Uma
característica dos personagens bíblicos de forma geral é que que eles não são
super-heróis perfeitos, mas homens e mulheres de carne e sangue, sempre sujeitos
a toda sorte de qualquer ser humano vivendo neste mundo tenebroso. O grande
diferencial é que muitos deles foram instrumentos preciosos nas mãos de Deus
para realizarem sua vontade e seus propósitos eternos.
Os profetas
são plenamente humanos, que expressam sentimento, os intensos de alegria,
tristeza, se frustram, tem lutas morais, como quaisquer outras pessoas de sua
época. Seu diferencial é que estavam sintonizados com a vontade de Deus e a
proclamaram com toda fidelidade e determinação, sem se acovardarem por qualquer
que fosse as circunstâncias desfavoráveis – o escritor da epístola aos Hebreus,
no Novo Testamento, declara que muitos deles foram mortos das mais diversas
formas, mas nunca retrocederam. Como fazem falta nos dias atuais homens e
mulheres que sejam revestidos desta fé e determinação!
Em todos os
casos a vida do profeta de interagia com sua própria mensagem. Eles sabiam
interpretar suas próprias experiências pessoais à luz da providência e as
utilizavam como poucos para o exercício de seus ministérios proféticos. É desta
forma que podemos compreender a personalidade, a vida familiar-conjugal e o
ministério do profeta Oséias.
Como seus
colegas de ministério Oséias se constitui em um modelo de como Deus utiliza-se
das capacidades naturais, pessoais, dos sentimentos mais profundos e das
experiências mais traumáticas, para comunicarem de forma mais autentica
possível suas mensagens, na maioria das vezes mal recebidas e interpretadas,
aos seus ouvintes contemporâneos.
Oséias tem
características das mais nobres: gentil, compassivo, sensível, reflexivo,
nobre, amável – profundamente crente. Ele certamente se assemelha em muito ao
profeta sulista Jeremias – possuidor de iguais características e que foi
privado por Deus de constituir uma família como ilustração da nação judaica que
rejeitou o seu Deus, assim como a esposa do profeta Oséias que se prostituiu,
como os israelitas o fizeram em relação ao seu Deus. Assim como Jeremias
chorava por causa das injustiças e tristezas que sofria por causa de sua
mensagem, Oséias sofre silenciosamente seus desalentos familiares, expressando
de forma poética seus soluços profundos de uma alma entristecida ao extremo. A
maior parte de seus quarenta anos de ministério Jeremias sofre perseguição e
aprisionamento dos mais cruéis nas mãos de autoridades que repudiavam sua
mensagem; por outro lado, Oséias sofre profundamente por causa do
indiferentismo de seus contemporâneos, que rejeitam sua pregação. Ambos os
profetas são teólogos e poetas, sendo que Jeremias se destaca nos aspectos
teológicos, enquanto Oséias destaca-se pelas suas composições poéticas. Mas
ambos impregnaram e influenciaram o pensamento e a teologia dos profetas
subsequentes.
A Chamada para o
Ministério Profético
Pouco
sabemos a respeito de onde, como e quando o profeta foi vocacionado por Deus,
mas é impossível não se aperceber da convicção vocacional deste homem. Ele se
constitui em um testemunho permanente do amor de Deus e seu discernimento
quando da interpretação da história de Israel é algo impressionante e se
constituiu em bússola para nortear os demais profetas que lhe sucederam, o
colocando como proeminente dentre os mensageiros da vontade revelada de Deus e
preservadas nas Escrituras. Seu chamado antecede seu tumultuado casamento
(1.2). Seu amor incondicional para com uma esposa infiel haverá de produzir um
turbilhão de fortes e profundas emoções em sua vida, preparando-o como nenhum
outro para interpretar e proclamar o amor de Deus para com uma nação ingrata e infiel.
Somente vivenciando uma tragédia familiar sem precedentes poderia ter preparado
o profeta verdadeiramente compreender e anunciar a mensagem do amor incondicional
de Deus para com seu povo.
A Aliança
A base de
todas as mensagens dos profetas sempre foi a Aliança que Deus havia
estabelecido com seu povo. Os profetas apenas trazem à memória de seus ouvintes
aquilo que eles já sabiam, mas teimavam em não fazer – a vontade de Deus.
Oséias resgata aquele momento em que Deus casa-se com seu povo, mas Israel persistentemente
rompe essa aliança amorosa (Os. 6.7; 8.1). No mesmo contexto familiar o profeta declara
que Deus os adotará como filhos e filhas, mas eles rebeldemente são
desobedientes (Os. 11.1; cf. Êx.4.22). Por diversas vezes Deus havia os disciplinados
amorosamente (11.3), mas eles nada aprenderam e continuaram agindo
desobedientemente.
Silêncio quanto às demais
Nações
Enquanto seu
antecessor, Amós, nomeia as mais diversas nações como modelo do juízo de Deus,
para exemplo do que haveria de ocorrer à Israel, Oséias silencia quanto a
quaisquer outras nações. Sua preocupação é exclusivamente com a nação de
Israel. Seu intenso amor pelos seus contemporâneos leva-o a concentrar toda sua
atenção sobre a nação rebelde/adultera de Israel, na esperança de que ela
reconhecesse seus pecados e retornasse aos braços de seu Amado – o que
infelizmente não haverá de acontecer.
A Profundidade da
Mensagem de Oséias
Se outros
profetas são mais abrangentes em suas respectivas mensagens, a mensagem mais
restrita de Oséias ganha em profundidade. É impossível não percebermos que
Oséias não se preocupa apenas com as ações, mas vai atrás dos motivos e fontes
destas ações.
Poucos profetas
sondaram com mais profundidade o Amor de Deus do que Oséias (3.1; 11.1-4; 14.4),
somente comparado ao evangelista João em sua composição evangélica. Isso não
significa que Oséias é complacente com os pecados de seus contemporâneos, ele
compreende e claramente ensina que esse comportamento pecaminoso será a ruina e
destruição da nação, todavia, coloca na boca da nação confissões e orações
(5.15; 6.1; 14.1) que indicam a possível mudança radical que se fazia
necessária para evitar o juízo divino eminente. Ainda que como seu colega
antecessor ele almeje um futuro em que a nação seja restaurada e retorne ao
ciclo de prosperidade e paz, ela aspira ainda mais, antevê um momento em que
Deus e seu povo haverão de experimentar uma perfeita comunhão de amor, onde a
vontade de Deus será exclusivamente vivenciada na vida de seu povo – aspirações
genuinamente celestiais.
Essas
aspirações de Oséias o faz antever também o reino davídico divino: “tornarão e
buscarão a Yahweh, seu Deus, e a Davi seu rei” (3.5). Essas palavras proféticas
de Oséias se constituem na primeira alusão ao governo ideal do Messias,
desenvolvida posteriormente por Miqueias e Isaías. Esse Davi não se refere
apenas a um descendente humano da linhagem davídica, mas um segundo Davi – aquele que haverá de ser “segundo o coração de Deus”, e que,
definitivamente ocupará a posição de genuíno representante de Yahweh.
Utilização
livre desde que citando a fonte
Guedes,
Ivan Pereira
Mestre
em Ciências da Religião.
Universidade
Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro
Blog
Historiologia
Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
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