terça-feira, 30 de agosto de 2016

OS PROFETAS - Desenvolvimento Histórico de Suas Atividades

É necessário, ainda que seja uma tarefa complexa tentar desenvolver este tema num espaço tão sucinto, procurar obter uma visão do desenvolvimento do exercício profético no transcorrer da história do povo de Israel.
Atividade Profética no Antigo Israel: Encontraremos a presença dos dois tipos básicos de profetas: o nabhi’ e o ro’eh e ambos bem afeitos a época e ao momento cultural do povo. O primeiro está mais ligado à uma vida agrícola, e o segundo, caracterizado pela figura do vidente, associa-se mais com a uma vida nômade. O certo é que Israel perde bem cedo essa figura do vidente assim como os conceitos da vida nômade. Os nevi’im assumem então um papel importante na vida do antigo Israel desenvolvendo assim seu ministério profético debaixo dos limites da fé javista.
O movimento profético, como escola, tem um momento histórico preciso para o seu início: Samuel[1] É apontado o décimo século antes de Cristo como a época do início do movimento, cuja característica era ser espontâneo e leigo, sem conexão com a instituição sacerdotal. Ao contrário dos profetas das outras religiões, os profetas hebreus eram anunciadores da moralização e espiritualidade requeridas por Deus, e isso não tem paralelos nos outros profetas. Em lugar de feiticeiros e adivinhadores, Deus levanta profetas que busquem o bem espiritual do povo, para que o mesmo cumpra os propósitos de Deus.

O Profetismo e o Estabelecimento da Monarquia: É certo que no período dos juízes percebemos uma certa instabilidade na teocracia e no período de Samuel encontramos um momento de transição entre a teocracia e a monarquia. Pergunta-se qual é a relação do profetismo com a Monarquia? A resposta poderia ser dada considerando-se vários ângulos, mas o que podemos fazer aqui é tão somente levantarmos alguns aspectos. Samuel é testemunha ocular e agente influente nesta transição. Ele representa a tradição anfictiônica e nos parece à luz dos argumentos de Brigth (1980,  p. 241-242) que Samuel resistiu e muito a ideia da monarquia, pois
“manteve-se viva a vontade de resistir e de perpetuar a tradição carismática, graças, sobretudo aos profetas que surgiram nesse tempo (...) tais profetas, certamente, por meio de sua fúria extática, procuraram incitar todos a um zelo santo para combater a Guerra Santa contra o odioso invasor (Filisteus).”
A escolha do primeiro rei de Israel deu-se por dois mecanismos: a aclamação popular e a designação profética (1Sm 10.1; 11.14). A importância dos profetas não é vista somente na consagração dos reis, mas também na manutenção do princípio da teocracia. Depois de Samuel, temos alguns profetas mencionados tais como: Natã, Gade, Abiú, Micaías, Aías, Semaías, Jeú, Elias e Eliseu. Esses primeiros profetas são caracterizados como “conselheiros dos reis” como explica LaSor:
“Em geral, os profetas dos séculos X e IX eram ‘conselheiros dos reis’. Talvez tivessem mensagens proféticas para o povo, mas a maior parte das evidências indica que aconselhavam os reis, ajudando-os a discernir a vontade de Deus, incentivando-os a andar no caminho de Javé ou, com maior frequência, censurando-os por falharem neste aspecto” (1999, p. 244).
No período do Reino dividido, profetas surgiram e advertiram o povo de um modo geral. Durante a apostasia que tomou conta da nação israelita vemos a veemência com que Elias[2] e Eliseu[3] proclamam mensagens de Deus contra a impiedade dos líderes e os pecados por eles cometidos. Na época do Reino do Norte, o movimento era bastante extenso, a ponto de haver grupos de cinquenta profetas num só lugar, como Betel, de acordo com Brigth:
Encontramos grupos deles vivendo uma vida comunitária (2 Rs. 2:3-5; 4:38-44), sustentados pelos donativos dos devotos ( cf. 4:42), frequentemente possuindo um chefe no comando ( c. 6:1-7). Eram reconhecidos por seu expresso pelo, que representava o seu culto (2 Rs.1:8; cf. Zc.13:4) e aparentemente também por uma cicatriz característica (1 Rs.20:41). (...) Entretanto, eram patriotas entusiastas, seguiam os exércitos de Israel nos campos de batalha (2 Rs.3:11-19), encorajavam o rei a lutar nas guerras da nação (1 Rs.20:13) e desejavam que elas fossem travadas de acordo com as regras da Guerra Santa [vv. 35 a 43]” (1980, p.331).
O Reino do Norte, Israel, teve o fim trágico anunciado pelos profetas exatamente porque não dera ouvido aos seus oráculos. Judá, o Reino do Sul, também não escapa da infidelidade e caí nas mãos dos seus inimigos e é levado ao exílio.

O Profetismo no Século VIII: Historicamente o período, inaugurado com Oséias e Amós, é frequentemente chamado de “período clássico” da profecia e eles também iniciaram a prática de “registrar” suas mensagens proféticas.  Entretanto, tal designação é muito mais para efeito didático do que um fato exato, visto que, não há uma radical ruptura entre os profetas antes do início do "período clássico” e aqueles que surgiram depois, como a classificação pode deixar transparecer:
“Embora não deva ser questionada a originalidade de sua contribuição, eles não eram, contudo, inovadores, mas homens que, estando bem inseridos na tradição de Israel, adaptavam esta tradição a uma nova situação. (...) Eles transmitiam publicamente tais mensagens: e, sem dúvida, enquanto eles eram lembrados, elas eram transmitidas e coligidas através de um complexo processo de transmissão oral e escrita, que deu origem aos livros proféticos como os conhecemos” (BRIGTH, 1980, p.353).


Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/

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Referências Bibliográficas
BRIGTH, J. História de Israel. São Paulo: Ed. Paulus, 1980.
CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de bíblia, teologia e filosofia, v. 1. São Paulo: Hagnos, 2006.
CRABTREE, A. R. O livro de Amós. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1960.
HOFF, Paul. Os livros históricos. São Paulo: Ed. Vida, 2003.
LASOR, William S., HUBBARD, David A. e BUSH, Frederic W. Introdução ao antigo testamento. Tradução: Lucy Yamakamí. São Paulo: Edições Vida Nova, 1999.
MILLARD, Alan. Descobertas dos tempos bíblicos. São Paulo: Ed. Vida, 1999. REED, Oscar F. O livro de Oséias. Rio de Janeiro: CPAD, 2005. [Comentário Bíblico Beacon, v. 5].
ROBINSON, Jorge L. Los doce profetas menores. Texas: Casa Bautista de Publicciones, 1982.
SICRE, José Luís. Profetismo em Israel – o profeta, os profetas, a mensagem. Tradução: João Luís Baraúna. Petrópolis: Editora Vozes, 2002.
TENNEY, Merrill C. (Org.) Enciclopédia da bíblia – cultura cristã, v. 1. São Paulo: Ed. Cultura Cristã, 2008.



[1] Apesar do destaque histórico de Samuel o exercício profético foi praticado por algumas pessoas anteriores a ele, como destaca LaSor (1999, p. 241): “As implicações são bem significativas, pois os estudos da profecia não podem começar com os escritos proféticos do Antigo Testamento ou mesmo com os dizeres proféticos de Samuel, Natã, Elias e Eliseu. Com certeza é preciso incluir o ministério profético de Moisés e, provavelmente, os elementos proféticos nos patriarcas. Parece que Oséias destaca os ministérios de Moisés e de Samuel nessa descrição da função histórica dos profetas (cf. Os. 12:13).”
[2] “Elias era o exemplo típico da tradição mosaica primitiva, ainda viva em Israel. Não sabemos o que ele pensava da monarquia ou dos cultos oficiais de Jerusalém e Betel. Mas ele considerava Acabe e Jezabel como verdadeiros anátemas. Seu deus era o Deus do Sinai, que não admitia nenhum rival e não tiraria vingança sangrenta por crimes cometidos contra a lei da Aliança, como os de Acabe” (BRIGTH, 1980, p.328).
[3] “Como tinha acontecido a Samuel muito antes, Eliseu trabalhou em estreita cooperação com aquelas ordens proféticas que continuavam a resistir à política do Estado. O próprio Eliseu era chamado ‘os carros de Israel e seus cavaleiros’ (2 Rs.13:14): pode-se dizer que o homem valia por divisões inteiras! ” (BRIGTH, 1980, p.330-331).

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