sexta-feira, 26 de agosto de 2016

PROFETA OSEIAS: Características pessoais

            Uma característica dos personagens bíblicos de forma geral é que que eles não são super-heróis perfeitos, mas homens e mulheres de carne e sangue, sempre sujeitos a toda sorte de qualquer ser humano vivendo neste mundo tenebroso. O grande diferencial é que muitos deles foram instrumentos preciosos nas mãos de Deus para realizarem sua vontade e seus propósitos eternos.
            Os profetas são plenamente humanos, que expressam sentimento, os intensos de alegria, tristeza, se frustram, tem lutas morais, como quaisquer outras pessoas de sua época. Seu diferencial é que estavam sintonizados com a vontade de Deus e a proclamaram com toda fidelidade e determinação, sem se acovardarem por qualquer que fosse as circunstâncias desfavoráveis – o escritor da epístola aos Hebreus, no Novo Testamento, declara que muitos deles foram mortos das mais diversas formas, mas nunca retrocederam. Como fazem falta nos dias atuais homens e mulheres que sejam revestidos desta fé e determinação!
            Em todos os casos a vida do profeta de interagia com sua própria mensagem. Eles sabiam interpretar suas próprias experiências pessoais à luz da providência e as utilizavam como poucos para o exercício de seus ministérios proféticos. É desta forma que podemos compreender a personalidade, a vida familiar-conjugal e o ministério do profeta Oséias.
            Como seus colegas de ministério Oséias se constitui em um modelo de como Deus utiliza-se das capacidades naturais, pessoais, dos sentimentos mais profundos e das experiências mais traumáticas, para comunicarem de forma mais autentica possível suas mensagens, na maioria das vezes mal recebidas e interpretadas, aos seus ouvintes contemporâneos.
            Oséias tem características das mais nobres: gentil, compassivo, sensível, reflexivo, nobre, amável – profundamente crente. Ele certamente se assemelha em muito ao profeta sulista Jeremias – possuidor de iguais características e que foi privado por Deus de constituir uma família como ilustração da nação judaica que rejeitou o seu Deus, assim como a esposa do profeta Oséias que se prostituiu, como os israelitas o fizeram em relação ao seu Deus. Assim como Jeremias chorava por causa das injustiças e tristezas que sofria por causa de sua mensagem, Oséias sofre silenciosamente seus desalentos familiares, expressando de forma poética seus soluços profundos de uma alma entristecida ao extremo. A maior parte de seus quarenta anos de ministério Jeremias sofre perseguição e aprisionamento dos mais cruéis nas mãos de autoridades que repudiavam sua mensagem; por outro lado, Oséias sofre profundamente por causa do indiferentismo de seus contemporâneos, que rejeitam sua pregação. Ambos os profetas são teólogos e poetas, sendo que Jeremias se destaca nos aspectos teológicos, enquanto Oséias destaca-se pelas suas composições poéticas. Mas ambos impregnaram e influenciaram o pensamento e a teologia dos profetas subsequentes.

A Chamada para o Ministério Profético
            Pouco sabemos a respeito de onde, como e quando o profeta foi vocacionado por Deus, mas é impossível não se aperceber da convicção vocacional deste homem. Ele se constitui em um testemunho permanente do amor de Deus e seu discernimento quando da interpretação da história de Israel é algo impressionante e se constituiu em bússola para nortear os demais profetas que lhe sucederam, o colocando como proeminente dentre os mensageiros da vontade revelada de Deus e preservadas nas Escrituras. Seu chamado antecede seu tumultuado casamento (1.2). Seu amor incondicional para com uma esposa infiel haverá de produzir um turbilhão de fortes e profundas emoções em sua vida, preparando-o como nenhum outro para interpretar e proclamar o amor de Deus para com uma nação ingrata e infiel. Somente vivenciando uma tragédia familiar sem precedentes poderia ter preparado o profeta verdadeiramente compreender e anunciar a mensagem do amor incondicional de Deus para com seu povo.

A Aliança
            A base de todas as mensagens dos profetas sempre foi a Aliança que Deus havia estabelecido com seu povo. Os profetas apenas trazem à memória de seus ouvintes aquilo que eles já sabiam, mas teimavam em não fazer – a vontade de Deus. Oséias resgata aquele momento em que Deus casa-se com seu povo, mas Israel persistentemente rompe essa aliança amorosa (Os. 6.7; 8.1).  No mesmo contexto familiar o profeta declara que Deus os adotará como filhos e filhas, mas eles rebeldemente são desobedientes (Os. 11.1; cf. Êx.4.22). Por diversas vezes Deus havia os disciplinados amorosamente (11.3), mas eles nada aprenderam e continuaram agindo desobedientemente.

Silêncio quanto às demais Nações
            Enquanto seu antecessor, Amós, nomeia as mais diversas nações como modelo do juízo de Deus, para exemplo do que haveria de ocorrer à Israel, Oséias silencia quanto a quaisquer outras nações. Sua preocupação é exclusivamente com a nação de Israel. Seu intenso amor pelos seus contemporâneos leva-o a concentrar toda sua atenção sobre a nação rebelde/adultera de Israel, na esperança de que ela reconhecesse seus pecados e retornasse aos braços de seu Amado – o que infelizmente não haverá de acontecer.

A Profundidade da Mensagem de Oséias
            Se outros profetas são mais abrangentes em suas respectivas mensagens, a mensagem mais restrita de Oséias ganha em profundidade. É impossível não percebermos que Oséias não se preocupa apenas com as ações, mas vai atrás dos motivos e fontes destas ações.
            Poucos profetas sondaram com mais profundidade o Amor de Deus do que Oséias (3.1; 11.1-4; 14.4), somente comparado ao evangelista João em sua composição evangélica. Isso não significa que Oséias é complacente com os pecados de seus contemporâneos, ele compreende e claramente ensina que esse comportamento pecaminoso será a ruina e destruição da nação, todavia, coloca na boca da nação confissões e orações (5.15; 6.1; 14.1) que indicam a possível mudança radical que se fazia necessária para evitar o juízo divino eminente. Ainda que como seu colega antecessor ele almeje um futuro em que a nação seja restaurada e retorne ao ciclo de prosperidade e paz, ela aspira ainda mais, antevê um momento em que Deus e seu povo haverão de experimentar uma perfeita comunhão de amor, onde a vontade de Deus será exclusivamente vivenciada na vida de seu povo – aspirações genuinamente celestiais.
            Essas aspirações de Oséias o faz antever também o reino davídico divino: “tornarão e buscarão a Yahweh, seu Deus, e a Davi seu rei” (3.5). Essas palavras proféticas de Oséias se constituem na primeira alusão ao governo ideal do Messias, desenvolvida posteriormente por Miqueias e Isaías. Esse Davi não se refere apenas a um descendente humano da linhagem davídica, mas um segundo Davi – aquele que haverá de ser “segundo o coração de Deus”, e que, definitivamente ocupará a posição de genuíno representante de Yahweh.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/

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Referências Bibliográficas
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