terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Os Herodes no Segundo Testamento


            O nome Herodes aparece muitas vezes nas narrativas evangélicas e no livro de Atos. Todavia, não se trata de apenas um Herodes, mas no transcorrer das narrativas são citados diversos Herodes que de forma direta ou indireta se entrelaçam com os acontecimentos relacionados a Jesus Cristo e no desenvolvimento do cristianismo na região da Palestina e do Império Romano. Abaixo citamos cada um dos Herodes e algumas informações relevantes sobre cada um deles.    
Herodes o Grande: Esse é o primeiro a ser citado nas narrativas evangélicas. Ele governou os judeus de 40 a 4 A.C., portanto, reinava nos dias do nascimento de Jesus Cristo.  Nasceu em cerca de 73 A.C. Era descendente de Edom (idumeu ou edomita), um povo que sempre guerreou com os israelitas e que havia sido conquistado e levado ao judaísmo por João Hircano (o primeiro dos Macabeus), em cerca de 130 A.C. Assim sendo, os Herodes, não eram judeus de nascimento e o único vinculo que tinham era a religião judaica. Herodes o Grande havia sido nomeado procurador da Judeia em cerca de 47 A.C. e a região da Galileia pouco mais tarde também ficou debaixo de seu controle.
Depois do assassinato do imperador César, Herodes caiu nas graças dos imperadores Marco Antônio e Otávio, recebendo deles o título de “rei dos judeus”. Opunha-se politicamente aos descendentes dos Macabeus, os quais, tendo por nome de família o apelativo Hasmon, eram chamados de Hasmoneanos. Estes controlavam Israel antes da dominação romana, e se ressentiam do governo de Herodes. Para amenizar esta belicosidade ele se casou com uma mulher pertencente a essa família, Mariane, neta do antigo sumo sacerdote Hircano II. Evidente que isso não era suficiente e o sempre ardiloso e maquiavélico Herodes mandou assassinar um por um, até que se livrou de todos eles, incluindo a própria Mariane, e até mesmo os filhos que teve com ela. Havia um ditado popular que dizia: “Melhor ser um porco do que ser filho de Herodes”.
Qualquer pessoa que despertasse a desconfiança de Herodes corria risco de morte. Foi por essa razão que Herodes ordenou a matança dos inocentes, em Belém da Judéia (cf. Mt 2), depois que os Sábios do Oriente vieram procurando o novo rei dos judeus (Jesus) e antes de seu falecimento ordenou que seu próprio filho, Antípatre, fosse morto. Igualmente, providenciou para que, após a sua morte, todos os seus nobres fossem assassinados, para que não houvesse falta de lamentadores por ocasião de sua morte. Morreu de uma enfermidade fatal do estômago e dos intestinos.
Mas nem tudo foi terror. Herodes o Grande, se tornou famoso por suas notáveis atividades como construtor. Suas grandes obras foram realizadas não só em seus próprios domínios, mas até mesmo em cidade estrangeiras (por exemplo, Atenas). Ele reedificou a cidade de Samaria (dando-lhe o nome de Sebaste, em honra ao imperador). Reparou a torre de Estrato, na costa do mar Mediterrâneo, fez ali um porto artificial e o chamou de Cesaréia
Mas a sua obra de arquitetura mais famosa foi a reconstrução do Templo de Jerusalém. Seu objetivo foi ultrapassar a beleza e riqueza da construção realizada por Salomão. Seu objetivo foi o de pacificar os judeus, devido as suas traições e matanças, que envolveram muitos líderes, incluindo sacerdotes. Entretanto, os judeus jamais lhe puderam perdoar o extermínio da família dos Hasmoneanos (Macabeus).
Arquelau: Nas moedas cunhas em seu período de reinado ele foi chamado de Herodes o etnarca. Ao morrer Herodes o grande repartiu o seu reino em três partes designando uma parte a cada um de seus filhos: A Judéia e a Samaria ficaram com Arquelau (Mt 2.22), a Galileia e Peréia ficaram com Antipas, e os territórios do nordeste couberam a Filipe (ver Lc 3.1). O imperador Augusto ratificou essa nova configuração territorial. Arquelau era o filho mais velho de Herodes, por sua esposa samaritana, Maltace e ele deu continuidade ao programa de construções iniciada por seu pai Herodes o Grande. Infelizmente também herdou todas as características negativas do pai, conseguindo excedê-lo em crueldade e impiedade, tornando seu governo intolerável. Uma delegação enviada da Judéia e da Samaria a Roma conseguiu a remoção de Arquelau. Desta forma, a Judéia tornou-se uma província romana e passou a ser governada por procuradores nomeados pelo imperador.
Herodes, o Tetrarca. (cf. Lc 3.19 e 9.7). Também ficou conhecido por  Antipas. Era filho mais novo de Herodes e Maltace. Os distritos da Galileia e da Peréia eram os seus territórios. Foi esse rei que João Batista confrontou em sua pregação, pois ele havia se divorciado da sua esposa (filha do rei dos nabateus, Aretas IV), a fim de casar-se com Herodias, esposa de seu irmão Herodes Felipe (não o tetrarca de 3.1). Com a insistência do Batista ordena sua prisão, pois temia perder a popularidade e assim enfrentar uma revolta popular. Posteriormente influenciado pela “esposa” Herodias acaba por executar o Batista por decapitação. Foi Antipas que teve um breve encontro com Jesus, quando do julgamento deste (Lc 23.7). Também se destacou por suas construções. Edificou a cidade de Tibério. A troca de esposa lhe custou caro, porquanto Aretas IV, usando tal coisa como justificativa, declarou guerra e derrotou definitivamente a Herodes Antipas, que terminou os seus dias no exílio.
Herodes Agripa: Identificado apenas por rei Herodes, em Atos 12.1. Era filho de Aristóbulo e neto de Herodes o Grande. Era sobrinho de Herodes o Tetrarca (Antipas) e irmão de Herodias. Após a execução de seus pais, em 7 A.C., foi levado a Roma e ali criado. Teve de abandonar Roma por causa de pesadas dívidas, e subsequentemente foi favorecido por Antipas. Por ter ofendido o imperador Tibério, foi encarcerado; mais tarde, porém, quando esse imperador morreu, foi posto novamente em liberdade. Posteriormente recebeu os territórios do nordeste da Palestina como seus domínios, e quando Antipas, seu tio, foi banido, herdou o domínio da Galileia e a Peréia. No reinado do imperador Cláudio recebeu o controle da Judéia e a Samaria. Assim, Agripa finalmente reinou o equivalente aos domínios de seu avô, Herodes o Grande.
Agripa procurou obter o apoio dos judeus, e aparentemente grande foi a medida de sucesso alcançado. Nesse intuito de agradar os judeus perseguiu os apóstolos e seguidores do Cristo (At 12.2 – e matou Tiago, irmão de João). Sua morte súbita e horrível é registrada por Lucas em Atos 12.23, sendo ali atribuída ao julgamento divino: 
“Herodes, tendo-o procurado e não o achando, submetendo as sentinelas a inquérito, ordenou que fossem justiçadas. E, descendo da Judéia para Cesaréia, Herodes passou ali algum tempo. Ora, havia séria divergência entre Herodes e os habitantes de Tiro e de Sidom; porém estes, de comum acordo, se apresentaram a ele e, depois de alcançar o favor de Blasto, camarista do rei, pediram reconciliação, porque a sua terra se abastecia do país do rei. Em dia designado, Herodes, vestido de trajo real, assentado no trono, dirigiu-lhes a palavra; e o povo clamava: É voz de um deus e não de homem! No mesmo instante, um anjo do Senhor o feriu, por ele não haver dado glória a Deus; e, comido de vermes, expirou” (Atos 12:19-23).
            O historiador judeu Josefo confirma a morte virulenta desse Herodes, após não recusar ser chamado de “deus”:
 Quanto a isto o rei não os repreendeu, nem rejeitou sua ímpia bajulação. Mas, estando ele presente, e depois olhou para cima, viu uma coruja pousada numa corda sobre sua cabeça, e imediatamente entendeu que este pássaro era o mensageiro de más notícias, como tinha sido antes mensageiro de boas notícias; e caiu na mais profunda tristeza. ... Uma dor severa também apareceu no seu abdome e começou de maneira muito violenta. Ele portanto olhou para seus amigos e disse: "Eu, a quem chamais deus, estou presentemente chamado a partir desta vida; enquanto a Providência assim reprova as palavras mentirosas que vós agora mesmo me disseram; e eu, que por vós fui chamado imortal, tenho que ser imediatamente afastado depressa para a morte..." Quando ele acabou de dizer isto, sua dor se tornou violenta. Desse modo, ele foi carregado para dentro do palácio; e o rumor espalhou-se por toda parte, que ele certamente morreria dentro de pouco tempo... E quando ele tinha se esgotado muito pela dor no seu abdome durante cinco dias, ele partiu desta vida” (Antiguidades, XIX, 7.2).
Agripa I: Com ele encerra-se a dinastia herodiana. Ele era filho da Agripa (acima), cujo fim trágico está relacionado em (Atos 12.20-23), e tinha apenas dezessete anos de idade no momento da morte de seu pai, em 44 dC. Ele não conseguiu o reino da Judéia, que foi colocado sob o governo de um procurador; mas na morte de seu tio Herodes em 48 dC, ele recebeu a soberania dessa região do imperador Cláudio, e com ela a superintendência do Templo e a nomeação dos sumos sacerdotes. Quatro anos depois, recebeu as tetrarquias que tinham sido governadas por seus tios Felipe e Lisânias (Lc 3.1), com o título de rei. Em 55 dC, o imperador Nero aumentou seu reino adicionando algumas das cidades da Galileia (Josefo Antologia. Xix. 9, § 1; xx. 1, § 3; 8, § 5). Procurou, com grande empenho, evitar o conflito entre os judeus e os romanos (66 D.C.), mas fracassou na tentativa. Permaneceu fiel a Roma. Nas narrativas do livro de Atos ele é conhecido devido ao seu encontro com o apóstolo Paulo (Atos 25.13 – 26.32). Ele viveu para ver a destruição de Jerusalém, e morreu sob Trajano (100 dC) aos setenta e três anos. Seu filho único, também chamado Agripa, passou a governar alguns dos territórios que haviam pertencido a seu pai. Suas duas filhas Berenice (At 25.13) e Drusila (At 24.24), foram outras pessoas sobreviventes de sua família.

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
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Referências Bibliográficas
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SCHUBERT, Kurt. Os Partidos Religiosos Hebraicos da época Neotestamentária. 2 ed. São Paulo: Paulinas, 1979.

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