É necessário, ainda que seja uma tarefa complexa tentar
desenvolver este tema num espaço tão sucinto, procurar obter uma visão do
desenvolvimento do exercício profético no transcorrer da história do povo de
Israel.
Atividade Profética no Antigo Israel: Encontraremos a
presença dos dois tipos básicos de profetas: o nabhi’ e o ro’eh
e ambos bem afeitos a época e ao momento cultural do povo. O primeiro está mais ligado à uma vida agrícola, e o segundo, caracterizado pela figura do vidente, associa-se mais com a uma vida nômade. O certo é que Israel perde bem cedo essa figura do
vidente assim como os conceitos da vida nômade. Os nevi’im assumem então um
papel importante na vida do antigo Israel desenvolvendo assim seu ministério
profético debaixo dos limites da fé javista.
O movimento profético, como escola, tem um momento histórico
preciso para o seu início: Samuel[1]
É apontado o décimo século antes de Cristo como a época do início do movimento,
cuja característica era ser espontâneo e leigo, sem conexão com a instituição
sacerdotal. Ao contrário dos profetas das outras religiões, os profetas hebreus
eram anunciadores da moralização e espiritualidade requeridas por Deus, e
isso não tem paralelos nos outros profetas. Em lugar de feiticeiros e adivinhadores,
Deus levanta profetas que busquem o bem espiritual do povo, para que o mesmo
cumpra os propósitos de Deus.
O Profetismo e o Estabelecimento da
Monarquia: É certo que
no período dos juízes percebemos uma certa instabilidade na teocracia e no
período de Samuel encontramos um momento de transição
entre a teocracia e a monarquia. Pergunta-se qual é a relação do profetismo com a Monarquia? A
resposta poderia ser dada considerando-se vários ângulos, mas o que podemos
fazer aqui é tão somente levantarmos alguns aspectos. Samuel é testemunha ocular e agente influente nesta transição. Ele
representa a tradição anfictiônica e nos parece à luz dos argumentos de Brigth (1980,
p. 241-242) que
Samuel resistiu e muito a ideia da monarquia, pois
“manteve-se viva a
vontade de resistir e de perpetuar a tradição carismática, graças, sobretudo
aos profetas que surgiram nesse tempo (...) tais profetas, certamente, por meio
de sua fúria extática, procuraram incitar todos a um zelo santo para combater a
Guerra Santa contra o odioso invasor (Filisteus).”
A escolha do primeiro rei de Israel deu-se por dois
mecanismos: a aclamação popular e a designação profética (1Sm 10.1; 11.14). A
importância dos profetas não é vista somente na consagração dos reis, mas
também na manutenção do princípio da teocracia. Depois de Samuel, temos alguns
profetas mencionados tais como: Natã, Gade, Abiú, Micaías, Aías, Semaías, Jeú,
Elias e Eliseu. Esses primeiros profetas são caracterizados como “conselheiros
dos reis” como explica LaSor:
“Em geral, os profetas dos séculos X e IX eram ‘conselheiros
dos reis’. Talvez tivessem mensagens proféticas para o povo, mas a maior parte
das evidências indica que aconselhavam os reis, ajudando-os a discernir a
vontade de Deus, incentivando-os a andar no caminho de Javé ou, com maior frequência,
censurando-os por falharem neste aspecto” (1999, p. 244).
No período do Reino
dividido, profetas surgiram e advertiram o povo de um modo geral. Durante a
apostasia que tomou conta da nação israelita vemos a veemência com que Elias[2]
e Eliseu[3]
proclamam mensagens de Deus contra a impiedade dos líderes e os pecados por
eles cometidos. Na época do Reino do
Norte, o movimento era bastante extenso, a ponto de haver grupos de cinquenta
profetas num só lugar, como Betel, de acordo com Brigth:
Encontramos grupos deles vivendo uma vida comunitária (2 Rs.
2:3-5; 4:38-44), sustentados pelos donativos dos devotos ( cf. 4:42), frequentemente
possuindo um chefe no comando ( c. 6:1-7). Eram reconhecidos por seu expresso pelo,
que representava o seu culto (2 Rs.1:8; cf. Zc.13:4) e aparentemente também por
uma cicatriz característica (1 Rs.20:41). (...) Entretanto, eram patriotas
entusiastas, seguiam os exércitos de Israel nos campos de batalha (2
Rs.3:11-19), encorajavam o rei a lutar nas guerras da nação (1 Rs.20:13) e
desejavam que elas fossem travadas de acordo com as regras da Guerra Santa [vv.
35 a 43]” (1980, p.331).
O Reino do Norte, Israel, teve o fim trágico anunciado pelos
profetas exatamente porque não dera ouvido aos seus oráculos. Judá, o Reino do Sul, também não escapa
da infidelidade e caí nas mãos dos seus inimigos e é levado ao exílio.
O Profetismo no Século VIII: Historicamente o período, inaugurado com Oséias e Amós, é frequentemente chamado de “período clássico” da profecia e eles também iniciaram a prática de
“registrar” suas mensagens
proféticas. Entretanto, tal designação é
muito mais para efeito didático do que um fato exato, visto que, não há uma
radical ruptura entre os profetas antes do início do "período clássico” e
aqueles que surgiram depois, como a classificação pode deixar transparecer:
“Embora não deva ser questionada a originalidade de sua
contribuição, eles não eram, contudo, inovadores, mas homens que, estando bem
inseridos na tradição de Israel, adaptavam esta tradição a uma nova situação.
(...) Eles transmitiam publicamente tais mensagens: e, sem dúvida, enquanto
eles eram lembrados, elas eram transmitidas e coligidas através de um complexo
processo de transmissão oral e escrita, que deu origem aos livros proféticos
como os conhecemos” (BRIGTH, 1980, p.353).
Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
Artigos Relacionados
PROFETA
OSEIAS: A Religião de Baal e os Israelitas
http://reflexaoipg.blogspot.com.br/2016/08/profeta-oseias-religiao-de-baal-e-os.html
PROFETA
OSEIAS: Contexto Histórico
http://reflexaoipg.blogspot.com.br/2016/08/profeta-oseias-contexto-historico.html
PROFETA
OSEIAS – Introdução Geral
http://reflexaoipg.blogspot.com.br/2016/08/profeta-oseias-introducao-geral.html
O PERÍODO
CLÁSSICO PROFETISMO NO AT - Século VIII
http://reflexaoipg.blogspot.com.br/2016/08/o-periodo-classico-do-profetismo-no-at.html
O
DESENVOLVIMENTO DO PROFETISMO EM ISRAEL
http://reflexaoipg.blogspot.com.br/2016/08/o-desenvolvimento-do-profetismo-em.html
PROFETAS: As
Diversidades Contextuais
http://reflexaoipg.blogspot.com.br/2016/04/profetas-diversidade-contextual.html
OS PROFETAS E
AS QUESTÕES SOCIAIS
http://reflexaoipg.blogspot.com.br/2016/04/os-profetas-e-as-questoes-sociais.html
Referências Bibliográficas
BRIGTH, J. História de Israel. São Paulo: Ed.
Paulus, 1980.
CHAMPLIN, R.
N. Enciclopédia de bíblia, teologia e
filosofia, v. 1. São Paulo: Hagnos, 2006.
CRABTREE, A.
R. O livro de Amós. Rio de Janeiro:
Casa Publicadora Batista, 1960.
HOFF, Paul. Os livros históricos. São Paulo: Ed.
Vida, 2003.
LASOR,
William S., HUBBARD, David A. e BUSH, Frederic W. Introdução ao antigo testamento. Tradução: Lucy Yamakamí. São
Paulo: Edições Vida Nova, 1999.
MILLARD,
Alan. Descobertas dos tempos bíblicos.
São Paulo: Ed. Vida, 1999. REED, Oscar F. O
livro de Oséias. Rio de Janeiro: CPAD, 2005. [Comentário Bíblico Beacon, v.
5].
ROBINSON,
Jorge L. Los doce profetas menores.
Texas: Casa Bautista de Publicciones, 1982.
SICRE, José
Luís. Profetismo em Israel – o profeta,
os profetas, a mensagem. Tradução: João Luís Baraúna. Petrópolis: Editora
Vozes, 2002.
TENNEY,
Merrill C. (Org.) Enciclopédia da bíblia
– cultura cristã, v. 1. São Paulo: Ed. Cultura Cristã, 2008.
[1] Apesar do destaque histórico de Samuel o exercício profético foi
praticado por algumas pessoas anteriores a ele, como destaca LaSor (1999, p.
241): “As implicações são bem significativas, pois os estudos da profecia não
podem começar com os escritos proféticos do Antigo Testamento ou mesmo com os
dizeres proféticos de Samuel, Natã, Elias e Eliseu. Com certeza é preciso
incluir o ministério profético de Moisés e, provavelmente, os elementos
proféticos nos patriarcas. Parece que Oséias destaca os ministérios de Moisés e
de Samuel nessa descrição da função histórica dos profetas (cf. Os. 12:13).”
[2] “Elias
era o exemplo típico da tradição mosaica primitiva, ainda viva em Israel. Não
sabemos o que ele pensava da monarquia ou dos cultos oficiais de Jerusalém e
Betel. Mas ele considerava Acabe e Jezabel como verdadeiros anátemas. Seu deus
era o Deus do Sinai, que não admitia nenhum rival e não tiraria vingança
sangrenta por crimes cometidos contra a lei da Aliança, como os de Acabe” (BRIGTH,
1980, p.328).
[3] “Como
tinha acontecido a Samuel muito antes, Eliseu trabalhou em estreita cooperação
com aquelas ordens proféticas que continuavam a resistir à política do Estado.
O próprio Eliseu era chamado ‘os carros de Israel e seus cavaleiros’ (2
Rs.13:14): pode-se dizer que o homem valia por divisões inteiras! ” (BRIGTH, 1980,
p.330-331).
Nenhum comentário:
Postar um comentário