Como visto no artigo introdutório as
três primeiras narrativas evangélicas trazem inúmeras passagens semelhantes, as
quais haveremos de verificar alguma delas.
Estrutura. Os
três evangelistas utilizam‑se de um método muito semelhante para elaborarem seu
trabalho, como segue. O ministério de Jesus tem inicio depois do batismo de
João; seguem-se os milagres e pregações feitos na Galileia; uma viagem para
Jerusalém; e por fim encontram-se os relatos da crucificação e ressurreição de
Jesus. “A tal esquema
Mateus e Lucas antepõem episódios da infância de Jesus. os quais. pelo seu
estilo e o seu sabor, constituem evidentemente blocos literários independentes
do corpo da narrativa” (BITTENCOURT, 1969, p. 186). Assim, dentro
desta estrutura dos Sinóticos seremos induzidos a concluirmos que o ministério
público do Senhor Jesus foi de apenas um ano, todavia quando lemos a narrativa
produzida por João, onde ele alterna esse cenário geográfico, incluindo em
diversos momentos a Galileia e Jerusalém, podemos tranquilamente estender o
ministério público de Jesus para cerca de três anos (BITTENCOURT, 1969, p.
187).
Sequência das Diferentes Perícopes. Em muitos casos temos os evangelistas relatando na mesma
sequência vários acontecimentos. Os exemplos são vários, como podemos verificar
nesta seleção feita por Bettencourt. a trilogia constituída pela pregação de
João Batista, o batismo de Jesus e as tentações (Mt. 3.14,12 ‑, Mc. 1. 1‑ 14.
Lc. 3.1-4,14); outra trilogia composta da cura do paralítico, da vocação de
Levi e da questão do jejum (Mt.9.1‑17. Mc.2.1‑22‑, Lc.5.17‑39); os
acontecimentos culminantes do ministério de Jesus na Galileia. a confissão de
Pedro, a primeira predição da Paixão. a transfiguração do Senhor, a cura do
lunático, a segunda profecia da Paixão (Mt. 16.13‑17.23; Mc.2.27‑ 9.32; Lc.9.18‑45);
algumas séries de milagres como. a cessação da tempestade, a cura do demoníaco
de Genesaré (Mt.8.23‑34; Mc.4.35‑5.20; Lc.8.22‑39). a cura da hemorroíssa e a
ressurreição da filha de Jairo (Mt.9.18‑26; Mc.5.21‑43; Lc.8.40‑56); a historia
da Paixão do Salvador.
Similaridade na forma literária e no vocabulário. Há uma notável
similaridade dentro de cada perícope nas quais algumas frases coincidem
literalmente [mais claramente perceptível na língua original]. Deste
modo, os três sinópticos trazem, pôr exemplo, a palavra de Jesus ao paralítico
usando a mesma formula (Mc. 2.l0ss). O pedido de José de Arimatéia pelo corpo
de Jesus é relatado três vezes com as mesmas palavras (Mc.15.43; Mt.27.58;
Lc.23.52). E o dito de que quem quiser salvar a sua vida perdê‑la‑á, mas quem a
perder por causa de Jesus [e do Evangelho] salvá‑la‑á, retorna três vezes na
mesma formulação (Mc.8.35; Mt 16.25; Lc.9.‑24).
Citações do Antigo Testamento. O peculiar aqui é que
mesmo quando a citação é transcrita numa formulação diferente da que consta no
Original Hebraico ou na Septuaginta os evangelistas sinópticos a fazem
exatamente da mesma forma [mais facilmente perceptível na língua original].
Assim temos Is. 40.3 citado em forma própria em Mt.3.3; Mc.1.3; Lc.3.4; também
Mal.3.1 em Mt.11.10; Mc.1.2; Lc. 7.2 7.
Todas estas concordâncias, e poderíamos citar muitas
outras, demonstram claramente que as semelhanças entre os três sinóticos não
podem ser apenas fruto do acaso, ou como se diria que pelo fato deles
descreverem os mesmos acontecimentos, acabaram pôr escolherem termos idênticos,
mas se crê que deve haver uma relação de dependência literária. Todavia, para
que possamos definir melhor tal relação. é preciso observarmos também as não
poucas e consideráveis diferenças entre os três evangelhos sinóticos.
Utilização
livre desde que citando a fonte
Guedes,
Ivan Pereira
Mestre
em Ciências da Religião.
Universidade
Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro
Blog
Historiologia
Protestante
http.//historiologiaprotestante.blogspot.com.br/
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Referências
Bibliográficas
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