segunda-feira, 5 de março de 2018

Josué: Introdução Geral



Autoria
Este livro leva o nome de Josué, seja porque está concentrado nas ações dele na terra de Canaã, ou porque de fato foi escrito por ele, ou ambos; embora alguns designem Esdras, e outros Isaías; mas deve ter sido escrito antes do tempo de Hiel  , como aparece 1Reis 16.34; e até mesmo antes do tempo de Davi, como está claro em Josué 15.63, comparado com 2Samuel 5.6; em relação à  menção feita às montanhas de Judá e de Israel, de onde alguns concluem, que o escritor deve ter vivido depois do tempo de Roboão, em  que o reino foi dividido; entretanto tudo indica que esta distinção de Israel e Judá já acontecia, até mesmo dos dias de Davi e Asafe, (cf. Sl. 76.1); é provável que este livro foi escrito pelo próprio Josué, como os judeus afirma no Talmud deles; é o que mais se ajusta para isto.  E se foi escrito por outro, é muito provável que tenha sido tirado do diário, anais, ou memórias dele; e no que concerne à sua própria morte, estas informações poderiam ser inseridas debaixo de uma direção divina e poderiam ter sido acrescentadas por Eleazar, ou Finéias, ou Samuel, da mesma maneira que é suposto que Josué escreveu alguns versos relativos a Moisés ao término do Pentateuco.
Todavia, seja quem foi o escritor, não há nenhuma dúvida quanto a inspiração divina e autenticidade deste livro, pois muitos de seus registros são mencionados no NT  (cf. Heb 11.30,31); e a promessa feita a Josué é mencionado e aplicado a todo crente, (cf. Heb 13.5,6); e o Apóstolo  Tiago se refere ao caso de Raabe (cf. Tg. 2.25).

Data Aproximada. 1400-1370 A.C.

Título do Livro
Ao contrário dos primeiros cinco livros do Antigo Testamento, este livro leva seu nome por causa do personagem principal do livro, Josué, o filho de Nun, servo de Moisés.[1] O nome original de Josué era Oséias que significa “salvação” ou “livramento” (Num. 13.8; Dt. 32.44). Mas durante o peregrinação no deserto Moisés mudou o nome dele para “Yehoshua” que significa “Yahweh é salvação" ou “Yahweh salva” (Num. 13.16). Josué é uma forma contraída de “Yehoshua” que na forma grega da Septuaginta ficou [Iehsus] “Iesous” ou “Jesus” como na Vulgata Latina[2].  Neste fato temos uma antecipação profética, em relação ao Senhor Jesus e sua obra Redentora, pois a vitória sobre seus inimigos e a possessão da terra prometida só foi possível por causa do poder de Deus e não pela capacidade ou sabedoria humana.

Tema e Propósito:Possessão, conquista, e divisão da terra prometida é o tema e propósito de Josué. O livro é projetado para mostrar a fidelidade de Deus em cumprir suas promessas, fazendo exatamente para Israel o que Ele tinha prometido (cf. Gen. 15.18 com Jos.. 1.2-6 e 21.43-45). Os eventos registrados em Josué são seletivos a partir da intervenção especial de Deus em em favor de seu povo e contra todos os tipos de inumeráveis probabilidades. A realização das promessas de Deus, como esta tão evidente no nascimento de Isaque, também é facilmente visto na possessão de Canaã com suas cidades extremamente fortalecidas, é o trabalho de Deus e que homem algum jamais poderia realizar, não importando o quanto ele pudesse se esforçar (veja Rom. 4).

Termos Relevantes: Possessão, Conquistar, Vitória, dividindo a terra.

Versos Importantes: “Todo lugar que pisar a planta do vosso pé, tenho vos dado, como eu disse a Moisés” (1.3).  “Não se aparte da tua boca o livro desta Lei; antes, medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer conforme tudo quanto nele está escrito; porque, então, farás prosperar o teu caminho e, então, prudentemente te conduzirás. Não te mandei eu? Esforça-te e tem bom ânimo; não pasmes, nem te espantes, porque o SENHOR, teu Deus, é contigo, por onde quer que andares” (1.8-9).  “Assim, Josué tomou toda esta terra conforme tudo o que o SENHOR tinha dito a Moisés; e Josué a deu em herança aos filhos de Israel, conforme as suas divisões, conforme as suas tribos; e a terra repousou da guerra” (11.23).  “Agora, pois, temei ao SENHOR, e servi-o com sinceridade e com verdade, e deitai fora os deuses aos quais serviram vossos pais dalém do rio e no Egito, e servi ao SENHOR. Porém, se vos parece mal aos vossos olhos servir ao SENHOR, escolhei hoje a quem sirvais. se os deuses a quem serviram vossos pais, que estavam dalém do rio, ou os deuses dos amorreus, em cuja terra habitais; porém eu e a minha casa serviremos ao SENHOR” (24.14-15).

Capítulos Centrais: Mudanças na liderança sempre são tempos críticos para qualquer nação. Por isso, os capítulos seguintes são capítulos chaves em Josué.  Os capítulos 1-4 registram a mudança de liderança de Moisés para Josué e as promessas pessoais de Deus e palavras de encorajamento para Josué em relação a sua nova comissão recebido do Senhor, marcado de forma inconfundível no cruzamento do Jordão pela manifestação do poder de Deus, “Naquele dia, o SENHOR engrandeceu a Josué diante dos olhos de todo o Israel; e temeram-no, como haviam temido a Moisés, todos os dias da sua vida” (4.14).  Também o capítulo 24, de acordo com a natureza crucial de mudanças na liderança, é igualmente um capítulo importante. Aqui Josué faz o povo se lembrar da fidelidade de Deus desde o tempo de Abraão passando pela libertação deles do Egito, o cruzamento do Jordão e extraordinária vitória sobre os Cananeus.  Então ele enfatiza a necessidade de fidelidade por parte deles ou eles seriam consumidos pelo Senhor.

Personagens Relevantes: Josué, Raabe, Calebe.

Cristo como Visto em Josué: Embora não haja nenhuma profecia Messiânica direta de Cristo, há vários tipos que apontam ao Salvador. Josué é um tipo de Cristo de dois modos muito importantes. Primeiro, o nome dele, “Yeshua”, uma forma contraída de “Yehoshua”, significando, "Yahweh é salvação" é o equivalente em grego do nome “Jesus”. Josué é chamado de fato pelo nome Jesus em Atos 7.45. Segundo, Josué é visto triunfalmente como um tipo de Cristo no trabalho dele de conduzir Israel na possessão da terra de Canaã (cf. Heb 4.8). Este acontecimento é uma ilustração da nossa entrada triunfal na Canaã Celestial pela fé em Cristo.  Josué pressagia o Salvador que conduz "muitos filhos para se gloriar" seguramente (Heb. 2.9-10). Mais adiante, Josué contemplou o Chefe do o exército de Senhor (5.13-15).  Aqui se trata indubitavelmente de uma Cristofania, um aparecimento pré-encarnado de Cristo.  Finalmente, o cordão de escarlata de Raabe (2.21) retrata salvação pelo sangue e morte de Cristo (cf. Heb. 9.19-22). Esta prostituta cananita ouviu falar dos feitos poderosos do Deus de Israel, creu, escondeu os espiões, foi salva quando Jerico foi destruído, e é achada na genealogia de Cristo (Mt 1.5).

Período Abrangente: Os eventos registrados em Josué cobrem um período aproximado de 26 anos.

Uma Questão Ética: Ao lermos este livro no deparamos com uma questão Ética crucial. como se pode justificar que um povo escolhido por Deus tome posse de Canaã, massacrando inúmeros povos, tomando-lhes belicosamente as suas terras e riquezas?  Isto também pode ser visto em outros livros, como Números e 1 e 2 Samuel, onde Israel impõe pela força e não pela sua mensagem salvífica.  Como entendermos esta questão?  Ellisen  expõe varias razões importantes que devem ser observadas a partir do cenário histórico, para uma compreensão correta destes acontecimentos.[3] 
1. Devido à Degradante Religião de Canaã. A religião de Canaã tinha se tornado tremendamente abominável aos olhos de Deus e da própria moralidade. Escavações ugaríticas mostraram a extrema obscenidade da religião que tinha um panteão de deuses. El, o deus principal, é orgulhosamente apresentado como sendo inteiramente sensual, sórdido e sanguinário ate consigo mesmo; as três deusas cananéias, enroladas em serpentes, são apresentadas em posturas vis e sensuais. O sistema prestava homenagem a serpentes, era totalmente depravado e estava fadado à destruição.
2. Devido à Sua Cultura Corrompida. Uma adoração amalgamada com a prostituição e aos ídolos de guerra refletia uma sociedade permeada da mais grosseira imoralidade e violência. Escavações arqueológicas revelam que os seus templos eram centros de vício com sacerdotes sodomitas e sacerdotisas prostitutas. Queimar crianças vivas nos altares se tinha tornado ritual comum. A baixeza da idolatria de Canaã formava contraste com a idolatria do Egito e da Mesopotâmia, cuja moralidade não tinha caído em tão profunda vulgaridade e brutalidade. A cultura estava fadada A destruição (Levítico 18.25).
3. Devido às Admoestações e Paciência de Deus. O texto declara muitas vezes que o Senhor era o verdadeiro dono da terra de Canaã e podia dá-la ou nega-la a quem quisesse, por razões nem sempre evidentes aos homens. O seu plano de cessão e período de experiência é observado diversas vezes muito antes de Moisés e Josué. Através de Noé, Deus profetizou julgamento para os cananeus pela sua obscenidade (Gênesis 9.22-27). Para Abraão e os seus descendentes o Senhor prometeu a terra de Canaã, a qual eles receberiam depois de cheia a medida da iniquidade dos amorreus (Gênesis 15.13-16). Justamente como aconteceu com os habitantes de Sodoma antes da sua destruição, o Senhor deu aos cananeus muitas oportunidades de arrependimento (Gênesis 18.25; Romanos 1; Isaias 22). Deus esperou 400 anos.
4. Devido à Comissão Divina de Israel. Israel não foi designado para ser apenas uma organização religiosa, mas um governo civil com obrigações da aliança perante o Senhor. Como tal, sua primeira comissão era executar o julgamento de uma sociedade corrupta e violenta de acordo a aliança noéica (Gênesis 9.6). Apesar de sempre reticente na execução daquele sórdido dever, Israel estava sob o comando especifico do Senhor para tomar a terra, destruir os cananeus e receber a sua riqueza (Números 31.7; Deuteronômio 9.3; 7.15; Josué 1.1-7). Na realidade, os ataques de Israel eram quase sempre respostas aos ataques iniciais dos cananeus (Números 21.1, 23-24, 33; Josué 9.1-2; 10.1-4; 11.1-5).
5. Devido às Promessas da Aliança Feitas por Deus. Conforme o Senhor declarou a Abraão e a Israel, a ocupação final da Palestina por Israel estender desde o Egito até o Eufrates (Gênesis 15.8; Deuteronômio 1.7-8; 30.5). Antes daquela futura ocupação final, entretanto, o Senhor novamente limpará a terra da vil idolatria e brutalidade introduzida por um Sistema religioso inspirado por Satanás (Apocalipse 14.16 e ss.; 19.15).

Esboço.
I. A Invasão de Canaã (captos.1.1-5.12)
A. Comissionamento de Josué (1.1-9)
B. A Ordem de Josué ao Povo e a Resposta deles (1.10-18)
C. Os Espias de Jerico (capto. 2)
D. A Travessia do Jordão (capto. 3)
E. A Celebração após Travessia do Jordão (capto. 4)
F. A Consagração o Povo (capto. 5.-12)
II. A Conquista de Canaã (capto. 5.13-12.24)
A. Condição para Vitória. O Comando Divino (5.13-15)
B. A Campanha na Porção Central (rachaduras. 6-8)
C. A Campanha no Sul (capto. 9-10)
D. A Campanha no Norte (11.1-15)
E. Relembrando as Vitórias (11.16-12.24)
III. A Divisão de Canaã (capto. 13-21)
A. A Herança das Duas Tribos e meia (capto. 13)
B. A Herança de Calebe (capto. 14)
C. A Herança das Nove Tribos e meia  (15.1-19.48)
D. A Herança de Josué (19.49-51)
E. As Cidades Refúgio (20.1-9)
F. As Cidades para o Levitas (21.1-45)
IV. Conclusão (capto. 22-24)
A. A Disputa Sobre o Altar (capto. 22)
B. O Discurso de Josué (23.1-24.28)
C. A Morte de Josué (24.29-33)

Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira
Mestre em Ciências da Religião.
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Historiologia Protestante
http://historiologiaprotestante.blogspot.com.br/

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Referências Bibliográficas
BALANCIN, Euclides Martins. História do Povo de Deus. São Paulo: Paulus, 1989.
BRIGTH, Jonh. História de Israel. 7ª. ed. São Paulo: Paulus, 2003.
CASTEL, Francois. Historia de Israel y de Judá. Desde los orígenes hasta el siglo II d.C. Estella: Editorial Verbo Divio, 1998.
CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. São Paulo: Hagnos, 2006, 8ª ed.
DOUGLAS, J. D. O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1995.
DRANE, John (Org.) Enciclopédia da Bíblia. Tradução Barbara Theoto Lambert. São Paulo: Edições Paulinas e Edições Loyola, 2009.
FOHRER, Georg. História da religião de Israel. Tradução de Josué Xavier; Revisão de João Bosco de Lavor Medeiros. São Paulo: Edições Paulinas, 1982.
FRANCISCO, Clyde T.  Introdução ao Velho Testamento. Rio de Janeiro: JUERP, 1969. 
GARDNER, Paul (Editor). Quem é quem na bíblia sagrada – a história de todos os personagens da bíblia. Tradução de Josué Ribeiro. São Paulo: Vida, 1999.
Halley, H. Manual Bíblico. São Paulo: Sociedade Religiosa Edições Nova Vida, 1983.
HOFF, Paul.  Os livros históricos. São Paulo: Vida, 1996.
TENNEY, Merrill C. (Org.). Enciclopédia da Bíblia. São Paulo: Cultura Cristã, 2008.



[1] Os judeus distinguem os profetas em anterior e posterior; o primeiro dos profetas anteriores é “Joshua”, ou “Sepher Joshua”, o livro de Josué, como é chamado comumente nas cópias hebreias; a inscrição de Syriac é,  `` o livro de Joshua, o filho de Num, o discípulo de Moisés'' e a versão árabe o considerou um dos livros dos juizes. `` o primeiro entre os juizes dos filhos de Israel era Josué, o filho de Num, os vinte oito desde Adão que reinou sobre Israel depois do Profeta Moisés. ''
[2] Versão da Bíblia para o latim, feita por Jerônimo, de 382 a 404 d.C. "Vulgata" quer dizer "divulgada, espalhada", palavra que só foi aplicada à Bíblia de Jerônimo a partir do séc. XIII.
[3] Stanley A. Ellisen, op. cit., p. 75.

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