Os profetas bíblicos não anunciaram
suas mensagens ao vento. Todos os profetas estão inseridos no tempo/espaço da
história de seu povo, de maneira que as condições políticas-sociais-econômicas
e religiosas estão impregnadas nas mensagens por eles proclamadas tanto em
Israel (Reino do Norte) quanto em Judá (Reino do Sul). Assim, se faz necessário
resgatarmos o quanto for possível qual o contexto histórico em que cada profeta
proferiu sua mensagem, pois ele se dirige a um povo especifico em um momento
especifico. Inteirados desse momento a mensagem do profeta torna-se mais tangível
e seus princípios podem então serem aplicados nos dias atuais.
O livro de Oséias abre com uma
indicação político-hitórico “nos dias de Uzias, Jotão, Acaz, Ezequias, reis de
Judá, e nos dias de Jeroboão, filho de Joás, rei de Israel”. Deste modo,
podemos delimitar o período em que o profeta exerceu seu ministério.
Foram nos dias de Jeroboão II de
Israel e de Uzias de Judá, que ambos os reinos alcançaram seu apogeu
político-econômico. Desde Salomão os domínios territoriais haviam sido tão expandidos
como nesse período áureo. Os nortistas superaram a crise política que
transtornou os dias pós queda da casa de Acabe e a fundação da dinastia de Jeú.
Neste tempo a Síria de Hazael e Benadá empreenderam uma sangrenta guerra contra
os dois reinos de Judá e Israel, mas não conseguiram seus intentos e acabaram
perdendo seu território para o Reino de Israel.
Neste momento surge a figura
carismática de Jeroboão (II Reis 1.32ss; 14.26ss). Aproveitando suas vitórias
iniciais, Jeroboão empreende uma campanha agressiva assumindo o controle dos
territórios ao leste do Jordão, de Hamate, no vale do Orontes, estendendo-se
até o Mar Morto, perfazendo os limites das conquistas de Davi. Ousadamente
conquista a cidade de Damasco (II Reis 14.25-28).
Contribuiu muito para o sucesso dos
dois reinos o afastamento da região dos assírios, por um longo período de cem
anos, logo após a batalha de Carcar em 854 a.C., contra um grupo de pequenas
nações do oeste.
Ninguém aproveitou mais esse momento
do que Jeroboão. Com as novas conquistas territórios ele assume o controle das sempre
cobiçadas estradas comerciais entre a Assíria e o Egito, tornando a nação de
Israel extremamente prospera e poderosa.
Aparentemente tudo está muito bem em
Israel, todavia, na mesma proporção em que os israelitas prosperam economicamente,
se afastavam de Deus. O profeta Amós, contemporâneo de Oséias, nomeia
explicitamente o caos espiritual dos israelitas neste tempo: multiplica-se a
corrupção, a injustiça, a opressão, a imoralidade, a cobiça, o roubo, o luxo, a
vaidade, a violência, a falsidade, a infidelidade, a desonra e a idolatria
[qualquer semelhança com as condições atuais do Brasil não é mera coincidência].
Diante desse quadro de decadência religiosa/moral, paulatinamente inicia-se o
declínio político, ainda nos anos finais de Jeroboão, mas que rapidamente se
deteriora nos dias de Oséias, sucessor do oficio profético de Amós. O governo
violento de Zacarias inaugura um período anárquico-político, que levara o Reino
do Norte não apenas a uma derrota, mas à definitiva destruição pela invasão dos
exércitos da Assíria.
Quatro dos seis reis de Israel, após
a morte de Jeroboão, foram assassinados por seus sucessores. As intrigas
políticas entre os partidos que tentavam controlar o poder real envolviam e perturbavam
o país inteiro. Um partido desejava favorecer uma aliança política com o Egito,
o outro partido defendia uma aliança com a própria Assíria (9.6; 10.6).
Entretanto, tanto Amós antes, como Oséias depois, anteviam [interpretavam,
discerniam], uma característica profética, e denunciaram explicitamente a
insensatez e a tolice destas intrigas, que por fim acabaram por arrastar o
Reino de Israel à total ruina.
Esse final trágico dos israelitas
está totalmente vinculado à decadência religiosa e seu afastamento dos
princípios da Aliança com Yavé. Desde os dias anteriores de Acabe e Jezabel eles já sabiam dos perigos
de se fazer alianças com outras nações e consequentemente seus deuses. Mas nos
dias de Oséias a situação era ainda mais deplorável, pois suas lideranças
políticas, bem como o povo de forma geral, haviam perdido totalmente o
interesse pela religião Javista e pouco se interessavam pelas pregações dos
profetas que lhe eram enviados. O apelo dos profetas Amós e Oséias para que os
israelitas permanecessem neutros diante das intrigas internacionais dos dois
impérios Assírio e Egito, tinham duas vertentes:
Primeiro, aliando-se tanto a um quanto ao outro, implicava em
associação e consequente submissão aos deuses destes povos;
Em segundo plano, os profetas discerniam com muita clareza as
reais ambições destes impérios, domínio simples e puro de territórios estratégicos,
mediante suas insaciáveis de poder expansionista.
A proposta dos profetas era que
Israel permanecesse neutro neste tabuleiro belicoso das duas potências. Se eles
se arrependem-se e voltassem para os termos da Aliança com Deus, haveriam de
serem salvos da destruição eminente. Mas os ouvidos mocos dos líderes,
preocupados apenas com seus próprios interesses, bem como de uma população
iludida por uma falsa segurança econômica, ignoraram as mensagens proféticas e
preferiram, é sempre uma questão de escolha, confiar nas alianças políticas
(5.13; 7.11; 8.9). O profeta Oséias rouco de tanto proclamar sua mensagem lança
um ultimato final: se Efraim (Israel) persistisse nessa política demente, colocando-se
na dependência do auxílio estrangeiro, rejeitando confiar em Deus, eles seriam
devorados (7.9; 8.8). Tudo em vão, pois, os registros históricos deixam claro
que a nação persistiu em seu caminho autodestrutivo.
Fica muito evidente que a crise
israelita tem fundamento religioso. A rivalidade política entre os dois
partidos, pró Egito ou Assíria, alimentado pelas ambições e o egoísmo de seus
governantes, que não tinham pudor de colocarem seus interesses pessoais em
ambições políticas acima de qualquer outra coisa, somado à total indiferença
para com os valores e princípios estabelecidos na Aliança de Iavé, demarcam o
fim trágico e melancólico do Reino de Israel.
Utilização
livre desde que citando a fonte
Guedes,
Ivan Pereira
Mestre
em Ciências da Religião.
Universidade
Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro
Blog
Historiologia
Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
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Diversidades Contextuais
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Achei interessante a leitura, pois para mim foi bastante explicativa.
ResponderExcluirMuito atual a realidade é Oséias
ResponderExcluirTudo corrompido...governantes apoiados por sacerdotes e as forças de segurança se prostituindo com as deusas ...prosperidade conforto e prazeres fora do contexto da Aliança do Eterno e amoroso Senhor.
Muito bom o conteudo do texto e contexto da ocasião dos fatos do livro do profeta Oseias.
ResponderExcluirexcelente! obrigada por esse conteúdo
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