 2000, p. 49).
[2] “...
quando usa ‘hebreu’, Paulo pretende indicar uma relação positiva com a
Palestina pelo uso de uma língua semítica; não é simplesmente um sinônimo de
israelita, o que é confirmado pela percepção de Lightfoot de que as
prerrogativas de Paulo em Fl 3,5, estão organizadas em ordem ascendente. O
menino circunciso no oitavo dia ainda podia descender de prosélitos. Mas Paulo
é da raça de Israel. Alguns israelitas eram incapazes de provar sua genealogia.
Mas Paulo sabia que era da tribo de Benjamim. Todavia, a terra de Benjamim
incluía Jerusalém, onde a influência do helenismo manifestava-se principalmente
nos muitos judeus que falavam grego. Mas Paulo vinha de uma família que, apesar
de sua situação na diáspora, mantinha a língua antiga dos judeus”. MURPHY-O’CONNOR,
2000, p. 51).
[3] “Embora
firmemente arraigada no solo do Oriente, Tarso tinha um respeito helênico pela
educação e pelos meios de pagá-la. Estrabão, foi testemunha ocular: ‘Os
habitantes de Tarso dedicam-se tão avidamente não só à filosofia, mas também a
todo o conjunto da educação em geral, que já ultrapassaram Atenas, Alexandria e
qualquer outro lugar que possa ser citado onde haja escolas e palestras de
filósofos’. ... o que impressionou Estrabão a respeito de Tarso foi a seriedade
entusiástica com a qual os habitantes da cidade procuravam obter instrução, a
ponto de sair da terra natal em busca de mais conhecimentos. ... Portanto, a
cidade onde Paulo nasceu era bem governada e próspera. Sua orientação grega
tinha de lutar com um forte espírito oriental. Ficava na fronteira entre o
Oriente e o Ocidente e seus cidadãos estavam preparados para atuar em ambos” (
MURPHY-O ’CONNOR, 2000, p. 50).
[4] “Paulos
é a forma grega do latim Paul(l)us, atestada para o tempo de Paulo como
praenomen, por exemplo Paullus Fabius Maximus e Paullus Aemilius Lepidus, e
também como cognomen, por exemplo L. Sergius Paullus (At 13.7; ‘Sérgio Paulo’).
O primeiro é tão raro quanto o segundo é comum e, no mundo romano, o cognomen
era o nome usado com mais freqüência, porque era o mais específico”. E ele
continua citando a conclusão de Sherwin-White: “A explicação mais provável para
o cognomen Paulus é que foi escolhido por ser o nome latino mais parecido com o
nome hebraico de Saulo”(MURPHY-O’CONNOR, 2000, p. 56).
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